POV’S. Laser Bing – Distrito 7.

Ekaterina está morta.

Fico repetindo estas palavras na minha mente. Mas ainda não consigo acreditar. Como uma criatura tão angelical quanto ela pode ter morrido de uma maneira tão terrível?

Ekaterina está morta.

Se eu tivesse agido diferente, se eu a tivesse carregado para longe, se eu metesse na direção da flecha de Theodore, a doce garotinha de doze anos loira do Distrito 3 ainda estaria viva, seria outro hoje e talvez o universo todo fosse levado à ser outro também.

Ou talvez não. Talvez ela só tivesse vivido mais um dia. Talvez algum outro Carreirista, Kayla Wexell ou mesmo alguém da minha própria Aliança a teria assassinado.

Eu me lembro de um garoto que eu matei. Finn Zonic, do Distrito 10, o mesmo que o da Zoë. Eu peguei o meu machado, e o enterrei na sua cabeça. Foi relativamente fácil. Mas o sangue dele “explodiu”, e me molhou. Eu o odeio. E ele desfaleceu no chão. Ficou jazendo, mas não por muito tempo. Apenas alguns segundos. Ele sabia que seus ataques aos meus aliados tinham sido frustrados. E eu o odeio por tê-los atacado. Mas, acima de tudo, eu o odeio porque ele liberou o mal em mim. Ele me forçou a retaliar. Ele exigiu que eu jogasse no mesmo nível que ele, e eu assim joguei.

A Capital é a culpada de tudo isso. Ela nos força a lutar até a morte. E ela nos força a odiar o mundo, a não querer fazer nada, e a matar uns aos outros. E para ela, cada Jogos Vorazes é sinônimo de festa.

E eu não consigo deixar de odiá-la por causa disso. E sabe, eu nunca odiei ninguém com tanta intensidade. Eu não me sinto bem com isso.

A Capital é a culpada pelos pesadelos de Zoë, pelas lágrimas de Dylan, pelos machucados de Joy, pelo olhar triste e derrotado de Axl, o meu mentor, pela morte de quinze crianças apenas nesta edição, pelo luto dos pais de Ekaterina e Katrina, pelos gritos desesperados de Deborah, a menina que Dylan matou ontem, pelos berros dos familiares de todos os tributos mortos nessa Arena horrenda.

As únicas palavras que continuam a vir à minha cabeça são “Ekaterina está morta”.

Suspirei e voltei a encarar meus companheiros. Eles estão tentando dormir. Óbvio, está difícil. Mas eu estou de vigia, daqui a pouco troco com Dylan.

Está uma noite fria, mas não neva ou chove. Do relevo montanhoso onde estou apenas consigo distinguir as estrelas que brilham incansavelmente. Essas mesmas estrelas estão sendo vistas na minha casa. No meu lar.

O que eu não daria pra rever a minha família agora?

Mas saber que eles conseguem ver as estrelas me acalma. Eu me viro um pouco da caverna para visualizar Zoë, Dylan e Joy. Joy está contorcida.

Estou realmente preocupado com ela. A pancada que levou de Lucy Dolly, do Distrito 1, pode ter sido fatal. Acho que ela provavelmente não morre. Mas será que está com amnésia, ou algo semelhante?

Ela está suando frio, consigo ver. Prometi para Leatheness que a protegeria, mas eu ainda quero viver.

Zoë está se debatendo. Ela fala enquanto dorme, e eu acho isso um pouco estranho. Mas de fato, não sei se eu também não falo enquanto durmo.

Dylan ainda tem os olhos inchados. Ele chorou muitíssimo com a morte de Ekaterina. Cortou-me o coração presenciar aquela cena.

Ele inspirou mais fundo e abriu os olhos. Acenou pra mim, e veio até onde estou.

- Vá dormir um pouco, Laser – disse ele.

Estava com muito sono, então nem resisti muito. Mas apenas quis ficar mais um pouco com ele.

- Onde você acha que ela está? – eu perguntei.

- Quem?

- Você sabe quem. Ekaterina.

- Eu... Eu não sei. Acho que no Paraíso.

- Você acredita em vida após a morte?

- Sim... Mas não aquela vida onde você mora num castelo, monta em cavalos brancos e fica tocando flauta o dia inteiro.

- E que tipo de vida você acredita?

- Não sei te explicar. Mas é mais ou menos... Uma história que o meu pai me contou quando minha tia morreu.

Eu fixei meu olhar em seu rosto, incentivando-o a contar mais.

- É assim – prosseguiu ele – No final das contas, não há tanta diferença assim entre os vivos e os mortos.

Não entendi na hora.

- É... Eu vou dormir um pouco, Dylan. Tchau.

- Tchau.

Aconcheguei-me ao lado de Joy e deixei o sono me levar.

Eu queria ter sonhado, mas só veio um fundo preto.

Horas depois, acordei e fui fazer uma ronda com os meus companheiros.

Não achamos nada. Então voltamos à caverna e comemos um bom café-da-manhã. Ainda tínhamos frutos da caça de ontem.

- Ah, como eu amo comida – disse a Zoë, toda lambuzada com o sangue dos animais. A gente riu.

- Se você chegasse à frente das câmeras agora, achariam que é uma canibal – disse Dylan, fazendo graça.

- Engraçadinho. Como se você não amasse comer uma carne bem suculenta e deliciosa – ela respondeu.

- Para de fazer desejos nele, Zoë – eu disse, rindo.

Entreolhamo-nos por um momento. Depois pegamos nossas armas e saímos para caçar.

Vimos apenas um vulto. Um vulto de uma ninja. Pode nem ter sido uma ninja, mas era uma sombra.

Tentamos seguir o som, mas a sombra era silenciosa demais. Não fazia o menor ruído. Nem uma pegada pôde ter sido ouvida.

- Kayla – Joy disse, constatando de quem a sombra se tratava.

Engraçado. Todos estão aqui na zona gelada. Idealizadores do Jogo devem ter feito isso.

Espere. Os Carreiristas estão aqui também. E Kayla também está. E se Kayla ocasionalmente topar com eles... Boa parte dos nossos oponentes já estarão fora da disputa.

Bingo!

POV’S Kayla Wexell - Distrito 9.

Enquanto estava correndo atrás dos Carreiristas, vi vários outros vultos. Provavelmente eram vultos da Aliança formada por Laser e Joy do 7, Zoë do 10 e Dylan do 12. Os outros dois componentes já morreram. Não dou muita atenção à Aliança, eu irei acabar com eles mais cedo ou mais tarde. Quero tirar os Carreiristas do mapa primeiro. Continuo correndo na maior velocidade possível, mas esses Carreiristas são muito rápidos.

Corri tanto que cheguei até a parte fria da arena, que está nevando nesse momento. É uma sorte que essas jaquetas são feitas especialmente para locais frios. Os Carreiristas devem ter me despistado. Droga. Corri por nada. Estou tão cansada que decido sentar no chão mesmo. Estou perto de um lago congelado. Não tinha percebido esse lago quando cheguei. Quando já estava me levantando, vejo uma coisa ruiva no meio do lago congelado. Não, não é uma coisa, é Rowry, do Distrito 4! Ela percebe minha presença e arregala os olhos. Ela não vai conseguir fugir, porque se tentar... Ela pode cair e o gelo rachar.

Gelo...

Rachar...

É isso! Kayla, como você não pensou nisso antes? Pego minha foice e a cravo no gelo. Rowry tenta correr, mas é inútil. O gelo se racha instantaneamente e Rowry cai na água gelada. Ela começa a se debater, tomara que ela não consiga sair, o que é bem provável, já que é do Distrito 4. Mas ela não consegue. O canhão soa. Um aerodeslizador aparece e recolhe o corpo de Rowry. O corpo está totalmente intacto, mas ela virou literalmente um picolé.

– Mandou bem. – Digo para mim mesma.

Acho uma caverna para passar a noite, que, aliás, veio muito rápido. Provavelmente é algum truque dos idealizadores. Provavelmente não, é um truque dos idealizadores.

O hino da Capital surge juntamente da insígnia. Hoje tempos apenas Rowry, do Distrito 4. Fim.

Lembrei-me de uma coisa: já estamos entre os oito finalistas, ou seja, repórteres da Capital sairão em direção dos distritos dos finalistas e entrevistar família, amigos...

Esse jogo está prestes a acabar.

E eu sairei viva.

Anexo: Os Finalistas.

Distrito 1: Lucy Dolly e Theodore Aardoom.

Distrito 2: Jessup Canning.

Distrito 7: Joy Terry e Laser Bing.

Distrito 9: Kayla Wexell.

Distrito 10: Zoë Savina.

Distrito 12: Dylan Gatehouse.

Anexo: Os Tributos Caídos.

Distrito 2: Bobbie Sue Hooker.

Distrito 3: Ekaterina Dingwall e Arnold Heaton.

Distirto 4: Rowry Greene e Duncan Feldman.

Distrito 5: Kara Raynon e Weellard Hoager.

Distrito 6: Norah Smoody e Tyler Tappin.

Distrito 8: Melissa Sherrit e Petrus Golfman.

Distrito 9: Cody Brown.

Distrito 10: Finn Zonic.

Distrito 11: Deborah Whinston e Peter O’Donnel.

Distrito 12: Isabelle Abraham.

Tributos Mortos.

Rowry Greene (Haley Ramm) - Distrito 4.