Entrei na cozinha, devia estar com uma cara de poucos amigos, pois Amanda perguntou me o que se tinha passado com uma cara preocupada.

- Passa-se alguma coisa?

- Não. Amanda, eu tenho mesmo de trabalhar aqui, no Verão? – decidi arriscar. O rosto de Amanda deixou logo de ficar preocupado e passou para chateado.

- Sim! Angie, nós já falamos sobre isso. – respondeu num tom severo.

- Eu não me importo de trabalhar noutro sítio qualquer mas tem de ser mesmo aqui? - implorava, só faltava pôr-me ali de joelhos. Eu odiava aquela casa e ir para lá todos os dias era praticamente…o meu inferno na terra.

- Já disse que não, Angie. Acabou a conversa. – Amanda colocou um ponto final na nossa conversa.

A partir desse momento ficámos em silêncio. Eu ajudei no que pude mas não abri uma única vez a boca, a não ser quando era mesmo preciso. O resto do dia, correu com normalidade, sem problemas. Depois do almoço, o Scott foi-se embora para o meu alívio. Então, não tive mais nenhum encontro inesperado e desagradável.

Como era o meu primeiro dia, Amanda deixou-me sair mais cedo. Ao tirar a minha farda, pareceu que tirava o peso horrível de cima das minhas costas. Vesti a minha roupa que me fez ridiculamente segura. E sai daquele apartamento sem me despedir de Amanda.

Entrei no elevador e em pouco tempo cheguei á entrada, ia-me embora quando ouvi uma coisa que me chamou a atenção.

- E como se chama, a miúda? – perguntou uma voz desconhecida vinda de um rapaz de olhos escuros que nunca tinha visto em lado nenhum.

- Angie. – respondeu Scott com um sorriso malicioso.

Angie? Esse é o meu nome. Espera aí, Scott estava a falar de mim a um dos seus amiguinhos riquinhos?

Determinada a saber o que eles falavam, escondi-me atrás do balcão do porteiro, o mesmo
tinha-se ausentado. Os dois rapazes falavam animadamente á porta do prédio. O amigo de Scott era maios ou menos da sua altura e da sua constituição física. Por outro lado ele era completamente o oposto de Scott. O Scott era todo dourado. Enquanto, o amigo era todo negro, com os seus cabelos e olhos pretos como a noite. Nenhum deles reparou na minha presença.

- Nome bonito. – comentou que não sabia o nome.

- E a dona é ainda mais bonita.

- Estou a ver que gostaste mesmo dela.

- Pois gostei. Aquele corpinho com aquela carinha. Não podia haver combinação melhor.

- E o que vais fazer em relação a ela?

- Vou comê-la como fiz com todas as outras.

- Quando falas nas “outras”, referes-te…?

- A todas as lindas empregadas que passaram pela minha casa. Nenhuma escapou. Todas ajoelharam-se aos meus pés, todas fizeram o que eu quis tal como essa vai fazer. – disse Scott com todas as certezas.

- Mas tu disseste que ela não era fácil e sim difícil. – relembrou o amigo, um pouco confuso com o que Scott planeava fazer.

- Isso é verdade. Mas eu vou torna-la submissa. Ela vai aprender a obedecer-me. vais ver. – disse Scott com um sorriso perverso.

Via-se pelos seus olhos que ele estava a pensar noutras coisas. Nem queria saber o quê, porque de certeza não era algo nada bom e tinha haver comigo.

- Logo se vê isso. Mudando de assunto, vais á festa que vai haver hoje? – perguntou o amigo, animado com o tema.

- Claro! O Bem disse que ia ser demais. Eu não ia faltar. – respondeu num tom igualmente
contente, embora Scott estivesse mais animado com a festa que ia haver do que com o amigo.

- Ok. Bom, eu vou-me embora. Encontramo-nos logo.

- Tcahu, Alec. – despediram-se um do outro.

Os dois rapazes despediram-se com um aperto de mão. Scott entrou no elevador e Alec, o
amigo de Scott, saiu pela porta do prédio.

Fiquei ali, a tentar encaixar tudo o que tinha ouvido no sítio certo. Então, o Scott pensava que eu ia cair aos seus pés e já estava a gabar-se disso. O que mais me irrita é o facto de ele pensar que eu sou igualzinha ás gajas que ele andou a comer e que faziam tudo o que ele mandava. Ele pode ter feito sexo e experimentado, todas as suas fantasias sexuais com elas mas comigo não ia ser assim. Ai, não ia ser mesmo.

Ele ia provar do seu próprio veneno. O feitiço ia se lançar contra ele. O Scott ia ter a guerra que tanto queria e o mais engraçado é que não faz a mínima ideia disso. Ele ia aprender o que é bom, não vem fácil.

- Menina, o que está ai a fazer? – questionou uma voz masculina, cansada, atrás de mim.

Virei-me para trás e encontrei o porteiro a olhar para mim desconfiado. De repente, recordei-me que estava escondida atrás da mesa do porteiro. Levantei-me com as bochechas a arder por causa da minha figura. Desculpei-me e sai dali o mais rápido possível.

Segui direta para o armazém. Como sempre estava silencioso. Entrei na “sala de convívio”, a mesma estava vazia. Atirei-me para cima do sofá, chateada com o mundo que nem reparei que não estava sozinha.

- Alguém não está de bom humor. – comentou Jamie. Ele veio sentar-se no mesmo sofá onde estava. Coloquei as minhas pernas no seu colo.

- Jamie, por favor diz-me que tens alguma coisa para esta noite? – perguntei, quase desesperando por uma distracção.

- Por acaso, até tenho. – respondeu com um sorriso trocista pelo meu tédio.

- E o que é?

- Hoje há uma festa num bar fixe de um amigo meu. Vai lá gente de todo o tipo, portanto
vai bem vestida. – explicou Jamie, dando um golo na sua lata de coca-cola que trazia na mão direita.

- Vestida para arrasar?

- Vestida para arrasar.

Rimo-nos os dois. Parece que finalmente o meu dia estava a melhorar.

“A vida só está á espera da hora certa para te surpreender”.