Mulher América escrita por Lady Snow


Capítulo 6
Capítulo 6- Humilhação constante.


Notas iniciais do capítulo

N/A: Demorou, mas saiu minhas queridas! Espero que gostem, desculpem qualquer erro! Boa leitura! :*



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Horas mais tarde, a corneta soou por toda extensão da base. Alto o suficiente para incomodar o sono de todos. O céu tingia uma cor alaranjada mesclada de amarelo e o sol nascia no horizonte, levantando preguiçosamente enquanto a lua desaparecia e as estrelas acompanhavam-na fielmente. Alguns feixes azuis ainda pintavam o céu, indicando os resquícios da noite anterior. Mas a corneta ainda soava longíqua nos sonhos de Chris, perturbando-a. Com o som contínuo, teve de aceitar que já era hora de levantar e vestir-se para encarar o dia. E seria assim até sabe-se lá quando. Obrigou-se a acordar naquele momento, levantou-se preguiçosamente coçando os olhos, em seguida, soltou um longo bocejo que, ao esticar a pele, fez com que o corte abrisse um pouco e o sangue escorresse. Droga. Pensou, pousou os dedos no corte e fitou-os ao levar em frente aos olhos, gotículas de sangue mancharam seus dedos. Bufou e levantou da cama, eram 4:30 da manhã, soltou um suspiro de lamentação, nunca acordara tão cedo em toda sua vida. Exceto quando ainda residia no orfanato, quando ainda gostava de levantar cedo e observar o sol nascer, do tempo em que ainda não tinha tantos problemas, ou quando eles pareciam pequenos demais em relação ao tamanho de seu fascínio pelo alaranjado imponente.


Dirigiu-se ao minúsculo banheiro, e ao passar pela janela emperrada, fechou-a e a cobriu com o lençol. Com a porta do quarto trancada e a janela coberta, pôde sentir-se protegida e em um momento privado. Despiu-se no meio do caminho e entrou no pequeno box, ligou o chuveiro e deixou que a água escorresse livremente, porém, estava fria demais e isso fez com que calafrios e arquejos tomaram seu corpo, acabou apertando os braços contra o corpo, tentando livrar-se da tremedeira, maso choque da água fria contra seu corpo preguiçosamente morno, foi grande o suficiente para despertar-lhe todos os sentidos e seu cérebro começar a trabalhar. Após alguns minutos, acostumou-se com a temperatura e tomou seu banho tranquilamente. Depois, escovou os dentes e penteou os cabelos, deu uma olhadela no espelho, mas não por muito tempo. Sabia que se olhasse demais, daria falta dos cabelos e isso faria com que toda a raiva que reprimiu voltasse como um terremoto impiedoso em lugares íngremes. Enrolou-se na toalha e voltou para o quarto, ao observar em volta, decidiu que assim que lhe sobrasse algum tempo, dedicaria-se à limpeza daquele quarto, ou então, viveria como uma porca e aquele seria seu chiqueiro, e aquilo estava fora de cogitação. Precisava ao menos, viver em um lugar limpo e organizado.


Terminou sua higiene e vestiu o uniforme apropriado para treinamento. 4:50 da manhã. Retirou a fina camada de tecido que cobria a janela e observou o lado de fora, a calmaria do bosque, os soldados já em pé, poucos pássaros sobrevoavando pelo céu, e o dia já estava clareando por completo. Não tardaria para isso.


Abriu a porta simples de madeira do quarto e saiu andando calmamente pelo local, chutava com seus cuturnos qualquer cascalho e guardava as mãos nos bolsos. Ficava pensando em quais obstáculos teria que enfrentar hoje e daqui para frente, mas então resolveu parar de pensar nisso, afinal, seus dias ali não eram contados, portanto, teria tempo o suficiente para descobrir que desafios aguardavam-na e não lhe parecia agradável a ideia de ficar adiantando os fatos.


Entrou no refeitório e achou um lugar na fila, um por um, chegou sua vez. Serviu-se de pão, mel, leite, uma maçã e algum cereal. A comida não era ruim, o que era ruim eram os olhares que lhe eram lançados vindos das outras mesas, os olhares eram de vários tipos: curiosidade, malícia, deboche, desprezo, descontentamento, penosos e alguns poucos, simpatizantes. Ela limitava-se a abaixar a cabeça e comer em silêncio. Ao fim do café, o Primeiro Tenente ordenou que todos encaminhassem-se para o ginásio e fizessem uma fila horizontal. Todos foram conforme mandados, o Primeiro Tenente Martin entrou acompanhado de mais quatro homens, dois recrutas, o Subtenente Harris e o Segundo Tenente Wilson. Todos possuíam as mãos atrás do corpo, as costas eretas e os rostos virados totalmente para seus superiores, à espera de qualquer instrução.


Silêncio total. O Primeiro Tenente iniciou o discurso.


– Estão aqui para serem treinados. Nada mais, se convocados, deverão servir sem nenhuma oposição. Irão e pronto. Não sabemos quanto tempo estão destinados a ficar, cada um tem o tempo certo. Nossos superiores sabem disso, portanto, obedeçam, façam, sejam aquilo que seu país precisa que sejam. Farei uma chamada, quero verificar se não falta ninguém.


A chamada foi feita. No total, eram cinquenta homens, ou melhor, quarenta e nove. O quinquagésimo era Christine Wright. Nome que o 1º Tenente fez questão de chamar duas vezes, incrédulo com o nome feminino na lista.


– Wright? Apresente-se!


À passos tímidos, ela encaminhou-se por entre os homens até ficar à frente do seu senhor.


– Aqui estou, Senhor. - Ele estudara suas feições miraculosamente, e de repente, soltou uma gargalhada estrondosa, que ecoou sob o ginásio assustadoramente, uma gargalhada desprovida de qualquer graça. Era apenas um riso, um riso desprendido de sentimentos, frio, nada mais. Após os risos cessarem, um sorriso debochado permaneceu em seus lábios, ele cuspiu no chão. Porco. Pensou Chris ao fitar o ato mal criado de seu superior.


– Uma soldado mulher, ãn? Tem certeza de que não lhe mandaram para descascar batatas e limpar os quartos e banheiros, menina?


Mais uma vez o riso ecoou pelo ginásio, porém, desta vez era em tom gozador. Levemente, ela apertou os punhos e murmurou qualquer oração disfarçadamente, esperava que aquilo a deixasse mais calma, ou ela socaria aquele velhote com as próprias mãos até ele pedir desculpas pelas palavras ditas. Os que acompanhavam o 1º Tenente riram junto, alguns soldados até se atreveram a soltar um risinho ou outro. Sentiu as lágrimas chegarem aos olhos, ardendo e desfocando a vista, mas jamais derramaria uma única lágrima na frente daqueles miseráveis. Eles veriam. Eles veriam sua capacidade, até onde poderia chegar e aí, quem riria por último, seria ela. Os desprezava, malditos sejam os machistas. Mas eles pagariam, morderiam a língua quando vissem sua força, ah, como ela ficará satisfeita com isso. Permitiu-se soltar um leve sorriso de escárnio, que não passou despercebido pelo velho 1º Tenente.


– E então, menina? - Perguntou ele no mesmo tom gozador.


– Não senhor. Fui enviada para ser soldado, como qualquer outro aqui presente. - Respondeu ela tranquila, mas com certa entonação na voz que se aproximava à petulância, como se ele jamais tivesse rido à suas custas.


– É? E à mando de quem?


– Coronel Fury, senhor. - Quase imperceptivelmente, o velho arregalou os olhos, mas ela viu.


– Hm, interessante. Veremos quanto tempo a dama corajosa durará em um treinamento, em pouco tempo estará implorando por um lugar qualquer na cozinha.


Seu riso voltou, o riso rouco graças ao excesso de fumo, os dentes amarelos, simplesmente grotesco. Todos ali eram grotescos, sentia-se um pequeno rato em um ninho de serpentes. Como gostaria de voltar aos escombros, ah, se soubesse que era ali onde realmente começavam seus pesadelos, jamais teria aceitado fazer parte daquele experimento. Pegou-se imaginando se o bravo Capitão América pudesse tirá-la dali e a levasse para qualquer outro lugar seguro, onde ela não tivesse que se submeter-se à nenhum machista infeliz. O sorriso de escárnio nela perdurou, continuou ali como se estivesse congelado, talhado no mais bege e suave mármore existente.


– Veremos, senhor, veremos. - Seu tom era tranquilo, mas uma pitada de desafio e deboche quase insolente salpicava sua voz, de uma forma que ela não queria e nem podia controlar. O velho anuiu, imitando o sorriso dela, como um consentimento ao desafio ocultamente lançado. O desafio foi subjetivo, que apenas ambos compreenderam. Martin estava disposto à ganhar, prometeu a si mesmo que faria a vida daquela soldado um inferno, faria com que ela chorasse e implorasse para limpar e cozinhar, e quem sabe, até para ir embora e nunca mais voltar. Por mais bom que o homem fosse naquela época, jamais deixaria que uma mulher lhe ferisse o orgulho e a honra, isso era inadmissível, até mesmo em anos atuais. E usaria de todas as suas artimanhas para obter sucesso na pequena afronta lançada. Chris voltou ao seu posto na fila horizontal, o 1º Tenente retomou à compostura e deu um pigarro.


– Visto que não falta ninguém, daremos início ao treinamento infernal de vocês. Se acharão difícil uma, pois aviso-lhes de antemão que tende a piorar. Preparem seus músculos, guardem as lágrimas para seus travesseiros. - Nesta última frase, Martin olhou dentro dos olhos de Chris e ela sustentou o olhar com firmeza -, boa sorte, vermes insolentes.


Martin retirou-se, Chris olhou confusa. Era tão corajoso, por que ele não permanecia ali? E por que ele não ditava o treinamento impiedoso ao qual se referira? Era um hipócrita, não passava disso! Ela sentiu o sangue ferver em suas veias, mas antes que exclamasse qualquer indignação, um dos recrutas tomou dianteira. Ele era alto, devia ter mais ou menos 1,90 de altura, era moreno, feições rígidas, e muito musculoso, parecia um gigante como os que as histórias infantis costumam citar. Por alguns segundos, Chris julgou que aquele homem pudesse ser algum parente próximo de Nick, mas logo o pensamento se desfez tão rápido em sua mente como se formou.


– Eu sou Benjamin Stane. Sou o treinador de vocês. - Ele andava de um lado para outro, em curta distância, os braços atrás do corpo e uma voz grossa e firme, ela chegou a tremer levemente, ele não parecia estar ali para brincar, e as palavras do 1º Tenente machista de repente lhe fizeram todo sentido. Mas o que é que ela tinha de temer? Era um supersoldado dotado de uma força sobre-humana, deveria sentir-se tranquila, tudo estava sob controle. Menos o seu estado psicológico. Tinha que aguentar, Nick prometeu que voltaria para buscá-la, ela só torcia para que esse dia não demorasse demais. - Não tendo mais nenhuma apresentação - continuou o treinador-, vamos começar com o aquecimento. Dez voltas pelo campus, correndo, duzentas abdominais e duzentas flexões, depois começaremos a treinar.


Chris arregalou os olhos, certo que ela fazia exercícios diários, mas não tantos! Ela rezava internamente para que aquele soro fizesse efeito agora.



Enquanto cinquenta pessoas corriam esbaforidos em volta de um campus abaixo do sol, mais ao longe ainda no mesmo país estava um Capitão olhando um mapa com o cenho franzido, sua companheira estava ao lado dando algumas sugestões.


– Não, Peggy, se atacarmos pela frente será mais fácil de nos verem!


– Steve, se formos pelos fundos, eles mandarão reforços até lá e não dará tempo! Além disso, eles já devem ter tomado nota que só atacamos pelos fundos.


– Acha que conseguiremos atravessar pela frente? De um jeito ou de outro, ficaremos encurralados. - Ele suspirou cansado, das outras vezes tinha sido mais fácil, pois eram menos homens e a ideia era mais original.


– A não ser que... - Falou ela pensativa.


– Que o que, Peggy? - Perguntou Steve, curioso.


– Se dividirmos os homens e colocarmos cada equipe em um lado, conseguiremos com toda certeza combatê-los. - Steve sorriu.


– Isso! Boa, Peggy. Como não pensei nisso antes?!


Peggy corou levemente.


– Talvez esteja sobrecarregado e issou causou-lhe algum bloqueio...


– É, talvez... Talvez. Mas precisaremos de mais soldados.


– Não dá pra recrutar e treinar mais homens agora, Steve. Vamos ter de nos virar com os que temos.


– Não são suficientes! Exclamou teimoso.


– Então o que pretende fazer? Temos um mês e meio até o próximo ataque. - Steve olhou para qualquer lugar pensativo e disse por fim, como se aquilo fosse a luz para sua escuridão.


– A base militar de segurança.


– O quê? Ficou maluco, Rogers? Aqueles homens recém chegaram lá e já quer mandá-los para um ataque?! - Retrucou ela, indignada com o parceiro.


– Peggy, eles terão um mês e meio de treino, e conhecendo a política deles, garanto que será o suficiente para o que for-lhes exigido nesse novo ataque.


– Steve, está arriscando demais. Eles são o nosso plano "B". Como pode usar o plano "B" se ainda nem usou o "A"?


– Peggy, as circunstâncias exigem. - Insistiu ele, de forma delicada.


– Não, espere. Vamos ver primeiro, conversar com os outros e vamos tentar arranjar outra saída. Eu não apoio essa sua ideia, Steve. Só a usaremos em último caso.


Ele suspirou, sabia que entrar em conflito com Peggy Carter nunca era uma boa ideia, muito menos provocá-la. Da última vez, ela usou uma arma contra ele, e se não fosse um bom escudo, já deveria estar jazido em algum cemitério local. O fato de Peggy sentir-se incomodada com a ideia do Capitão, era que ela ao contrário dele, recordou-se que Christine Wright encontrava-se nesta mesma base. E ela não queria de nenhuma forma que aquela mulher trabalhasse ao lado do seu Capitão.


– Tudo bem, Tenente, vamos ver o que podemos fazer. - Ela assentiu e seguiu o Capitão.


Retornando à base, as dez voltas foram completadas com muito esforço por parte de todos, e gritos enfurecidos do treinador. Chris encontrava-se no chão, ensopada de suor, com o rosto em chamas fazendo abdominais. Contara quinze ainda, Deus, as abdominais eram fichinha perto do calor que a manhã estava apresentando. Ela fechava os olhos e pensava no córrego, na água fria tocando sua pele. A imagem dera-lhe ânimo para continuar, depois da centésima décima, seu abdômen começou a queimar, seus lábios secaram com a sede, se soubesse que parar de treinar lhe traria tanto cansaço, teria dobrado os exercícios. Quando chegou ao fim, ela largou-se no chão. A areia penetrou em seus cabelos e o sal do suor ardia-lhe na pele, o calor e o sangue quente deixaram-na corada e febril, a areia aderia sua pele no mínimo contato, estava exausta e ofegante. Mas sentia que à cada esforço, ia tornando-se mais resistente à ele.


– Levantem! Ainda faltam as flexões! Andem seus preguiçosos! Suas moças.


A última palavra dita pelo treinador foi o engate necessário para que a fúria e o sentimento de vingança tomasse seu corpo, ah, ele se arrependeria de tratar o sexo feminino com tanta insignificância. Provaria a ele e a todos que elas não eram tão frágeis quanto pareciam.


– Duzentas flexões! Se saírem do ritmo ou pararem, todos pagarão mais cem! E se ninguém quiser um corredor polonês*, sugiro que se esforcem. Começando! UM!


Chris levantou-se com relutância, seus músculos fizeram um grande esforço para trocarem-na de posição e erguerem-se na forma do próximo exercício, mas logo foi tomando gosto pela dor e pela força que fazia, sentia-se disposta a encarar tudo aquilo de cabeça erguida. Seu orgulho vinha em primeiro.


Duas, três, cinco, onze, vinte, cinquenta, cem, cento e quarenta, duzentas flexões. Ao fim, ela sequer deu-se a dignidade de levantar como os outros, jogou-se no chão com a testa colada na terra. Cansaço, por Deus, nunca sentira-se tão cansada. Será mesmo que esse soro fazia efeito? Porque visando sua situação, estava mesmo ficando duvidosa.


– Levante, soldado. - Ouviu ela, uma voz acima de si dirigiu-lhe a palavra, ou ao menos, era o que parecia. Lentamente, ela usou os braços para erguer-se e encarar quem quer que fosse que tivesse chamado-a. Era o treinador.


– É aí que tem de estar. Abaixo dos homens. - Com a voz mais fria e arrogante ele pronunciou aquela frase, fora como um tapa na cara, e sinceramente, acreditava que a agressão teria doído menos. Aquilo feriu seu orgulho, a humilhou, sentia-se como um verme. Ah, mas não, ela já tinha se decidido, ela os surpreenderia. Sim, um dia eles veriam, ela prometia a si mesma, foi uma jura incontestável e silenciosa, eles pagariam pelas palavras lançadas que jamais foram esquecidas por Christine Wright.


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Notas finais do capítulo

Corredor polonês* : no exército, cada vez que um soldado faz algo errado e acaba prejudicando os outros, os homens fazem um corredor humano e põe o "culpado" somente de cueca para que caminhe de uma ponta a outra do corredor levando tapas/chineladas dos companheiros. :P
Enfim! Mereço reviews? *------* ótimo fim de semana!