Hey, Ho. Let's Go! escrita por RubyRuby


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

"Eu e ele ali, paralisados, com medo; ambos tristes por pessoas diferentes. Até que tive a feliz ideia de chegar perto, de mostrar que também estava triste..."
Sinceramente, esse foi o capítulo o qual eu mais gostei de escrever.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/285196/chapter/6

Nesse momento eu senti como se uma bala perfurasse meu coração, como se eu estivesse ficando cada vez mais “morta” e não morresse nunca, como se de uma hora para a outra, estivesse condenada à sofrer. Estava tonta, quase caindo, não sabia ao certo o que fazer, e ao mesmo tempo tentando correr em direção à porta, sem minha bolsa nem celular, sem falar com as meninas, que me olharam sem entender nada. Mas aí recuperei minha consciência e expliquei rapidamente a situação para elas. A primeira coisa que Roberta fez foi me levar ao carro dela para irmos ao hospital juntas, e Luísa, Gabriela e Helena ficaram em casa, desejando que tudo estivesse bem.

Quando chegamos ao hospital, a recepcionista perguntou quem éramos, e a Roberta teve paciência suficiente para responder todas as perguntas dela, e eu ali do seu lado tentando parecer calma, racional, mas totalmente feia e fuzilada por dentro. Queria simplesmente entrar em um quarto e vê-lo, abraça-lo se pudesse, e ouvi-lo falando que ia ficar bem, rindo, me chamando de baixinha. Mas eu tinha que esperar.

Entre rezinhas e resmungos, reparei na mulher que perguntava o necessário para que entrássemos na sala do Nicolas. Ela era feia. Tinha seus cabelos em um grande coque cinza e usava um batom roxo. Parecia uma bruxa, bem como estava se saindo, me impedindo de ver quem eu mais amava. Querendo ou não, ele estando machucado ou íntegro, a verdade era que eu precisava dele do jeito que ele estivesse. E pior, ele precisava de outra, da Talita, e eu não conseguia ter raiva nem dela e nem dele, e ao mesmo tempo queria que tudo aquilo acabasse. Mas não acabava, e eu não podia fazer nada.

Por falar em Talita, mesmo que ela já soubesse da notícia_ o que era certo_ demoraria a chegar ao hospital, porque ela teria que viajar quase três horas.

Tentando me acalmar enquanto Roberta respondia à moça, sentei-me em uma das cadeiras azuis que tomavam conta de uma outra salinha iluminada, tonta, ainda não acreditando que Nicolas havia sido atropelado. Eu era a única ali, o que me deu mais conforto em não precisar parecer bem. Tentei respirar calmamente, lembrando-me de que ele havia se acidentado, não morrido, que as coisas não são bem assim.

Mas meu desespero controlado, que tomava parcialmente meu corpo, sentiu pena, e, até um pouco de vergonha, quando entrou na sala um homem. Um homem de uns 20 anos com uniforme de médico aberto, de cabelos loiros e coração apertado. Ele apareceu de repente, fechando a entrada da luz do sol que corria pela porta da salinha durante uns segundos, com os olhos vermelhos, olhando para todos sem ver ninguém, com a mão na cabeça como se estivesse arrependido de algo mas não pudesse evitar, perdido no seu sofrimento. Depois entrou na sala, e, andando ora em ziguezague ora reto, rápido, sentou-se na fileira de cadeiras à minha frente. Não fazia nenhum esforço para esconder sua dor, como se não quisesse, ou fosse em vão tentar. Com as pernas meio abertas, passava a mão pelo seu cabelo liso a todo o momento, olhava para os lados. Meu coração sentiu uma dor ainda mais intensa, como seu fosse uma covarde por sentir o que sentia, por achar que minha dor era muita tendo várias outras pessoas em situações piores, embora a situação de Nicolas, mesmo sem fundamento, não me parecesse nada estável.

Como já disse, o que aquele homem sentia me dava mais dor ainda. Mesmo sem conhecê-lo, vê-lo com aquela agonia, morrendo por dentro, dava em mim a mesma sensação horrível. Logo após, chega uma enfermeira ou uma auxiliar, não sei ao certo. Ela não está tão desesperada, apenas... preocupada. Ela andava em passinhos apressados na direção do médico, e quando finalmente sentou-se ao seu lado, na minha frente, pôs uma das mãos no ombro másculo do homem, na tentativa de acalmá-lo. Em vão, é claro, porque o homem quase não notava sua presença, estava desesperado em sua própria mente, ou em alguém específico. Ela ficou lá por um instante, mas como se “o dever dela a chamasse”, ela saiu pela mesma porta por onde entrara. Senti um arrepio amargo quando ouvi o médico chorando. Ele cobria seu rosto com as mãos grandes, e mesmo sem poder vê-lo muito bem por estar atrás dele, podia imaginar como se encontrava. Pelo menos achava que podia.

Eu e ele ali, paralisados, com medo; ambos tristes por pessoas diferentes. Até que tive a feliz ideia de chegar perto, de mostrar que também estava triste.

_Oi. Me desculpa, eu não te conheço, mas vi você tão...

_Ela tinha um ano_ ele olhou para mim, e a dor que ele sentia por dentro saiu de dentro de seus olhos azuis e entraram nos meus, indo direto pro coração e pro cérebro, como uma droga muito ruim_ Ela era tão miudinha, tão perfeita. Ela descobria o mundo a cada olhada nos meus olhos. Sorria mais que uma criança que sabe o que faz, você pode calcular o quanto de inocência aquela menina trazia no sorriso?

_Eu sinto muito... isso tudo é muito triste, mesmo_ eu tentava ajuda-lo, embora pensasse que médicos não podiam sentir nada pelos seus pacientes, por mais ingênuos que eles fossem. Eu tentei falar o porque de estar ali, tentei explicar ou até falar algo para encorajá-lo, mas da minha boca não saia nada. Eu tremia, mas não conseguia falar.

Ele, vendo que eu também não estava bem, tentou:

_Ah, me desculpa. Você não tem nada a ver com isso...

_Eu tenho, sim. Q-quer dizer, eu... eu me aproximei de você, queria saber o que estava acontecendo. Não há nada de errado em mostrar sua dor.

_Obrigado, mesmo_ ele sorriu, ou tentou sorrir_ Qual é o seu nome?

_Magda, e o seu?

_Miguel. Prazer_ ele me estende sua mão para que eu o comprimente.

De repente, Roberta aparece pela porta:

_Magda, vamos?

_Vamos. É... até mais, Miguel.

_Até_ ele não parecia rude, nem mal-educado. Parecia um homem, um homem de verdade, que sente emoções, que ama.

Sai apressada, louca para ver o Nicolas, na esperança de encontrar Miguel novamente.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Reviews?? Reviews?? Please??