Jogos Vorazes - Cato escrita por Anny Fernandes


Capítulo 21
21


Notas iniciais do capítulo

Ta ficando cada vez mais perto do fim! :(



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Acordo com suor escorrendo da minha testa. Pego imediatamente a primeira garrafa de água na mochila e viro na boca.

Tomo um susto quando percebo que esta vazia.  Sento rapidamente e pego as sete garrafas de água que eu trouxe.

Três já estão vazias. Posiciono-as embaixo de uma folha bem grande e deixo a água cair.

A chuva esta tão forte quando antes, ou talvez ate mais.

Sento encostado no tronco da árvore e pego a garrafa de água ainda cheia. Bebo três goles pequenos e coloco novamente na mochila.

- Água! – sussurro na esperança que algum patrocinador ouça minhas preces, mas eu não estou em estado de emergência e por isso sei que não vai rolar!

Coloco a cabeça entre meus joelhos e percebo que estou realmente muito sozinho. O único momento que tenho alguém por perto é nos sonhos... Ou devo dizer pesadelos.

Eu lembro que uma vez minha mãe sussurrou no meu ouvido:

- Nunca confie no que não pode ver!

Eu ate então nunca confiei na tristeza. Por que eu não sabia o que era, e achava que nunca tinha sequer a visto no rosto de alguém. Mas agora eu lembro de todas as faces realmente tristes que encontrei por ai.

Penso em todos que eu já matei desde que os jogos começaram.

Como devem estar suas famílias?

Corto esse pensamento e volto a me concentrar em algo que não me faça sentir pena.

Momentos felizes. Vou voltar ao dia mais feliz da minha vida. Quando Kit nasceu.

Eu tinha 6 anos e nunca esqueci a primeira vez que a vi. Ela era tão pequena.

- Quer segurar ela? – meu pai perguntou quando viu minha expressão de confusão, alivio amor e indiferença.

- Sim – respondi sorrindo.

Sentei no chão e meu pai a colocou, tão pequena em meus braços.

Lembro que olhei em seus olhos e fiquei espantado. Nunca tinha visto uma cor tão bela. Verde claro, quase castanho. Não tinha muito cabelo ainda, mas o pouco que tinha era loiro como o meu e o de minha mãe. Já Jonk e meu pai tinham cabelos pretos como os de Clove. Tão negros que na escuridão desapareciam.

Sinto falta de tudo neles. Do modo como Kit me abraçava, suas mãos tão menores que as minhas ficavam agarradas ao meu pescoço com tamanha força. Jonk com sua lança, ele acertava qualquer alvo por mais difícil que fosse. Minha mãe era uma ótima cozinheira, fazia as mais variadas comidas. E enfim meu pai, com seu jeito durão, mas sempre foi gentil e um bom pai.

Minha família. Quero me agarrar a eles o máximo que puder.

As lembranças boas são as que me fazem ficar bem, vivo sem enlouquecer.

Pego uma tirinha de carne e corto ao meio. Corto pequenos pedaços com o dente e vou colocando na boca aos poucos. Não posso gastar tudo o que tenho.

A chuva esta forte em um minuto e no outro para.

De verdade. A um segundo atrás parecia uma verdadeira tempestade que nunca iria acabar, mas acabou como começou. Do nada.

Não perco tempo. Reorganizo minhas coisas em uma única mochila e começo a caminhar.

Temos quatro finalistas. Eu, Katniss, Peeta e aquela menina do Distrito 5.

Estamos realmente no final. Só mais três mortes e eu posso voltar para casa.

A chuva parou totalmente, mas eu ainda estou todo molhado. Meu cabelo acumulou varias gotas de água e quando mexo nele todo o meu rosto fica molhado.

Meus pés já estão doendo no fim do dia. Decido parar e montar acampamento. Mesmo estando sozinho eu preciso dormir e esse é o problema.

Pego a carne seca e como duas. As frutas servem como uma ótima sobremesa e são bem nutritivas e gostosas.

Quando me enfio no saco de dormir estou sem fome. Pego a garrafa de água e seguro entre minhas mãos frias. Espirro algumas vezes e já sei que estou gripado.

Pego meu kit de primeiro socorros e coloco o comprimido de analgésico na boca. Bebo um pouco de água para ajudar e descer por minha garganta seca.

Encosto novamente a cabeça no chão e puxo o meu saco de dormir.

Clove, tantas coisas não ditas, tantos abraços não recebidos. Saudades é a única coisa que eu sinto dela.

Todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente. Agora eu sei que isso é verdade.

O hino começa a tocar. Olho para o céu e vejo que hoje não tivemos nenhuma morte. O hino acaba e eu preciso dormir.

Fecho os olhos e durmo imediatamente.

Não sonho pela primeira vez e quando abro meus olhos novamente parece que dormir alguns poucos segundos, mas não é verdade. Consigo ver a escuridão da noite indo embora.

Desde Tresh eu não vi mais nenhum outro tributo. Minha comida esta acabando, preciso caçar.

Não perco tempo pego as poucas facas que me restam e minha mochila. Coloco a mochila nas costas e as facas na jaqueta do mesmo jeito que Clove fazia.

Sinto tanta saudade de Clove e do seu jeito de ser, verdadeiro e simples.  Vou sentir saúdes dela eternamente.

Uma lagrima percorre meu rosto e eu limpo com a manga da jaqueta.

Vou mais afundo da floresta e avisto um coelho como aquele que Clove pegou.

Não sou tão bom quanto ela, mas consigo acertar as costas dele, por isso ele fica mais devagar e eu o pego.

Enrolo no plástico de onde tirei os restos do outro coelho e coloco na mochila.

- Maravilhoso! – eu digo quando mais uma seção de espirros começa.

Assim que termino a seção de espirros minha garganta começa a doer. Parece que um gato com garras muito afiadas esta dentro da minha garganta.

Quando olho para o lado vejo um paraquedas descendo do céu.

Sorrio e grito:

- Obrigado!

Abro rapidamente e vejo um frasco. Alguma coisa verde dentro, parece um tipo de gel.

Puxo e abro o frasco virando a tampa algumas vezes.

Engulo tudo deixando passar lentamente por minha garganta. O alivio é instantâneo. Eu começo a rir e sento no chão.

Parece ambrosia na minha boca. Tem um gosto divino e alivia a dor na minha garganta. Por algum motivo sinto também que os espirros vão parar.

Depois de meia hora caçando eu escuto algo que me parece familiar.

Um tiro de canhão. Alguém morreu.

Paro tudo o que estou fazendo e vou montar acampamento novamente.

Só me restaram 4 garrafas de água e por isso estou bebendo bem devagar.

Como o coelho meio cozido e meio cru, por que na terra molhada fica difícil acender uma fogueira.

Não como todo o coelho, só a metade.

À noite eu vejo quem morreu.  Não foi a Katniss nem o Peeta. Foi a menina do distrito 5.

Esta acabando. Vou voltar para casa. Lembro de minha mãe e por algum motivo começo a cantar uma música que ela não gostava. Não é que ela não gostava, mas ela tinha medo. Medo que alguém escutasse e que nos denunciasse, por que fala dos dias escuros. Na verdade foi criada nos dias escuros. Começo a cantar:

“É uma imagem triste, o golpe final te acertou

Alguém conseguiu o que você queria novamente

Você sabe que é tudo igual, em uma outra hora e lugar

Repetindo a história e você está ficando enjoado dela

Mas eu acredito no que quer que você faça

E eu farei qualquer coisa para te ver superar isso

Porque essas coisas vão mudar, nós podemos sentir isso agora

Essas paredes que eles colocaram para nos deter vão cair

É uma revolução o tempo virá para nós finalmente vencermos

Então nós estávamos em desvantagem,

Esperando e fora de campo

É difícil lutar quando a luta não é justa

Você está ficando forte agora.

De coisas que eles nunca encontraram

Eles podem ser maiores, mas nós somos mais fortes e destemidos

Você pode ir embora e dizer que nós não precisamos disso

Mas algo nos seus olhos diz que nós podemos conseguir

Porque essas coisas vão mudar, nós podemos sentir isso agora

Essas paredes que eles colocaram para nos deter vão cair

É uma revolução

O tempo virá para nós finalmente vencermos

Essa noite, nós estamos nos levantando

Para lutar pelo o que nós temos trabalhado por todos esses anos

A batalha longa, é a luta de nossas vidas

Mas nós vamos resistir e nós vamos nos tornar campeões essa noite

E essa é à noite em que as coisa mudaram,

Nós podemos ver isso agora

Essas paredes que eles colocaram para nos deter caíram

É uma revolução

Jogue suas mãos para o alto porque nós nunca desistiremos”

Termino de cantar e simplesmente caio em lagrimas. De um jeito estranho me fez lembrar de Clove. “É uma imagem triste, o golpe final te acertou

Alguém conseguiu o que você queria novamente”.

Conseguiram o que Clove tanto queria, morrer para me salvar.


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