24 de Dezembro de 1949 – Casa dos Pevensie.

Pov. Susana.

Nevava sobre Londres naquela noite, a casa estava decorada com luzes coloridas, do rádio vinham as músicas típicas do natal. Na sala, a árvore de natal que Caspian e eu montamos naquela tarde resplandecia rodeada de presentes. Tirei a torta do forno e dei os últimos toques na mesa decorada para a ceia, quando Caspian desceu, já pronto.

—Missão cumprida. Eles estão limpos e perfumados. - disse.

—Foi rápido dessa vez. - notei. Ele deu de ombros.

—Estou pegando o jeito. - sorriu orgulhoso.

—Você não os vestiu com as roupas trocadas de novo?

—Mas é claro que não! - afirmou, fazendo-se de ofendido. Eu ri antes de lhe dar um breve beijo. - Já disse que você está linda?

—Ah, algumas dezenas de vezes na última hora.

—Só isso? Então devo deixar mais evidente. - concluiu, envolvendo-me com seus braços pela cintura e puxando-me para um abraço. - Você está linda, minha Rainha.

Um sorriso inevitável surgiu em meu rosto, um que foi logo coberto pelos lábios de Caspian que também estavam moldados num sorriso. Como de costume, distraí-me com seu beijo e os que consequentemente vieram em seguida. Até que ouvimos batidas na porta da frente que logo foi aberta e um Edmundo radiante entrou, chamando por nós.

Depois de ficar eufórico com a notícia de que seria pai, há dois meses, Edmundo entrou em choque e beirou o desespero por ter um bebê seu a caminho, nenhuma experiência com crianças ou um emprego fixo. Ele deu muito trabalho à Caspian, enchendo-o de perguntas e se oferecendo para ajudar com Rilian e Lauren. - o que recusamos, por questão de segurança. Mas o susto passou e o Edmundo alegre estava de volta.

—Ignore-o. - disse Caspian. - Vamos fingir que não estamos em casa para ver se ele vai embora.

Acertei-o no ombro antes de rir, foi no mesmo momento que Ed nos achou na cozinha.

—Ah! Estão aí! - disse ele. - Su, eu trouxe torta de pêssego.

—Obrigada, Ed, muita gentileza sua. - agradeci, pegando a torta de suas mãos e deixando-a sobre a mesa. - Onde está Natália?

—Vou voltar para buscá-la agora mesmo.

Pisquei.

—Buscá-la? Mas são só duas casas de distância...

—Veja se pelo menos a deixa pisar no chão dessa vez. - Caspian ironizou. Edmundo havia redobrado exageradamente o cuidado com Natália nos últimos tempos. Meu irmão apontou o indicador para Caspian.

—Não me provoque, telmarino! - disse, antes de sair.

—Me pergunto se ele a deixará em paz em algum momento. - falou Caspian, rindo, quando ficamos só.

—Cas! - chamei-lhe a atenção. - Ele só está preocupado. E com razão, Natália ia caindo das escadas outro dia.

—Certo, certo. - ele ergueu as mãos em sinal de rendição.

Julia desceu no momento que a campainha tocou e passou direto para a porta, o movimento fazendo seu vestido denunciar o leve arredondamento dos quatro meses em seu ventre. Lúcia e Nícolas entraram, estando este último com bandejas nos dois braços enquanto Lúcia trazia uma, pequena. Vieram acompanhados de Eustáquio e Jill, que estavam hospedados em sua casa. Caspian socorreu o cunhado e eu peguei a bandeja de Lúcia.

—Lú! Quanto tempo! - brincou Julia, que a tinha visto essa manhã. Lúcia riu.

—Que bom que vieram. - falei, abraçando Jill e Eustáquio em seguida.

—Agradecemos o convite.

—E seus pais, Nícolas? - perguntou Julia, fechando a porta.

—Foram para o interior esse ano. - contou.

—Pedro já chegou? - ouvi Lúcia perguntar enquanto eu voltava da cozinha.

—Ainda não. - respondi. - Mas pela hora, está quase.

—Uma pena que papai e mamãe não puderam vir. - lamentou ela.

—Sim. - respondi. - Acho que preferem fazer uma viagem só, para conhecer todos os netos de uma vez. - brinquei. Ela gargalhou.

—Tem razão! Seria uma bela economia. - Lúcia ajeitou uma mecha dos cabelos atrás da orelha. - Então, onde estão meus sobrinhos lindos?

—Lá em cima – respondi. - Esperando a hora de descer.

—Você precisa de ajuda come eles?

—Não, obrigada, Caspian já os preparou. - respondi.

—Ah – Lúcia pareceu receosa. - Ele os vestiu certo dessa vez?

—Eu ouvi isso! - a voz de Caspian soou do outro cômodo.

—E os vestiu muito bem, querido! - respondi para ele, voltando-me para Lúcia e confessando: - ainda não os vi.

Ela assentiu lentamente.

—Eu vou dar uma olhada neles.

—Obrigada! - expirei, aliviada. Lúcia logo desapareceu. Retornei para a sala. No mesmo momento, a porta da frente se abriu e Glozelle, Prunaprismia e o pequeno Arthur cumprimentaram Edmundo ao entrar.

—Olha só! Que bom que vieram! - respondeu meu irmão ao recebê-los. Caspian e eu fomos até eles, recepcioná-los e socorrer com as bandejas que trouxeram. Lúcia voltou descendo as escadas, trazendo Rilian no colo.

—Su, alguém está querendo você. - disse ela. Passei minha bandeja à Nícolas, que estava mais perto e logo encaminhou-se para a cozinha.

—Venha, querido. - peguei Rilian no colo, dando uma rápida olhada em suas roupas. Caspian sempre reclamava de quão complicadas eram as roupas de bebês por aqui, sempre que colocava alguma fora do lugar em um dos dois. - E Lauren?

—Dormiu. - respondeu.

—Obrigada, Lu.

—Oh, não acredito que este é Rilian! - Prunaprismia se aproximou, acariciando os poucos cabelos dele. Os olhinhos azuis de Rilian piscaram e ele olhou de mim para ela antes de abrir um sorriso todo encantador. - Com ele está crescido! - eu apenas sorri como ele, toda orgulhosa.

O falatório se estendeu por mais ou menos meia hora até que Pedro retornou da estação trazendo Professor Kirke e a senhora Polly, que aceitaram nosso convite com um expressivo contentamento. A casa estava cheia e diversas conversas circulavam ao mesmo tempo, começando pelos cumprimentos eufóricos aos recém-chegados.

—Oh, Lúcia, você está radiante! - disse senhora Polly à uma realmente radiante Lúcia, que acariciou a barriga arredondada.

—E o que dizer de minha sobrinha preferida?! - Professor abraçou Julia, a narniana que ele adotou como sobrinha, com o maior prazer, quando ela deixou Nárnia por Pedro.

—Espere – falou Edmundo. - Onde está Pedro?

—Ah, ele está lá fora. - respondeu senhora Polly, um pouco confusa. - Disse que a decoração da casa da frente está lindíssima...

Julia suspirou.

—Ele veio falando da casa o caminho todo. - notou Professor. - Há algo de especial?

—Sim. - respondeu Julia. - A casa está à venda já faz algum tempo e Pedro quer comprá-la tanto que estou começando a ficar preocupada. Se me derem licença, vou tirá-lo de lá antes que morra congelado. - assim, ela se retirou para buscar o marido.

Afastei-me deles para buscar Lauren. Quando subi as escadas de vagar, percebi Caspian me acompanhar.

—Su – chamou baixinho, abrindo a porta do quarto para mim. - Já podemos tirar a fotografia?

—O que? - virei-me para ele antes de entregar-lhe Rilian.

—Já estão todos aqui – explicou ele. - Não seria melhor tirar a fotografia antes do jantar?

Não pude evitar um riso diante da expressão adorável de Caspian. Estava sendo um dos primeiros anos dele em Londres e ele só foi apresentado ao “fantástico advento da fotografia” no casamento de Pedro, Ed e Lúcia. No dia foi difícil explicar para ele o que fazer ou como funcionava e ele reclamou bastante por estar se sentindo um idiota ficando parado e sorrindo, mas após ver o resultado, ficou absurdamente maravilhado. Quando, algum tempo atrás, ele e os outros rapazes começaram a receber um retorno no novo negócio, uma das primeiras coias que Caspian fez foi conseguir uma câmera.

—Está bem. - respondi. Ele sorriu.

Deu a volta para ir ao corredor, com Rilian nos braços, mas esbarrou na poltrona. Com o barulho, Lauren acordou.

—Bem na hora. - disse ele, antes de sumir no corredor. Eu ri, pegando Lauren no colo.

Voltamos para a sala, onde as conversas simultâneas continuavam. Caspian apareceu com Rilian em um braço e a câmera no outro em poucos segundos. Demorou um para nos organizarmos diante da lente. Garanti logo meu lugar no sofá com Lauren, deixando um lugar para Caspian ao meu lado, assim que estava tudo pronto ele veio sentar ali, aconchegando Rilian em seu colo. No espaço que sobrou naquele sofá, Lúcia sentou, com uma mão sobre a barriga e a outra segurava a de Nícolas, que ficou de pé atrás dela, segurando-lhe a mão.

Professor Kirke e senhora Polly sentaram no outro sofá, ocupando seus lugares, de mãos dadas. Natália sentou-se no braço do sofá, ao lado do Professor, posição que enfatizou a barriga, e Edmundo ficou de pé ao seu lado, abraçando-a pelo ombro. Eustáquio e Jill sentaram no chão, bem a minha frente, e Arthur sentou com eles. Prunaprismia e Glozelle ficaram de pé também, atrás de Caspian e de mim. Julia sentou na poltrona que sobrou, com Pedro sentado no braço do móvel, de modo que Julia pode recostar-se nele.

Por fim, todos acomodados, a foto foi tirada.

Aquela noite foi o primeiro natal de Caspian e Julia. Ele, radiante tendo seu primeiro natal junto com o primeiro de seus filhos e Julia, radiante ao lado de Pedro e ambos na espera de seu bebê. Foi uma foto muito bonita. Guardei-a em nosso álbum de família e se dependesse de mim, ela ficaria ali por muitos e muitos anos. E ela ficou. Jamais me cansei de olhar para ela nos anos e décadas que se seguiram.

Fim...