Little Firefly escrita por Isabella


Capítulo 7
Back To Black


Notas iniciais do capítulo

"No amor ninguém pode machucar ninguém; cada um é responsável por aquilo que sente e não podemos culpar o outro por isso.Já me senti ferido quando perdi a mulher por quem me apaixonei. Hoje estou convencido de que ninguém perde ninguém, porque ninguém possui ninguém... Essa é a verdadeira experiência de ser livre: ter a coisa mais importante do mundo sem possuí-la." - Paulo Coelho



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/284846/chapter/7

Abri os olhos para aquela manhã de sábado, sentindo-me descansada depois de uma boa noite de sono. Eu precisaria trabalhar por meio período na livraria e depois estaria livre o resto do dia. Pensei em retornar ao parque com o lago, um lugar que eu me afeiçoara bastante. O lago era acolhedor e tranquilo, quase ninguém visitava aquele lugar. Talvez fosse pela falta de tempo, um sintoma que parecia afetar a maioria dos londrinos. Ou fosse porque as pessoas não tem muita paciência para se sentar na grama e olhar o lago, sem ter um celular ou computador para se distrair. Eu não precisava disso, só do lago, das árvores e meu caderno. Aquele lugar me deixava calma, me transmitia uma paz enorme. Eu gostava de sentar na grama úmida, de olhar o espelho cristalino do lago e ver as folhas caindo das árvores tão suavemente, sentindo a brisa me envolver.

Levantei-me da cama e abri a janela, deixando o sol fraco matinal iluminar meu quarto desarrumado. A escrivaninha estava abarrotada de papéis e livros escolares, minha mochila ocupava o lugar na cadeira e meu urso de pelúcia chamado Cedrico – que minha mãe me dera há algum tempo – estava no chão. Meus sapatos jaziam de qualquer jeito a um canto, e a roupa que eu usara a noite anterior estava abarrotada em cima do pufe vermelho. Ah, a noite anterior. Eu ainda achava difícil acreditar em tudo o que acontecera, parecia uma névoa de campo, daquelas que cobrem nossas cabeças; um sonho distante ou um devaneio de verão. Ed realmente me beijara noite anterior, não poderia duvidar disso.

Passei a mão nos cabelos a caminhei para fora do quarto. Troquei-me maquinalmente e tomei o café da manhã. Prendi meus cabelos em um coque e joguei meus velhos óculos na bolsa. Eu nunca precisara usar os óculos em tempo integral, apenas para enxergar de longe. Mas como eu trabalhava em uma livraria, era bom tê-los à mão. Abri a porta do meu pequeno e barato apartamento e encontrei uma flor de campo colocada cuidadosamente no tapete de entrada. Havia um bilhete por baixo dela.

“Aposto que quando viu a flor no tapete pensou que fosse Ed, não é mesmo, Angélica? Minha amiga me contou o quão são próximos na escola. Não queria estragar essa bela amizade, mas Edward não é o tipo de pessoa confiável. Pergunte a ele quem é Vanessa, da Lincon High School, ou como ele costuma me chamar: Nessie. Tenho certeza de que ele não te contou sobre nós.”

Apoiei-me no beiral da porta, respirando fundo. Eu não conseguira acreditar no que acabara de ler. Depois de tudo o que eu sofrera, pensava que podia ser feliz novamente. Como eu estava enganada. Sentia-me mergulhando de cabeça em um buraco fundo com pregos no final: a descida fora boa, mas quando batera a cabeça nos pregos da realidade, eles me machucaram mais do que eu previra. As lágrimas desciam pelo meu rosto como pequeninas cachoeiras salgadas, eu me sentia morta por dentro. Não haveria volta, esse fora o último golpe: depois de tantas machadadas da vida, essa fora a que finalmente me derrubara. Tinha a certeza que dali por diante, eu não viveria mais. Não sentia mais vontade de nada, nem mesmo de olhar as estrelas. Depois dessa ceifada, eu seria como um zumbi, apenas existindo, sem viver.

Respirei fundo e limpei as lágrimas que insistiam em cair dos meus olhos marejados, pisei na flor e amassei o bilhete com firmeza, colocando-o na minha bolsa. Tranquei a porta e desci as escadas de modo automático, sem prestar atenção em nada. Fora do prédio, não parei para sentir a brisa ou olhar o céu matinal, apenas caminhei tristemente até o trabalho. Eu estava dilacerada por dentro, mas não podia faltar ao emprego, era minha única forma de sustento. Quem era Vanessa? “Tenho certeza de que ele não te contou sobre nós”... Provavelmente eles estavam juntos, e a idiota aqui acreditando que poderia se recompor novamente com a ajuda de Ed. Eu fora infantil e iludida, então a vida viera me provar que ela sempre tem prazer em derrubar pessoas desse tipo de cara no asfalto.

Cheguei à livraria e assumi meu posto habitual, arrumando os livros nas prateleiras corretas e atendendo aos clientes confusos. As horas se arrastaram, mas finalmente chegou meio-dia e eu fui dispensada.

Caminhei de volta para casa, sem reparar no céu outonal do qual eu tanto gostava. Esbarrei em duas pessoas pelo caminho, tamanha a minha falta de atenção. Tudo o que eu queria era chegar em casa, tomar um banho quente e passar o resto do dia na cama. Estava entrando no meu prédio quando ouvi uma voz familiar me chamar, virei-me lentamente e vi Ed correndo em minha direção. Senti que meus olhos iam se encher de lágrimas, mas eu não poderia chorar em sua frente, queria mostrar que era forte, apesar de essa ser a maior mentira do mundo.

-Oi Angel! Eu estava na varanda quando você passou pela rua, estava tão distraída que nem me viu... – ele parou no meio da frase e olhou em meus olhos vermelhos. Droga, eu não queria deixar transparecer o que estava sentindo. Fiz o olhar mais frio que consegui e o fitei. – Aconteceu alguma coisa?

-Fique longe de mim, por favor – eu disse, dando as costas. Tudo o que eu queria, por incrível que pareça, era ficar longe dele.

-Ei, o que aconteceu? Eu te fiz alguma coisa? Angel, por favor, olhe para mim – ele disse angustiado, segurando meu braço.

Eu me virei e olhei em seus olhos. Não acreditava que ele mentira para mim esse tempo todo. Como eu conseguira ser tão ingênua?

-Quem é Vanessa? Ou melhor, Nessie? Por favor, Edward. Tive uma manhã cansativa e quero ir para casa, me solte. Não quero falar com você, fique longe de mim.

-Angel...

-Não me chame mais assim – eu retruquei, interrompendo-o.

-Eu não estou entendendo, pode me explicar, por favor?

-Não está entendendo o quê, Edward? Como eu soube de sua namoradinha secreta? Então você achou que poderia esconder de mim para sempre e ficaria tudo certo? A coisa que eu mais odeio nesse mundo são as pessoas que mentem para mim – eu disse, tentando ir embora, mas ele ainda segurava em meu braço com firmeza – Me solte! Está me machucando!

-Eu não vou te soltar até que você escute o que eu tenho para te dizer – ele respondeu, seus olhos azuis marejados de lágrimas.

-Por que não me contou sobre ela antes? Não acha tarde demais agora? Não quero ouvir o que você tem a dizer, não quero saber de mais mentiras. Volte para a sua amada Nessie, eu vou ficar bem sozinha, se é que você se importa.

-É claro que eu me importo, Angel. Eu achei que não precisasse te contar... Por favor, me escute!

-Estou cansada de aturar mais e mais decepções, e você me saiu uma bela decepção. Você é patético! Achou que não precisava me contar? Você realmente não é do jeito que eu imaginava. Eu quero ir para casa, me solte antes que eu grite.

-Angel... – ele disse, soltando meu braço. Seus olhos azuis estavam vermelhos e marejados de lágrimas.

-Já disse para não me chamar mais assim. Adeus, Edward. Não me procure mais, por favor. Acabou tudo, se é que tinha começado alguma coisa.

Virei às costas e subi as escadas do prédio correndo. Cheguei em casa e me joguei na cama,  chorando descontroladamente. Era como se eu estivesse de luto novamente: Ed morrera para mim.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!