- Angie, corre! – gritou Pete atrás de mim.

Foi preciso ele dizer só isso para largar o que estava a fazer e guardar tudo na minha mochila. Todos começamos a correr desesperadamente para despistar quem nos perseguia.

- Vocês os três, parem imediatamente! – ordenou um dos policias que corrias atrás de nós com a voz cansada num tom alto.

Sorri automaticamente e tenho a certeza que o Finn e o Pete também sorriram. Nós não íamos para só porque eles disseram para o fazer.

Pelo canto do olho vi os dois rapazes a correrem divertidos com as caretas que os polícias faziam á medida que nos perseguiam. Reparei que se continuássemos juntos, íamos ser apanhados facilmente. Já tínhamos tido essa experiência e não foi nada agradável.

- Rapazes. Separem-se. – disse pausadamente pelo facto de estar a correr. Os dois sorriram em concordância. Foi o que me bastou para contornar a rua na direção oposta que eles iam.

Para meu favor, a rua era a descer. Parei um segundo para recuperar o fôlego. Ouvi um dos polícias a aproximar-se em passos rápidos. Sem olhar para trás, tirei o meu skate da mochila e desci a rua em cima dele. Em cima de quatro rodas, consegui escapar do palerma que me perseguia.

Dantes ficava super cansada por estar sempre a correr e muitas vezes que não era por um triz que não ia sendo apanhada. O Finn e o Pete correm muito mais rápido do que eu, pois eles são mais altos do que eu. E como são os meus melhores amigos esperam sempre por mim. Uma vez o Finn pegou-me ao colo e começou a correr comigo às costas como se fosse um saco de batatas. Não foi bonito. Mas valeu muitas gargalhadas depois.

Decidida a mudar. Aprendi a andar de skate. Primeiro comecei como uma amadora muito desastrada e agora sou um craque. E já não atraso os meus amigos, não sou detida e ainda me divirto um bocadinho.

Dirigi-me ao lugar onde a malta se encontrava toda. Já nem lembro como encontrámos isso. Há anos que vamos para ali. É um armazém abandonado. Bem, aquele sítio é praticamente abandonado, todo aquele lugar é abandonado. Dantes, no século passado, ali era uma fábrica. Depois foi a falência e ninguém se lembrou mais. Então nós decidimos dar-lhe alguma cor.

De fora, a fábrica parece abandonado com vidros partidos e o edifício a cair. Mas por dentro, parece que se entra noutro mundo. Toda a fábrica por dentro está decorada com os nossos melhores grafitis.

Num dos armazéns, o compartimento parece tal e qual uma casa de sem-abrigos. Na verdade, é o que nós somos. Todos temos vidas difíceis e problemas que não são fáceis de resolver. E aquele lugar é um ponto de abrigo que nos dá a oportunidade de abandonar esse mundo idiota em que vivemos.

O armazém tem vários sofás e poltronas gastos. Um rádio antigo que pertencia ao avô da Bee. Também havia aparelhagem que tínhamos comprado em conjunto. E era ali que tinha as minhas melhores obras. Naquelas paredes havia retratos nossos, símbolos que significam muito pra nós. Aquele armazém abandonado é a nossa casa. Nós somos uma família e seremos sempre uma família e essa é a nossa casa.

Entrei na fábrica, agarrei no skate levei-o na mão. Como todas as vezes que venho cá, estava tudo silencioso. Nem se ouvia uma mosca. Por fim, cheguei a uma enorme porta de aço, com algum esforço abri a mesma. Segui em frente, estava tudo escuro, o que era estranho pois ainda há bocado era de dia.

Passei as mãos pela parede, tentado encontrar algum interruptor. Sei que é estupido mas em algumas salas existia luz, graças aos dotes do Jamie para electricidade.

Segundos antes de o meu dedo tocar no botão do interruptor, uma mão desconhecida tocou-me no ombro fazendo com que eu desse, o maior grito que alguma vez dei na vida. Virei-me imediatamente para ver quem tinha pregado o susto.

- Tu!