Jogos Vorazes - Cato escrita por Anny Fernandes


Capítulo 14
14


Notas iniciais do capítulo

Achei esse capitulo legal.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/283191/chapter/14

Estamos no meio da tarde. Estou reacendendo a fogueira. Clove esta tentando limpar os esquilos e o coelho.

Depois daquela conversa de mais cedo nós estamos cada vez mais agarrados. Acho que queremos levar lembranças razoáveis desse lugar ou ao menos descansar, por que definitivamente matar cansa. Cansa por que te deixa com dores físicas e sentimentais.

Acho que ainda estou sofrendo os efeitos das vespas. Nunca na escola eu ouvirá falarem de vespas assim tão poderosas, mortais e provocassem alucinações. Penso em Glimmer e em como ela morreu por essas vespas. Talvez elas sejam geneticamente modificadas. Na Capital eles fazem muito isso. Nos distritos nós chamamos as aberrações da Capital de bestantes.

 Penso que ano que vem ocorrerá o terceiro massacre quaternário. Isso acontece a cada vinte cinco anos. Uma forma nova aos jogos. Um novo jeito de nos torturar. Mais uma armadilha, mas diferente. No último eu não estava vivo e na escola eles falam o mínimo possível, pois o distrito 2 perdeu. Porem certo dia escutei minha mãe falar com meu pai:

- Você tem que esquecer! Já fazem quase 25 anos!

- Eu nunca vou esquecer... – ele falou chorando.

Achei estranho pois nunca vi meu pai chorar. Depois disso minha mãe falou sobre o massacre. Não entendi muito bem e depois não tive coragem de perguntar, mas pelo que eu entendi alguém muito próximo ao meu pai foi para a arena nesse ano. Depois de um tempo perguntei para a professora e ela simplesmente disse:

- No segundo massacre quaternário foram o dobro de tributos.

A partir daquele dia comecei a imaginar. Como seria ter que matar 47 jovens para salvar sua própria pele.  Deve ter sido muito difícil. Eu conseguiria. Nesse ano eu sei que foi alguém do distrito 12 que venceu. Isso me enche com um ódio tão grande que não consigo conter.

 Se eu realmente sair desse lugar terei que ser mentor dessas crianças ano que vem, e nos próximo e em todos os jogos vorazes. Mesmo se eu sair da arena a arena não sai de mim.

 Consigo enfim acender a fogueira. Clove chega com um esquilo e as duas pernas do coelho, que era bem gordo.

- Vamos economizar a comida – ela fala – Algo me diz que ainda temos muitos jogos pela frente.

- Concordo. – digo calmamente

Coloco o esquilo enfiado em um galho liso que encontrei perto de onde estou. Pego as pernas e ponho cada uma em pontas diferentes de um outro galho. Faço um tipo de suporte para apoiar os gravetos e os ponho lá. Corto a maça em fatias como na última refeição e de relance vejo Clove afiando suas facas.

- Você perdeu quantas facas enquanto caçávamos? – pergunto me virando para ela.

- Cinco – ela fala triste – Esses animais daqui são muito rápidos.

- Quantas sobraram? – digo preocupado.

- Para que você quer saber? – ela pergunta irritada, mas eu não vejo motivo para irritação e continuo encarando ela ate que continue – Sobraram 9! Ta feliz agora?

- Eu ainda tenho 10 – falo ignorando sua irritação – Temos 19 facas, mas precisamos de mais!

Ela fica em silencio e continua afiando as facas. Fico igualmente silencioso, mas não paro de pensar que precisamos de armas. Armas, escudos ou qualquer coisa que possa nos safar da morte.

Lembro de Roxanne falando que eu sou um gladiador e sei o que eu quero.

Ate agora não recebi nenhum paraquedas, acho que por não precisar, mas sendo um finalista imagino que eles possam me enviar o que desejo.

- Preciso de algo que me proteja – digo em voz alta para as câmeras -  Algo forte e eficaz. Precisamos.

Então olho para Clove que me encara surpresa, mas não digo nada mais. Continuo a cortar as maças e esperar o meu paraquedas. Olho de relance para Clove que agora guarda as facas e pega uma garrafa de água. Temos dez garrafas de água, isso ta ótimo por que são 20 litros de água. Por dia bebemos bem menos. Sobrou da caça um esquilo, que por aqui perto do lago são bem comuns, o resto do coelho, meu pacote de carne enlatada, uma maça, três laranjas de Clove, mais um pacote cheio de tirinhas de carne seca também de Clove. Imagino que consigamos viver juntos, dois dias com essa comida. Acho que consigo matar todos ate lá, mas não sem proteção. Se usarmos as facas para caçar amanhã elas ficaram escassas e não poderemos usá-las no ataque com os outros tributos. Não quero admitir, mas um pavor enorme esta tomando conta de mim.  Várias perguntas que começam com “e se” me atormentam. Como: E se eu não salvar Clove? E se eu vencer sem Clove? E se eu morrer? Como ficaria Kit, minha mãe, Jonk e meu pai?

Fico tendo uma batalha interna ate Clove me chamar:

- Cato, já esta escurecendo. Vamos apagar essa fogueira, comer e dormir bem.

- Tudo bem – eu falo e percebo que o esquilo já esta no ponto e o coelho também – Me ajuda aqui.

Ela assente e pega os esquilos enquanto eu pego o coelho. Jogo um pouco de água no fogo da fogueira que se apaga imediatamente. Coloco as carnes com maça na placa de metal e vou ate a cornucópia. Uma mão segurando minha placa e a outra na cintura de Clove. No meio do caminho Clove solta um grito de raiva. Fico completamente sem entender, por que afinal ela gritaria agora?

- Que foi pequena? – eu digo desesperado

Clove esta agachada com as mãos apertando o pé e com os olhos cheios de lágrimas.  Ela não me responde então eu estou gritando agora:

- O que foi Clove? – eu me abaixo – O que aconteceu amor?

E é isso. O simples fato de eu chamar ela de amor que faz com que ela comece a chorar. Abraço ela sentindo o calor do seu corpo passar para o meu. Acaricio seus cabelos sedosos e sinto seu cheiro. Por mais que não seja bom, eu gosto. Essa é minha Clove. Quente, sem perfume, com suor escorrendo pela testa. Essa é a Clove que eu conheci,  diferente de todas as meninas do distrito 2. As outras se preocupam muito com a aparência e pouco com o que mais importa. Já Clove não se importa muito com a aparência. Nos dias em que ficamos na Capital ela estava diferente, sempre tão cheirosa e com os cabelos alinhados. Roupas chiques e maquiagem. Ela ficou perfeita de maquiagem, mas eu prefiro minha Clove a Clove perfeita.

- Cato! – ela fala entre os soluços incessantes – Me ajuda. Eu não consigo mais...

A seguro com mais força e levanto seu queixo. Dou um beijo em sua boca e digo:

- Você consegue! Já conseguiu fazer eu me apaixonar não é mesmo?

Ela da um leve sorriso e me beija de novo. A faço levantar e seguro sua placa na mesma mão em que seguro a minha.

- Vamos enxuga esse rosto – falo assim que entramos na cornucópia.

Apoio as placas no chão e puxo a manga da camisa tampando minha mão. Depois passo delicadamente nos olhos e bochecha de Clove.

- Espera aqui – eu falo.

Pego uma garrafa vazia e vou ate o lago. Encho de água, e não coloco iodo já que é para lavar o rosto de Clove.

Quando me abaixo para pegar a água sinto que estou sendo vigiado. Olho de um lado para o outro mais não vejo nada.Me abaixo novamente e dessa vez escuto um galho sendo partido. Como se alguém pisasse nele. Me levanto novamente. Agora com a mão na espada que esta presa ao meu cinto. A alguns metros daqui tenho a impressão de ver um raio ruivo brilhar. Olho mais uma vez ao redor e não vejo nada alem de árvores.  Guardo a espada e volto para a cornucópia.

Clove ainda esta na mesma posição. Agachada com a cabeça deitada nos joelhos. Levanto sua cabeça e jogo lentamente a água.

- Melhor assim? – pergunto

- Sim – ela fala – Aqui faz muito calor.

E realmente. Nesses últimos dias deve ter feito uns 40° graus. Jogo a água que resta no meu rosto e no cabelo. Sento ao lado de Clove e pego as placas. A carne ainda esta quente. Pego duas garrafas de água purificada para mim e para Clove. Começo a comer usando gravetos como garfo. O esquilo esta delicioso e suculento e o coelho invade minha boca com um sabor incomparável. As maças estão dando um ar doce a tudo.

Quando terminamos de comer toda a refeição o som de trompetes me faz dar um pulo e pegar a espada. Clove esta com duas facas na mão, mas o que vem em seguida é normal. Escuto a voz de Claudius Templesmitch.

- Estamos convidando vocês para o tradicional ágape.

Não precisamos muito de comida e esses ágapes sempre são com refeições ou remedios, mas podemos querer. Por precaução. Eu vou, sem duvidas. Mesmo que não tenha nada interessante posso matar alguém. Seria fácil. Já estou decidido a ir quando ele continua com a voz alarmada.

- Esperem um pouco. Alguns de vocês já devem estar declinado ao meu convite. Mas esse não será um ágape qualquer. Cada um de vocês precisa desesperadamente de alguma coisa.

Penso imediatamente na proteção. Imagino facas, escudos e tudo mais que eu preciso.

- Cada um de vocês encontrará essa alguma coisa na cornucópia, ao amanhecer, dentro de uma mochila marcada com o número de seu distrito. Pensem bem antes de se recusarem a comparecer. Para alguns de vocês, essa será a última chance. – ele fala terminando a explicação.

Antes que eu possa falar algo Clove já esta dizendo sem respirar:

- Eu vou acabar com a garota em chamas.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Será que Cato vai deixar Clove ir nessa arriscada missão? E se ela for o que vai acontecer?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Jogos Vorazes - Cato" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.