Vongola Sky escrita por Selene L Tuguert


Capítulo 7
Arco Reunião - parte 4


Notas iniciais do capítulo

Ciao minna-san!
Bem hoje não tenho muita coisa para dizer, apenas que estou ansiosa para os próximos eventos da trama. Aliás, se tudo der certo o próximo capítulo deve sair ainda esta semana e deve fechar o primeiro Arco da estória.
Sobre os comentários - que vou começar a responder agora (não me odeiem, fiquei mais de uma semana sem net @.@) - eu vi uma teoria muito interessante, confesso que a linha de pensamento me surpreendeu um pouco - mas não darei spoilers XD
Ah, eu escrevi este cap. escutando basicamente: A beautiful Lie by 30 second to mars (http://youtu.be/5p6bXPOlrts)
Além de Nuvole Bianche em suas duas versões.
Ah, eu fiz outro vídeo para VS, ele tem novas imagens e a versão cantada de Nuvole Bianche, que é ainda mais linda que a versão piano ^^
http://www.youtube.com/watch?v=ZxC8Lec4kTw
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Então, sem mais enrolação, KHR pertence a Akira Amano-sensei, apenas o enredo é meu!
Enjoy!!!!



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SEM PERSPECTIVAS II

Dor. A sensação que surge com o choque de vermos aquilo que amamos desaparecer diante dos nossos olhos. Remorso. O sentimento amargo como fel que vem com a percepção de que temos culpa por perder o que nos é mais precioso. Ódio. A emoção que cresce quando nos damos conta de nossa própria impotência em proteger o que nos é querido. Solidão. O vazio que corrói o coração quando os laços que construímos se rompem. Saudade. A única cicatriz que mesmo o tempo é incapaz de apagar completamente.

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Lambo teve um pesadelo. Um onde tudo estava errado. Um onde eles se odiavam e brigavam. Ele estava preso em um mundo distorcido cheio de dor e tristeza. Nada fazia sentido. Tudo era cinza e sem vida. E ele estava sozinho. O Céu os havia deixado, porque eles haviam falhado. Aos prantos o Bovino salta da cama em seu pijama de estampa de vaca e corre pelos corredores da mansão como se desta forma ele pudesse escapar daquele mundo. Seus pulmões ardem pelo esforço e pelo choro incessante. Em sua mente ele grita que nada daquilo era real. E em algum momento seus lábios também começaram a se mover repetindo aquelas palavras como um mantra.

Quando o último do seu fôlego estava para deixa-lo devido ao choro, o adolescente avista as portas duplas daquele quarto. Estão abertas, como se convidando-o a entrar; a luz irradiando para fora do cômodo como um farol iluminando o caminho. Sim, nada daquilo foi real, porque ele está ali. Ele nunca os deixaria. Ele nunca o deixaria. Seu corpo trêmulo - se pelos soluços constantes ou pelo medo que o arrancou da cama, ele não saberia dizer, e sinceramente Lambo não se importava – atravessa as portas em busca da única pessoa que sempre o acolhe independentemente da hora e local. Ele está lá, de pé diante da grande janela ainda em seu terno – ele deveria estar trabalhando até agora como sempre faz, ele passa tanto tempo preso dentro daquele escritório enterrado na papelada sem fim, mesmo que todos saibam que ele odeia fazê-lo. Os cabelos fofos e castanhos cobrindo sua expressão e impedindo o jovem Guardião de ver seu rosto com clareza. Então ele se vira. Seus lábios se movem. Mas o jovem Trovão não consegue ouvir o que ele diz. Lambo tenta pedir-lhe para falar mais alto, mas sua voz não vem.

O som de chuva batendo impiedosamente contra a janela inunda o cômodo quebrando o silêncio. – quando começou uma tempestade tão intensa? A energia se vai, e com ela as paredes, o chão, os móveis, tudo desaparece, restando apenas à escuridão, que parece querer sufoca-lo com seu manto negro. E Lambo sente o medo se intensificar rastejando para fora do seu coração e gelando suas veias. O Bovino tenta correr para a figura branca quase translúcida, brilhando no meio das trevas em busca de proteção. Mas não importa o quanto tente, suas pernas simplesmente não se movem, elas parecem presas ao chão. Em uma nova onda de desespero, estende a mão tentando de alguma forma alcança-lo. Tocá-lo. Seus esforços são completamente inúteis e para seu maior horror, diante dos seus olhos arregalados, seu corpo começa a se dissolver como a fumaça que se eleva de uma vela cuja chama se apagou. E então sua voz atinge os ouvidos do jovem Trovão, sussurrando na escuridão vazia o que Lambo não havia sido capaz de ouvir.

“Arrivederci...”

Lambo grita. Grita e chora com toda a força que seus pulmões possuem. Seu choro em pânico inunda os corredores da mansão, e não demora para sua porta quase voar das dobradiças quando Hayato invade seu quarto seguido de perto por uma Chrome pálida e trêmula, ambos atraídos pelo barulho. No corredor, Yamamoto, Ryohei e mesmo Mukuro observam a Tempestade segurar o adolescente se debatendo e soluçando, enquanto a metade feminina da Névoa afaga seus cabelos e sussurra qualquer coisa em seu ouvido tentando acalma-lo. Lá fora o sol mal começara a despontar no horizonte dando a todos a certeza de que este será outro longo dia.

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Após a nova crise de choro de Lambo, nenhum dos Guardiões voltou a dormir e não demorou para os empregados começarem a trabalhar na cozinha. Aparentemente o chef Pizio também acordou com todo o barulho e decidiu preparar um pouco de chá para o Bovino e logo em seguida iniciou o café da manhã – bem reforçado para ‘animar’ um pouco os patrões, embora até os empregados não estejam muito animados desde o dia em que seu amado e jovem Céu os deixou. Mesmo nas raras ocasiões em que os seis Guardiões estão reunidos na mansão, as refeições há muito não são feitas com todos juntos. Ryohei prefere comer no jardim ou em qualquer outro local e Yamamoto em geral come em seu quarto ou no dojo, local onde passa a maior parte do seu tempo. Apenas Gokudera e Chrome, para fazerem companhia para Lambo, além de Mukuro, que não tinha nada mais interessante para fazer e não quer deixar Nagi sozinha, atualmente ocupam a mesa do café. Reborn-san não foi visto por ninguém, mas todos sabem melhor do que ficar enfiando o nariz nos assuntos do Hitman, ainda assim nenhum deles pode negar o estranho sentimento de antecipação pressionando seus estômagos, depois de tudo hoje é o dia marcado para a reunião. E neste clima tenso outra refeição silenciosa é terminada – Lambo finalmente havia se acalmado o suficiente para recuperar sua máscara mesmo que temporariamente – e logo todos se dispersam uma vez mais.

Por volta das nove da manhã, Hayato atravessa os longos corredores em direção ao seu quarto para buscar alguns relatórios, que ocupou sua mente corrigindo durante a madrugada, e com toda a confusão com Lambo acabou esquecendo de trazer para a biblioteca da mansão, e atualmente precisa deles para fechar o balanço das missões realizadas durante o mês. Assim que alcança seu objetivo, seu corpo congela. Seus orbes verde-cinzentos correndo para as portas duplas ao lado do seu quarto. As mesmas que estiveram lacradas nos últimos três anos. As mesmas que se tornaram uma ‘zona proibida’ para todos na mansão. Abertas. As portas estão abertas - mesmo que apenas uma fresta - e há luminosidade escapando para fora do cômodo. A Tempestade pisca algumas vezes para ter certeza de que o que está vendo é real, mas nada se altera. Então, em um flash o sonho que o Ahoushi narrara para ele e Dokuro mais cedo, entre muito choro e soluços, brota em sua mente e Gokudera sente seu peito acelerar. Quase ao mesmo tempo a parte racional da sua mente lhe diz que seu chefe, seu Céu não está mais neste mundo.

Mas talvez... Apenas talvez... – a parte traidora do seu coração sussurra, e os sussurros encobrem a razão, e antes que perceba seus pés o arrastam para aquele cômodo como se seu corpo se recusasse a obedecê-lo. De repente olhar para aquelas portas duplas faz emergir em sua mente uma avalanche de lembranças amargas, e encontrar-se ali o faz sentir-se de pé na frente da enfermaria exatamente como naquele dia, três longos e malditos anos atrás, e o pensamento de reviver tudo aquilo outra vez faz seu estômago embolar, e Hayato congela á poucos passos da madeira escura.

— O que extremamente está acontecendo?!

— Gokudera você abriu a porta?

O par de vozes força sua mente de volta a realidade, ao mesmo tempo em que seus pulmões começam a implorar por ar. Ele nem havia percebido que trancara a respiração. Girando um pouco a cabeça para o lado direito, encontra dois pares de olhos encarando-o com expressões confusa, no caso de Ryohei, e irritada no de Yamamoto. Hayato não tinha percebido eles se aproximarem enquanto esteve afogado em suas memórias dolorosas.

— Eu também não sei. Acabei de chegar. – apesar de sua tentativa de soar irritado pela acusação de Yamamoto, sua voz sai pouco mais alto que um sussurro, o choque da visão recente ainda afetando seu corpo.

Com o comentário, os três voltam a encarar as portas entreabertas. Uma estranha tensão agarrando-se a eles enquanto os segundos se arrastam em completo silêncio. Nenhum deles atravessa essas portas há tanto tempo. Mesmo antes do Jyuudaime deixa-los, eles já evitavam se aproximar deste cômodo. Na verdade eles tentaram diminuir o máximo que podiam o contato com seu chefe durante os cinco meses que precederam a sua morte. Da mesma forma após aquele dia em que seus mundos, seus futuros desmoronaram diante dos seus olhos, eles continuaram evitando ir a esses mesmos lugares, mas por motivos diferentes – eles se sentiam sujos, eles não queriam macular os locais que seu Céu costumava frequentar, eles não tinham mais esse direito. Além disso, as ondas nostálgicas de recordações que esses mesmos locais despertam em suas mentes fazem seus corações doerem ainda mais, e eles já sentem dor suficiente apenas por estarem na mansão, o lar do seu Céu, um lembrete constante de suas falhas como Guardiões, amigos e família.

Em um tipo estranho de consenso, Gokudera parece ser o escolhido para tomar à dianteira e abrir as portas. Apesar da possibilidade por si só ser absurdamente ridícula e praticamente impossível, ainda há uma chance de que algum espião bastardo tenha se esquivado da pesada segurança ao redor da sede Vongola e inadvertidamente invadiu o quarto do seu Céu. Com o pensamento cobrindo toda a confusão em sua mente, Hayato estica a mão em direção à madeira escura, atrás dele Chuva e Sol se põe em posições de ataque, prontos para a luta, por uma vez em muito tempo os dois parecem partilhar do mesmo pensamento da Tempestade. Com um pequeno empurrão as portas se abrem e os três precisam se esquivar para fugir da chuva de balas que voa em sua direção, perdendo seus corpos por muito pouco.

— Muito lentos. – uma voz fria e afiada ecoa para fora do cômodo.

— Reborn-san! – exclama Hayato, de olhos levemente arregalados ao reconhecer a voz; com o ataque repentino ele e Ryohei acabaram saltando para o lado esquerdo do corredor, enquanto Takeshi se esquivou para o direito com sua Shigure Kintoki em mãos já coberta pelas chamas da Chuva.

— Isso foi extremo! – grita o Sol, deixando cair sua postura de combate e fazendo Gokudera estremecer com o volume.

— Por que isso agora, garoto? – indaga Yamamoto com um olhar escuro, enquanto os três retomam as suas posições originais diante das portas, agora completamente abertas, embora mantendo alguns passos de distância do interior do cômodo; depois de tudo nenhum deles se sente digno de adentrar este quarto.

— Lorenzi, faça apenas o que eu mandei. Não toque em nada além do que eu expliquei antes. Quando acabar, tranque-o novamente e me devolva à chave. – fala o Arcobaleno, descartando a questão da Chuva, lançando um olhar para o mordomo-chefe retirando as longas e empoeiradas cortinas da janela.

— Como quiser, Reborn-san. – concorda Lorenzi, inclinando-se levemente.

Só agora os três foram capazes de perceber a presença do mordomo, que tem uma expressão estranha na face enrugada, algo que eles não são capazes de decifrar. Sem dar-lhes tempo para analisar o quarto, o Hitman atravessa a sala, desta vez fechando a porta, embora a fraca claridade ainda escape pelas frestas alcançando o corredor.

— Depois do almoço quero todos os Guardiões reunidos no escritório de Tsuna. – é tudo que deixa seus lábios, sem mesmo olhar para os pirralhos estúpidos, enquanto desaparece ao dobrar o corredor deixando os três para trás.

— Parece que finalmente vamos saber sobre o que é esta reunião. – comenta Takeshi, descansando sua espada no ombro outra vez.

— Ah. – concorda Gokudera, deslizando uma mão pelos cabelos prateados, tentando regular sua respiração.

— Hun. De alguma forma eu tenho um sentimento extremamente estranho sobre isso. – acrescenta Ryohei, descansando uma mão sobre o queixo.

— No fim ele não respondeu o porquê de abrir o quarto de Tsuna justo agora. – prossegue Takeshi, estreitando os orbes caramelo na direção em que o tutor desapareceu.

— Seja como for, temos nossas ordens. – fala Hayato, começando a andar e evitando contato visual com as portas, ele já teve lembranças de suas falhas terríveis afogando sua mente por tempo de mais nestes três últimos dias – Vou avisar os outros.

— Com os outros, isso inclui extremamente Lambo? - com a questão Chuva e Tempestade se voltam para o Sol, que por uma raridade falara em um tom mais brando.

— Tch! Ahoushi definitivamente não está em condições de assistir uma reunião. – rosna Gokudera.

— Mas o garoto não parece se importar.

— Talvez ele extremamente não saiba de hoje mais cedo. – argumenta Ryohei.

— É de Reborn-san que estamos falando. ­– estala Gokudera, virando as costas e saindo, o tempo todo murmurando maldições sob sua respiração, o dia mal começou e ele já tem problemas para lidar.

Após um último olhar rápido para o quarto, Sol e Chuva também se dispersam. Enquanto o clima de antecipação se alastra afogando a mansão.

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Orbes ouro-líquido encaram o buquê de flores analiticamente. Têm poucos minutos que um carro de uma floricultura local veio entregar o presente, algo que enviou todos no casarão, construído no final do século dezenove, em alerta até que ele descartasse qualquer pânico e mandasse colocarem as flores em um vaso – algo que Albertine, a governanta, fez sobre protestos. Supostamente sua chegada à cidade deveria ser um segredo conhecido por um número muito restrito de pessoas, o que explica a reação dos empregados. Porém, para sua sorte a mais protecionista havia acabado de sair com Olga para fazerem as compras a fim de reabastecer a mansão. Após sua súbita decisão de deixar o país onde reside boa parte do ano, não houve tempo para grandes preparações. Se não fosse por seu assessor financeiro, ele duvida que o local estivesse apto a recebê-los, apesar de que a camada de pô sob os móveis e a dispensa vazia realmente poderiam ser evitados. Talvez ele deva repensar a questão de contratar alguém para cuidar da morada durante sua ausência, e não apenas do jardim, afinal de que serve um jardim organizado quando a casa está um caos?

— É uma combinação peculiar de flores. – comenta o chinês, entrando na sala, seus orbes entre o preto e o castanho observando o vaso com o buquê composto por quatro tipos específicos de flores.

— Ah, parece pouco provável que seja uma escolha aleatória. – concorda, as mãos depositadas nos bolsos da calça - Você sabia que no passado se usavam flores para se passar mensagens? – prossegue, lançando uma rápida olhada para a figura, em seu traje típico chinês, de pé no meio do escritório, antes de voltar-se novamente para o vaso - Cada flor tinha um significado diferente, embora não raro elas poderiam ter mais do que um. As cores e a forma como o buquê era organizado significavam coisas diferentes também.

— Eu já ouvi algo a respeito, mas nunca me aprofundei no assunto. Da mesma forma, não sabia que era interessado nesse tipo de coisas. – fala soando divertido.

— Não tenho muitos hobbys atualmente. Acabei optando por coisas alternativas. Mas, sinceramente, nunca pensei que isso fosse ser útil. – explica, pegando uma Camélia branca do vaso.

— Informação nunca é de mais. – comenta com um leve sorriso irônico, falando assim ele soa exatamente como um velho amigo– Mas o que elas estão lhe dizendo? Algo ruim? – indaga, tornando-se um pouco mais sério.

— Apenas uma forma original de dizer ‘eu sei que você voltou’. Embora eu tenha minhas dúvidas sobre essa aqui. – fala, balançando a Camélia branca para dar ênfase a suas palavras – Acho que ele está debochando de mim. – completa em sua habitual expressão estoica, ignorando o olhar levemente confuso e indagador do outro.

— Você sabe quem enviou? Há algum cartão?

— Não há necessidade de cartões, eu só conheço uma pessoa que faria isso. – responde, devolvendo a flor de volta ao vaso – Embora eu realmente não tenha certeza de como ele já sabe da minha chegada. Eu certamente não o informei.

— Com ele você quer dizer... – fala, encontrando os orbes ouro-líquido em uma troca de informações silenciosa.

— Ah. Exatamente quem você pensou.

— Talvez um dos outros tenha lhe dito. – argumenta, sentando-se em um dos sofás de couro negro, a preocupação anterior completamente descartada.

— Nós dois sabemos que eles não diriam nada, especialmente para ele. – rebate, lançando um olhar para o chinês.

— Não esqueça que assim como você, ele tem uma rede de informações bem extensa, e dizem que se você sabe onde procurar, você certamente vai encontrar.

— Neste caso, talvez eu deva realmente começar a vê-lo como algum tipo de stalker. – observa com sua expressão imutável, caminhando até a janela.

— Ele deve estar apenas preocupado e feliz com o seu retorno. Vocês não se falam pessoalmente faz bastante tempo.

— Talvez você esteja certo. – responde, olhando para o céu claro além da janela – Então, alguma notícia?

— Afiado como sempre. – comenta divertido, em seu habitual tom suave - Na verdade ele ligou. – prossegue encarando a figura de colete e calças negros, com uma camisa azul escuro e gravata branca, os cabelos encobrindo parcialmente sua expressão.

— Então já começou. Agora é tudo uma questão de tempo. – murmura para si mesmo, apesar de seu belo rosto não se alterar há um brilho afiado em seu olhar.

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A atmosfera dentro do escritório é pesada e a tensão é palpável, seja pelo fato de após tanto tempo os seis Guardiões estarem finalmente reunidos ou devido ao assunto que nenhum deles tem certeza do que se trata, talvez por ambos, mas ninguém realmente se importa com isso. De pé ao lado da mesa vazia de seu dame-aluno, Reborn se permite observar os pirralhos estúpidos que quebraram seu Céu, enquanto os mesmos se acomodam ao redor da sala com expressões que deixam claro seu desconforto em estar neste cômodo – que o Arcobaleno escolheu exatamente por esse motivo. Muita coisa aconteceu nestes três longos anos e ele assistiu tudo limitando-se a interferir apenas quando o grupo se excedia – mais especificamente quando atingiam o limite da sua paciência– nada além disso. Seu aluno sempre foi dame-Tsuna, seus Guardiões eram apenas um acréscimo a sua lista de deveres como um tutor – lista que ele falhou em completar corretamente.

Durante esses mesmos três anos a única coisa que verdadeiramente o impediu de encher os pirralhos de buracos de bala foi o fato deles ainda serem a família de Tsuna, e o Décimo jamais ficaria feliz se algo acontecesse com sua família. Às vezes o Hitman se pergunta como um garoto medroso e fracote foi capaz de cativá-lo desta forma. Mesmo Dino não o prendeu tanto, ele definitivamente se apegou de mais a dame-Tsuna e até hoje paga o preço por isso - não que ele vá admitir tal fato em voz alta, afinal ele ainda tem seu orgulho como o Hitman número um do mundo para manter.

— Reborn-san, eu não acho que Ahoushi deva participar. – Gokudera é o primeiro a quebrar o breve e desconfortável silêncio, que havia se formado dentro do escritório enquanto um a um os Guardiões iam adentrando o cômodo, ao mesmo tempo lançando um olhar para o jovem Trovão com visíveis olheiras, sentado um tanto encolhido ao seu lado no sofá.

— A vaca estúpida também é um Guardião. Ele estar presente evita explicações extras mais tarde. – descarta o tutor.

— Hibari extremamente não veio. – comenta Ryohei.

— Kufufufu. Sunny, parece que você esqueceu que a cotovia não é capaz de suportar aglomerações. – fala Mukuro, rindo divertido com a reação do Sol ao seu carinhoso apelido – Ignorando a cotovia, sobre o que é está reunião, Arcobaleno? Eu não planejo ficar aqui mais tempo do que o necessário. – indaga Mukuro, recebendo um olhar afiado do Hitman e imediatamente atraindo a atenção de todos para o tutor.

— Suponho seja de conhecimento comum que a saúde do Nono se deteriorou bastante desde o último mês. – inicia Reborn, recebendo alguns acenos de cabeça ou simples olhares de entendimento como resposta do grupo – Por esse motivo algumas medidas tiveram de ser tomadas, uma vez que o Nono não pode mais ajudar a conduzir a Famiglia.

— Então o pai de Sawada vai extremamente assumir? – interrompe Ryohei em um tom mais controlado, para alívio de Gokudera sentado ao seu lado.

— Foi exatamente sobre o futuro da Vongola minha última reunião com o Nono. E não. Não será Iemitsu quem irá assumir. Iemitsu era apenas uma medida temporária. – esclarece, permitindo a fedora cobrir um pouco o seu olhar.

— Reborn-san, não está dizendo que aquele bastardo do Xanxus vai ser o novo Boss! – estala Hayato, seu comentário deixando os demais alarmados.

— Como já ficou mais do que claro durante o conflito do anel, Xanxus não tem sangue Vongola correndo em suas veias. Ele não é um filho biológico do Nono e já foi descartado completamente como herdeiro. – responde, deixando um olhar afiado escapar por sob a fedora do chapéu.

— Eu pensei que além de Tsuna não houvesse nenhum outro descendente vivo. – comenta Takeshi, expressando a confusão da maioria.

— Kufufufu. Não me diga que... – fala Mukuro, seus orbes bicolores brilhando interesse e malícia, enquanto encarando a figura do Hitman.

— Ah. Você está certo, Mukuro. Depois da morte de Tsuna o Nono me pediu para fazer uma busca minuciosa na árvore genealógica da família e de fato nada constava. Nada até o Secondo. Só restando à árvore diretamente ligada a Primo.

— Mas Reborn-san, Jyuudaime era o único descendente. E foi exatamente por isso que mesmo não sendo parte da máfia ele foi escolhido como sucessor. – argumenta Hayato, de repente sentindo seu estômago revoltar-se com a possibilidade que sua mente formulou.

— De fato até onde se tinha conhecimento, Primo só constituiu família após mudar-se para o Japão e trocar de nome, de onde surgiu a linhagem dos Sawada, chegando a Iemitsu e Tsuna.

— Eu extremamente não entendo! – exclama Ryohei, recebendo um olhar afiado de Gokudera por estar sendo alto novamente.

— Quão denso, Sunny. – comenta o ilusionista levemente irritado.

— Você está dizendo que há mais alguém na linhagem de Tsuna? – questiona Takeshi, estreitando os orbes caramelo.

— Não na linhagem dos Sawada. Acontece que Primo chegou a ter um filho antes mesmo da Vongola ser oficialmente formada. – suspiros e expressões de surpresa se espalham pela sala, mas Reborn não lhes dará a chance de assimilarem tudo, ao menos não ainda, pois há muita informação a ser dita e o tempo não pode ser desperdiçado – Muitos detalhes sobre o passado de Primo antes da oficialização dele como primeiro Boss Vongola não são precisos. Aparentemente Primo preferiu manter certos dados para si mesmo. Provavelmente devido a sua situação conturbada com seu primo em segundo grau, Ricardo, posteriormente o Secondo. O que sabemos é que ele não chegou a se casar com a moça e tão pouco sabia que ela estava grávida, pois o pai da jovem a enviou para um convento e a criança foi deixada em um orfanato. De alguma forma Primo descobriu sobre seu filho anos mais tarde e teve um de seus Guardiões investigando. Provavelmente Alaude, que sabe-se era quem lidava com informação na Primeira Família.

— O que... O que aconteceu depois? – por uma exceção é Chrome quem questiona, sentada junto de Mukuro e de frente para o jovem Trovão que está ficando cada vez mais pálido.

— Uma família havia adotado a criança pouco antes deles deixarem a Itália. Primo conseguiu localizar o seu filho e chegaram a manter contato por cartas. Por motivos desconhecidos ele nunca chegou a ver a criança. As informações acabam após Primo tornar-se Sawada Ieyasu e mudar-se para o Japão. Porém, com o endereço de algumas das cartas deixadas para trás junto com vários outros documentos sobre a Primeira Geração, além de várias investigações e pesquisas, foi possível descobrir qual família esteve criando o descendente de Primo e traçar sua árvore genealógica até nossos dias. – completa, deixando a fedora encobrir totalmente sua expressão e finalmente permitindo os pirralhos estúpidos a assimilarem tudo.

Um pesado silêncio se forma no escritório, enquanto toda a informação é processada nas mentes dos Guardiões. Suas expressões variando apenas de intensidade, todos parecem partilhar do mesmo sentimento e nenhum deles parece querer realmente ouvir a sentença, que definitivamente mudará tudo, deixar os lábios do Arcobaleno.

— Em outras palavras: a Vongola tem um herdeiro perdido diretamente ligado ao Fundador da Famiglia. – prossegue Reborn, após mais alguns segundos, arrastando todos de seus pensamentos e de volta para a conversa.

— Há quanto tempo? – rosna Gokudera, cerrando os punhos e lutando para conter seu temperamento começando a tornar-se explosivo novamente; agora ele é completamente capaz de entender o sentimento que Iemitsu emanava dois dias atrás quando o ex-CEDEF invadiu a mansão, pois essa é a mesma emoção atualmente afogando seu coração.

— Pouco mais de dois anos. É um segredo conhecido por um número restrito de pessoas. Era necessário sigilo absoluto para assegurar a segurança da identidade do novo herdeiro. Fon e Colonnello tem sido os responsáveis por boa parte do treinamento. Afinal, se de repente eu fosse enviado em uma missão de longo prazo isso iria chamar a atenção de nossos inimigos, por esse motivo eles aceitaram o pedido do Nono de fazerem a tutoria. Porém, sempre que eu me ausentava da mansão por alguns dias era para treiná-lo também. – prossegue, ignorando os olhares dos Guardiões estúpidos.

— Mestre Colonnello também sabia?! – exclama Ryohei mal controlando o tom da voz, seus olhos esboçando confusão e traição, assim como os outros.

— Então eu estava certo. Vamos perder nossas posições como Guardiões. – comenta Takeshi entre dentes, suas palavras imediatamente chamando a atenção dos demais, pânico começando a engoli-los por completo.

— Tch! – estala Hayato, pressionando os punhos com ainda mais força, murmurando maldições sob sua respiração.

— Eu não vou extremamente aceitar isso sem uma luta extrema!

Tsuna-nii... – murmura Lambo, empalidecendo ainda mais, agarrando-se ao anel em seu dedo como se fosse sua fonte de vida.

— Boss! – mesmo Chrome esboça sua apreensão, enquanto agarrando-se a manga do casaco de Mukuro, que apenas estreita os orbes bicolores.

— Acalmem-se. – adverte o tutor enviando-lhes um brilho afiado que parcialmente os silencia - Mesmo sendo o padrão sempre que um novo Boss assume trazer com ele seus próprios Guardiões, ele preferiu manter as coisas como estão. A situação da Famiglia está instável, trocar toda a liderança agora só trará mais caos. Além disso, algo semelhante aconteceu com o primeiro Guardião da Névoa. Caso tenham esquecido Daemon Spade foi Guardião de Primo e posteriormente do Secondo. A diferença é que o novo herdeiro pretende manter todos os sete Guardiões da Décima Geração.

— Oya! Isso é uma atitude interessante. – comenta o ilusionista, com seus orbes bicolores brilhando suspeitosamente sádico.

— Qual... Qual a idade dele? – questiona Takeshi, com sua garganta seca apertando ainda mais, seu coração está uma confusão de sentimentos que ele não é capaz de entender corretamente.

— Ao contrário de Tsuna ele já é adulto e não é ignorante sobre a máfia, mas não esteve ativamente envolvido até recentemente. Na verdade tem sido ele o responsável por repassar várias informações que auxiliaram nas suas últimas missões. Como no caso da Famiglia Bodini.

— Então a fonte dos dados sobre as pesquisas daqueles bastardos veio... Veio dele? – indaga Gokudera, sentindo sua cabeça começando a doer; a maldita Famiglia foi uma dor para combater, os bastardos eram especialistas em contrabando de armas e estavam desenvolvendo um tipo novo de arma biológica, felizmente tudo fora confiscado e devidamente destruído – Eu pensei que tivesse sido um espião que hackeou os sistemas deles.

— Mesmo não tendo Guardiões, ele possui algumas figuras bastante conhecidas sob seu comando. O Hitman Zero é um deles. – comenta Reborn, com um brilho no olhar que os Guardiões não sabem ao certo o que significa, seu Céu era o único capaz de devidamente reconhecer os diferentes olhares do tutor espartano.

— Zero? Isso é um nome extremamente estranho!

— É porque não é um nome. Zero é o apelido que ele ganhou no submundo, porque zero é o número de alvos que ele já perdeu em todas as suas missões.

— Kufufufu. Você parece bastante interessado, Gokudera Hayato. Pensei que informações era a especialidade da cotovia. - derrama Mukuro em um tom claramente provocativo.

— Tch! É claro que estou interessado. Esse cara é um Hitman de alto nível, considerado o segundo melhor. Eu pretendia tentar adicioná-lo a Famiglia, mas parece que isso já foi feito. – fala, pressionando os punhos novamente.

— Segundo melhor? Isso o coloca apenas abaixo de você, garoto. – ao comentário de Takeshi, todos se voltam para o tutor.

— Ah. Ele foi aluno meu um tempo e depois de Colonnello também. Provavelmente seja ele que no futuro irá assumir a minha posição. Mas até lá ele ainda tem muito que percorrer.

— Kufufufu. Parece que terei alguma diversão. – derrama Mukuro venenosamente, ignorando os olhares atravessados que lhe são dirigidos.

— De qualquer forma, Nono decidiu dar um título diferente ao novo Don. – prossegue Reborn, ignorando o comentário do ilusionista e retomando o tópico central da reunião - ‘Neo Vongola Primo’ é como ele será nomeado. E Yamamoto, respondendo a sua pergunta de mais cedo sobre o porquê de abrir o quarto justo agora. É porque seu novo Céu deve chegar à mansão amanhã. – declara Reborn, e com isso o caos se instala.

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— Então, por que você tentou se matar?

Estalando de seus pensamentos, Lambo observa a jovem, que deve ter mais ou menos a mesma idade que Chrome-san, com cabelos negros como a noite na altura da cintura e os orbes de um tom escuro de roxo, e então os eventos anteriores correm pela sua mente uma vez mais o lembrando de sua estupidez e impotência.

Depois de mais de duas horas de reunião, com muitas discussões, sua mente havia ficado completamente nebulosa, ele simplesmente não conseguia assimilar a ideia de que eles vão receber um novo Céu. Foi de mais para ele aceitar que algum estranho iria substituir o lugar que pertence apenas ao seu Tsuna-nii. E ele começou a se sentir sufocado, como se a mansão inteira quisesse de repente devorá-lo. Ele não conseguia mais suportar tanta dor. Lambo não queria mais ficar em um lugar que logo será manchado com a presença de um estranho, e desta forma ele correu. Ele correu desenfreadamente ignorando tudo, mesmo os seguranças no portão da mansão, mesmo os transeuntes nas calçadas, mesmo o sinal na sinaleira, até ver os faróis cintilando sobre ele. Então o Bovino resignou-se a sua sorte, fechando os olhos aguardou a batida, enquanto aquele maldito título continuou rugindo em seus ouvidos, e logo seu corpo se encontrou chocando-se com o asfalto. E Lambo esperava tudo, exceto uma voz feminina gritando com ele em outro idioma, que demorou a perceber que era francês. E agora eles estão em uma mesa do lado de fora de um restaurante, cerca de uma quadra de onde ele quase morreu por pura estupidez, comendo Gelato de uva.

— Eu já disse que não tentei me matar. – resmunga pela terceira vez, enquanto brinca com a colher, apesar de ser a sua sobremesa favorita ele simplesmente não tem vontade de comer.

— Pois não foi o que pareceu quando você saltou na rua ignorando o sinal. – retruca ela, comendo outra colherada do seu próprio doce – Se você não quer me dizer o que aconteceu, tudo bem. Apenas me prometa que vai tomar mais cuidado da próxima vez. Eu posso não estar lá para te salvar. – prossegue ela, observando o adolescente cabisbaixo a sua frente.

— É só que... É complicado... – murmura Lambo, sentindo os olhos encherem d’água novamente.

— Pode não parecer, mas eu sou uma boa ouvinte. E você não precisa entrar em detalhes se não quiser. Além disso, desabafar ajuda a aliviar a mente e o coração. – comenta, largando a colher após acabar sua sobremesa – Aliás, eu ainda não me apresentei e nem sei o seu nome. Você pode me chamar de Izi. - acrescenta ela, estendendo a mão sobre a mesa.

— Lambo. – fala, apertando a mão dela sem muito entusiasmo.

— Então, Lambo, por que você saltou na frente dos carros se não estava tentando se matar? – questiona novamente, apoiando o queixo sobre as mãos cruzadas.

— Minha família está com problemas. Meu nii-chan morreu e todos se separaram, e agora estão querendo que um estranho assuma o lugar dele. – responde resumindo a situação, apertando a toalha xadrez de vermelho e branco sobre a mesa, lutando para conter as lágrimas querendo deslizar para fora de seus orbes verdes.

Nii-chan? Seu irmão mais velho é japonês? – indaga Izi, soando levemente confusa.

— E-ele não era realmente meu irmão, mas eu o considerava assim. Ele era incrível e gentil. – explica, fungando um pouco.

— Sinto muito por sua perda. No passado eu também perdi pessoas queridas para mim. É difícil e não importa quanto tempo passe a dor nunca vai realmente embora. – comenta, com o olhar se tornando nostálgico com as memórias emergindo na mente, enquanto o Bovino a encara fixamente – Mas você sabe, quando eu era pequena meu pai costumava me dizer que quando nós choramos e sofremos por aqueles que amamos, onde quer que eles estejam eles sentem nossa dor e também sofrem. É por isso que eu decidi não sofrer mais. Porque eu sei que eles querem que eu seja feliz. Além disso, aqueles que amamos nunca realmente nos deixam enquanto os mantivermos em nossos corações. E uma vez que eles estão dentro do nosso coração, nada nem ninguém pode tirá-los de nós. – completa, abrindo um leve sorriso.

Lambo desvia o olhar atordoado, seus orbes verdes tomando nas ruas movimentadas do final de tarde sem realmente ver o que está acontecendo ao seu redor, enquanto sua mente digere as palavras de sua salvadora. Sim, seu Tsuna-nii iria querer vê-lo feliz, ele iria querer ver todos felizes, mas Lambo não tem certeza se ele consegue, ou se eles ainda têm esse direito depois de quebrar seu Céu. Ainda assim, de alguma forma seu coração parece um pouco mais leve depois de tentar falar sobre seus problemas. Ele nunca realmente esboçou sua opinião sobre todo o caos que sua família virou, a única exceção sendo no dia em que Yamamoto e Gokudera-shi estavam brigando novamente. Naquele dia ele deixou sua alma falar e como resultado eles pararam. Talvez ele também tenha sua parcela de culpa na separação da sua família, afinal ele nunca fez nada para impedir que isso acontecesse, ele apenas se trancou em seu próprio mundo de dor e tristeza e ignorou o resto.

— Você... Você tinha razão. Falar ajuda. – comenta, enquanto sentindo um pequeno sorriso lutar para se formar em seus lábios sem sucesso, ele não sorri há tanto tempo que parece ter esquecido como se faz isso; na verdade todos eles estão assim, mesmo Mukuro parece ter perdido seus sorrisos e sua risada assinatura parece ter ficado ainda mais sinistra desde aquele dia.

— É claro que eu tenho! – brinca Izi, revolvendo os cabelos ondulados de Lambo surpreendendo-o, pois era seu onii-chan quem costumava fazer isso – Bem, agora que você está mais calmo, tente voltar para casa, e sem se meter em mais problemas. Além disso, está na minha hora. Espero encontra-lo novamente em circunstâncias melhores, Lambo. Aqui, meu telefone. – prossegue, entregando-lhe um guardanapo com um número anotado com caneta preta – Me ligue se precisar desabafar outra vez. – completa com outro sorriso, pegando sua bolça e deixando o dinheiro das sobremesas sobre a conta.

O jovem Trovão acena com a cabeça e observa-a ir embora desaparecendo entre a multidão. Uma vez sozinho ele encara o Gelato novamente, definitivamente ele não tem apetite, mesmo que já tenha horas desde o almoço e ele tenha mal tocado na comida. Além disso, da forma como ele saiu, Gokudera-shi certamente deve estar furioso com ele. Levantando-se o Bovino também deixa o restaurante, talvez ele deva chamar um táxi para voltar para a mansão, depois da longa corrida e da queda – Izi-san o jogou no chão com força quando saltou para salva-lo – seu corpo está dolorido. Perdido em pensamentos sobre as possíveis punições que vai receber por agir de forma tão imprudente, Lambo não percebe o grupo de homens que começa a segui-lo, não até dobrar uma esquina e ver pelo reflexo de uma vidraça as várias figuras em ternos negros mantendo uma certa distância, mas sem dúvidas acompanhando seus movimentos.

Pânico começa a se formar em seu corpo com a constatação. Sem diminuir o passo, enfia discretamente a mão no bolço da calça procurando por seu celular para contatar a mansão, seu pavor apenas aumenta quando o aparelho em sua mão aparece quebrado, ao que parece o impacto da queda foi mais forte do que ele pensou. Apalpando cuidadosamente os outros bolsos em busca do comunicador que Tsuna-nii deu a todos eles com ordens de sempre carrega-lo para onde quer que fossem, percebe que em sua fuga irresponsável havia o deixado em seu quarto sobre sua cômoda. Então lhe acerta como uma poderosa rocha a sua real situação – ele está sozinho. Sem um segundo pensamento, Lambo começa a correr uma vez mais e da mesma forma seus perseguidores o seguem sem se importarem em tentar esconder suas intensões hostis.

Trilhando seu caminho por entre ruelas cada vez menos movimentadas, em pânico crescente o Bovino percebe que em algum momento se afastou do centro comercial e está de alguma forma perdido. Mesmo morando por tantos anos em Palermo ele nunca se deu ao trabalho de explorar as áreas menos povoadas da cidade, e depois que seu Céu os deixou ele havia completamente perdido qualquer vontade de sair da mansão, e sempre que o fazia para ir à escola, era em companhia de vários subordinados da Famiglia atuando como seus guarda-costas – pelo que ele foi capaz de ouvir a Vongola vem sendo constantemente alvo de outras Famiglias que querem obter o controle do submundo. E ignorando sua própria segurança ele havia fugido e agora está novamente em problemas. Sentindo sua respiração ficando cada vez mais difícil e com suas pernas doendo pelo esforço além dos seus limites, o Trovão percebe os passos de seus perseguidores ficando cada vez mais próximos. Ele não se atreve a olhar para trás com medo do que pode ver, ao invés ele se empenha em correr em um esforço desesperado para fugir.

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— Como assim vocês deixaram ele sair sozinho! – berra Hayato, olhando punhais para os dois homens encolhidos na sua frente, ao seu redor no hall da mansão os outros Guardiões mantém expressões semelhantes.

— Há quanto tempo foi isso? – indaga Reborn, sua aura assassina inundando a sala, com tudo que está acontecendo ele definitivamente não precisava do adolescente vaca desaparecendo da mansão.

— Tem mais de uma hora, Reborn-sama. – para seu crédito o pobre homem não gaguejara ao dar a informação, apesar da aura mortal pairando no local ser suficiente para derrubar a maioria das pessoas.

— E por que nenhum de vocês informou tê-lo visto ou tentou impedi-lo? – prossegue o tutor com Leon já em sua forma de arma.

— Teríamos feito isso se soubéssemos. Mas foram os guardas do turno anterior que o viram. Assim que ficamos sabendo viemos falar. Sabemos que há ordens para não deixa-lo sair sozinho da mansão.

— Tch! – estala a Tempestade em irritação.

— Vocês dois, voltem para seus postos, mas avisem aos guardas do turno anterior que receberam uma punição quando tudo isso terminar. – fala o Hitman com um brilho sádico que envia calafrios nos dois subordinados, seja o que for que o Arcobaleno considera punição, certamente eles não querem descobrir e começam a temer pelas pobres almas que serão alvo da ira do tutor.

— Hai! – exclamam em coro, imediatamente deixando a sala, mal disfarçando o alívio de fugirem do grupo temido.

— Já passou muito tempo. Mesmo se sairmos agora não vamos conseguir encontra-lo. – rosna Takeshi.

— Dokuro, você tentou ligar para ele outra vez? – questiona Gokudera, encarando a ilusionista pálida.

— Sem resposta. – responde claramente aflita.

— Se ao menos ele estivesse com o comunicador poderíamos extremamente rastreá-lo. – comenta Ryohei.

— Kufufufu. Por que não enviar alguns homens para uma busca na cidade? O pirralho não pode ter ido muito longe apenas correndo. – sugere Mukuro, mesmo que sua expressão não mostre, sua risada soando mais tensa do que o habitual vaza sua preocupação.

— Eu devia ter percebido que ele ficou muito quieto depois do final da reunião. Eu fiquei preso em meus próprios pensamentos e não dei atenção necessária a ele. Se alguma coisa acontecer com Ahoushi, tenho certeza de que o Jyuudaime jamais vai me perdoar. – rosna Hayato entre dentes, cerrando os punhos com tanta força que algumas gotas de sangue correm por entre seus dedos caindo no chão.

Com o comentário da Tempestade, todos adquirem expressões ainda mais sombrias, o que só piora a tensão afogando o hall da mansão. O medo de falharem outra vez corroendo-os por dentro.

— Ficar parados se queixando não vai servir para nada. Façam o que Mukuro sugeriu e enviem um grupo disfarçado para procura-lo. Se ele ainda não foi descoberto por alguma Famiglia inimiga, se virem nossos subordinados revirando a cidade isso pode colocar a vaca estúpida em problemas. Vou falar com Giannini e Irie e ver se eles conseguem encontra-lo com o sinal do celular. – fala Reborn, cobrindo sua expressão com a fedora do chapéu e deixando a sala, se sua intuição de Hitman estiver certa, eles precisam encontrar o Trovão muito em breve.

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Uma onda de dor percorre todo o seu corpo quando um punho com um soco-inglês coberto por chamas da Nuvem atinge seu rosto pela segunda vez, quase instantaneamente inchando o lado esquerdo já ferido anteriormente. O gosto metálico começa a encher sua boca, enquanto suas costelas ardem devido aos vários golpes que sofreram antes, ele certamente tem algumas delas quebradas se a dor intensa é qualquer coisa. Lambo não tem certeza de como eles o encontraram, ele acreditava cegamente que os havia despistado quando se escondeu dentro de um prédio vazio a espera para ser alugado ou comprado. Mas assim que começou a lutar para recuperar o fôlego ele se encontrou cercado por quatro homens corpulentos vestindo ternos negros. Ele tentou revidar, mas sem determinação suficiente para acender seu anel com sua Box, e sem seus chifres, descartados em uma gaveta em seu quarto na mansão, ele tornou-se um alvo fácil. Em pensar que depois de todas àquelas horas infernais de treinamento ele caiu sem sequer impor alguma resistência. Apenas patético.

— Se isso é tudo que um Guardião Vongola pode fazer, não é a toa que seu chefe foi morto. – escarneia um dos homens com um sorriso cheio de dentes – Vocês são fracos e caem como moscas.

Lambo se contrai. Fraco. Sim ele é fraco. Talvez se ele tivesse sido mais forte seu Céu não teria morrido. Se ele tivesse feito seu papel como o Trovão, seu Tsuna-nii ainda estaria com eles e nada disso estaria acontecendo. Eles ainda estariam unidos. Eles não estariam sozinhos. Ele não estaria com medo. As lágrimas que ele lutou tanto para não derramar começam a fluir descontroladamente por sua face inchada, misturando-se ao sangue correndo de seus lábios cortados.

— Oh. O bebê começou a chorar. – ri outro dos agressores, um com a face enrugada como se tivesse sido queimada, a cicatriz se encolhendo grotescamente com seu riso.

— Talvez devêssemos brincar um pouco mais com ele antes de leva-lo como um presente para o chefe. Afinal não é todo dia que temos uma presa como essa em nossas mãos. – sugere o grandalhão com o soco-inglês, seus orbes avermelhados brilhando maldosamente, aumentando o pânico percorrendo o corpo de Lambo.

— Mas não aqui. Alguém pode ouvir os gritos dele e chamar a polícia. – acrescenta o primeiro, caminhando para fora do prédio onde um carro já os espera, depois de tudo parece que eles terão uma tarde divertida.

Com outra rodada de risos, o cara com a marca de queimadura amarra as mãos de Lambo com uma corda e ele é depositado sobre o ombro do grandalhão com as chamas da Nuvem, como se fosse um saco de batatas, em seguida é carregado para fora onde é jogado sem qualquer cuidado dentro do porta-malas de um carro, que certamente o levará para mais dor, sangue e medo.

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O irritante e anormal silêncio foi à primeira coisa que Hibari percebeu ao chegar ao armazém de uma fábrica abandonada devido à falência dos antigos proprietários, em uma área afastada do centro de Palermo. Apenas o ruído incessante da pesada chuva caindo e dos constantes raios podem ser ouvidos. Sinceramente Kyoya esperava encontrar uma luta em progresso, talvez escombros, gritos, tiros ou explosões. Não o silêncio. Nessas ocasiões isso nunca significa algo bom.

Com as tonfas em mãos, entra no prédio que parece não ser utilizado já há um longo tempo. Embora seja por volta da uma hora da tarde, devido ao céu estar completamente fechado pelas pesadas nuvens, o dia está escuro, o que torna um tanto precária a visibilidade dentro do armazém. Assim que seus pés tocam o chão de concreto, o cheiro de pólvora invade suas narinas. O que significa que realmente houve uma luta e foi algo recente. Muito recente. Pontos brilhantes pontilham o chão como pequenas estrelas caídas, mas não se trata de algo tão suave, na verdade são capsulas de balas de diferentes calibres. Mais alguns passos cautelosos, mesmo não sendo capaz de sentir qualquer presença hostil, e um novo odor familiar penetra suas narinas. Sangue. E essa constatação faz Kyoya estreitar seus orbes azul-cinzentos, buscando a fonte do líquido carmesim, enquanto um irritante pensamento percorre sua mente – talvez ele tenha chegado tarde.

Suas dúvidas tornam-se certezas quando um poderoso raio rasga o céu iluminando tudo como o dia. No centro do armazém, caído numa poça de sangue, está um corpo imóvel. Hibari não precisa ver o rosto para saber de quem se trata, ele reconheceria aquele longo manto negro em qualquer lugar. Sem perder um segundo, Kyoya guarda suas tonfas e se aproxima, ajoelhando-se junto ao corpo e imediatamente checando se há um pulso. Segundos se arrastam até que o Guardião tem sua resposta. Um suspiro de alívio rompe seus lábios; mesmo seus ombros relaxam um pouco. Hibari não havia percebido o quão tenso havia ficado até encontrar um fraco pulsar sob seus dedos, talvez ele esteja sendo contaminado com o coração herbívoro do chefe. Retirando um telefone de seu terno, por uma vez o ex-prefeito ignora seu orgulho e chama por ajuda.

“Akanbō, eu o encontrei. Chame o médico pervertido, agora.” – fala sem mesmo dar chances ao tutor para responder ou questioná-lo, tempo é escasso.

Tomando o corpo leve nos braços, deixa o prédio rumo ao carro que alugou. Assim que ganha a rua, corre o olhar sobre o chefe analisando rapidamente a extensão dos ferimentos - com todo aquele sangue no chão, mesmo Kyoya se surpreende que o moreno ainda esteja vivo. Há uma perfuração feita à bala no ombro esquerdo, além disso, há o ferimento que obviamente provocou a maior perda em massa sanguínea - um profundo corte no abdômen. Não lhe restam dúvidas, Sawada foi empalado. Porém é estranho que o Boss Vongola tenha permitido alguém se aproximar tanto com uma lâmina sem reagir, pela posição da perfuração ele foi atacado de frente, em outras palavras, ele viu quem empunhava a espada. Então por que ele não impediu o ataque?

Como alguém que lutou várias vezes com o onívoro, o ex-prefeito tem pleno conhecimento das capacidades de luta do chefe, e por isso ele sabe que em circunstâncias normais Sawada jamais receberia ferimentos dessa magnitude. Mesmo a Nuvem tem certa dificuldade para acertar golpes mais potentes sobre o Don, e Hibari, irritantemente, tem plena consciência de que o Céu muito raramente usa todo o seu poder de luta. O onívoro sempre teve a tendência de poupar até os inimigos, exceto quando esses excedem sua excepcional paciência.

Porém, tudo até agora orbitara fora de circunstâncias normais. A começar pela carta que informava sobre o local do encontro e que fora parcialmente queimada – sem dúvidas Sawada usara sua Shinu Ki no Honoo para fazê-lo, e ao que perece fora às pressas para encobrir algo, afinal a maior parte consumida pelas chamas era onde a crista de identificação do remetente deveria estar. Se não fosse pelo cheiro de queimado ainda pairando no escritório fechado, Hibari provavelmente nunca teria encontrado o pedaço de papel e, consequentemente, não encontraria este local. Além disso, o jovem Don veio completamente sozinho encontrar-se com alguma Famiglia claramente inimiga. Ele não informou absolutamente ninguém que iria sair e veio com um de seus carros de passeio, um dos poucos sem rastreador– uma antiga reivindicação sua quando assumiu a Vongola. Fato que Kyoya constatou quando chegou ao local e encontrou a Mercedes prateada estacionada próximo ao galpão.

Mesmo Sawada sabendo dirigir não se enquadra em sua posição fazê-lo em ocasiões oficiais. Definitivamente alguma coisa grave aconteceu, pois o Décimo não é alguém que age dessa forma. Acrescido a tudo isso, o ex-prefeito não tem dúvidas de que Sawada estava envolvido em alguma trama grande e perigosa outra vez, e seja o que for, as coisas devem ter mudado desde que se falaram há cerca de uma semana, quando recebeu sua última missão - motivo de sua vinda a sede da Famiglia – e isso levou o Don Vongola a tomar medidas que resultaram na atual situação. E se há algo que a Nuvem detesta – além de um certo ilusionista abacaxi e aglomeração – é não ter informações.

Alcançando seu carro, Hibari inclina o banco do passageiro o máximo que pode e deita o moreno, retirando com cuidado o manto ensanguentado e usando-o para pressionar o corte mais profundo, que ainda não parou de sangrar. Usando seu próprio paletó, agora completamente molhado pela forte chuva, o ex-prefeito estanca o sangramento da perfuração no ombro. Entrando no carro Kyoya checa uma vez mais a pulsação. Está lá, porém mais fraca. Além disso, a pele do onívoro está mais pálida e mais fria do que antes, Sawada está definitivamente às portas do inferno como todo mafioso, ou talvez no seu caso que seja uma exceção e ele esteja às portas do paraíso. Sem perder mais um segundo, a Nuvem acelera o carro logo ganhando as ruas, e mostrando o porquê de ser o Guardião que mais coleciona multas de trânsito mesmo sendo um amante da ordem.

Em um percurso que levaria cerca de vinte minutos, Hibari alcança a mansão em implacáveis oito minutos. Sem preocupar-se em desligar o veículo, o ex-prefeito desce do carro logo tomando o corpo inerte em seus braços sendo recebido pela chuva fria novamente, que em momento algum dera trégua, se qualquer coisa apenas se intensificou desde que saiu a procura do onívoro. Em passos rápidos Kyoya nem chega à pequena escadaria em frente à entrada principal, e as grandes portas duplas são abertas com força por um certo tutor. E por uma vez o Guardião pode ver um brilho de choque surgir momentaneamente na face do Arcobaleno, ao vê-lo sujo de sangue com seu dame-aluno envolto por um manto igualmente coberto de sangue e mortalmente pálido. A Nuvem teria desfrutado desse olhar, se não estivesse levemente duvidoso de que seu próprio rosto estampasse uma expressão similar, afinal ao cruzar aquelas portas em direção a enfermaria, ele já não conseguia sentir o pulso de Sawada.

Não foi em vão que aquele dia ficou gravado na memória de todos, e ele não é uma exceção.

Empurrando as lembranças irritantes para o fundo de sua mente, Hibari Kyoya encara os grandes portões que há três longos anos ele não atravessa.

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Notas finais do capítulo

Minna-san, espero que tenham gostado do capítulo, deu bastante trabalho escrevê-lo, ainda mais que eu tentei inserir um pouco mais de tensão na trama do que ficar só no drama. E não me odeiem por maltratar o Lambo, doeu em mim fazê-lo, mas era necessário Ç.Ç
De qualquer forma, espero por mais teorias de vocês e quero saber o que acharam do vídeo!
Então não esqueçam de comentar e até o próximo capítulo que vem cheio de surpresas e está quase pronto!
Ciao, ciao ^^