Little Firefly escrita por Isabella


Capítulo 9
Café Gelado e Música Brasileira


Notas iniciais do capítulo

"Eu só queria te lembrar que aquele tempo eu não podia fazer mais por nós.Eu estava errado e você não tem que me perdoar, mas também quero te mostrar que existe um lado bom nessa história...Tudo que ainda temos a compartilhar" - Céu Azul, Charlie Brown Jr.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/284846/chapter/9

Acordei, sem querer abrir os olhos. O quarto estava fresco e eu podia ouvir os pingos de chuva batendo com força na janela. Eu sentia uma pequena dor na cabeça e no joelho, e não me lembrara de ter ido deitar. Virei-me na cama, tentando voltar a dormir. Foi quando as lembranças invadiram minha mente: eu havia brigado com Ed e fora atravessar a rua, depois desse ponto, não me lembrava mais de nada.

Sentei-me na cama e olhei em volta. Meu quarto estava mergulhado em uma penumbra agradável que entrava pela janela com as cortinas abertas, deveria ser de madrugada. Passei a mão nos meus cabelos e senti um curativo na minha cabeça. O que era aquilo? Acontecera algo comigo? Eu não me lembrava de nada... Levantei-me e acendi a luz. Meu quarto estava estranhamente arrumado, mas eu não me lembrava de ter limpado nada. Minhas apostilas estavam empilhadas na escrivaninha e uma xícara de café gelado estava colocada ao lado dos cadernos. Eu estava confusa, o que acontecera? Por que eu não conseguia me lembrar de nada?

Soltei um suspiro cansado, meu corpo todo estava dolorido. Caminhei pelo pequeno corredor e fui para cozinha, passando direto por alguém que dormia um sono inquieto no meu sofá. Só depois que passei pela pessoa, percebi que ela estava lá. Voltei assustada e olhei para o sofá: Ed dormia inquieto, se revirando. Seus cabelos ruivos estavam desarrumados e sua roupa amarrotada. Ele parecia tão cansado que entrei em um dilema interior para decidir se o acordava ou não. Parecia que um anjo adormecera no meu sofá. Resolvi acordá-lo, eu queria saber o que havia acontecido. Se eu estava brigada com ele, o que fazia dormindo no meu sofá? Eu poderia jurar que ele não estava confortável, meu sofá não era luxuoso, muito pelo contrário.

-Ed? – chamei suavemente, e ele se revirou no sofá. – Ed? – chamei de novo, um pouco mais alto e sacudindo seus ombros de leve.

Ele abriu os olhos e se sentou bruscamente. Seu rosto surpreso e aliviado.

-Angel! Faz tempo que acordou? Desculpe-me ter cochilado, eu queria estar com você quando acordasse...

Sentei no sofá ao lado dele. O violão de Ed estava a um canto da sala, próximo a T.V. Olhei confusa, se ele trouxera o violão, quer dizer que estava há algum tempo em minha casa.

-Ed, o que aconteceu? – eu perguntei, encarando seus olhos incrivelmente azuis e eufóricos, felizes por eu ter acordado seja lá do que fosse.

-Você não se lembra? De nada?

-Não...

-Bem – ele engoliu seco, parecia-me que iria chorar. – Nós brigamos... Você se lembra dessa parte?

-Lembro – eu disse, tentando parecer brava com ele. – Lembro-me de que discutimos por causa de Vanessa e eu fui atravessar a rua correndo – fiz força para lembrar algo mais, em vão. – Depois disso, não me lembro de mais nada.

-Bem, você foi atropelada... Eu, meus pais e meu irmão Matthew te levamos para o hospital. Você acordou enquanto te levávamos. Perguntei se você estava bem e você só respondia com acenos de cabeça... É incrível que não se lembre... Você machucou o joelho e bateu a cabeça com força. Depois te trouxemos para cá e você murmurou algo sobre dormir. Isso foi ontem à noite... Meus pais me deixaram aqui e estou com você até agora. Pedi para Matthew trazer o meu violão porque você se revirava demais durante o sono, então pensei que mesmo dormindo, alguns acordes poderiam te acalmar...

-Que horas são?

Ele revirou em baixo das almofadas e encontrou meu celular. O visor de acendeu e revelou uma foto minha com Ed na qual meu nariz estava sujo de sorvete e ele me dava um beijo no rosto, que eu definira como plano de fundo. Na época em que a foto fora tirada, não existia Vanessa ou qualquer outra coisa. Só nós dois e nossa felicidade. O relógio do celular marcava 3:30pm.

-O que está fazendo com meu celular? – perguntei a ele, confusa.

-Desculpe-me por isso... Eu só queria acreditar que tudo ficaria bem de novo, queria estar próximo de você, Angel. Fiquei com você desde ontem quando te trouxe para cá até agora, ouvi sua playlist enquanto você dormia, isso me deu forças. Aprendi a tocar os acordes de uma música, para quando você acordasse...

-Ed... – eu disse. Era tão fácil acreditar que ele realmente se importava comigo. Por que estava fazendo isso? Ele não me amava. Vanessa era mais bonita do que eu, tinha muito mais a oferecer a Ed... Lembrei-me das palavras que escutara pouco antes de ser atropelada, de Vanessa o chamando de “meu amor”. – Eu fico grata por se importar comigo, mas não quero te causar problemas. Vanessa não aprova você dormindo aqui, aposto. Por favor, me prometa que quando amanhecer você vai embora. Eu ainda te amo, mas você não é meu. Eu não quero ficar perto de você para depois sentir sua falta mais intensamente – as lágrimas escorreram dos meus olhos antes que eu pudesse contê-las.

-Angel...

-Não me chame mais assim, por favor.

-Por favor, me escute! Estou tentando te dizer isso desde quando brigamos... Eu não tenho nada com Vanessa. Não mais, pelo menos. Achei que não precisasse te contar sobre isso, porque odeio falar sobre ela. Mas eu estava errado, falhei com você e reconheço meu erro, vou entender se não quiser me perdoar... – ele engoliu seco. – Nós namoramos e ela só me fez sofrer. Não estava interessada em mim, mas sim no ciúme que eu poderia proporcionar ao seu namorado alto, bronzeado e jogador de futebol. Bem, não saiu do jeito que ela esperava. Quero dizer, um cara como eu não costuma causar inveja ou ciúmes em um cara como aquele... Não sei a razão, mas ela decidiu te enviar aquele bilhete. Eu te garanto que fazia séculos que não falava com ela. Tudo o que eu sinto por aquela garota é pena pelo ser humano horrível que ela é... – As lágrimas escorriam silenciosamente pelo rosto de Ed. Ele me encarou.

Eu o fitei de volta, sustentando seu olhar. Seus olhos eram sinceros, preocupados, apreensivos e temerosos. Como eu pude ser tão idiota? Nem ao menos parei para escutá-lo, quando ele tinha tanto a me dizer. Quem falhara na história era eu, orgulhosa demais para ouvir sua parte. Entrelacei os dedos carinhosamente em seus cabelos ruivos e o trouxe mais perto, dando-lhe um beijo.

-Quem tem que pedir desculpas sou eu... Por não ter te escutado...

-Shhhhh! – ele me interrompeu, fazendo-me apoiar a cabeça em seu peito. – Não precisa se desculpar por nada. Tudo está bem agora, nós estamos bem – ele continuou, dando um beijo no alto de minha cabeça. – Eu estou aqui, e te amo mais do que você pode imaginar.

Eu sorri e virei-me para olhar em seus olhos azuis: essa fora a primeira vez que ele dissera que me amava.

-Eu te amo mais, meu ruivo.

Ele me beijou, doce e cuidadosamente. Eu realmente tivera sorte em conhecê-lo, não conseguia compreender como Vanessa fora capaz de usá-lo daquela forma. Um anjo como Ed não merecia ter passado por tudo isso...

-E então, meu músico. Vejo que preparou café para mim e deixou na minha escrivaninha... Estou doida para provar – eu disse, quebrando o silêncio e sorrindo.

-Já está frio... Preparei há algumas horas, na esperança de que você acordasse...

-Eu não me importo, foi você quem fez – eu repliquei, levantando-me para pegar o café.

Andei pelo corredor sorrindo como uma criança na manhã de natal e peguei a xícara nas mãos. Beberiquei um pouco do café: estava frio, Ed tinha razão. Também tinha açúcar de menos e água demais. Mas aquilo para mim era mais que um café, era a marca de que ele se importara comigo, que tentara preparar mesmo sem saber. Voltei para sala com a xícara nas mãos e me deparei com Ed sentado no tapete, dedilhando o violão.

-E então, como está o café? – ele perguntou, desviando o olhar das cordas e olhando em meus olhos.

Sentei-me no tapete ao lado dele.

-Horrível – eu disse, rindo. – Mas não me importa, vou tomar até o fim, isso significa que você se importou comigo.

-Eu sempre me importo com você. E não precisa tomar até o final, eu nem sei fazer café direito.

-Shhh, eu vou tomar e pronto.

-Sua teimosa – ele disse, passando a mão suavemente pelas minhas bochechas. – Pronta para ouvir a música? Peço para que você me ajude, cante junto comigo e perdoe meus erros, não aprendi a melodia direito e a letra é difícil.

-Letra difícil? Não estou entendendo... Quem deveria ter dificuldades com inglês sou eu, não você. E minha voz não é boa...

-Apenas cante.

Ele baixou os olhos e dedilhou o violão, concentrado. Reconheci os acordes da introdução de Palavras, da Cássia Eller. Eu não acreditava que Ed se importara tanto comigo ao ponto de aprender uma música brasileira... Eu realmente não o merecia na minha vida. Comecei a cantar baixinho, insegura.  Chegou o refrão e Ed me acompanhou com sua voz doce e seu sotaque tipicamente britânico. Ele errava alguns acordes e dizia algumas palavras erradas, mas era perfeito para mim. A melodia ecoava por todo apartamento, nos envolvendo em paz e paixão. Em rosas e vinho tinto, como deveria ser. As rosas correspondiam ao nosso amor e o vinho tinto ao desesperado desejo de estarmos juntos, como um alcoólatra deseja desesperadamente não se separar do vinho.

A música terminou e Ed deixou seu violão de lado. Eu o abracei, não sabia como eu poderia expressar minha gratidão pelo o que ele fizera. Faltavam-me palavras.

-Ed... Eu nem sei o que dizer... – comecei, tentando encontrar as palavras certas.

Ele pegou a xícara da minha mão e a colocou de lado. Logo depois, envolveu-me em seus braços.

-Não precisa dizer nada, apenas prometa que será minha para sempre.

-Não posso prometer isso...

-Por que, minha Little Firefly?

-Não posso prometer uma coisa que já é verdade absoluta.

Eu acariciei seu rosto e o beijei. Eu estava cansada, mas não queria que ele fosse embora. Encostei minha testa na dele.

-Eu também serei seu para sempre, na verdade, tenho certeza de que sempre fui até mesmo antes de você entrar em minha vida... Angel, você precisa dormir – ele disse, olhando preocupado para as minhas olheiras.

-Não quero que você vá embora... – eu sussurrei.

-Não vou embora, ainda é de madrugada, lembra-se? – ele disse, rindo. – Volte para sua cama, eu fico lá até você cair no sono e depois volto para o sofá...

-Ed? – eu chamei baixinho. Queria perguntar uma coisa, mas estava com medo do que ele iria pensar.

-Sim?

-Não precisa voltar para o sofá... Pode dormir comigo, se quiser. Quero dizer, sei que a cama de solteiro é apertada e tudo o mais... Mas você pode me abraçar, e eu prometo que não passará disso e...

Ele me calou com um beijo.

-É claro que eu quero, Angel – ele disse, os olhos azuis fitando os meus intensamente.

-Se algo passar dos limites essa noite... – eu não sabia o que ele estava pensando. Eu só queria dormir abraçada com ele, nada mais.

-Não acontecerá nada além do que você permitir. Eu te amo demais, minha Angel. Não se esqueça disso, nunca.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!