É dia de Colheita. Era para eu ainda estar dormindo, mas tive um pesadelo. Sempre o mesmo. Eu sendo sorteado para participar dos Jogos Vorazes. Comecei a tê-lo com 9 anos, quando o meu vizinho foi escolhido. Ele tinha apenas 12 anos. Um ano a menos do que tenho agora. Ele não resistiu nem às primeiras horas dos Jogos. Foi morto por um tributo carreirista. O mesmo que ganhou naquele ano.
Sempre penso se for sorteado a participar, o que irei fazer para sobreviver. Não tenho nenhuma habilidade especial, não sou alto, nem forte. Não sei usar espada, lança, facas. A única coisa que seria possível pra mim, talvez, fosse esconder-me e rezar para que todos morram antes de mim. Não me vejo matando ninguém. Só em pensar isso, já sei que não tenho chance. Os tributos do 1 e do 2 são treinados para isso desde que tem 5 anos, mesmo sendo ilegal. Mas como são os Distritos mais ricos, não levam punição da Capital. Já aqui no 4, não temos treinamento, nem proteção da Capital. Está certo que não somos dos Distritos mais pobres, mas a Capital só quer nossos serviços, não se importam realmente como estamos.

Já que estou acordado, resolvo tomar café para me preparar para a Colheita. Na hora marcada, saio em direção ao Prédio da Justiça onde nossa “Dama de Companhia” fará o sorteio. Como no ano passado, médicos da Capital furam meu dedo e retiram um pouco de sangue para fazer o cadastro. Depois de feito, vou para a fila das crianças de minha idade. A "Dama" retira do globo de vidro o nome da menina que irá para a 74ª Edição dos Jogos. Não me dou nem ao trabalho de escutar. Estou preocupado com a possível retirada do meu. A garota sobe ao palco e é acolhida pelo prefeito. Agora é a vez de sortearem o garoto. A “Dama” põe a mão no globo, retira o papel, vai até o microfone. É quando escuto o meu nome sendo chamado.