A Life Time escrita por Lu Falleiros


Capítulo 27
Isso dói! Aquilo não... Mas isso, dói demais.




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-Que lugar mais claro, o que está acontecendo? – Eu perguntava para o nada.

- Lucy! Lucy! Acorde! Abra os olhos!!! – Era a voz de minha avó. Ela estava aqui por quê? Ela também morreu?

- Em? – Eu abri os olhos como ela me dissera. Eu estava em um lugar claro, onde tudo era branco. Eu estava disposta em uma cama enorme, e alguns aparelhos estavam ligados em mim. Olhei para a minha barriga, onde um sabre deveria estar furando-a, mas não havia nada. Eu estava em, em um quarto de hospital! – Mas o que aconteceu? – Eu perguntei para aquela pessoa que tinha a voz de minha avó, não era apenas a voz, era ela mesma...

- Lucy. Você ficou em coma por quase dois meses. – Minha avó chorava, como se algo muito milagroso tivesse acontecido, ela estava feliz. Eu deveria estar também, mas não estava.

- O quê? Por quê? Que dia é hoje? – Eu estava confusa, eu acabara de me matar, na frente de Ciel... Ciel? Espere! Ele, onde ele está? Eu eu... – Vovó... – Eu não conseguia pensar, lágrimas começaram a escorrer sem que eu permitisse, eu me lembrava de tudo. Será que fora tudo um sonho? Nada daquilo foi real? Como eu imaginara algo tão real?

- Eles disseram que você provavelmente teria algumas alucinações enquanto dormia, lembra-se de alguma coisa? – Eu respondi que não com a cabeça. Eu mentira, pois aquilo não fora uma alucinação. Não poderia ter sido. Poderia? – Hoje é dia 22 de dezembro, você ficou em coma por um bom tempo, mas já que está melhor algumas enfermeiras disseram que poderá voltar para casa amanhã e... – Ela parou de falar, vendo que eu estava um tanto confusa, sorrindo completou – podemos falar disso amanhã, agora descanse. Eu vou te deixar um pouco sozinha. - Ela saiu do quarto, e por alguns minutos, eu estava sozinha, no silêncio, sem entender direito o que acontecera. Eu podia sentir todo o meu corpo, eu estava viva e bem, mas por que, por que me sentia tão triste? Lágrimas caiam por minhas bochechas, eu sentia o calor vindo delas. Com uma das mãos, a esquerda, sequei as lágrimas em minhas bochechas, mas quando as toquei não senti apenas a textura da minha mão. Eu estava segurando algo. Era um tapa-olho, um tapa-olho negro, eu sabia. Sabia que aquilo não fora tudo um sonho. Era real. E eu tinha a prova em minhas mãos. Ciel existira. Ele existiu, Elina existiu, Tanina existiu, Izadora existiu e eu os perdi para sempre, eu jamais veria Elina e Tanina novamente, jamais sentiria o odor de pão novo saindo do forno, jamais abraçaria aquelas duas crianças novamente, jamais... E quanto à pessoa mais importante em minha vida, ele mudou tanta coisa em mim, demonstrou que existem pessoas interessantes, e difíceis de entender. Que devem ser encantadas por alguém como elas... Eu tinha voltado. Mas a que preço? Eu jamais os veria novamente, eu jamais poderia contar a Ciel que eu entendera o porquê de apenas uma partida de xadrez, eu jamais poderia pedir desculpas por fazê-lo chorar, eu jamais poderia devolver o tapa-olho... Eu sentia como se estivesse tudo perdido. Jamais conseguiria ter o que eu tive novamente. Mais lágrimas ameaçaram romper em meu rosto, mas antes que eu pudesse liberá-las, a porta se abrira. E uma jovem que entrou sorrindo disse:

- Olá senhorita. Você já pode retornar para casa. As enfermeiras disseram que você está ótima. Almoçará aqui, mas depois poderá ir para casa. – Minhas costas começaram a arder quando a jovem não saiu do quarto, seria possível que ela fosse... Sentou-se ao meu lado e após alguns instantes percebeu que eu estava analisando-a assentiu:

- Nada além do esperado para a Senhorita Willian. – Ela sorria maliciosamente para mim, vendo que eu não me esquecera. Só podia ser Izadora. – Você poderia ter se esquecido de tudo. Não sofreria, por que preferiu se lembrar? – Ela estava curiosa.

- Sabe... eu poderia ter feito isso, mas eu não seria a mesma. Aquilo que passei aquilo que vivi, pode não ser importante, mas mesmo assim, ele me constitui e faz eu ser quem eu sou...

- Sim. Jovem Mestra. – Com está frase minha avó entrou pelo quarto, e vendo Izadora sentada ao meu lado sorriu dizendo:

- Lucy, eu vou para a França. Visitar sua bisavó. – Ela sorria, falando de sua própria mãe. – Está é sua acompanhante, Isadora.

- Sim vovó. Não sei por que, mas sinto como se já a conhecesse. – Eu sorri, mas estava triste, muito triste. Meu peito ardia e eu apertava aquele tapa-olho, implorando para que Ciel voltasse, para que eu o visse sorrir pelo menos mais uma vez. Mas não permitiria que “Isadora” visse esses sentimentos.

- Vamos para casa? – Isadora perguntou, era estranho vê-la com outro nome, mas era ela mesma.

- Sim. – Ela me vestiu pela primeira vez me vestiu com algo do meu século. Graças à herança de meus pais, eu vivia bem. E sem vovó aqui, eu teria muito tempo para tentar cicatrizar o machucado em meu coração. Ela me vestira com uma saia, florida bem fofa; com uma blusinha de regata verde água por cima e para finalizar uma jaqueta da cor das flores da saia; uma sapatilha branca completava o visual. – Comemoraremos o natal? - Eu perguntei esperançosa de ter contato com mais alguém, para tentar me distrair.

- Sim senhorita. – Ela sorria falsamente como fizera da vez que saímos do mesmo hospital há cem anos.

- Ainda bem. Nosso acordo ainda está de pé? – Eu perguntava, embora eu tivesse entendido que ela jamais me deixaria, não sabia que ela aguardaria cem anos para voltar.

- Sim senhorita. Mas eu fiz alguns trabalhos extras, afinal, eu tenho que me manter viva.

- Sim, eu sei... – Ela sorria para mim, e eu para ela. Ela tinha um dever, que era me ajudar... Ela sabia meu pedido. Mas eu não sabia. Qual seria?

Entramos no meu Jaguar. - Que saudade. – Depois de quase três meses, eu entrava nele novamente. Realmente são bem melhores que as carruagens. Após alguns minutos de viajem, eu entristeci novamente. Parecia-me que Ciel não voltaria, eu sentia o buraco em meu peito crescendo, e para espantar tal sensação eu abraçava o tapa-olho, eu sentia tanta falta dele. Não sabia que seria tão ruim assim. Ao chegar a casa, já era quase noite. Isadora me preparou o jantar em silêncio. Eu não abrira minha boca. Quando terminei de comer, sai um pouco para o jardim. Aquele balanço que existia desde quando eu era pequena ainda estava lá.

Até mesmo a árvore que eu plantara que lembrava a mansão que vivi por dois meses estava lá. Suas flores em um rosa gélido fazia com que eu sentisse vontade de retornar para aquele passado tão agradável. Eu não era de ficar olhando para trás, mas por que dessa vez, tudo era tão diferente? Eu me sentia tão vazia...

Sentando naquele balanço eu peguei o tapa-olho que continuava comigo, minha ligação com Ciel. Olhando para isto e para o céu estrelado, uma, apenas uma lágrima se permitiu ser derramada. Eu guardei novamente aquela lembrança, aquele selo de um acordo. E olhando para as estrelas, eu disse em voz tremula.

- Dói. Você sabe não é... – Meus olhos marejaram e eu queria chorar, mas não o faria. – A morte não doeu. Mas isso... Isso dói. – Fiquei em silêncio novamente e abraçando o nada eu repeti em sussurro várias vezes antes de entrar para casa. – Dói, dói demais...


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