Cípsela escrita por Taticastrom


Capítulo 6
Sfogarsi


Notas iniciais do capítulo

Oie galera, são duas da manhã, quase três e fiquei tão inspirada que tive que escrever e postar logo...
Descobri que hoje é o aniversário da minha primeira leitora oficial (Nana, Nic, Malu e Parreira, não me matem, mas vocês são meio obrigados a ler pela amizade)
Então, Monique, para você, um capitulo de Make a Wish... Espero que seja um bom presente.



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Sfogarsi: em italiano, aliviar ou dar vazão a seus sentimentos. Abrir o coração. Desafogar-se. Desabafar.

Acordei bem cedo no dia seguinte, queria evitar tomar café com a madrasta da cinderela. No dia anterior tinha combinado com Matt, o garoto quase me matou por ter que madrugar para me buscar em casa, então combinei que iria a pé até lá e depois iríamos juntos ao colégio. Ter que andar muito a pé é um dos problemas de ser uma louca, ou com problemas psicológicos, pois seu pai não confia em você atrás de um volante, nem eu confiaria em mim.
Tentei fazer o menor barulho possível, mas acho que cobras venenosas têm boa audição. Eu tinha sido até uma boa filha, como não queria causar pânico e remorso no coração do meu velho, eu tinha arrumado a mesa do café da manhã para os dois. A cobra, digo, Alexandra, apareceu na cozinha quando terminava de colocar as coisas na mesa, com um bilhetinho dizendo que pegaria carona com o Matthew hoje.
– Querendo fugir mais uma vez? – Aquela voz nojenta quase me vez vomitar todo café da manhã que tinha comido. – Seu pai vai ficar devastado se acordar e a filha dele não estiver em casa.
– Tem um bilhetinho avisando que estou na casa do meu primo, sã e salva. Caso ele ou você não saibam, tem uma tecnologia maravilhosa que também ajuda muito nessas horas. As pessoas chamam de celular, conhece? – Falei, mostrando o meu para ela. Quando olhei as horas no visor percebi que já estava atrasada. – Agora, se me der licença, tenho que acabar de me arrumar, minha carona me espera.
Ela me lançou um olhar daqueles que parece que a pessoa está jogando praga em você, ou talvez só estivesse me analisando profundamente. De qualquer forma, eu não queria aqueles olhos em mim... Então passei do lado dela e subi para meu quarto. Escovei meus dentes, peguei minha mochila e estava de saída, mas ao descer as escadas deparo com meu pai tomando café com a megera.
– Alex me acordou quando viu que você ia sair de fininho de novo. – Gabe falou, me olhando. Seus olhos azuis estavam tristes, eu realmente não queria vê-lo assim.
Respirei fundo e mentalmente joguei algumas pragas em Alexandra. Em especial, queria que ela não pudesse falar mais na minha presença.
– Eu combinei com Matt, ele não queria que ficasse muito tempo trancafiada com víboras. Pelo menos alguém que se preocupa com minha saúde mental. – Falei, jogando a mochila no ombro e abrindo a porta. – Não se preocupe, assim que acabar a aula a Nicolle vai me deixar aqui. Não vou sumir.
– Volte aqui, Karly. – Ele falou com um tom autoritário. Alexandra estava com uma cara de quem estava prestes a chorar por ser chamada de víbora. A única coisa que conseguia pensar é nela se transformando em uma víbora de verdade, ou uma víbora aparecendo do nada e matando-a. Dei um sorrisinho e voltei a olhar meu pai. – Peça desculpas para Alexandra e me dê um beijo antes de sair.
– Desculpa, Leskova. Falar a verdade nem sempre é o certo. – Revirei os olhos e dei um beijo na testa do meu pai. – Tchauzinho.
– Karly!!! – O que mais ele queria? Eu já tinha saído de casa quando ele gritou e eu tive que destrancar a porta de novo e tudo mais. – Não quer que te deixe na casa do Matthew? Eu fico pronto em dois minutos.
Meu pai tem um poder descomunal de convencimento, acho eu que é por causa daquele par de olhos cor do céu que o faz parecer tão angelical e dá uma vontade esmagadora de abraçá-lo e beijá-lo como se fosse uma criança necessitada de carinho. Acontece que meu pai usava sempre seu charme para me chantagear, e apesar de conviver com ela há 17 anos eu sempre caía.
– Posso esperar, é melhor do que andar sozinha de madrugada. – Falei, sentando no sofá e olhando para o teto e colocando meu fone de ouvido enquanto meu pai trocava algumas palavras com a cobra e subia para se arrumar.
Peguei um livro qualquer na bolsa e fiquei folheando, não prestando muita atenção no que acontecia, apenas passando as páginas esperando que a vadia entendesse que não queria conversa. E graças a Deus ela entendeu e durante os bons minutos que meu pai demorou ela não fez nada além de olhar com cara feia para mim.
– Pronto. – Ele já estava de terno e gravata. – Alexandra, se precisar de alguma coisa, me liga, certo? Se precisar que te leve a algum lugar vou estar meio tranquilo no serviço hoje, depois que levar a Karly posso até voltar e ser seu motorista.
Ele poderia simplesmente beijar os pés dela e chamá-la de majestade, que não ficaria tão óbvio o quão bobo ele ainda era por aquela cruel mulher. Acontece que estraçalhar o pobre coração de meu pai parece que só o fez amar mais a megera. Ela aceitou apenas mexendo a cabeça, e enfim estava livre do ambiente pesado e cheio de más vibrações que era quando Leskova se encontrava.
Ainda estava um pouco escuro quando pai me deixou no Matt e voltou para casa. Ele nunca ficava tranquilo no serviço, ele nunca largava para cuidar de mim. Quer dizer, só em casos de estrema urgência, ou seja, crises psicológicas. E para aquela mulher nada foi preciso, era de dar vontade de vomitar.
Toquei a campainha, e como no domingo apareceu na minha frente um Matthew com cara de sono e de poucos amigos. Ele abriu a porta e me mandou entrar, pois obviamente ele não estava pronto. Fiquei mais uns vinte minutos vendo televisão enquanto meu primo terminava de arrumar. Como sempre não havia nada de útil passando, então fiquei pensando nos últimos acontecimentos.
Eu não acreditava de início que a pantera era apenas um sonho, mas não tinha outra explicação plausível. Se continuasse a pensar, eu chegaria à conclusão que todas as lendas de minha cidade eram reais. Que as cípselas realmente realizam desejos e que minha mãe já teria que estar de volta há muito tempo, e que os fundadores eram animais/humanos que vagavam pela terra e um dia encontraram um lugar mágico onde poderiam viver em paz. Era pedir demais, até para uma pessoa psicótica como eu.
Matt me levou para escola, e como sempre deu aquele sorriso maroto quando me viu passando com a Nicolle. Tinha que me lembrar de perguntar a ruiva o que estava acontecendo entre eles, mas ela estava empolgada demais de contando sobre os planos do baile. Por não ser um ser muito sociável eu até tinha me esquecido que daqui a alguns meses teríamos um baile, e pior, que a Nic estava organizando. O que significava que não teria companhia durante o recreio.
– Estava pensando em algum tema mais exótico, sabe? – Ela falava ao meu lado, toda contente. – Queria algo mais local. Estou pensando em colocar o tema lendas urbanas, já que Cípsela é cheia de histórias para contar. - A garota continuou a falar enquanto andávamos para sala.
Na hora do recreio eu estava vagando sozinha pelos corredores do colégio, o que não era uma boa ideia. “Solidão é oficina de ideias”, alguém uma vez disse, e ideias não era o que precisava ter; por sortem enquanto andavam encontrei Annabelle sentada no chão, perto da sala e escrevendo alguma coisa com muito empenho que nem me notou.
Ela usava uma pulseira cheia de símbolos que atraem boa sorte ou repelem o azar e olho gordo, como trevo de quatro folhas, pé de coelho, pimenta, olho grego, figa e outros símbolos.
– Bacana a sua pulseira – Comentei me sentando ao lado dela. A menina assustou ao ouvir minha voz e perceber que não estava sozinha, ao ponto de puxar o lápis e apontar como se fosse uma arma.
– Mil desculpas. – Ela falou, largando o lápis e sorrindo. – Eu sou meio paranoica e você me deu um baita susto. A pulseira fui eu mesma que fiz, acredito que você deve atrair toda positividade possível, então símbolos já chamam a sorte para você.
– Você realmente acredita nessas coisas? – Fiquei curiosa. – Não vejo nenhum dente de leão aí.
– Os dentes de leão não atraem boa sorte. – Ela falou, ainda sorrindo. – Claro, você pode desejar por sorte, mas eles são apenas condutores de desejos. Vejo que você acredita nisso, já que está usando um no seu pescoço.
Peguei o colar que meu pai me deu e fiquei brincando com ele nos meus dedos.
– Eu já tive muita fé nessa flor, mas faz doze anos que faço o mesmo desejo e ainda não realizou. – Comentei, dando um sorriso triste.
– Têm pedidos que não devem ser realizados. Ou talvez você só esteja pedindo errado. – Ela falou sorrindo. E descobri quem ela me lembrava, uma versão morena da Luna Lovegood, personagem da saga Harry Potter. Ela tinha a mesma aparência engraçada e a crença da personagem, mas no lugar dos longos cabelos loiros, Annabelle usava-os curtos e negros. – Por sinal, sou Annabelle, mas pode me chamar de Nana.
Era claro que já sabíamos um o nome da outra. Ela era sobrinha do Morelli e estava morando com ele no momento, pois seus pais estavam em conflito, ela tinha chegado à cidade há uns seis anos e estudava no colégio desde então. Nunca andava com ninguém ou conversa com ninguém além do tio e demais professores. Ninguém a viu fora de casa ou fazendo algum trabalho em grupo, ela era um antissocial. E ela me conhecia, pois todos na cidade sabiam do incidente entre mim e o Spyer.
– Karly, mas pode me chamar de Kaká.
Às vezes você conhece pessoas que estiveram quase sempre ao seu redor e repara o tempo que você perdeu em não tê-la ao seu lado. Com ela foi exatamente assim. Como Nicolle passava todo seu tempo de sobra fazendo os planos para o baile eu e a garota se aproximávamos. Afinal, antissociais se unem.
Durante a semana eu sempre saía mais cedo, deixava o café pronto e ia para casa do Matt. Meu pai já tinha cansado de tentar me levar e ficava o dia inteiro com Alexandra, então quando voltava para casa meu estômago parecia embrulhar repentinamente e eu não consegui comer ou beber nada na presença da víbora. Nem sequer conseguia convencer meu pai a enxotá-la, pois sabia que todas as vezes que eles saíam acabavam fazendo qualquer coisa que não fosse olhar uma casa para maldita.
Teve um dia que fiquei mais tarde estudando com a Nana no colégio, ela era o tipo de pessoa que atrai confiança. Como se a áurea dela provasse que o quer que você fale com ela só ficaria ali, entre vocês. E nem era preciso ter uma amizade de anos para sentir essa confiança que ela emanava.
– Estou curiosa, o que significa a sua tatuagem no pulso? – Falei, mostrando uma borboleta no pulso esquerdo.
– Já ouviu alguma vez falar do Projeto Borboleta? – Neguei com a cabeça e ela continuou. – Não sei onde foi criado, nem por quem, eu estava na internet, vi e comecei a segui-lo. Ele serve para vários casos, pessoas que tem distúrbios alimentares a pessoas que se automutilam. Eu sou o primeiro caso, como você deve saber, meus pais se separaram de uma forma totalmente não amigável, nessa época eu comecei a me alimentar mal, isso quando comia. E se comia eu não aguentava o peso daquilo em mim e acabava vomitando, por fim, acabei me transformando em uma bulímica. – Ela falava calma, como se estivesse explicando a matéria. – No projeto, toda vez que você quer fazer algo que você não quer, que sabe que não é saudável, você faz uma borboleta, e se faz essa coisa, você mata a borboleta. – Ela levantou o braço mostrando a borboleta. – Essa aqui foi a primeira que fiz, ela morreu várias vezes, mas toda vez eu refazia, do mesmo jeito que está agora. – Ela ficava olhando a tatuagem, como se relembrando a história. – Toda borboleta tem que ter um nome, a minha chama ‘vida’. E por isso eu a fiz, para continuar viva.
– Nossa não sei o que falar.
Ela sorriu e subiu a blusa, mostrando mais uma tatuagem dela, um submarino amarelo.
– Depois da Vida eu comecei a gostar da coisa e fiz o submarino amarelo. Como pode ver sou fã dos Beatles, muito fã. – Ela virou e levantou o cabelo revelando outra tatuagem na nuca. – Essa é a mais recente, eu gosto de símbolos de proteção. Essa estrela de seis pontas dentro de um círculo é um símbolo Wicca, ele une os elementos e atrai a proteção do corpo. – Depois ela me mostrou uma palavra escrita no lóbulo de sua orelha direita. Sforgarsi, era o que estava escrito em uma letra muito redonda e bonita. – Eu acredito que temos que desabafar, dar vazão aos nossos sentimentos, pois limpa a alma, atrai positividade e leva embora toda negatividade. É o significado dessa palavra em italiano, uma língua que muito me admira, dar vazão aos sentimentos.
– Todas suas tatuagens são maravilhosas. – Falei sem ter muito que falar.
– Agora que eu saciei sua curiosidade, você faria o mesmo por mim. – Ela falou sorrindo. – Acredito que contar essas coisas para pessoas que você consegue sentir a confiança é um trabalho para desapegar das memórias ruins e lembrar-se das boas. Fale qualquer coisa interessante.
Pensei em qual história valia a pena contar e não havia nenhuma mais interessante passando na minha cabeça.
– Você falou dos seus pais, contarei a história dos meus. Não é bem uma lembrança minha, mas é algo que preciso desapegar – Eu falei sorrindo, e ela pediu para que eu continuasse. – Meus pais eram muito jovens, tinham acabado de sair do terceiro ano. Minha mãe era totalmente apaixonada por ele, mas todas as garotas do colégio eram. Meu pai é o tipo de cara errado que todas garotas desejam. Olhos azuis, tão maravilhosos que você pode viajar neles, voar pelos céus mais lindos ou se banhar em um mar límpido. Ele tinha o corpo de atleta e o intelecto de um nerd, mas nada disso seria completo se você tirar o sorriso dele. Um sorriso maroto, de canto de boca.
Já a minha mãe, bem, ela era um ninguém. Totalmente excluída em um colégio de elite. Não sei como ela era, só que tinha olhos cor de mel como o meu e que não era popular. Mas de alguma forma meu pai convidou ela para o baile, ele sempre disse que foi piedade, mas ela falava que ele havia a percebido pela primeira vez, pois fazia poucos dias que ela tinha dado uma repaginada no visual e se tornado mais mulher.
De qualquer forma, eles foram para o baile e se divertiram além da conta. Meu pai era o tipo de cara que com certeza terminaria a festa num motel, mas minha mãe não. Mas a bebida tomou conta dela e eles me conceberam.
Quando minha mãe estava grávida sua mãe morreu – minha avó tinha um câncer terminal -, já órfã de pais e sem família para procurar abrigo ela foi até a casa de meu pai. Ele falou que a criança não era dele, que não se lembrava daquela noite, e xingou a minha mãe de coisas horríveis. Mas a minha avó paterna interveio, disse que não deixaria uma neta morar na rua, até o exame de DNA que meu pai exigira saísse minha mãe ficaria no quarto de hóspedes da casa dela.
Por fim o resultado chegou, eu realmente era filha dele. Minha avó não é uma dessas pessoas caretas que mandou os dois se casarem e tudo mais, mas ela disse que não iria sustentar sozinha a casa e que eu e minha mãe moraríamos ali. Meu pai teve que se desdobrar entre estudos e trabalho para poder manter eu e minha mãe.
“Eu nasci e cinco anos se passaram, uma mulher chegou à cidade. Alexandra Leskova, uma desconhecida, vinda de lugar nenhuma, uma louca, psicopata. Uma bela manhã ela esbarrou comigo e minha mãe em uma sorveteria e ao avista-la minha mãe assustou e apertou minha mão forte e me disse para não olhar nos olhos daquela mulher, pois ela ia me transformar em pedra.
Seguimos reto e a mulher chamava minha mãe, como se velhas amigas. Dias depois ela aparece na minha casa, em um jeito muito errado. Meus pais nunca foram realmente um casal, tinham um respeito pelo outro, mas apenas o suficiente para manter minha sanidade. Mas a segunda vez que vi aquela mulher ela estava seminua, jogada no sofá, com meu pai da mesma forma, trocando beijos calorosos.” As imagens de Leskova trajando apenas as peças íntimas - assim como meu pai - vieram à memória e eu comecei a sentir ânsia.
– Era tarde da noite e eu tinha tido um pesadelo, minha mãe tinha viajado, como de costume, para visitar um médico na capital. Desde que minha avó materna morreu, ela sempre teve mais cuidado com a saúde. Eu buscava meu pai para acalmar meus sonhos, e aquela cena, você não conseguiria entender. Eu não falei nada, voltei para cama, sem conseguir dormir. Peguei o telefone no quarto de meu pai enquanto ouvia ruídos estranhos e desconhecidos vindos do primeiro andar. Disquei o número do celular de minha mãe e esperei até que ela atendesse.
– O que foi, Karly? – Eu não havia dito uma só palavra e ela sabia que era eu, eu chorava compulsoriamente e só disse uma palavra antes de desligar, pois ouvia as vozes se aproximando. Volta para casa.
Eu não tinha tempo de voltar para meu quarto, então escondi no guardarroupa, eu quisera nunca ter escondido lá, pois assisti toda aquela cena bizarra. Meu pai com aquela mulher, os gemidos, os gritos... Eu fiquei quietinha, chorando silenciosamente.
Eles ficaram muito tempo fazendo aquilo, muito tempo. Até adormecerem. Enfim, eu pude rastejar do meu esconderijo e ir para meu quarto, onde a imagem dos dois me rodeava. Poucas horas depois minha mãe chegou.
Ela viu os dois nus na cama, ainda adormecidos, mas nada disse, nada fez. Quando meu pai acordou e viu minha mãe em casa foi um susto, ela apresentou as duas. Mas Leskova disse que já se conheciam de longa data e deu um beijo em cada bochecha de minha mãe e cochichou algo em seu ouvido, nunca soube o que ela disse, mas assustou minha mãe.
Dias depois continuavam na casa, eu, Alexandra e minha mãe, já que meu pai passava o dia no trabalho e a noite chegava e voltava aos braços da mulher, que não era de fato sua mulher. Minha mãe nunca dirigia uma palavra à outra, e eu repetia a ação, achamos que ela iria embora, mas um, dois meses passaram, e ela se alojara no quarto de meu pai.
Uma manhã minha mãe me falou que ia fazer uma viagem importante, mas que enquanto ela viajava eu tinha que conseguir tirar aquela mulher de casa ou pelo menos evitá-la. Ela prometeu que voltaria.
Eu sabia que a história estava no fim, mas foi naquele momento que as lágrimas começaram a descer desgovernadas pelo meu rosto.
– Ela nunca voltou, mas a megera, a vadia e a destruidora de lares... Ela voltou. Deixa explicar melhor. Leskova aproveitou a ida de minha mãe e foi também, uns dias depois. Meu pai estava tão feliz de ter se livrado de minha mãe e poder, enfim, viver com sua amada, mas ela não queria o mesmo que meu pai. Disse que era um lance passageiro e o deixou. Há alguns dias esse tormento voltou a minha casa. – Completei a história com um sorriso falso e sequei as lágrimas. Eu sabia que não havia para Annabelle falar e ela fez a única coisa que podia ser feita, me abraçou. E eu chorei, como não chorava há anos, pela ida de minha mãe.
Quando as lágrimas secaram e já estávamos de saída. Nana se despediu assim:
– Eu disse que desabafar faz bem. Quando quiser fazer isso de novo, pode me chamar. – Ela falou sorrindo.
– Você tem tempo? – Perguntei, ela olhou o relógio, ainda era bem cedo. Eu tinha mais uma história para contar e aquela sim, ninguém sabia. Nem Nicolle, nem Matt. Só os presentes tinham alguma ideia dos fatos. Aquele sentimento era o que me deixava psicótica, em crise. – Então sente, pois vou te contar a minha história com Spyer, a versão que ninguém ouviu.


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Notas finais do capítulo

Em breve, mas não tanto quanto foi o espaçamento entre os dois últimos capítulos.