Little Firefly escrita por Isabella


Capítulo 6
Little Firefly


Notas iniciais do capítulo

"A esperança não murcha, ela não cansa, também como ela não sucumbe a crença. Vão-se sonhos nas asas da descrença, voltam sonhos nas asas da esperança." - Augusto dos Anjos



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A lua cheia brilhava imponente e encantadora no céu azul aveludado e se refletia nas pequenas poças de água formadas no chão. As estrelas brilhavam tão intensamente que pareciam dançar e a brisa batia suave, acariciando minhas bochechas pálidas. Após a chuva torrencial da tarde, o clima se refrescara e era agradável. As folhas laranja caídas das árvores forravam o chão, não havia ninguém na rua e os postes estavam acesos, iluminando tudo com seu feixe de luz branca e fazendo as poças brilharem. As janelas das casas estavam iluminadas também, as pessoas assistindo T.V. na sala.

Eu estava caminhando abraçada em Ed. Ele ainda estava úmido por causa da chuva que tomara, mas eu não me importava de abraçá-lo, tampouco. Gostava da sensação de estar em seus braços. Era confortável, acolhedor. Estava levando-o para casa, infeliz por ter que me separar dele. Depois da confissão que eu fizera aquela tarde, eu me sentia mais leve, como se um grande peso fosse tirado das minhas costas.

Era uma noite típica das que a minha mãe dizia ser montada para algo de especial acontecer, o clima tão agradável e a lua tão cheia. Olhei para o lado, observando os vagalumes que voavam nas primeiras horas daquela noite, com sua luz esverdeada. Eles eram livres, pareciam dançar alegremente... Suspirei.

-O que foi, Angel? – perguntou Ed, virando o rosto para olhar em meus olhos. Seu olhar era de imensa ternura, seus olhos azuis tranquilos e sinceros.

-Já olhou aqueles vagalumes? – respondi, apontando para onde eles batiam suas pequeninas asas, parecendo flutuar.

-Sim. São lindos, não é mesmo? Tem algum significado especial para você?

-Um pouco... Eles são livres, desprovidos de coisas materiais ou problemas mundanos. Como se pudessem voar para qualquer lugar onde lhes agradem, como se o bater de suas asas eliminassem todos os seus problemas e a dor fosse só uma coisa irrelevante. Eu queria ser como um vagalume, voar e esquecer-me de tudo.

-Eu também, mas só voaria se te levasse juntos. Vagalumes costumam ser muito solitários.  Poderíamos ser como pequenos pássaros, então. Voando para longe da ilha onde nossos problemas se estabelecem...

Eu olhei carinhosamente em seus olhos azuis, mais intensos que o oceano inteiro. Ele me compreendia de uma forma que me deixava assustada, ao mesmo tempo em que eu me sentia cada vez mais fascinada. Conhecia-me da forma que eu conhecia a mim, e em tão pouco tempo. Tarde demais eu o conheci, e cedo demais me afeiçoei. Ele era uma das pessoas que eu queria mais bem nesse mundo, desde seus cabelos ruivos bagunçados até a sola de seus sapatos gastos. Sentia-me sortuda por ter sido liberada a tarde toda do trabalho e aproveitado ela ao lado de Ed, de ter tido a oportunidade de dizer-lhe tudo o que me acontecera.

Chegamos à varanda de sua casa, já iluminada, um sinal de que os pais de Ed já haviam voltado. Será que ficariam preocupados? Improvável, Ed estava com o celular e deixara um bilhete... Eu não queria deixá-lo em casa, queria sentar no banco da praça com ele e ter sua companhia, seu abraço aconchegante. Ele passou um braço pela minha cintura.

-Não queria te deixar em casa agora... – eu sussurrei.

-Nem eu... Vamos combinar uma coisa? São 19:30h, certo? Posso passar na sua casa 20:30h? Podemos sentar naquele banco da praça e conversar mais um pouco – ele disse, abraçando-me.

-Você leu meus pensamentos.

Ele me abraçou. Eu sentia que poderia ficar anos dentro de seu abraço e nem notaria.

-Até mais, minha Angel – ele disse em meu ouvido, dando-me um beijo na bochecha.

-Até mais, ruivo.

Virei as costas e caminhei pela rua, voltando para a minha casa. Levantei a cabeça e olhei a lua cheia prateada. Era realmente linda, eu amava observar a lua e as estrelas. Elas eram distantes, porém tão próximas. Queria ser capaz de tocá-las do mesmo modo de que elas tocavam minha alma.

Foi então que percebi um detalhe que deixara passar em branco. Agora que percebera, me achei burra por não ter notado antes. Tinha certeza que esse pequeno detalhe não possuía importância para qualquer adolescente normal, mas para mim fazia toda a diferença. Meu coração aquecera-se no momento em que percebi, e eu sorri automaticamente. Sentia-me quase completa: Ed me chamara de “Minha Angel”.

Subi as escadas do meu prédio de dois em dois degraus, tamanha a minha felicidade. Depois que perdera minha família, nunca mais me apegara a ninguém, mas esta situação mudou. Era engraçado como eu lutara para não precisar das pessoas, e acabei fazendo justamente ao contrário. Era como se eu precisasse de Ed para me concertar novamente, para ser interia. Claro que eu não seria dependente dele, assim como essas garotas clichês de filmes ou obras literárias românticas. Nós éramos um romantismo meio torto, diferente. Ele não era o garoto popular do colégio ou astro do time, e eu estava longe de ser a garotinha inocente, bobinha e bonita. Mas o que importava era que eu me sentia bem ao seu lado, como se nada fosse capaz de ceifar minha felicidade novamente.

Tomei um banho demorado, sentindo a água morna. Peguei minha toalha e enrolei-me. O que eu vestiria? Abri meu guarda-roupa, pensando. Eu nunca fora o tipo de garota que se preocupa com roupa ou maquiagem, mas eu queria me sentir bem comigo mesma, sentir-me bonita pelo menos uma vez, mesmo que fosse só para me sentar no banco da praça e conversar com Ed. Acabei escolhendo uma calça jeans, uma blusa cinza e um cardigã marrom, feito de lã. (Para ver a roupa escolhida por Angel, copie e cole essa url no seu navegador: http://data.whicdn.com/images/40575773/tumblr_mby315AFMT1qfc4dgo1_500_large.jpg)

Escutei um pequeno barulho vindo do lado de fora da minha janela... Talvez fosse só o vento lá fora. Sentei-me na cama desarrumada calcei minhas sapatilhas vermelhas. Levantei-me e olhei no espelho de corpo inteiro fixado atrás da porta do meu quarto. Sua moldura era dourada e descascada, e ele possuía uma pequena rachadura em cima. A imagem refletida no espelho era de uma garota sorrindo, os olhos castanhos transmitindo – pela primeira vez em muitos anos – um pouco de alegria. Ouvi o barulho novamente e virei-me bruscamente. Não poderia ser o vento, era como se algo fosse jogado na minha janela. Ajoelhei na cama e olhei para fora. Ed estava lá fora, com seu violão e pedrinhas na mão. Sorri para ele e fechei a janela novamente.

Apaguei as luzes e tranquei a porta. Desci as escadas rapidamente e saí do prédio. Ele sorriu ao me ver. Seu sorriso era angelical, seus olhos sorriam junto com os lábios vermelho claro e isso me encantava.

-Oi, ruivo.

-Oi, minha Angel. Gostei do cardigã – Ele disse, entrelaçando seus dedos nos meus e me conduzindo para o banco da praça.

Ele se sentou no mesmo banco que eu escolhera naquele dia em que nos conhecemos e começou a dedilhar seu violão claro. Seus cabelos ruivos estavam mais desalinhados do que de costume; ele parecia nervoso e ao mesmo tempo satisfeito consigo mesmo.

-Escrevi um pequeno refrão para você, quer ouvir? – ele perguntou com a voz carinhosa.

-Claro – eu respondi. Ele havia escrito um trecho musical para mim? Eu não acreditava... Isso nunca acontecera antes, ninguém me conhecera tão bem a esse ponto, ou me considerara o suficiente.

Ed segurou o violão mais firme, dedilhando-o e produzindo suaves acordes. Eu o olhava: tudo nele era perfeito para mim. Seus cabelos ruivos, seus dedos passando pelas cordas do violão, seus lábios, os olhos azuis, concentrados em fazer soar os acordes da música... Ele começou a cantar suavemente, com um timbre angelical que me transmitia calma, como se eu sentasse no colo da minha mãe depois de um pesadelo.

“(…) Sew you heart to my sleeve

We'll stay quiet

Underneath shooting stars

If it helps you sleep

And hold me tight

Don't let me breathe

Feeling like

You won't believe

There's a firefly

Loose tonight (…)”

Ele terminou de cantar e apoiou o violão na lateral do banco. Passou o braço pelos meus ombros e olhou em meus olhos. Parecia confrontar um dilema interno, como se decidisse ou não fazer algo muito importante. Eu me sentia emocionada, amara a letra da música. O abracei forte, querendo expressar minha imensa gratidão.

-Eu amei a música – eu disse em seu ouvido, sem soltá-lo. – Mas mão faz jus a mim. A música é perfeita, eu não.

-Você é perfeita para mim, Little Firefly.

Ele desfez o abraço para me olhar nos olhos. Ed possuía um brilho estranho no olhar, quase como se ele desejasse muito uma coisa, mas tinha temor. Seu rosto estava a menos de cinco centímetros do meu, e eu podia sentir sua respiração acelerada. Ele passou a mão pelo meu rosto e acariciou meus cabelos, aproximando-se cada vez mais. E antes que eu pudesse esboçar qualquer reação, colou seus lábios aos meus. Eu estava surpresa, mas correspondi o beijo. Havia imaginado esse momento várias vezes, e ele chegara. O beijo de Ed era suave, doce. Nossos lábios se moviam em perfeita sincronia, e os de Ed se encaixavam aos meus como se fosse feito só para mim. Sorri entre o beijo e ele também. Parou para me olhar nos olhos, como uma criança travessa pedindo permissão tarde demais e beijou-me novamente.

Ao final do beijo, ele sorriu e beijou minha testa. Eu encostei minha cabeça em seu peito, sentindo-me mais feliz do que já ousara sonhar.

-Espero que não esteja muito brava comigo – ele disse, com uma risadinha.

Eu me aconcheguei ainda mais nele; naquele momento, eu tinha a certeza de que poderia ser feliz novamente.


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