Jogos Vorazes - Cato escrita por Anny Fernandes


Capítulo 12
12




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Não ela não esta sozinha, mas é quase isso. Uma garota de 12 anos? Sinceramente eu esperava um pouco mais de Katniss. Afinal ela não deve ser tudo isso. Só gostaria mesmo de saber como ela conseguiu aquele 11. Lembro que em minhas alucinações a vi pegando o arco e flecha do corpo deformado de Glimmer, mas parecia ser apenas uma alucinação. Agora imagino que esse possa ser seu dom. Mas será que ela é realmente tão boa assim para ganhar um 11? Não sei, mostrei o meu melhor e mesmo assim minha nota não foi à melhor. Treinei a vida toda e provavelmente ela ficou presa dentro de casa enquanto a fome a matava. Mas não deve ter sido bem assim.

Marvel desfez a aliança, mas eu não o matei por que cumpro minhas promessas. Prometi que não o mataria naquela hora pela ótima noticia, mas se nos encontrássemos novamente nada iria salva-lo.

Chegamos à cornucópia quando o sol esta nascendo. Eu e Clove não falamos sobre nada, só ficamos em silencio e andamos. Tudo é diferente sem aliados.  Só eu e Clove. Como sempre foi em casa. Estamos deprimidos com toda essa história de termos de morrer, mas não podemos deixar que a glória do distrito 2 se apague. Pensando nisso começamos a treinar. Só paramos para beber água. Meu alvo é uma árvore meio estranha. Estamos em forma, por que quando peço para parar já estamos no meio da tarde.

- E aí, gostou do treino? – pergunto a Clove

- Foi bom – ela diz e ergue a mão – Será que podemos comer isso?

Olho para sua mão e vejo um animal pequeno e peludo. Esta com uma faca ainda agarrada ao pescoço e sangue saindo de várias partes de seu pequeno corpo. Não conheço, mas olhando daqui parece ser apetitoso. Em casa eu sempre comi muito bem, carne fresca todos os dias, leite, queijo e tudo mais que se tem direito. Na Capital eu comida melhor ainda. Então aqui estou sentindo falta de carne fresca. Sinto falta de tudo em casa na verdade. Da minha mãe me acordando pela manha para tomar café da manhã. Os olhos de Kit brilhando quando eu trazia algum giz de cera e papel. Jonk e eu lutando na sala enquanto meu pai nos avaliava. São essas pequenas coisas que fazem falta na minha vida, imagino que também fará mal a eles.

Quando dizem que vir para os jogos é uma honra, esquecem de dizer como é torturante. Como isso destrói nossas vidas, literalmente. Esquecem que quando se esta aqui dentro o simples fato de pensar nos pequenos detalhes de sua família faz você sentir uma dor tão aguda que te faz querer morrer.

Volto a atenção para o bicho na mão de Clove e no fundo da minha mente eu lembro. Uma aula de ciências antigas, a professora nos mostrou esse animal. É um esquilo. Não muito comum no meu distrito, mas comum em outros locais. Mas ainda tenho aquela duvida de comê-lo, pode estar envenenado ou algo do tipo. Penso melhor e deduzo que se morrer dessa forma, será bem melhor do que queimado, ou alguma outra coisa.

- Vamos acender a fogueira – digo entusiasmado – Carne fresca para noite!

E quando acabo de falar isso escuto um tiro de canhão. Clove me encara e nós ficamos em silencio. Um tempo depois outro tiro de canhão me surpreende.

- Quem será que foram as vitimas dessa vez? – Clove pergunta boquiaberta

- A noite saberemos... – digo e logo mudo o assunto – Vamos acender a fogueira agora?

Ela assente e nós entramos na floreta. Pegamos alguns galhos e colocamos empilhados próximo ao lago. Clove pega um fósforo e diz:

- Tem 3 caixas desses na minha mochila!

Eu sorrio por que isso é bom. Afinal não temos que ficar esfregando pedras ate uma faísca resolver nos saldar. É só riscar ele na lateral da caixa e começa a pegar fogo.

Quando o hino começa a tocar nossa fogueira já esta queimando. Olhamos atentamente para o céu e esperamos para saber quem foram as vitimas de hoje.

- Será que foi o Marvel? – Clove pergunta

- Não sei – respondo – Mas seria bom, afinal eu não teria que matá-lo.

Só falo isso por que o hino encobre nossas vozes e ninguém alem de Clove esta ouvindo.

- Seria mesmo. – ela fala entendendo o que eu quis dizer.

Me concentro no céu e quando o hino acaba a foto de Marvel é a primeira a aparecer. Tiro um peso dos meus ombros, não sei o por que. Acho que quando se faz aliados você acaba se acostumado com eles. Quando chega a hora você mata, sim. Mas nunca sai da sua cabeça. Aquela pessoa que por um tempo foi tudo seu, e confiou em você. Você simplesmente apunha-la ela pelas costas. Mas quando você esta aqui não demonstra. Para não parecer fraco. Olho novamente para o céu somente para ver a foto de uma menina de pele morena e cabelos cacheados. Ao lado dessa foto se encontra escrito: Distrito 11.  

- A aliada da garota em chamas morreu. – sussurro incrédulo porem feliz.

Eu e Clove começamos a rir. Nem nos lembramos de Marvel. Pego ela pela cintura e a rodo pelo ar. Rimos e festejamos. Essa noite nossa refeição é realmente boa. Acaba que o esquilo é gostoso. Cortamos em pequenos pedaços e usamos placas de metal que limpamos no lago como pratos. Clove corta as maças e coloca sobre a carne cozida e deliciosa. A carne enlatada é gostosa então a juntamos também. Clove tem laranjas portanto espremo elas em uma das garrafas vazias de água e faço um suco. Comparado ao que estávamos comendo, por não ter tempo, isso é um banquete verdadeiro. Como tudo, assim como Clove. Depois disso precisamos de uma noite de sono.

- Quem vai ficar no primeiro turno? – Clove pergunta já bocejando.

- Eu fico. – digo tentando manter os olhos abertos – Pode dormir.

Ela sorri, me beija e então fala:

- Me acorda daqui a algumas horas! Você precisa dormir.

Concordo e puxo um saco de dormir para ela. Por que apesar de estarmos dormindo dentro da cornucópia a noite é muito fria.

- Quer entrar aqui comigo? – ela pergunta com um sorriso malicioso.

- Quero! – digo me espremendo contra o corpo de Clove – Boa noite!

Clove é pequena, caso contrario eu jamais caberia ali. Percebo que ela já esta dormindo quando sua respiração passa de algo calmo para uma turbulência de pesadelos. Fico olhando ela e percebo que enquanto dorme sua expressão é bem mais calma relaxada e confiante. Acaricio levemente seus cabelos e a abraço. Fico ali, nossos corpos grudados ate eu não poder mais manter meus olhos abertos.

- Clove! – digo baixinho e a balanço suavemente – Clove!

Ela acorda num susto. Sua face chama por ajuda. Seus olhos estão arregalados. Mas assim que me vê volta a sua expressão de sempre.

- Cato – ela fala com a voz rouca – Quer dormir?

- Sim – eu digo – Desculpa por te acordar, mas é que não consigo mais.

- Sem problemas – ela fala rindo – Pode dormir. Eu fico de vigia.

Não hesito em enfiar completamente o corpo no saco de dormir e apagar.

Meu sonho é pior do que todos na minha vida. Estou em pé diante de um hospital no Distrito 2. Meu coração esta acelerado e eu seguro a mão de Clove. Ela é a mesma de sempre, porem mais velha. Olho meu reflexo nos vidros do hospital e percebo que também sou. Devemos ter em torno de 25 anos. Clove segura uma menininha nos braços. Parece ter 2 anos e me chama de papai. Sei que a cada vez que ela diz essa palavra meus olhos se enchem de lagrimas. Kit sai do hospital chorando acompanhada de Jonk. Ele caminham ate nós e falam:

- Não conseguiram salva-lo!

Começo a chorar e nem sei o por que. Clove segura minha mão e entrega a menina para Kit. Abraço Clove e digo:

- Vai ficar tudo bem!

Começo a entender o que acontece. Nosso filho mais velho de 3 anos morreu. Não sei de qual tipo de morte, mas morreu. Choramos ate não agüentar mais.

Do nada estamos mais no futuro. Minha filha esta sendo escolhida para a colheita. Sobe no palco chorando, pois sabe por minha historias como é ruim. Essa dor, a de ver alguém que ama ir embora é a pior de todas.

Acordo com o barulho dos pássaros cantando. Já amanheceu. Fico irritado por Clove não ter me acordado. É então que vejo que ela ainda dorme. Acordo ela cuidadosamente e ela da um pulo.

- Cato! Desculpa... – ela fala com a voz tremula – Eu estava tão cansada. Não consegui ficar acordada.

- Tudo bem! – digo e depois sorrio – Ainda estamos vivos não é mesmo?

Ela ri um pouco e depois levanta. Pega uma garrafa de água e bebe.

Passamos o dia organizando as mochilas e afiando as facas. Imagino o que os outros tributos estariam fazendo. Agora conto nos dedos quem sobrou. Eu, Clove, Peeta, Katniss, uma menina do Distrito 5 e um do 11. Sobraram 6 pessoas. Terei que matar mais 5, incluindo a mim. Clove não pode nem ouvir isso.

Ao anoitecer sei que nada de interessante vai passar no céu, já que não ocorreu nenhuma morte hoje. Eu não podia estar mais errado.

Assim que o hino acaba escuto a voz de Claudius Templesmitch. Ele esta fazendo um comunicado muito importante.

- Isso é lendário – ele fala – Nunca em nenhum dos jogos os idealizadores dos jogos mudaram as regras dessa forma.

Eu e Clove ficamos num silencio tão absurdo que eu tenho que parar ate de respirar.

- Agora dois tributos podem sobreviver! – ele continua com a voz animada – Desde que sejam do mesmo distrito.

Clove esta rindo, mas eu demoro um tempo para entender. Meu cérebro parou de funcionar, devido a felicidade. Agora eu e Clove, ambos, podemos sobreviver. 


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