Alone In The Dark E A Ilha Das Sombras escrita por Cris Varella


Capítulo 15
Capítulo 14 - A Confissão de Johnson




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Carnby seguiu o seu caminho o mais rápido que pôde, porém também cauteloso. Consultou o mapa e viu que ainda havia uma longa jornada antes de alcançar o forte. No caminho havia uma capela, a capela que ele tinha visto pela janela quando ainda estava a bordo do hidroavião.

Um pântano se esticava ao lado esquerdo, e o detetive admirou-se quando viu que o hidroavião, que trouxera Aline, Felipe e ele, havia caído ali.

Foi correndo e entrou nele. A primeira coisa que o detetive fez foi se certificar que o piloto Stewart estava vivo. Mas chegando à cabine ele viu que ele jazia morto com engrenagens atravessadas em sua barriga. Ele sabia que não havia muita esperança depois de uma queda daquelas, mas não custava nada tentar.

Um chiado fez Carnby se assustar; era um rádio comunicador no bolso de Stewart. E alguém estava tentando se comunicar.

Johnson falando. Stewart, está na escuta? Câmbio.

– Eu não acredito – sussurrou Carnby a si mesmo.

O detetive puxou o rádio próximo à boca.

– Aqui é Carnby. Johnson, seu desgraçado! – isso foi tudo o que o detetive conseguiu dizer.

Carnby? Eu não acredito! Você está bem?

– Corta a encenação, Johnson. Eu já sei de todo o plano sujo que Lamb e você tramaram.

Espere Carnby, não é o que parece.

– Ah é mesmo? Então vamos lá, diga a sua versão – ironizou.

Sei o que deve estar pensando e sentindo, mas acredite, eu sinto muito pelo seu amigo. Há uma coisa que você precisa saber: eu trabalho, ou melhor, trabalhava para o governo. Tive ordens para me infiltrar na organização de Christopher Lamb, mas meu chefe encerrou o caso; alguém nos enganou e eu fui descoberto.

– E você espera que eu acredite nisso? Diga-me agora o que houve com o Fiske.

Eu ainda não tenho certeza, mas acho que Lamb o matou porque ele sabia demais da Ilha das Sombras e os Morton. Não sei se você sabe, mas Fiske já fez parte do Bureau 713, a organização cujo diretor era o Lamb.

– E por que você deixou que o canalha do Lamb fizesse tudo isso?

Eu não sabia o que estava acontecendo e mesmo que soubesse eu não poderia ter feito nada. Lamb é muito influente e conta com muitos aliados.

– Afinal, o que Lamb quer com tudo isso?

Eu não sei, minha missão era descobrir isso. Eu acho que ele quer usar o trabalho dos Morton em seu próprio benefício. De alguma forma ele acha que há um poder oculto que ele pode consumir.

– E por que você não me contatou antes? Por que não me chamou?

Eu achava que estava seguro e tinha tudo sob controle, mas Lamb estava me vigiando. Quando eu estava prestes a descobrir seus segredos, subitamente meu chefe resolveu encerrar o caso. Veja bem, eu sei que devo muito a você, a Aline e a Felipe, mas agora não é hora para desentendimentos. Vou arrumar um helicóptero para tirar vocês daí. Leve esse rádio com você para podermos nos comunicar futuramente... Aliás, você sabe por que Stewart não responde?

– Seu piloto está morto! Sofremos um acidente; nós três pulamos de pára-quedas, mas ele morreu na queda.

Ah... Nossa... Tudo bem, tome cuidado. Eu entro em contato assim que conseguir o helicóptero.

– Será mesmo? Câmbio!

Ah, eu já ia me esquecendo... No compartimento do hidroavião, logo ao lado do painel de controle, está a agenda de Fiske. Nela você poderá entender melhor o que aconteceu, e conhecer a Bureau 713. Eu não pude lhe mostrar antes porque eu estava sob total sigilo na investigação. Espero que me entenda. Câmbio.

O detetive estava confuso. Ele não sabia se considerava aquela versão. Estaria Johnson falando a verdade?

Abriu o compartimento e pegou a agenda de Fiske. Ele tinha que ler e saber o que tinha acontecido. E então leu:

Meu interesse na Ilha das Sombras começou no período em que trabalhei para o Bureau 713. O diretor, Christopher Lamb, me confiou o caso de investigar Obed Morton, um jovem professor de antropologia nascido na ilha. Obed Morton, a ilha, os Índios Americanos Abkanis e diversas ocorrências dramáticas pareciam estar ligados pelo mesmo segredo sombrio.

O Bureau 713 estava oficialmente encarregado da observação, prevenção e enfraquecimento de pequenos grupos comunistas e simpatizantes que possivelmente agiam dentro do território dos Estados Unidos. No entanto, eu rapidamente entendi que Christopher Lamb tinha uma... Digamos, idéia "mais pessoal" sobre a missão do Escritório. Lamb, de caráter misterioso e manipulador, parecia quase que obcecado com o oculto, o paranormal e com a magia. Eu nunca entendi realmente seus verdadeiros objetivos. Mas os relatórios enviados a ele, e que algumas vezes vinham parar em minha mesa, eram na sua maioria relativos a atividades de um grupo de satanismo, alguns sacrifícios ou até a um ou outro feitiço vodu. Só depois vinham os movimentos dos agentes de sabotagem comunistas que finalmente provaram ser inofensivos.

O próprio Bureau 713 parecia cultivar essa atmosfera de mistério. Tudo foi dividido em departamentos. Nós íamos sendo cortados um após o outro. Os contatos entre os agentes eram raros. No entanto, os meios à disposição de Lamb pareciam não terem fim. Eu não acredito que Lamb poderia ter levado adiante tantas operações sem algum apoio de altos escalões. O número e diversidade de casos que cuidávamos continuou crescendo durante os cinco anos que passei no Bureau. Em 1978, durante meus últimos seis meses na agência, foi quando Lamb me pediu para escrever um relatório sobre Obed Morton. O homem tinha tudo o que era preciso para levantar suspeitas.

Último filho de uma das famílias mais poderosas da aristocracia de Boston, Morton era um dos mais jovens professores de Massachusetts. Com vinte e quatro anos ele escreveu um brilhante Doutorado. Seus estudos sobre a Tribo Abkanis são extraordinários por sua transparência e profundidade. No entanto, rapidamente este trabalho científico pareceu infectar-se com um envolvimento pessoal que enfraqueceu sua objetividade.

Durante uma de suas aulas ele dividiu com os estudantes as fabulosas descobertas arqueológicas que seu avô, Jeremy Morton, tinha feito na Ilha das Sombras propriedade da família Morton desde o início do século XIX.

Alguns anos mais tarde, para uma audiência de colegas meio preocupados, ele fez uma demonstração das propriedades mágicas de um amuleto que ele encontrou no sistema de túneis da ilha. Ele estava convencido que o amuleto permitia a quem o usava o poder de reter uma memória precisa e clara das ocorrências de sua vida. Mais de uma vez ele evocou o "Mundo das Trevas", um tipo de inferno na Terra, que, se acreditarmos nele, é a origem de todo o mal que atingiu o mundo desde a era mesozóica até o homem moderno.

Todo seu trabalho nos seus últimos anos na universidade foi dedicado à tradução de antigos símbolos em alguns pedaços de madeira.

Tudo isso foi a causa de uma discussão feroz entre mim e Lamb.

Eu não conseguia entender o que Obed Morton e a Ilha das Sombras tinham a ver com o mandato do Bureau. Imediatamente Lamb ordenou minha demissão e obrigou-me a assinar um ridículo contrato de confiabilidade. A conversa posterior que tivemos teve mais ameaças do que advertências.

Aquele acontecimento me levou a fazer uma pequena investigação sobre Lamb. O mínimo que eu posso dizer é que ele cobriu suas pistas.

Christopher Lamb nasceu em 1938, em Kassa, Hungria. Quando seu pai foi morto por crimes de guerra em 1946, sua família emigrou para os Estados Unidos com um nome emprestado.

Uma rede poderosa que incluía diversos velhos amigos de seu pai, ajudou-o a trabalhar em várias agências para-governamentais especializadas na luta contra o comunismo. Em 1971, ele tornou-se diretor do super-secreto Bureau 713. O Bureau estava envolvido em inúmeras operações de evasivas "Operações Furtivas" no território americano, mas também em outros diversos países "aliados". Cercado por uma guarda pessoal de militantes ultranacionalistas, Lamb tornou-se um verdadeiro estado dentro do estado. Ele era intocável.

Os Congressistas que pediram o fechamento do Bureau 713, depois da queda do muro de Berlim, desistiram do pedido. Há rumores que eles e suas famílias foram ameaçados. Lamb foi vítima de um ataque suicida realizado por um ativista de esquerda, e como recordação ficou paralisado até o pescoço.

É somente uma hipótese, mas eu creio que Lamb e Obed Morton se comunicaram sobre as tábuas que o bilionário mencionou em suas conferências. Morton era famoso por associá-las com um tipo de apocalipse na qual a escuridão se infiltrará na Terra. Com certeza Lamb percebeu outra oportunidade de aumentar seu poder.

Tudo o que consegui dessa época foi um amuleto. Eu não sei nada sobre sua função ou significado.

Eu escrevi esta agenda para que, se algo me acontecer, eu tenha tudo provado aqui. Arrependo-me de não ter contado tudo isso ao meu amigo Edward Carnby; ele saberia exatamente o que fazer.

– Agora vejo porque Lamb é tão influente. O desgraçado armou tudo direitinho.

Carnby sentiu-se ainda pior quando soube do joguinho que Lamb havia feito, e o seu sangue frio para assassinar pessoas para alcançar seus objetivos. Allan e ele se mereciam, e agora também sei que Obed é farinha do mesmo saco.

O detetive saiu do hidroavião e rumou pelo único caminho que havia à frente. Atravessou um arco de pedra e seguiu reto até chegar à capela.

Antes de ele ter conseguido visualizar a capela adequadamente, uma criatura enorme saiu de trás de um arbusto e parou nas costas do detetive.

Carnby se virou e viu um enorme escorpião que já estava pronto para atacar. Ele não teve escolha senão entrar na capela, ainda mais carregando duas estatuetas – não haveria tempo de sacar o revólver. Correu e abriu a porta e entrou, fechando-a atrás de si. Pôs um pedaço de madeira entre os suportes na porta para trancá-la. Ouviram-se pancadas ferozes na porta: era a criatura tentando arrombá-la. Mas, depois de quatro ou cinco tentativas, ela desistiu.

O detetive se viu em uma capela que ele julgaria abandonada, não fossem as velas acesas no canto e uma passagem secreta logo abaixo do altar: uma escada que levava a um andar inferior.

Carnby desceu e viu que era uma longa caverna. Havia uma porta entreaberta que levava a uma sala que parecia estar sendo usada.

O detetive pousou as estatuetas em um canto, sacou seu revólver, desligou a lanterna e seguiu adiante. O lugar cheirava muito mal e estava imundo. Ao final do corredor um homem estava trabalhando em uma mesa. Ânsia de vômito encheu Carnby quando ele viu que sobre a mesa havia um cadáver todo esfolado.

Aquele lugar era o laboratório macabro de Allan Morton. Era ali que ele realizava as bizarras experiências fundindo homens com criaturas das trevas. Não havia ninguém ali.

Ao lado havia algumas anotações de Allan:

A fusão humano/sombra tornou-se uma realidade. Tantos anos de busca! Quantas direções erradas eu segui; quantas derrotas?

Mas hoje... Hoje a verdade está diante de meus olhos. Oh, pai, a vida corre novamente em suas veias. Pai, você é meu primogênito.

As células das criaturas das trevas não contêm DNA propriamente dito. Presente em seu lugar estará uma estrutura cristalina com propriedades foto-sensitivas surpreendentes. É como se as criaturas não se reproduzissem, mas em troca, se multiplicassem como as bactérias. Eu ainda não compreendo os fatores que ativam sua multiplicação, mas é óbvio que, depois que conseguir passar pelo Portal, saberei infinitamente mais.

A fusão é baseada em um princípio de simplicidade surpreendente, do qual eu ainda não consegui dominar todos os elementos: primeiro é necessário extrair alguns miligramas da estrutura cristalina – sendo que as mais efetivas são aquelas que se agrupam em volta do centro do que chamaríamos de crânio.

As criaturas não possuem esqueleto, carne ou sangue. Elas possuem uma estrutura mais parecida com os minerais do que com os animais. Depois de extraídas, as estruturas cristalinas são injetadas diretamente no sistema vascular do defunto, ou ser humano vivo.

Eu acredito que posso aperfeiçoar o procedimento. Misturando as estruturas cristalinas de várias criaturas eu obtive um resultado mais estável.

Eu não posso negar que, ao ler as linhas que acabei de escrever, tive a impressão de ter em minhas mãos um tratado da medicina medieval. Porém, eles são frutos do meu trabalho. O Mundo das Trevas está me revelando seus segredos. Vou precisar de mais corpos daqui para frente. Vou multiplicar as experiências. Obed providenciará o material.

Parece que seus amigos do continente têm menos escrúpulos do que eu.

– Não acredito – sussurrou o detetive. – Ele realizou experiências no próprio pai. Preciso sair logo daqui e chegar ao forte.

Carnby recolheu as estatuetas e seguiu por uma porta que havia ao fim do laboratório.

Ele estava agora em uma ante-sala, na qual havia três portas, porém apenas uma estava destrancada. Seguindo por ela ele se deparou com mais um corredor, onde no final havia uma escadaria. Ele foi correndo e subiu, abriu uma espécie de portinhola e saiu.

O detetive estava novamente do lado de fora. O melhor daquilo foi que ele já podia ver o forte logo à frente, então seguiu em disparada para ele.


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