Vongola Sky escrita por Selene L Tuguert


Capítulo 3
Arco Reunião - parte 2


Notas iniciais do capítulo

Ciao minna-san!!! Eu sei que eu disse que esta fic seria mensal, mas eu também disse que se eu conseguisse recuperar meu nível de escrita anterior ela poderia se tornar quinzenal ^^
E como eu tenho conseguido escrever praticamente todos os dias - comemorando - eu consegui terminar este capítulo rapidinho!
De qualquer forma, eu ainda não posso garantir a mudança nas postagens - imprevistos me perseguem T.T Mas farei o possível!
Então sem mais enrolação, KHR pertence a Akira Amano-sensei, apenas o enredo é meu!
Enjoy!!!!



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LAÇOS QUEBRADOS II

A profundidade dos seus sentimentos se reflete na consistência dos laços que os une. Quando esses fios se rompem há sempre mais do que a superfície deixa transparecer. E nunca apenas um lado sai ferido.

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O carro importado parou junto à entrada que conduz ao templo de Namimori, de onde desceu um belo loiro com um olhar nada feliz no rosto. Tem quase uma semana que suas tentativas de negociação com um certo ex-prefeito estão sendo frustradas. Foi por pura coincidência que Dino teve de vir ao Japão resolver alguns negócios limpos pendentes com uma empresa que tem se expandindo consideravelmente nos últimos dois anos e meio ou mais. Apesar de que a sede principal da empresa fica na França, o chefe Cavallone precisou vir até este país tão nostálgico, justo nesta data tão infeliz, para acertar os detalhes de seu novo investimento na região. Mas a viagem teve um bônus pelo qual o loiro não esperava, ele conseguiu encontrar Kyoya na sede da Fundação, uma vez que seu ex-aluno tende a cortar completamente qualquer contato que ainda tem com a Famiglia ou aliados – o que se estende a Dino – nesta mesma época, o que torna impossível localizá-lo. Seja o que for que Hibari faz nessa data, é algo que ninguém teve o estômago suficiente para tentar descobrir – a cotovia ainda é o Guardião mais temido no submundo por algum motivo.

Mas até o momento tanto suas tentativas de marcar um almoço para relembrar os velhos tempos, instantaneamente rejeitadas pela Nuvem, quanto seus apelos para que Kyoya vá para a sede Vongola ao menos este ano, falharam miseravelmente. E isso levou a sua última tentativa, motivo de sua atual visita ao templo. Mesmo com o seu jato privado esperando-o no aeroporto para retornarem à Itália, Dino fez um desviou em seu caminho para vir até a Fundação e tentar persuadir pela última vez o Guardião teimoso e arredio. Afinal, seria bom para o ânimo já bastante quebrado da Famiglia se a Nuvem decidisse se unir a eles nesta data. Além disso, goste Dino ou não, o submundo vive de aparências, e é um fato conhecido por todos que a Vongola está desestruturada, e o distanciamento entre os membros da Décima Geração não tem tornado a situação melhor, se qualquer coisa, as especulações de que os atuais líderes da Famiglia mais poderosa da máfia são incapazes de se entenderem só tem aumentado. Sem dúvidas a presença de Kyoya ajudaria a apagar tão irritantes boatos.

— Pensei que já tivesse deixado o Japão. – comenta Hibari, indiferente, sem erguer os olhos de sua papelada, seu temperamento tão frio como sempre.

— O jato partirá em menos de quarenta minutos. Só vim aqui para saber sua resposta. – informa Dino, parado na porta do escritório onde a Nuvem trabalha, Kusakabe os deixou sozinhos, após guiar o loiro pelos corredores já familiares, indo em busca de alguns arquivos que seu chefe pediu.

— Não sei do que está falando.

— Kyoya, você não pode ter esquecido que dia é amanhã! – fala um tanto exasperado.

— Com você falando a semana inteira sobre o mesmo assunto é impossível esquecer. – retruca casualmente, ainda sem erguer os olhos do documento em suas mãos, para frustração crescente do loiro.

— Kyoya, você realmente pretende faltar este ano também?!

— Não tenho nenhum motivo para ir. Não gosto de aglomeração, principalmente com aqueles herbívoros.

— Você ainda é um Guardião de Tsuna, caso tenha esquecido o que significa o anel Vongola da Nuvem no seu dedo, Kyoya! – retruca soando mais alto do que queria, a frustração ganhando a melhor sobre ele.

Falar sobre seu irmãozinho é sempre doloroso, não importa quanto tempo tenha se passado. Pois Dino foi a última pessoa a realmente ver Tsuna vivo. Na noite antes de tudo desabar, o jovem Don tivera outro colapso e Shamal precisou ser chamado novamente. Como Reborn estava fora em uma missão, e com o Décimo tendo dado ordens explicitas a todos os funcionários da mansão para não envolverem seus Guardiões, o médico pervertido alertou o loiro sobre a situação do ‘pirralho Vongola’ e imediatamente Dino correu para a sede da maior Famiglia da máfia.

Uma das últimas memórias que o chefe Cavallone tem dolorosamente queimadas em sua mente é a de seu irmãozinho pálido, magro, murmurando coisas incoerentes devido à febre elevada, deitado em uma cama. No dia seguinte, Tsuna, mesmo ainda fraco e febril, saiu sozinho para encontrar sua própria morte nas mãos imundas de alguma Famiglia covarde, que nunca se identificou. Dino amargamente se arrepende de ter atendido ao pedido do Décimo e voltado para a sede Cavallone com a promessa de que os dois se veriam no final do dia. Promessa que jamais foi cumprida. Nem mesmo o fato de que o loiro ligou para seu ex-tutor espartano e contou o que estava acontecendo, assim que soube por Shamal da situação, ameniza a culpa em seu coração. Se ele tivesse agido mais cedo, se ele tivesse permanecido na mansão mesmo com os protestos de Tsuna, talvez seu irmãozinho não os tivesse deixado, e ele não estivesse retornando a Palermo para ir visitar seu túmulo.

— Não há necessidade de nuvens se não há um céu. E se foi apenas por isso que veio, está perdendo seu tempo. – retruca o ex-prefeito, finalmente encarando o loiro com seus orbes azul-cinzentos afiados, a aura indiferente ainda emanando de seu corpo, se qualquer coisa Hibari está começando a ficar irritado com a conversa, a morte de Tsuna é um tema delicado para todos os Guardiões, e Kyoya não é exceção.

Antes que Dino possa refutar, o som abafado do toque de um celular ecoa na sala, claramente o velho hino de Namichuu. Enfiando a mão em seu paletó Hibari retira um celular roxo como sua Shinu Ki no Honoo e observa à tela do aparelho. Um leve brilho, de algo que Dino não é capaz de identificar, passa pelos orbes da Nuvem. Após um breve momento Kyoya guarda o telefone novamente em seu bolço e volta a trabalhar em sua papelada. O Don Cavallone assiste a cena levemente surpreso, o celular não é o mesmo que viu-o atender dias antes quando veio visita-lo pela primeira vez, e deslizando os olhos sobre a mesa da Nuvem, facilmente percebe o outro aparelho descansando ao lado do laptop. O loiro nunca soube que o ex-prefeito fosse do tipo que carrega tantos dispositivos consigo mesmo. Depois de tudo, Hibari também havia mudado no decorrer dos anos.

— Ouça Kyoya, a sua presença é importante. Tenho certeza de que Tsuna iria querer que fosse. Mesmo que você não concorde, ele sempre considerou-o como parte da família e você e eu sabemos disso. – fala por fim, liberando um suspiro frustrado e cansado, virando-se e caminhando para a saída, no processo perdendo o leve sorriso irônico que brinca nos lábios da Nuvem – Espero que mude de ideia. E não desapareça Kyoya. – despede-se ganhando o corredor.

Assim que a presença de Dino some por completo, Hibari retira o celular roxo do bolço novamente. Um olhar afiado recai sobre a tela do aparelho, antes que o ex-prefeito inicie uma chamada.

— Lamento que não tenha conseguido. – fala Kusakabe, ao ver o loiro rumando para a saída da Fundação claramente frustrado.

— Ah. Eu já devia saber que Kyoya não concordaria. Mas por Tsuna eu tinha que tentar. Em pensar que eu realmente achei que Kyoya havia se aproximado um pouco mais quando ele não abandonou Tsuna. – desabafa Dino, deslizando as mãos para dentro dos bolsos da calça – É em momentos assim que eu admiro meu irmãozinho. Ele sabia lidar com Kyoya melhor do que qualquer outro. Tsuna sempre conseguia que esse teimoso fizesse o que ele queria.

— Isso é porque Sawada-san conseguiu ganhar o respeito de Kyo-san.

— E ainda assim Kyoya se nega a ir visita-lo. – comenta enquanto um suspiro escapa de seus lábios - Bem, seja como for, ao menos desta vez eu consegui encontra-lo. Vocês têm viajado tanto que fica difícil localizá-los.

— Kyo-san tem feito pesquisas e investido em tecnologia de outros países. – explica o homem com seu habitual penteado estranho.

— Parece que Kyoya virou um workaholic maior do que eu achei que seria. Enfim, está na minha hora. Romario deve estar ficando impaciente enquanto me espera. Passar bem, Kusakabe.

— Boa viajem, Dino-san, por favor envie meus sentimentos a todos.

— Eu o farei. – avisa o Don Cavallone, um sorriso colado nos lábios.

Despedindo-se do loiro, Kusakabe retorna ao escritório de seu chefe trazendo os documentos, para encontra-lo com um brilho predatório no rosto, um brilho que só aparece por causa de um mesmo motivo. Algo definitivamente está para acontecer.

— Algo errado, Kyo-san? – indaga, sentindo a aura poderosa emanando do Guardião da Nuvem, que resmunga um ‘Hn’ enquanto estreita os orbes perigosamente, o celular roxo firmemente preso em sua mão direita.

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O carro negro faz uma parada brusca em frente à entrada principal da sede Vongola. A forte chuva, que começou pouco depois do meio dia, ainda não havia dado trégua, se qualquer coisa apenas se intensificou, enquanto, vez ou outra, raios rasgam o céu. O veículo nem havia parado completamente e Hayato pulou para fora, batendo a porta com força e ignorando a chuva fria, que imediatamente abraçou seu corpo começando a gelar sua pele. Em uma corrida Gokudera invade o hall de entrada da mansão, estranhamente silenciosa. As palavras de Reborn-san soando constantemente em sua mente como um mantra macabro, quase fazendo seus ouvidos sangrarem. “Tsuna está morto. Volte para a mansão”, foram as exatas palavras ditas na ligação que recebeu do Arcobaleno, pouco depois da reunião em que estava terminar.

“Hayato.” – uma voz cansada ecoa pelo hall.

Ao som do seu nome, Gokudera vira instintivamente para a pessoa emergindo das sombras em um corredor ao seu lado direito, e instantaneamente orbes verde-cinzentos caem sobre um Shamal com um jaleco manchado de sangue. A mente da Tempestade congela. Seus ouvidos são incapazes de assimilar as frases ditas pelo médico pervertido, enquanto corre escada à cima subindo vários degraus de cada vez, quase perdendo o equilíbrio em sua corrida desenfreada.

Atravessando os corredores completamente desprovidos de vida, a mente vazia e o corpo tremendo, não pelo frio, mas pelo medo, a Tempestade dirige-se para a enfermaria. O coração batendo descompassado no peito. A respiração irregular fazendo seus pulmões arderem com a simples corrida. Com uma para abrupta, Hayato encontra-se frente a frente com a porta de mogno. Uma mão tremula é estendida em direção à maçaneta, só para congelar no ar a poucos centímetros do metal frio. Uma lágrima, seguida de outra e outra percorrem a face de Gokudera, quando sua mente finalmente parece voltar a funcionar, juntando os eventos de momentos antes e somando-os a ligação do Arcobaleno – só não pode ser verdade.

Ele o estava evitando já por um longo tempo, ao ponto de que quase não ficava na mansão. E até receber aquela ligação, nem mesmo uma vez Gokudera pensou que algo semelhante pudesse realmente acontecer, era simplesmente impossível. Mas ao ouvir o tom cortante aliado ao misto de frustração e ódio na voz de Reborn-san, Hayato sentiu um medo aterrorizante apossar-se de seu corpo, ao mesmo tempo despertando todas as promessas enterradas em seu peito, que ele fez ao seu Céu e tão descuidadamente ele quebrou.

Do fundo de sua alma ele esperava que o Hitman pudesse ter finalmente perdido a paciência com eles e decidiu ser seu habitual eu sádico e pregar-lhes uma punição por terem se afastado. A Tempestade se agarrou a ideia de que tudo era apenas uma brincadeira de muito mau gosto, e que ao chegar à mansão o Jyuudaime estaria em seu escritório soterrado por pilhas e pilhas da papelada maldita, completamente alheio as armações do seu tutor. Que ao entrar no escritório o Décimo iria encará-lo com um olhar levemente surpreso e dolorosamente esperançoso, dar-lhe-ia as boas vindas como sempre fez, mesmo que sua família tivesse lhe dado as costas, e tudo estaria bem. Mas ao ver sangue, algo dentro dele soube que não era uma brincadeira e sua racionalidade desapareceu.

Sentindo os pulmões doerem, a Tempestade percebe que esteve prendendo a respiração desde que parou no corredor. Em uma nova tentativa de provar que tudo não passa de uma punição, e que o que viu não era realmente sangue, e mesmo se fosse não significa que seja do seu chefe, e que provavelmente o Décimo tenha tido apenas um colapso e está dormindo tranquilamente, Gokudera permite sua mão tremula tocar o metal frio e abrir a porta.

Mas ele estava errado. Todas as suas esperanças eram infundadas. Não havia Jyuudaime. Havia apenas uma cama vazia e lençóis sujos de sangue. E então a única palavra de tudo o que Shamal disse e em seu torpor ele ignorou, e ainda assim sua mente captou, ruge em sua cabeça rasgando-o por dentro – “cremado.”

Dor, medo e culpa percorrem seu corpo fazendo o estremecer. Com passos cambaleantes para trás, Gokudera sente suas costas bater contra a parede do corredor. Suas pernas não suportam mais seu peso e seu corpo desliza rumo ao chão. Finalmente um grito rasga sua garganta, seguido de uma explosão de lágrimas. Seu precioso amigo. A pessoa que lhe deu uma família, que lhe deu uma razão para lutar, para viver. Seu amado Céu havia desaparecido para sempre. E seu corpo agora era nada além de cinzas.

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Orbes verde-acinzentados abriram-se dolorosamente quando a claridade penetrou suas pálpebras. Sentindo sua cabeça zumbir, Gokudera desliza uma mão pelo cabelo prateado. Ao seu lado, sobre a pequena mesa de centro, duas garrafas vazias de vinho descansam junto a uma taça. Depois da discussão com Yamamoto e provocarem outra crise de choro em Lambo, Hayato decidiu que apenas uma garrafa definitivamente não seria suficiente para arrastá-lo da realidade e para uma noite sem sonhos malditos, devido à alta taxa de álcool em seu corpo. Não funcionou. Ele ficou preso a noite inteira revivendo as memórias do dia em que o seu mundo foi completamente devastado. Lembranças amargas que tem certeza que nunca conseguirá esquecer. E por mais que isso o machuque, tais memórias lhe servem de lembrete do porque ainda está lutando. Do porque de ainda levantar-se todas as manhãs, mesmo que o Céu já não está mais junto deles. Servem de lembre para sua nova determinação.

Levantando-se da poltrona, uma vez que acabou apagando na sala do piano, a Tempestade sente os efeitos de se afundar no vinho aliados a uma noite dormida de forma completamente desconfortável. Essa é a segunda vez que algo semelhante acontece nesta mesma semana - o que só piora os sintomas. Dias antes quando sua missão, de negociar com a maldita Famiglia Avanzo a sua permanência na aliança Vongola, tornou-se um completo desastre, a Tempestade se afundou no álcool em um bar onde, cerca de cinco anos antes, ele, Yamamoto e o Jyuudaime acabaram durante um dos muitos testes de Reborn-san. E até agora Gokudera não tem certeza de como retornou ao quarto no hotel em que estava hospedado. Afinal, quando ligou para o bar pedindo sobre a conta, o atendente disse-lhe que alguém pagou-a, se Hayato ou outra pessoa, ele nada sabia. Já na portaria do hotel a recepcionista disse que não se recorda de vê-lo chegar acompanhado. E como nada fora retirado dele, a Tempestade decidiu deixar a história por isso mesmo. Talvez ele tenha voltado por conta própria e a ressaca apagou suas lembranças, embora desde que Gokudera despertou no dia seguinte, uma estranha sensação de nostalgia agarrou-se a ele como poucas vezes sentiu tão intensa.

E agora, para combinar com sua cabeça latejando e corpo dolorido, seu estômago está embolado, o que significa que hoje ele vai ter apenas uma xícara de expresso no café da manhã.

Movendo-se para fora da sala, Gokudera logo ganha os corredores. Uma rápida olhada no relógio lhe diz que ainda não são sete horas, o que lhe dá cerca de vinte minutos para tomar um banho e se preparar para o dia. E como os outros devem estar chegando à mansão hoje, não seria bom se o encontrassem descomposto como está. Não que algum deles atualmente se importe com o resto da família.

Fazendo o seu caminho para o quarto, Hayato se questiona se deve ou não verificar o estado do pirralho. Talvez ele tenha se trancado novamente. Depois da confusão da noite passada seria de se esperar que o Ahoushi optasse por ignorar sua promessa e se fechasse em seu quarto como nos anos anteriores. Ele tem esse direito, embora Gokudera não esteja disposto a aceitar. Com um pequeno desvio no corredor a Tempestade logo se encontra diante do quarto do Trovão. Após uma respiração profunda, sua mão repousa sobre o metal frio da maçaneta, que, para sua surpresa, cede com facilidade lhe dando passagem para dentro do cômodo ainda escuro. Com uma rápida espiada para a bola, felizmente adormecida no centro da cama, o braço direito fecha a porta e retoma seu caminho original. Há um longo dia pela frente, e ele não pode se dar ao luxo de perder tempo, não quando o dia está chegando.

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Assim como no dia anterior, Yamamoto está no dojo, mas desta vez a Chuva não está treinando. Sentado no chão, as costas apoiada na parede, Takeshi se permite tomar nos detalhes do local que foi construído especificamente para ele treinar a pedido de Tsuna, assim que ele havia dito que também viria para a sede na Itália, embora o Décimo lhe dissesse que ele poderia ficar em Namimori e acompanhar o desenvolver da base japonesa junto com Shoichi, Spanner e Giannini. Yamamoto negou-se a abandonar seus amigos, especialmente Tsuna. Em pensar que cerca de três anos depois ele faria exatamente o oposto, escolhendo se afastar de seu precioso amigo por causa de desconfiança, receio e medo. Tais ações o fizeram sentir ódio de si mesmo a cada dia com mais intensidade.

Naquela época afastar-se de seu precioso amigo foi doloroso, mas estranhamente foi mais fácil do que ele acreditava que seria. Talvez seja como o garoto disse naquele dia, quando as estruturas de seus mundos desabaram, ‘seus laços eram fracos e se romperam quando expostos a escuridão do submundo’. E essa simples verdade foi uma punhalada no coração da Chuva. Saber que sua determinação de proteger aquele a quem devia sua vida era tão fraca, só o fez com mais nojo de si mesmo. Ele devia saber que Tsuna jamais faria algo sem um motivo justo. Que o garoto gentil que odiava lutar nunca colocaria pessoas inocentes em risco, muito menos as sacrificaria sem um segundo pensamento, pelo contrário, de bom grado seu chefe entregaria sua própria existência para proteger a de outros. E ainda assim ele teve dúvidas, e suas dúvidas custaram à vida do seu Céu.

Takeshi já não é capaz de lembrar quando foi a última vez que sorriu - nem mesmo os sorrisos forçados são esboçados por seus lábios. Ou a última vez que realmente expressou alguma emoção que não raiva, ódio. Nem quando foi a última vez em que se sentiu como a chuva tranquila que lava todas as adversidades. Talvez seja por isso que os Gears voltaram a ser os anéis selados, porque nenhum deles tem a determinação necessária para manter as chamas fluindo através dos anéis. Porque eles já não seguem a vontade da Primeira Geração. Porque eles quebraram seus juramentos e se tornaram indignos. Ou talvez seja realmente um castigo por terem quebrado completamente seu Céu, como Reborn-san gosta de lembra-los. Tudo que Yamamoto sabe é que ele mudou. Todos mudaram, e gritantemente não foi para melhor.

Erguendo as mãos na altura de seus orbes caramelos, Takeshi não consegue impedir que seus olhos vejam vermelho. Antes de Tsuna morrer, antes de tudo isso começar, ele nunca soube o que era tirar uma vida. Tingir suas mãos em sangue. Ver a chama da vida expirar bem diante dos seus olhos. Mas agora ele é incapaz de ver suas mãos limpas ou de lembrar quantos corpos sua lâmina rasgou nestes três anos. Ele se perdeu completamente em sua frustração, tristeza e amargura. Ele se tornou exatamente aquilo que mais odiava. Ele quebrou todos os juramentos que fez a si mesmo. Antes a Chuva lutava pela vida, para proteger as pessoas e, principalmente, sua família. Yamamoto ia para suas missões com a certeza de derrotar seus inimigos no máximo incapacitando-os, mas jamais tirar-lhes a vida. Porém, quando o Céu os deixou foi como se aquilo que o mantinha sendo ele mesmo foi quebrado.

Em sua primeira missão após a morte de Tsuna, ele perdeu o controle e liberou toda sua frustração e ódio, presos em seu corpo por semanas, sobre seus inimigos em uma chuva furiosa. Quando sua mente finalmente clareou, ele se viu cercado por corpos ensanguentados. Não um, não dois, mas vários corpos. Um esquadrão inteiro de uma Famiglia rival foi retalhado por sua lâmina em menos de uma hora. E tal visão fez seu sangue gelar nas veias, e isso só serviu para fazê-lo sentir ainda mais ódio. Ódio de si mesmo e dos outros, porque ninguém se preocupou em consolá-lo, em questionar como seu coração estava sentindo-se, agora que suas mãos estavam manchadas. Ninguém estava lá para ampará-lo quando ele sentiu-se quebrando, quando sentiu medo de si mesmo, ou quando os pesadelos começaram a assombrá-lo não o deixando dormir à noite. Porém, o que mais doeu, o que mais feriu, foi saber que isso foi exatamente o que ele fez naquele dia.

Decidido a empurrar as lembranças amargas para o fundo de sua mente apenas nesta data, Takeshi levanta-se do chão. Com sua Shigure Kintoki em mãos, vaga para o centro do dojo e começa a treinar. Na verdade Gokudera não estava totalmente errado em sua afirmação, mesmo que não queira admitir, em parte ele treina por auto piedade, porque enquanto ele foca sua atenção no treinamento sua mente fica completamente limpa, e ele é capaz de esquecer temporariamente tudo que quer esmaga-lo como um inseto. Ele é capaz de esquecer que também tem suas mãos manchadas por sua culpa na morte de Tsuna.

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Passava do meio dia e um certo boxeador ainda não havia parado de treinar. Felizmente para os subordinados Vongola – exaustos e mal se mantendo sobre as pernas - o Guardião os havia liberado para almoçarem e recarregarem as energias – escusado dizer que muitos caíram antes mesmo de atingirem os dormitórios e tiveram de ser carregados por outros colegas, que já haviam passado por suas doses diárias de dor, suor e sangue ou ainda estavam esperando pelas mesmas. Do alto de uma rocha, um par de orbes azuis observa atentamente seu aluno agindo mais extremo do que o habitual. Mas o Arcobaleno está plenamente consciente do real motivo por trás desta explosão de energia, depois de tudo mesmo ele havia sido afetado pela morte do Céu Vongola.

Com um pequeno suspiro resignado, o loiro resolve que é hora de abordar seu aluno antes que ele exceda os limites de seu próprio corpo. E com tudo que está por vir, seria problemático se o Sol ficasse incapacitado justo quando a Famiglia mais precisa dele. Além disso, o outro Sol certamente irá cobrá-lo se não fizer sua parte como tutor – Reborn sabe ser uma grande dor quando quer ser. Afinal o Hitman deixou bem clara a situação quando se falaram ao telefone ontem. E com isso em mente, pegando seu rifle o Arcobaleno faz mira.

Ryohei está prestes a completar sua vigésima volta ao redor da base, que é utilizada para a formação dos membros dos esquadrões Vongola, e que eventualmente recebe novatos de algumas das Famiglias que fazem parte da aliança principal - as que ainda respeitam os acordos feitos no passado, quando a Vongola era a soberana no submundo e eles ainda tinham um Céu que harmonizava tudo. É quando um clarão azul abre uma grande cratera no local exato em que ele iria estar em poucos segundos. O Sol para instintivamente assumindo uma postura de combate, punhos prontos para atacar seu agressor. E tal visão arranca um assobio de um certo Arcobaleno.

— Tão extremo como sempre, kora! – exclama o loiro, colocando o poderoso rifle de volta em suas costas e juntando-se ao Guardião.

— Mestre Colonnello, o que está fazendo aqui? – indaga Ryohei, abaixando os punhos ao reconhecer a presença do seu antigo tutor, uma das poucas pessoas que ainda o procuram.

— Eu realmente preciso de um motivo para visitar meu aluno, kora? – comenta o Arcobaleno, enquanto Falco pousa em seu ombro direito, pois a ave já não pode carrega-lo como quando ele estava em sua forma bebê – Eu vim ver como você está indo com o treinamento dos novos recrutas. Soube que a Famiglia Amadio mandou alguns de seus subordinados para você. – prossegue recordando o último grupo que viu o Guardião treinando, os pobres homens estavam à beira de perder a consciência de exaustão.

— Ah, são fracos e pouco extremos! Mal são capazes de se manterem com o treinamento. – resmunga o Sol, franzindo a testa e pressionando os punhos.

— Eu vejo. Mas está tudo bem você ficar forçando seu corpo assim? Eu pensei ter lhe ensinado a parar e deixar suas células descansarem, kora. – comenta, observando as muitas novas bandagens à mostra no corpo do Guardião, deixando claro que o boxeador extremista está sendo descuidado com sigo mesmo novamente.

— Eu extremamente não consigo descansar agora! Eu tenho energia extrema ainda! – fala, enquanto seus olhos brilham e seu corpo parece inflamar com as brilhantes chamas do Sol.

— Você não esqueceu que dia é amanhã, eu suponho. – ao comentário, imediatamente o humor do Guardião escurece, enquanto as chamas se apagam.

Colonnello realmente prefere não ter de tocar na ferida, mas esse parece ser o único gatilho que ainda consegue parar o excessivamente brilhante Sol Vongola. Tão brilhante que chega a ser autodestrutivo, por vezes prejudicando a si mesmo e aos outros com sua incapacidade de se controlar. Sem o Céu, o Sol não tem um guia para lhe indicar a direção correta a percorrer e assim acaba excedendo-se.

— Eu jamais poderia esquecer. – responde em um tom estranhamente baixo, em um misto de emoções e sentimentos dos quais raiva e frustração são os que mais se destacam – É por isso que eu preciso extravasar toda essa extrema energia, ou eu posso acabar queimando os outros. – rosna a última parte.

Colonnello encara o seu aluno por alguns segundos. Há muito tempo não é um segredo para todos ligados a Famiglia, que a situação entre os Guardiões se deteriorou ao ponto em que eles já não conseguem suportar a presença uns dos outros. Eles evitam se encontrar e se separaram depois da última grande briga. É um verdadeiro milagre que eles ainda permaneçam operantes em favor da Vongola. E tudo isso parece estar tirando um certo Hitman de seus nervos.

O loiro ainda se lembra da expressão no rosto de Reborn na última vez em que se viram, durante uma das muitas reuniões com todos os Arcobaleno, quase duas semanas atrás. Em todos os anos em que se conhecem, o portador da pacifier da Chuva não se recorda de ver o Hitman com uma aura tão irritada. Foi uma surpresa que após a reunião ele o convidou para praticarem um pouco – o que rendeu uma dose acima do normal de destruição em uma área isolada que escolheram para seu treino. E tal reação só mostra o quanto à situação piorou desde que o Don Vongola morreu, pois Reborn não é do tipo que perde sua calma e, principalmente, compostura – a única exceção continua sendo justamente o dia da morte de Sawada. No final, talvez não sejam apenas os Guardiões do Décimo que precisam de ajuda.

— Vejo que não tenho outra escolha a não ser direcioná-lo em uma forma mais segura de eliminar toda essa energia que você ainda tem acumulada. – comenta, pegando o rifle novamente – Prepare-se, kora!

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O grande relógio na sala de estar soou pontualmente 18 horas, quando Lorenzi abriu a porta principal da sede Vongola dando passagem a uma figura de cabelos cinza, com punhos enfaixados e um curativo sobre o nariz. Ryohei adentrou as portas imediatamente sentindo uma onda de nostalgia dolorosa neutralizar momentaneamente toda a sua energia. O brilhante Sol da Vongola sempre sente seu extremismo esvair-se quando seus pés tocam esse solo, agora manchado pelo sangue do seu patrão, amigo e irmãozinho. E mesmo o denso Guardião sabe que tem sua parcela de culpa na morte do seu Céu, o que não significa que seu coração está pronto para aceitar esse fato doloroso.

— Então você veio Sasagawa. – rosna Hayato, surgindo no hall da mansão enquanto Lorenzi toma a chegada da Tempestade como sugestão para retirar-se da sala, depois de tudo, a situação tende a ficar tensa quando os Guardiões se reúnem.

— Como se eu fosse extremamente faltar. Não pense que você é o único que se importa. – retruca, ajeitando o saco pendurado em seu ombro onde apenas seus pertences básicos estão, seus melhores ternos permaneceram na sede Vongola quando decidiu mudar-se para a base onde é feita a formação dos esquadrões da Famiglia – Quem mais já chegou? - prossegue, ignorando o silêncio que há três malditos anos se instaurou na mansão, antes excessivamente barulhenta.

— Apenas você e Yamamoto. – responde com uma nota de desagrado na voz ao mencionar o nome da Chuva, a discussão na noite anterior ainda não foi completamente digerida.

— Pergunto-me se Hibari vai aparecer este ano... – comenta, cruzando os braços sobre o peito trabalhado.

— Tch! Como se eu me importasse com aquele bastardo.

— Então você já chegou. – fala Yamamoto em sua habitual expressão fria, também entrando na sala com sua Shigure Kintoki pendurada no ombro e não encarando Hayato - Agora só faltam Dokuro e Mukuro.

Desde a discussão na noite anterior, Chuva e Tempestade tem claramente evitado a presença um do outro. Takeshi passou mais da metade do dia no dojo treinando, e o restante foi ocupado quando o garoto lhe solicitou que ajudasse a fazer a papelada que acumulou com a ausência de Gokudera, algo que fez em seu próprio quarto, uma vez que Hayato se estabeleceu na biblioteca da mansão – o escritório de Tsuna se tornou uma das muitas áreas que os Guardiões começaram a evitar sempre que possível, sentindo-se como profanando algo que não são mais dignos de frequentar.

— Agora que eu penso nisso. – Ryohei começa, quebrando o tenso e desconfortável silêncio que subitamente os envolveu – Vocês sabem algo sobre esta reunião que Reborn-san marcou? Eu extremamente não tenho ideia do motivo.

— Presumo que ninguém saiba, já que nosso líder nem ao menos foi informado. – resmunga Yamamoto, escorando-se em um pilar a uma certa distância dos outros dois, Gokudera junto a escadaria, sendo Sasagawa no centro da sala o mais próximo.

Com o comentário, Hayato imediatamente dispara um olhar atravessado e venenoso para a Chuva, que só estreita os orbes caramelo em sua direção, entre todos eles a relação dos dois é de longe a mais instável – ironicamente os dois sempre foram os mais próximos de Tsuna. Optando por não arrumar outra briga desnecessária, Gokudera volta sua atenção para Ryohei, depois de tudo ele não está no espírito de provocar a ira de um certo Hitman de fedora, que não vai pensar duas vezes antes de enche-los de buracos de balas.

— Eu questionei Reborn-san depois do café da manhã, ele disse que só vai falar quando todos estiverem aqui. Mas só consigo pensar que é algo relacionado à atual situação do Nono. – fala a Tempestade, enquanto recordando a expressão séria e fria do Arcobaleno.

Desde que o Jyuudaime se foi, o tutor espartano não poupou esforços em puni-los por abandonarem seu chefe e consequentemente atraírem a morte do Céu. Ficou mais do que óbvio para todos eles que o Hitman os culpa pelo que aconteceu, como se eles já não fossem plenamente conscientes de suas próprias culpas provocadas por suas escolhas estúpidas.

— Eu ouvi de Irie sobre isso, a saúde do Nono piorou recentemente. – comenta Yamamoto, também cruzando os braços sobre o peito.

— Isso significa que o pai de Sawada vai ter de assumir sozinho? – Ryohei sente sua garganta apertar com a simples menção de seu falecido Boss.

Uma vez mais um silêncio tenso envolve o trio, todos dolorosamente conscientes que a Famiglia está começando a ruir assim como suas relações fizeram algum tempo atrás. Mesmo com seus esforços para manterem a Vongola funcionando, numa tentativa de impedir que tudo o que seu amado Céu fez seja destruído, sozinhos eles sabem que são completamente impotentes, e o medo de falharem novamente os assombra a cada novo dia. Eles não foram capazes de salvar seu precioso amigo. Não foram capazes de salvar suas relações falidas. E agora podem não ser capazes de salvar a Famiglia.

— É uma possibilidade. Mas se for só por isso não haveria o porquê dessa reunião que Reborn-san marcou. – Gokudera é o primeiro a quebrar o silêncio auto-imposto, sua expressão mais séria do que o habitual, enquanto sua mente corre solta formulando possíveis teorias, mas sem estabelecer-se em nenhuma.

— Talvez ele queira extremamente discutir novas táticas de ação. – sugere Ryohei soando incerto.

— Ou talvez eles finalmente decidiram que é hora de entregarmos os Anéis. - com o comentário, dois pares de olhos disparam na direção de Yamamoto.

— Do que você está extremamente falando?! Por que perderíamos nossos anéis?! – indaga o Sol confuso e irritado, encarando Takeshi incisivamente.

— Você também pensou nisso, não foi, Gokudera? – prossegue Yamamoto ignorando Ryohei, seus orbes caramelos fixos no fumante, cuja expressão se tornou ilegível - Desde que Tsuna morreu, eu tenho imaginado quando o dia em que seremos dispensados vai chegar. Confesso que levou mais tempo do que eu pensei. – comenta com amargura palpável.

— Tch! Não vá tirando conclusões precipitadas. – rosna Hayato, pressionando as mãos em punhos para impedir-se de pegar suas dinamites.

— Vamos lá, admitam, depois de tudo foi nossa culpa Tsuna ter morri-

O som alto ecoa pela mansão enquanto a mesma estremece.

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De pé, mãos enfiadas nos bolsos e o olhar perdido além da grande janela, Reborn observa o sol desaparecer no horizonte. O céu completamente banhado em cores - tão vivo. A luz poente projeta sombras estranhas dentro do escritório uma vez ocupado por seu dame-aluno. O Arcobaleno ainda se lembra das muitas reuniões, discussões, ameaças – dame-Tsuna verdadeiramente odiava seu trabalho com a papelada maldita - ou simplesmente conversas que costumavam ocorrer entre essas paredes. Ou do orgulho que sentiu inflamar em seu peito quando o seu aluno herdou a Famiglia, quando Tsuna conduziu com perfeição absoluta sua primeira reunião com chefes de outras Famiglias, quando o jovem Boss começou a distribuir ordens como se sempre tivesse feito isso, do brilho de admiração que o novo Don despertava naqueles que tinham a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente. Da mesma forma, amargamente Reborn se lembra do estranho sentimento de vazio que se apoderou dele quando seus olhos pousaram sobre o rosto pálido e sem vida do garoto que viu crescer e começar a se tornar no homem formidável que estava destinado a ser.

Reborn nunca foi estúpido, muito menos alguém que mente para si mesmo, e é por isso que ele sabe que havia se apegado muito ao garoto fracote e covarde que o Nono o incumbiu de arrastar para o mundo escuro que acabaria tomando sua inocência e sua vida. Ele se deixou levar pela aura tranquila e sorrisos amáveis e calorosos, justo ele o maior Hitman do mundo, um solitário por escolha, permitiu que alguém chegasse ao seu coração, e ainda mais, permitiu seu coração a se ligar a alguém. Mas é sempre assim quando você se depara com um verdadeiro e grande Céu, ele te aceita e te envolve independente de quem você é ou do que fez e faz, e te recebe de braços abertos como família– e antes de tutor ou Hitman, Reborn é também um Sol, e como tal, mesmo ele necessita da existência de um Céu.

Deixando seu olhar vagar de volta para dentro do escritório, o Arcobaleno observa a mesa, que costumava ser preenchida pela papelada maldita, completamente limpa, uma vez que é Iemitsu ou o próprio Nono quem tem assinado os documentos importantes, Nono em sua nova residência ao sul de Palermo, e Iemitsu na propriedade em que residia quando líder do CEDEF. Quanto às demais papeladas, como os relatórios de missões, contas e arquivos relacionados aos vários esquadrões Vongola, todos são feitos por Gokudera, que optou por utilizar a biblioteca da mansão ao invés do escritório. Os pirralhos não perceberam que tem evitado os lugares que seu chefe mais frequentava da mesma forma que o evitavam quando ele ainda estava entre eles. De qualquer forma, não é como se o Hitman se importasse, contanto que a Famiglia ainda esteja andando, os detalhes podem ser ignorados.

Com o olhar vagando pelo escritório, Reborn se permite mergulhar nas memórias da última vez em que ele e seu dame-aluno estiveram nessa sala, mais de três anos atrás.

“O que significa isso, dame-Tsuna?” – o Hitman estreita os orbes negros para seu aluno, sentado em sua poltrona de couro com as mãos cruzadas sobre a mesa – “Eu pensei ter dito a você que eu não iria deixar a mansão.”

“É uma missão importante de alto nível. Eu não posso enviar outra pessoa.”

Com a resposta cheia de significado, Reborn se força a não ranger os dentes em irritação. Ele é o único atualmente na mansão. O único em quem Tsuna ainda pode confiar plenamente, uma vez que os pirralhos o tem evitado para mais de três meses agora – com exceção da Nuvem, que permanece observando a situação de fora como sempre faz. Na verdade, se qualquer coisa, o ex-prefeito parece ainda mais hostil com seus companheiros Guardiões e estranhamente mais calmo ao redor do Décimo - o que só dá mais certeza ao Arcobaleno de que Kyoya sabe de algo. Porém, Hibari passa mais tempo cuidando de seus próprios negócios do que interagindo com a Famiglia, e mesmo que a Nuvem distante até hoje nunca tenha recusado qualquer missão, Tsuna não gosta de ficar empurrando seu mais poderoso Guardião, que, apesar de jamais admitir abertamente, já há muito o aceitou como seu chefe, como o título de ‘onívoro’ sugere.

“Peça a Hibari que vá, ele adora uma chance de poder usar suas tonfas, certamente não vai rejeitar a missão.” – insiste, mesmo sabendo que é inútil, Tsuna não o incumbiria sem um bom motivo, ainda assim, algo em suas entranhas, chame de intuição de Hitman, diz-lhe que ir é uma má escolha.

“Kyoya não se encaixaria com essa missão. Eu mandaria Takeshi, mas... Ele está em missão na Escócia. E Mukuro está... Ocupado.”

Apesar da louvável tentativa de tornar o tom de sua voz plano, os ouvidos treinados do Hitman são capazes de captar a nota de amargura e solidão nas palavras de Tsuna. Além disso, Reborn sabe que a missão de Yamamoto foi auto atribuída, quando o Guardião da Chuva retornou após quase um mês longe e imediatamente pegou uma nova atribuição e partiu, depois de ficar menos de doze horas na mansão. Quanto ao Guardião da Névoa, ele simplesmente deve ter recusado falar com seu dame-aluno, e Tsuna sendo gentil de mais para seu próprio bem, não deve ter insistido, preferindo não forçar o ilusionista.

“Reborn.”

Havia resignação e um fraco brilho de determinação naqueles orbes castanhos-avelã, que gradualmente tem se tornado opacos e sem vida. Uma vez mais o Arcobaleno tem de se impedir de ranger os dentes em frustração. Porém, uma coisa é certa, quando ele voltar desta maldita missão ele terá certeza de devidamente punir os pirralhos estúpidos. É seu dever como tutor usar todos os métodos disponíveis para ensinar suas lições e certificar-se de que as mesmas sejam não só aprendidas, mas gravadas. Além disso, ele já ficou de fora apenas observando seu dame-aluno sofrer em silêncio sem fazer nada por tempo de mais.

“Está bem, dame-Tsuna. Mas não se atreva a fazer nada estúpido enquanto eu estiver fora.”

Na época Reborn não soube exatamente porque sentiu um frio gelar seu estômago quando disse isso, ou por que seu peito estranhamente apertou quando Tsuna sorriu para ele, o primeiro que viu surgir em seu rosto em semanas desde que sua família decidiu virar-lhe as costas, infelizmente tal sorriso não chegou a seus olhos sem brilho. Foi só cerca de um mês e meio depois que seus medos se confirmaram através da ligação de um Dino em pânico, pedindo para que voltasse a mansão, pois o estado de saúde de seu irmãozinho havia piorado muito e Tsuna estava sozinho, novamente, e se recusando a alertar seus Guardiões.

Ele sabia pelas ligações que fez para Tsuna, informando do andar de sua missão, que algo errado estava acontecendo, o tom vago e as respostas curtas dadas pelo jovem Don eram prova mais do que suficiente disso. E a ligação de Dino foi só o empurrão que precisava para largar tudo e regressar a Mansão. Mas nada o preparou para a visão do corpo ensanguentado de seu aluno. Depois de tudo, parece que não foi apenas Iemitsu que perdeu um filho naquele dia.

Subitamente um estrondo, seguido de um abalo na estrutura da mansão arrancam o Hitman de suas lembranças amargas, arrastando-o de volta a realidade. Com Leon transformado em arma, Reborn deixa o escritório rumo ao primeiro andar, já prevendo o que causou toda a confusão. Afinal, os pirralhos estavam para se reunirem todos novamente, algo que só ocorre nesta data.

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— Vocês dois idiotas enlouqueceram! – berra Gokudera, olhando punhais para os dois Guardiões em posição de combate.

O pilar onde Yamamoto esteve escorado até segundos antes, agora estampa uma cratera, duas vezes mais larga do que o punho de Ryohei, no local exato onde a cabeça da Chuva estava. Takeshi não chegou a terminar de falar quando em um movimento brusco, o boxeador saltou com o punho enfaixado visando seu rosto, por sorte Sasagawa não chegou a ativar suas chamas do Sol, ou então os estragos seriam de proporções completamente diferentes.

— Nunca mais diga isso ou eu vou extremamente quebrar a sua cara! – rosna Ryohei, pronto para saltar e usar Takeshi como saco de pancadas, sentindo que todo o treinamento com Colonnello não foi suficiente para gastar sua energia.

— Dizer a verdade? Que a culpa é nossa por Tsuna ter morrido? – sibila a Chuva, com Shigure Kintoki firme em sua mão, a lâmina apontada perigosamente para o Sol.

Uma vez mais os dois saltam prontos para desferirem golpes um no outro, é quando um brilho amarelo atravessa a sala fazendo ambos os Guardiões recuarem, instantes antes que uma cratera se forme no chão, no local onde estariam se não tivessem parado.

— Então é tentando matar uns aos outros que vocês pretendem se lembrar de Tsuna? – a voz afiada e fria, seguida de uma espessa aura assassina, inunda a sala.

Um olhar doloroso imediatamente se forma nos rostos de todos, enquanto Reborn desce a escada sem esconder seu desagrado, os pirralhos só tem causado problemas desde aquele maldito dia.

— Espero que não tenham esquecido que é por serem estúpidos que vocês perderam seu Céu. O mesmo vale para vocês dois. – completa o Arcobaleno, apontando a arma para o espaço vazio a direita de Gokudera.

— Oya! Parece que escolhemos um momento ruim para voltarmos, minha querida Chrome. – a voz ecoa pelo hall vazando uma risada sinistra muito conhecida.

De dentro da névoa a dupla de ilusionistas surge, Mukuro com um olhar ligeiramente divertido em seus orbes bicolores, enquanto a jovem mantém o mesmo olhar deprimido que possui desde que Tsuna morreu. Chrome havia se aberto mais para a família devido às tentativas do Boss de se aproximar dela, porém, assim como os outros, ela também se afastou dele – por receio e medo.

Antes que qualquer coisa seja dita, o som alto de choro é ouvido seguido do som de passos correndo pelos longos corredores da mansão, e imediatamente todos eles sabem de quem se trata. Yamamoto aumenta seu aperto envolta de Shigure Kintoki em visível frustração, enquanto Ryohei pressiona os punhos com força. Reborn permite a fedora do chapéu encobrir sua expressão, ele havia ignorado a presença do pirralho no topo da escada, em favor de parar os dois Guardiões estúpidos de causarem mais destruição e talvez se ferirem seriamente – depois de tudo, a Famiglia precisa deles, ainda mais a partir de agora.

— Tch! Dokuro, você pode dar uma olhada no Ahoushi? – estala Gokudera, virando-se para a bela Guardiã, que lança um olhar para Mukuro antes de acenar em resposta e subir as escadas em busca do Trovão.

Desde o tempo em que o Jyuudaime ainda estava com eles, apenas o Décimo e Chrome conseguiam fazer Lambo parar de chorar, embora apenas o jovem Don conseguisse realmente acalmar o pirralho, e sem a necessidade de suborna-lo com doces. Não era em vão que Lambo o considerava, e ainda considera, seu ‘nii-chan’.

— Ouçam, eu não vou tolerar outra confusão de vocês. Se vocês têm problemas para resolver, façam isso sem destruir a mansão. E se querem lutar, usem a sala de treinamento. Embora eu acredite que Tsuna jamais estará feliz com sua família lutando uns com os outros. - comenta, liberando um pouco mais da sua aura assassina – E tratem de consertar os estragos. Eu suponho vocês não tenham esquecido de que dia é amanhã. – completa, virando as costas e saindo da sala.

Um breve e tenso silêncio envolve-os. Todos momentaneamente afundados em seus pensamentos. Mesmo agora eles ainda causam dor e tristeza para seu amado amigo e chefe, como se toda a solidão e amargura que o fizeram passar já não fora suficiente.

— Kufufufu. Parece que o Arcobaleno está mais irritado do que ano passado. – observa Mukuro, sua risada assinatura soando um pouco mais tensa do que o habitual – Bem, vou deixa-los cuidando da arrumação. Afinal nem eu nem Nagi fomos responsáveis por essa confusão. – e com isso a névoa envolve seu corpo, que desaparece completamente.

— Tch! Vocês dois, vou avisar Lorenzi sobre os estragos e conferir o andamento dos preparativos para amanhã. E é melhor não tentarem nada, ou não será Reborn-san quem vai explodi-los. – rosna Gokudera, deixando a dupla sozinha no hall.

Com a saída de Hayato, Ryohei pega o saco com seus pertences, que em sua fúria para atacar Yamamoto jogou no chão, e deixa a sala resmungando algo sobre precisar de uma ‘corrida extrema’ para se acalmar. Sozinho, Takeshi sente seu ódio por si mesmo apenas aumentar. Há muito ele não consegue se controlar e acaba provocando brigas e discussões desnecessárias, justo ele que era quem costumava separá-las. Justo ele que sempre ria despreocupado amenizando a tensão no ar. Parece que a Chuva tranquila, que lava as atribulações e é como uma benção sobre a Famiglia, secou em definitivo, assim como os laços que os unia e fazia deles uma família se quebraram.

— Tsuna... Eu sinto muito. – murmura Takeshi, também deixando a sala.

E uma vez mais o silêncio envolve a mansão.

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Notas finais do capítulo

Minna-san, espero que o capítulo tenha sido satisfatório! Eu senti que foi mais tenso que o anterior ¬¬''
De qualquer forma, comentem suas opiniões, deixem dicas, falem de suas teorias - já há algumas pistas sutis espalhadas nos capítulos - eu adoro ler o que vocês sentem e pensam, isso me inspira a melhorar e me anima a escrever cada vez mais ^^
E não esqueçam da nova capa! Digam-me se gostaram, deu muito trabalho encontrar e 'adequar' a imagem u.u
Ah, se alguém já tiver músicas que identificam com a fic, me enviem o nome e banda por mp ou no face, eu planejo montar a trilha sonora de Céu Vongola também!
Por último, um vídeo que só me faz perceber o quanto eu AMO KHR:
http://www.youtube.com/watch?v=XJW6k9wsrpE
Ciao, ciao!!!!



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