Back To London escrita por Jajabarnes


Capítulo 11
Sim.


Notas iniciais do capítulo

Hey! Saudades? Capítulo novinho. Narração da Susana.
Divirtam-se!!



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23 de Junho de 1949 – Interior da Inglaterra.

O dia estava radiante, o clima ameno, o céu azul com algumas nuvens branquíssimas e o melhor de tudo: nenhum sinal de chuva. Chegamos ao chalé do Professor alguns dias antes para acertar os últimos detalhes da cerimônia e desde então a casa estava cheia e D. Marta quase se descabelando, nas duas últimas dividiu seu quarto com as mulheres enquanto os homens acomodavam-se no quarto que Pedro usava. Por sorte os convidados só chegaram pela manhã bem cedo. Nos preparamos logo após o café e enquanto mamãe e D. Marta ajudavam as noivas, os rapazes fizeram fila para que eu desse o laço em suas gravatas.

Com tudo pronto, nos dirigimos para o altar montado no imenso jardim, abaixo da mais frondosa de verdejante árvore, esculpido em madeira escura adornado por trepadeiras floridas. Um tapete vermelho estendia-se sobre a relva passando por entre as mesas redondas de ferro, branco e adornado. Haviam poucas mesas, seis, para ser mais exata, o suficiente apenas para os mais próximos.

A ideia de um casamento triplo foi das noivas. Os noivos concordaram com tudo e os pais concordaram imediatamente visto a redução dos gastos. No dia que fomos fazer a última prova dos vestidos, recebemos um telegrama do Professor Kirke dizendo que ele adoraria que o casamento fosse realizado em sua propriedade. E cá estamos nós.

Quando o juiz de paz chegou, já estávamos prontos, com exceção dos noivos. Caspian aguardava-me na sala, ofereceu-me o braço e seguimos para os jardins. Meu marido não cansou de repetir quando o vestido azul combinava com meus olhos ainda mais destacados pela claridade do dia, e como ele só não me punha numa moldura porque não poderia me tocar. Caspian é incorrigível.

Lá fora, os convidados já estavam sentados à suas mesas. Como eu disse antes, rema poucas, mamãe, papai, Caspian e eu sentamos em uma bem à frente formando uma meia-lua ao redor desta para que tivéssemos ampla visão do altar. Os pais de Nícolas e Natália sentaram também à frente, porém do outro lado do tapete vermelho. Ao lado deles sentaram Glozelle, Prunaprismia e Arthur, entre essas duas mesas, só que mais atrás, estavam Sr. e Sra. Wonderwood acompanhados de Sophie – que ficara no chalé com as noivas – e Josh – que parecia tranquilo e sociável, bem diferente de quando Lúcia foi pedida em casamento por Nícolas. Ao lado de nossa mesa estavam Professor Kirke, Polly e uma emocionada D. Marta que já chorava antes mesmo da cerimônia começar; mais atrás de nós estavam tio Arnaldo e tia Alberto acompanhados por um apaixonado Eustáquio e sua namorada Jill. Pelo jeito que se olhavam, eu diria que logo teríamos outro casamento.

Todos conversavam animadamente, Polly tentava acalmar D. Marta, papai e mamãe comentavam a ocasião, e Caspian e eu permanecíamos quietos, apenas de mãos dadas, mas ao olhá-lo tive certeza, por seu sorriso, que também lembrava de nosso casamento em Nárnia. Então Pedro, Edmundo e Nícolas chegaram elegantíssimos em seus ternos – que diferenciavam-se, além do tamanho, por cada um ser em um tom escuro de chumbo – sob medida, caminhando pelo tapete vermelho, um atrás do outro, até posicionarem-se ao lado esquerdo do juiz. Dirigiram sorrisos e acenos a nós quando passaram, permanecendo inquietos, um ao lado do outro enquanto esperavam as noivas.

–É impressão minha, ou eles parecem prestes a desmaiar? - Caspian cochichou, me fazendo rir. Antes que eu falasse, Nícolas, o mais próximo de nós, chegou ainda mais perto, inclinando-se sobre a mesa.

–Su – chamou. - Você não acha melhor ir ver se está tudo bem? Elas estão demorando.

–Você não soube, Nick? Elas desistiram. Não haverá mais casamento, estamos só esperando o jantar ser servido. - Caspian sussurrou de volta.

Nick empalideceu. Ri e pude ouvir o abafado riso de papai disfarçado em tosse.

–Caspian está apenas brincando, Nick. - repreendi Caspian com o olhar. - Vocês acabaram de chegar, fique tranquilo, já, já elas vêm. - garanti. Ele assentiu ainda agitado e voltou para seu lugar ao lado de Edmundo.

–Quer matá-lo do coração? - dei uma cotovelada em Caspian, mas sem conseguir esconder o riso.

–Desculpe. - disse ele. - Não pude evitar. - tentava não gargalhar.

–Se fosse Pedro tenho certeza que ele buscaria Rhindon para te caçar, Caspian. Não, primeiro ele planejaria cada tortura excruciante e só então te caçaria.

Caspian concordou, mas acrescentou.

–Para falar a verdade, eu queria que tivesse sido Pedro.

–Não esqueça que você tem um filho para criar.

Ele riu.

–Claro que não. Seria apenas um troco.

–Troco... - repeti a palavra tentando compreender o que ele queria dizer.

–Sim – explicou Caspian. - Uma vez, quando você estava morando só no apartamento, Lúcia estava no andar de cima e Edmundo havia saído. Pedro chegou correndo, esbaforido e desalinhado dizendo que toda a nossa investigação não adiantara nada por que Johnny tinha raptado você. Eu estava à beira do pânico quando ele começou a rir. - contou. Eu ri. Caspian rolou os olhos. - Não teve a menor graça... - ele começaria um sermão, mas foi interrompido por Sophie que chegou, assumindo seu lugar junto aos pais e irmão.

–Elas já estão prontas!

Vi o pai de Natália levantar-se assim como Professor Kirke e papai.

–Helen – disse papai, antes de voltar ao chalé. - Devo lhe dizer que estou muito feliz por termos duas filhas. Assim posso ter o gosto de poder levar ao menos uma ao altar.

–Querido... - mamãe começou, mas papai já se retirara. - Desculpe, Caspian. - pediu tornando-se para nós.

–Tudo bem. - Caspian deu de ombros. - Já me acostumei.

Mamãe deu um silêncio sem graça e o silêncio se instalou outra vez. Sim, o clima entre papai e Caspian não mudou e frequentemente papai fazia questão de alfinetar, mas Caspian nunca se aborrecia, dizia que entendia a implicância de papai.

–Se eu tivesse uma filha – disse-me Caspian certa vez. - E se tivesse por longos anos trabalhado para dar tudo do bom e do melhor para ela, e de repente ela aparecesse casada e grávida de um cara que eu nunca vi antes, sendo que ele sequer pediu minha permissão para casar com ela e muito menos permitiu-me ter estado no casamento da minha própria filha... Bom, acho que eu não seria tão receptivo quanto seu pai está sendo comigo.

Aguardamos mais um pouco e então, ao erguer o olhar para os noivos, captei o exato momento em que suas expressões mudaram da preocupação e impaciência para o completo deslumbre e encantamento. Olhei para trás e vi que as noivas se aproximando. Cutuquei Caspian, chamei mamãe e nos pusemos de pé, sendo seguidos pelos outros.

A que vinha na frente, nos passos compassados, acompanhada por Professor Kirke, era Julia, sorridente, lindíssima em seu vestido. Olhei para meu irmão, não poderia perder aquela cena: Pedro não desviava o olhar de sua noiva, seus cabelos reluziam à claridade que dava um brilho ainda maior ao seu sorriso branco; seu rosto estava iluminado, e não era só pela luz do sol, era por pura felicidade.

Natália era a próxima. De braços dados com o pai, estava encantadora em seu vestido, suas bochechas ganharam tons de vermelho sob o olhar admirado de Edmundo, que abriu um sorriso preguiçoso e torto bem abaixo de seu olhar brilhante. Àquela altura, Julia já estava entregue à Pedro, o pai de Natália a entregou para Edmundo e trocou um aperto de mãos com Nícolas.

Quando Lúcia se aproximou, Dona Marta chorou ainda mais. Segurei a mão de mamãe, que tinha os olhos marejados, senti Caspian tocar-me a cintura e tive que morder o lábio inferior para não ceder às lágrimas que fizeram arder meus olhos. Lúcia estava maravilhosa, parecia um anjo. Nick a olhava embasbacado, assim como Josh do outro lado.

Papai a entregou à Nícolas, lançou um olhar orgulhoso para Pedro e Edmundo e voltou comovido até o lado de mamãe. Os casais posicionaram-se em frente ao juiz de paz. Reassumimos nossos assentos e deu-se início à cerimônia.

Dona Marta chorou o tempo todo tornando inúteis as tentativas da senhora Polly de consolá-la. Após um sermão de duração mediana sobre a importância da família enquanto base da sociedade e do indivíduo, veio a tão esperada última parte.

–As alianças. - pediu o juiz. Sophie ergueu-se e foi até lá acompanhada pelo pequeno Arthur, uma completa fofura, que levava as alianças. Sophie segurava os buquês enquanto o garoto entregava as alianças, então seguiu-se quase em côro.

–Sim. - começou Pedro.

–Sim.

–Sim.

–Sim.

–Sim.

–Sim.

–Assim sendo, pelo poder investido a mim, eu vos declaro marido e mulher. Dizia o juiz de duas em duas respostas. E então, para os três casais, disse por fim: - Pode beijar a noiva.

Eles obedeceram e todos os convidados se puseram de pé, aplaudindo efusivamente. O fotógrafo contratado por Professor Kirke se aproximou e os noivos sorriram para foto. Depois seguiram-se os cumprimentos.

[…]

–Então, querido, como vai a gestação? - perguntou-me Prunaprismia, estávamos ela, mamãe, Sra. Wonderwood e eu conversando de pé próximo ao altar.

–Vai muito bem. - respondi sorrindo. - Quase não sinto mais enjoo. - contei um pouco. - Devo estar pelo final do sexto mês.

Elas me encararam intrigadas.

–Sexto mês? - perguntou mamãe com as sobrancelhas unidas.

–Sim, sexto. - olhei-a sem entender. Mamãe franziu os lábios, me avaliando.

–Curioso. - notou Sra. Wonderwood.

–Curioso porque? - quis saber.

–Bem, você parece estar com mais de seis meses. - explicou Prunaprismia.

Desta vez eu olhei-a intrigada, não havia notado nada de diferente, tudo parecia absolutamente normal.

–Tenho certeza. - garanti.

–De certo será um bebezão. - mamãe encerrou o assunto descontraindo, mas soube que ela voltaria ao assunto depois.

A refeição já havia sido servida e depois daquela conversa, afastei-me para juntos dos noivos.

–Iremos para a Irlanda, à Belfast, está tarde. - contava Nícolas.

–Todos juntos? - perguntou Eustáquio.

–Não, não quero Pedro vigiando Lúcia na nossa lua de mel. - falou Nícolas. Nós rimos, Lúcia corou e Pedro o acertou um tapa na cabeça.

–E vocês? - Eustáquio dirigiu-se aos outros.

–Passaremos alguns dias na Escócia. - respondeu Edmundo, pegando a mão de Natália.

–Julia e eu iremos à França. - disse Pedro. - Partimos hoje também.

–Acho que devíamos ter uma lua de mel também, Su. - comentou Caspian.

–Vocês pularam essa parte. - disse Eustáquio causando risos que foram interrompidos quando alguém se levantou e chamou pela atenção de todos. Era o pai de Nícolas e Natália, que logo conseguiu silêncio.

–Hoje foi um dia que jamais esquecerei. - disse ele. - Nunca imaginei que casaria meus dois filhos juntos e me compadeço de Helena e Raphael, que estão casando três. - houve um breve riso. - Nícolas, Natália, sua mãe e eu estamos muito felizes e orgulhosos. E para parabenizá-los por esse momento tão importante, trouxemos uma surpresa. - ele estendeu a mão à esposa que entregou-lhe duas pequenas caixas. - Por favor. - ele sinalizou para que os dois casais se aproximassem e assim fizeram sob o olhar de todos, ficando frente à frente com o pai e a mãe e recebendo cada um uma caixinha. Ao abrirem, encontraram uma chave. Lúcia cobriu a boca com a mão.

–Esperamos que escolham uma decoração bem especial para a casa nova de vocês. - disse a mãe.

Natália tinha lágrimas nos olhos e Nícolas laçou os pais num abraço enquanto o som de palmas soou.

A comemoração seguiu por mais algumas horas e então os noivos partiram para a lua de mel com os cumprimentos de todos e meus abraços apertados. Quanto ao resto de nós, Eustáquio, Jill, tio Arnaldo e tia Alberta retornaram para Cambridge e Caspian, meus pais e eu retornamos à Finchley para encarar os longos dias até que os recém-casados retornassem.


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Notas finais do capítulo

Então, repararam na referência à Lewis? ^^ Enfim, espero que tenham gostado, logo terá mais.
Reviews!!

Beijokas!!