Leo POV

Saí do campo de esgrima pensando em tudo o que eu havia dito. Acabei me sentindo muito mal, porque eu acho que não se deve falar aquele tipo de coisas para ninguém, mesmo quando está com raiva. Mas eu estava sentindo tanto ódio da Sabrina pelo o que eu havia descoberto que aquelas palavras simplesmente saltaram da minha boca, e eu duvido que a Drew não tenha tido o mínimo de influência sobre isso. Pois bem. Entrei no meu chalé, indo direto tomar uma droga de um banho gelado. Eu estava precisando MESMO esfriar a cabeça. Saindo do chuveiro, coloquei minha cueca e uma calça, e passei a secar meu cabelo com uma toalha. E, assim que eu voltei os olhos para o espelho, vi o reflexo de uma garota nele. Arfei. Aquilo era impossível. Então, ela apontou para o meu reflexo e disse:

– Você. – ela tinha uma voz estranha, como se duas pessoas falassem ao mesmo tempo. Passou o dedo na garganta como quem a corta, fazendo um barulho idêntico ao de uma lâmina, e riu malignamente. Então eu pisquei com força, para ajudar aquilo a sumir, era só um sonho, TINHA QUE SER. E então, a garota e seu reflexo simplesmente... Sumiram.

Sabrina POV

Eu custei a dormir naquele dia. Fiquei remoendo a tintura do meu cabelo, e até pensei que tudo isso com o Leo tinha sido um sonho, que quando eu levantasse ele estaria lá, com seu sorriso lindo e cabelo bagunçado. Eu queria acreditar nisso. Queria mesmo. Mas no fundo, eu sabia que não era um sonho, que ele havia sim dito aquelas coisas horríveis e que agora ele estava com a Drew. Enfim, no dia seguinte, percebi que acordara atrasada para as aulas de esgrima. Estas envolviam quatro chalés. Hades, Ares, Afrodite e... Hefesto. Revirei os olhos, incrivelmente eu não estava preocupada com o fato de estar atrasada e de provavelmente receber uma bronca. Levantei, me vesti com uma calça jeans escura e um baby look do acampamento. Na verdade eu odeio roupas coladas, mas como eu não sou nenhuma mestra da organização, minhas camisetas largas estavam perdidas entre o meu armário bagunçado, e eu não estava nem um pouco afim de procurar. Peguei minhas botas de montaria clássicas e fui para o banheiro, ver como estava minha cara. Bocejei, fechando os olhos tranquilamente, tendo em conta que o meu banheiro era inevitavelmente escuro com uma cadeira de frente para o espelho, o qual eu encarava agora. Assim que voltei a abrir os olhos, vi uma figura atrás de mim.

Francamente, eu não tomo susto muito fácil, mas aquilo fez meu coração disparar. Era uma garotinha, aparentemente de 10 anos de idade. Tinha olhos castanho-escuros tenebrosos e um cabelo negro e liso, repartido ao meio, que caia pelos seus ombros. Era incrivelmente pálida, e vestia um vestidinho negro e vermelho, igual a aqueles de filmes que retratam a Idade Média. Sorriu de um jeito perverso ao notar que eu a via pelo espelho, mas logo esse sorriso se transformou em algo falsamente doce.

– Olá. Eu sou a Lilith. Qual é o seu nome? – falou, com uma voz meiga. Fechei os olhos e aspirei fundo, tentando checar se era mesmo real. Voltei a abri-los, e agora a menina não se encontrava atrás de mim, mas sim ao meu lado. Arfei, tentando me acalmar.

– Meu nome é Sabrina. – respondi um tanto seca. – O que você está fazendo aqui? – questionei, com uma sobrancelha torneada. Eu nunca havia visto essa menina no acampamento, talvez fosse uma indeterminada que gostava de pregar peças. Ela voltou a sorrir daquele jeito doce e inocente, e respondeu.

– A pergunta é o que VOCÊ está fazendo aqui? Você sabe que aqui não é o seu lugar. Porque continua insistindo em ficar aqui? É por causa daquele garoto, não é? – sua voz antes doce se transformava em algo cínico e debochado. Empurrou-me, me fazendo sentar na cadeira de frente para o espelho, e passou a pentear meu cabelo, de um jeito surpreendentemente delicado. – Medíocre.

Olhei para a menina, desnorteada, mas forcei os olhos. – Minha vida não te interessa. Você ao menos sabe o que significa a palavra medíocre?

Lançou-me um sorriso maldoso. – Previsível. Fácil de adivinhar. Você é patética. Oh, quer que eu defina patético também? - Ela sorriu ironicamente. – Mas ao contrário do que imagina, sua vida me diz mais respeito do que pensa. A menina se apaixona pelo príncipe, e o príncipe a troca pela primeira princesa fajuta que passa na esquina. Isso é tão ridículo. – revirou os olhos. – E ao mesmo tempo tão dispensável. Você não precisa de tudo isso. Ou será que a rainha das sombras está mesmo apaixonada por um garoto qualquer? – soltou uma gargalhada perversa quando eu não respondi. – Era de se esperar. Você é tão fraca.

Respirei fundo. – Quem é você? Ou melhor... O QUE é você? – eu me senti ameaçada pela primeira vez em tempos. Eu estava assustada. Aquela garota que eu nunca havia visto na vida aparecera do nada, e simplesmente sabia o que eu passava. E me chamava de fraca. O pior era que aquilo era exatamente como eu me sentia. Uma fraca. A menina tombou a cabeça de lado e me lançou um sorriso sombrio, que logo após a minha pergunta, sumiu.

– Eu já lhe disse que eu me chamo LILITH. – pronunciou alto e lentamente, dando um puxão no meu cabelo. E estranhamente, quando pronunciou seu nome, eu poderia jurar ter escutado duas vozes. A dela, meiga e calma, e outra, de um homem, perversa e assustadora. Ela continuou, com sua voz doce. – Eu vou ajudar você. Eu vou andar com você. O seu Papai gostaria disso. – sorriu de canto, maldosa. – Meu mestre gostaria disso. – estralou as costas e a cabeça, algo estranho para alguém da sua idade. Logo, deu um pulinho e um sorriso dócil. – Vamos? – ajeitou meu cabelo a minha frente, sorrindo e indo até a porta. E eu simplesmente me levantei e fui com ela. Não retruquei, não disse um misero “NÃO” ou contrariei a ida dela. Apenas fui.

Eu acho que estava precisando disso. De alguém para quem eu poderia dizer minhas lástimas, e que não iria me animar ou dizer que eu estava certa. Iria bater no meu rosto e falar “Faça algo, idiota.”. Eu simplesmente precisava de uns bons tapas para acordar e sair daquele transe que eu havia entrado, de que o mundo era lindo, de que amor eterno era real e de que cavaleiros em cavalos brancos existiam. Lilith estava me mostrando isso. Leo havia me mostrado isso. E eu me sentia estranhamente bem sabendo que eu tinha um demônio do meu lado.

Quando voltei ao quarto, Merlin, que dormia sobre o meu travesseiro, levantou num salto e eriçou os pelos para Lilith. Ela apenas parou, virou o rosto para ele de um jeito macabro e sorriu perversamente para o gato, enquanto sussurrava “Afastar”. E o Merlin simplesmente deu alguns passos para trás, assustado. Ela voltou o rosto para frente como se nada tivesse acontecido, e andou calmamente para fora do chalé. Eu a segui, séria. Por algum motivo eu sabia que apenas eu poderia vê-la. Eu, e quem soubesse sobre ela. Saímos do chalé, e ela parou ao meu lado, me olhando com um sorriso doce e oferecendo a mão para eu segurar. E eu segurei.

– Vamos, irmã. – ela disse, meigamente. – Já estamos atrasadas. E eu... Eu não quero perder NADA.