Chovia muito, o horizonte era tudo o que podia enxergar.

Uma neblina densa encobria a pequena estrada de terra pela qual passava. Cobria-se apenas com um lenço fino, fora o simples vestido que lhe cobria o corpo. O vento castigava-lhe a pele alva, fazendo com que apertasse ainda mais o simples lenço envolta de si mesma.

Não havia ninguém ali, naquela noite. Estava sozinha para o que quer que acontecesse em sua vida. Não se orgulhava do que deixara para trás, um passado tortuoso, mas que ainda sim, tivera seus momentos de alegria. Jamais foi capaz de imaginar um dia ter que abandonar tudo.

Ouviu um som alto e logo em seguida, luzes vindo em sua direção, numa velocidade absurda. Sabia que aquela poderia ser sua salvação, sua válvula de "escape" afinal estava sozinha naquilo que chamavam de mundo. Nunca lhe estenderam a mão, não depois da perda de seus progenitores. Foram-se muito cedo, mas deixaram um ultimo pedido à sua pequena. Seja feliz. Foi o que sua mãe lhe disse. E incontáveis foram as vezes as quais tentou.

Mas as pessoas pareciam estar sempre fechadas em seus mundinhos medíocres, não havia tempo para que olhassem ao redor para perceberem que pouco a pouco, o mundo desabava.

Sempre se considerou uma garota de sorte, nunca precisou se defender de nada, tinha seus pais para realizar a tarefa. Agora mais do que nunca sentia frio, não fisicamente, apesar da chuva, mas sim internamente, sentia que um buraco estava sendo aberto. Dor. Era apenas isso que sentia nos ultimos dois anos.

Tropeçou em uma pedra, e sentiu suas pernas fraquejaram, levando então seu frágil corpo ao chão enlameado por conta da terra em contato com a água.

 Pode ver por fim uma grande mancha negra se aproximando, um carro, pelo que percebeu dentre as grossas gotas da chuva que insistiam em cair sobre seus olhos, tornando mais dificil a visão da garota.

Sentiu uma forte tontura, levou a mão para a testa, tentando aliviar a dor.

Ouviu o barulho dos pneus parando proximos de si, antes de olhar para cima. Observou um borrão vermelho sair de dentro do veiculo e correr até si. "Alguém me ajudará". Foi o ultimo pensamento da garota, antes de desmaiar por completo.