Acordei me sentindo um pouco esgotada da noite passada. Meus olhos mais inchado do que o normal de manhã, meu rosto com rastros de lágrimas secas e minha boca com um gosto salgado. Fui tentar apagar esses vestígios no banheiro.

Quando me juntei aos outros pra o café-da-manhã, ninguém pareceu notar meu atual estado de espírito ou meus olhos levemente inchados... Bem, ninguém tirando Matt, que me lançou um olhar inquisitivo e preocupado (?), que eu evitei.

Não queria preocupar ninguém agora que começaríamos a viagem para o Distrito 8, então agi normalmente, porém eu sentia um grito entalado em minha garganta.

Entramos no trem que pararia no Distrito 8 exatamente ao meio dia e chegaríamos quando começasse a escurecer . Decidimos ir direto á esse Distrito pois ouvimos rumores de que eles estavam precisando de ajuda, não sabíamos como as coisas estavam lá então nós nem tentamos bolar um plano, ou seja, teríamos que improvisar.

Para passar o tempo eu fiquei conversando com Solence e Estela, até que elas começaram a falar sobre a moda dos distritos e sobre penteados, então deixei-as. Vamos dizer que eu não sou muito feminina e nunca gostei muito dessas coisas, enquanto as outras garotas falavam sobre esses assuntos eu treinava esgrima com Beetee e lia muito.

Fui procurar outra pessoa com que pudesse conversar, mas parecia que todos estavam muito absortos em suas conversar e decidi não me intrometer. Dei um rápido aviso geral de que iria sair para observar melhor o trem, já que esse era um dos controlados pelos revolucionários.

O trem por dentro, assim com por fora, não era muito sofisticado, era até um pouco velho de mais, mas era confortável e isso era o que importava para mim, já que faríamos um viagem de várias horas. Particularmente, eu adorava ficar observando a paisagem passar rapidamente pela janela do trem, eu achava lindo, tudo parecia mais com um borrão de cores e imagens para mim, deslocado de mais da realidade, acho que era por isso que eu adorava.

Eu já estava a algum tempo olhando pela janela do trem quando senti uma mão pousar em meu ombro, eu agarrei-a e golpeei fortemente o estomago da pessoa com o cotovelo e ouvi um gemido de dor, me virei pronta para atacar novamente e me deparei com Matt dobrado de dor e com as mãos no estomago.

– Ai meu deus, Matt! - disse, com uma voz um pouco fina de mais devido a surpresa - Me desculpe! Está doendo muito?

Me abaixei para ajuda-lo enquanto ele respondia:

– AI, está tudo bem, você só me pegou desprevenido.

– Bem, eu é quem deveria dizer isso.

Rimos.

– Mas, sério, me desculpe. Força do hábito.

– Sei como é, eu deveria ter me anunciado

– Mas enfim, veio me chamar de volta? alguém está precisando de mim?

– Na verdade não.

Acho que fiquei olhando-o com uma cara muito estranha confusão, então ele riu e continuou:

– É que eu vim te procurar por que queria te perguntar uma coisa.

– Pode perguntar - disse, incentivando-o

– Por que você está me evitando?

– Eu acho que você já sabe a resposta.

Um silêncio incomodo se instalou entre nós. quando eu estava prestes a rompe-lo Matt disse:

– Posso te perguntar mais uma coisa?

– Você acabou de perguntar, mas sim. Só não posso garantir que te darei um resposta. - digo, já prevendo o que ele perguntaria.

– Por que?

Ele não precisava dizer mais nada, eu já entendi o que ele quis dizer, ele estava perguntando o porque dos meus olhos vermelhos hoje de manhã, os quais ele foi o único a reparar e o motivo de eu evita-lo o dia inteiro. Ele perguntava por que eu havia chorado, ele estava... preocupado comigo? Afastei esses pensamento e decidi responde-lo com sinceridade, estava cansada de fingir ser forte o tempo inteiro, afinal, eu era apenas Virgínia.

– Por causa das memórias, por causa do passado, mas principalmente por causa de minha irmã. Da raiva acumulada, e dos malditos sentimentos.

Ele pareceu entender, abaixou um pouco a cabeça fazendo com que o pôr do sol refletisse em seus cabelo claros, e finalmente respondeu:

– Eu sei como se sente, eu também perdi pessoas muito próximas a mim, mas ninguém é de ferro Virgínia, cedo ou tarde isso aconteceria.

– Aconteceu tarde, talvez mais tarde do que deveria, e eu só me toquei agora... Mas e pra você? foi cedo ou tarde?

– Cedo, cedo até de mais.

– Mas pelo menos você já superou.

– Não.

– O que?

– Eu nunca vou superar, Virgínia. ninguém supera, e acho que no fundo você sabe disso.

Ficamos um pouco em silêncio, os dois perdidos em pensamentos, os dois com lágrimas nos olhos e com uma sensação de compreensão e companheirismo entre nós. E naquele momento nós sabíamos que éramos amigos, talvez já fossemos, mas agora sabíamos que um sempre poderia contar com o outro, e que sempre teríamos um ombro amigo ao qual se apoiar. E quando dei por mim, já estávamos abraçados, compartilhando nossas dores, lágrimas, alegrias, lembranças, sorrisos e tudo no mais completo e perfeito silêncio de um abraço, que naquele momento dizia muito mais do que palavras poderiam um dia expressar. Minha cabeça encostada em seu peito esquerdo e meus braços envolvendo sua cintura, sua cabeça apoiada em meu ombro e um dos braços em minhas costas enquanto o outro fazia carinho em meus cabelos. Um abraço que nos dava segurança.

Ficamos assim por um bom tempo, e quando nos soltamos sentamos em um lugar perto da janela e ficamos observando as cores do céu mudando a medida que o anoitecer se aproximava, o céu estava de um azul muito bonito, nem tão claro nem tão escuro mas uma mistura perfeita dos dois, aquela com certeza era a cor mais bonita que eu já havia visto.

– Que lindo! - exclamei.

– É mesmo - disse Matt ao meu lado, que também parecia fascinado.

– acho melhor nós voltarmos para os outros, acho que já estramos chagando.

– Certo.

Andamos até o pequeno compartimento onde os outro estavam, mas antes de entrarmos Matt me parou e perguntou em um sussurro:

– Quem você perdeu?

– Meus pais - respondi no mesmo tom. Nesses últimos dias, depois da conversa com Solence e com Matt, já não era mais tão doloroso falar neles. - e você?

– Meu irmão e minha melhor amiga. Eles foram para os jogos no mesmo ano.

– Me desculpe.

– Tudo bem. Acho que você me ajudou.

– Ajudei?

– Sim. Parece mais fácil falar sobre isso agora.

– É, então você também me ajudou.

Depois disso entramos no compartimento, mas nem precisamo ficar muito, pois o trem estava começando a desacelerar, então apenas pegamos nossas coisas e fomos até a porta do trem com os outros para desembarcarmos.

Chegou a hora, nós estávamos prestes a descobrir o que o Distrito 8 nos reservava.