O Livro De Merlin escrita por Yuri Nascimento


Capítulo 7
Um a um


Notas iniciais do capítulo

Madeline e Luan encontram-se outra vez, porém dessa vez ela quem é salva por ele. Eles também conversam pela primeira vez, e Madeline consegue sair do Bosque Rupes sã e salva para continuar sua jornada.



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Desnecessário dizer que Luan não conseguiu mais dormir. Naquela noite, após abrir os olhos em sua cama, estava febril e molhado de suor. Apoiou-se nos braços para olhar o quarto com espanto, e pode ver que a irmã ainda dormia em sua cama, e o criado mudo estava em perfeito estado, com todos os livros, o porta-retratos dele e Marina e o copo de água pela metade.

Levou a mão à cabeça, depois apalpou a lateral e a nuca, como que para verificar que ainda estava inteiro. O que foi isso? Olhou no celular, e ainda eram 05:19. Sentiu certo alívio, e deitou na cama até o sol vir dar bom dia. Permaneceu deitado contemplando o teto azul e a cortina, esvoaçando calmamente como antes do sonho. Era mesmo um sonho? Estava extremamente confuso, ainda sentia o toque de Madeline em sua boca, lembrava-se do cheiro dela, lembrava-se do bosque e da criatura medonha que tentou mata-lo.

Lívia levantou antes de o despertador tocar para preparar o café da família, como sempre fazia, enquanto seu pai ia buscar o jornal na porta e abrir o capô do carro pra verificar a água do radiador, nível do óleo, essas coisas que os pais fazem. O celular finalmente começou a tocar Scar Tissue, e Luan ficou deitado por mais um pouco até Darth vir correndo para dentro do seu quarto, pulando na sua cama e deitando como um rei. Acariciou o queixo do gatinho, levantando e indo lavar o rosto. A mãe passou por ele no corredor com um abraço de bom dia no seu bebê, e depois entrou no quarto para acordar Marina. Ele fechou a porta do banheiro atrás de si e encarou o próprio rosto no espelho. A cabeça doía um pouco, mas não deixaria de ir pra escola por isso. Melhor dizendo, não deixaria de ver Cássia. Lavou o rosto para tirar aquela maresia e se preparou para encarar o dia.

O dia não transcorreu assim tão bem. O pai levou os dois à escola depois do café, mas lá pelas dez Luan sentiu-se mal, e ligou pra casa avisando que não iria pra aula de reforço depois da escola. Não estava muito bem, e por isso estaria de volta para o almoço. Lívia se ofereceu para busca-lo, mas ele disse que era só uma dorzinha de cabeça, e conseguiria chegar em casa sozinho. Mesmo assim, lá estava ela para pegá-lo depois da última aula.

– Eu falei que não precisava, mãe. Não é nada demais.

– Seja lá o que for eu não ia deixar você voltar sozinho pra casa. Ainda tenho um tempo até a hora do experiente – Pois ela só trabalhava à tarde no fórum da cidade – Tá sentindo o que?

– Dor de cabeça. Dormi mal essa noite, acho que foi por isso – disse o filho.

– Tenho comprimido no porta-luvas. Pega um e engole.

E assim ela deixou Luan em casa antes de ir trabalhar, mas não sem antes dar mil e uma recomendações (e proibições do tipo “nada de Playstation hoje” ou “vá dormir umas duas horinhas essa tarde”) para o filho. Cássia foi pra aula, mas eles mal se falaram, e isso contribuiu para o dia não estar assim tão bom. Às vezes acontecia disso, ela passava o dia com as amigas aos cochichos e sorrisinhos, e Luan nem sempre conseguia sentar numa cadeira perto dela. Nem mesmo na hora do lanche. Aquele maldito moreno alto do primeiro ano passou o intervalo todo com ela, e Luan teve que se contentar com o grupo dos caras do futebol. Não gostava de tanto de futebol, mas os nerds eram poucos na turma, e Ezequiel tinha faltado hoje, por isso não houve com quem conversar. Ele queria que ao menos Cássia tivesse percebido que ele não estava bem, mas ela não percebeu. Respondeu ao “tchau” dele naturalmente na hora da saída, sem a menor preocupação.

Chegando em casa, Luan jogou a bolsa em um lado do sofá e se jogou no outro, tirando o sapato com os pés e ligando a tv. Estava passando o jornal local, alguma coisa sobre um roubo numa agência bancária no centro da cidade, e em outro canais notícias sobre um tremor no sul do país e a bolsa de valores. Mudou tediosamente de canal até achar algo interessante, e acabou deixando num filme de ficção científica qualquer no canal quinze. Levantou e foi desbravar a geladeira. A mãe deixara o almoço pronto pra esquentar no microondas, mas ele só pegou um copo de Pepsi. Darth entrou pela janela quando ela foi aberta, e parou na porta do quarto de Luan, sugerindo que queria almoçar (era tudo o que Darth sugeria, sempre). Luan alimentou o gato, abriu a janela do quarto, depois sentou no sofá pra acabar o filme. Almoçou, tomou um banho e voltou pra tv, estava passando um documentário sobre a segunda guerra mundial.

Acabou cochilando no sofá. O vento soprava suave, a casa era bastante arejada por ser no primeiro andar. O sofá estava extremamente confortável naquela tarde, ou era só o cansaço que dava essa impressão. Um adereço feito de pedras translúcidas penduradas por um cordão que a família trouxe de uma praia no ano passado tilintava ao soprar do vento, fazendo um som inebriante perto da janela da sala. Um pouco mais tarde, lá pelas três e meia, Ezequiel ligou.

– Alô.

– Luan?

– Fala – a voz de Luan era toda sono, bocejou e esfregou os olhos com as costas das mãos. Olhou pra televisão, e tava passando outro documentário, agora sobre pesca no Mar de Bering.

– Ei, soube que você não foi pra aula de reforço hoje. Quer vir aqui em casa jogar videogame?

– Tá... Eu chego aí em uma hora, acabei de acordar. Preciso avisar pra minha mãe. Por que você faltou hoje? – Luan preferiria ter ficado dormindo, mas eles estavam enamorados com Skyrim, Ezequiel ganhara de presente semana passada.

– Acho que comi algo que me fez mal ontem, if you get my drift...

– Hahaha. Que nojento. Se ficar peidando durante o jogo eu volto pra casa, só dizendo.

– Vai se danar. Trás as duas HQs. Tchau. – e desligou. Luan correu pro quarto, pegou duas HQs de Guerra Civil que Ezequiel queria ler e colocou na bolsa. Trocou de roupa num movimento só, passou a alça da bolsa pelo ombro direito e fechou as janelas. Darth já estava pela rua outra vez, atrás de gatas pelo telhado dos vizinhos. Ainda bem que eles não se importavam com isso, Ezequiel constantemente tinha problemas por causa de Luke – Filho legítimo de Darth. Luan trancou a porta da frente, depois a grade por fora da porta e desceu a escada de ferro vermelho de dois em dois degraus, um lance, outro lance, na rua. Virou à direita, em direção ao pequeno bosque da rua. A casa de Ezequiel era um pouco mais pra baixo na rua do bosque, depois do parque e tudo mais. Virou à direita, do mesmo jeito que tinha feito no sonho duas noites atrás. Olhou entre as árvores, mas dessa vez não houve nenhum ruído suspeito. Acho que minha imaginação finalmente se acalmou, pensou.

A rua descia colina abaixo, e Luan continuava olhando para dentro do parque. Normalmente, iria até o fim do imenso quarteirão onde o bosque estava, quase dez minutos de caminhada, e depois viraria à direita outra vez, para então virar à esquerda e chegar na rua onde a casa de Ezequiel ficava. Entretanto, dessa vez, decidiu fazer o percurso por dentro do parque, e sair um pouco depois da rua de Ezequiel, para então voltar e pegar à direita para sua casa.

O parque era um lugar adorável. Tinha uma pista de ciclismo, outra para as pessoas que gostavam de correr, tinha muito verde, plantas exóticas e muita sombra. Do lado direito do caminho estava o bosque, onde quase ninguém ia, e nele havia algumas trilhas e até um observatório astronômico. Do lado esquerdo, alguns quiosques, quadras e um lago. Se fosse admitir, Luan estava misteriosamente atraído pelo lado direito. Chegou a uma bifurcação no parque. O caminho de pixe se dividia em dois, um à direita que parecia subir a colina, e lá haviam poucas rodinhas de jovens tocando violão ou namorando; e um à esquerda, que levava a uma parte mais baixa, onde crianças brincavam, pessoas passeavam, conversavam, comiam, compravam ou simplesmente sentavam para pescar alguma coisa no lago. Luan se enveredou pelo caminho da direita, pois sabia que, mais afrente, poderia pegar o caminho da esquerda de novo para descer a colina e sair do parque, ou simplesmente voltar por onde veio.

Continuou andando pelo caminho da direita, e ele foi ficando mais e mais esquisito e sem pessoas.

– O que esse lugar tem de especial? – Luan perguntou para si mesmo. Parou num círculo rodeado de árvores com algumas folhas já secas. O chão era de tijolos cinza, verdes e vermelhos, desenhando um mosaico. Não lembrava de algum dia já ter visto essa parte do parque, e olhe que ele já brincou muito por ali ao longo da vida. Cada quadrante do círculo tinha um caminho, e acima de cada caminho, um arco de pedras muito velhas e plantas trepadeiras enroscadas nelas adornando a entrada. O caminho de onde Luan viera; um caminho à frente dele, que saia do outro lado do parque; um caminho à sua esquerda, que é para onde ele deveria ir a fim de sair do parque e chegar à casa de Ezequiel; e um caminho à sua direita. Entre cada caminho, banquinhos de madeira para três pessoas cada jaziam desocupados. O caminho à direita não era bem um caminho. Uma cerca baixa de madeira vinha de não se sabe onde, interrompia a passagem, e continuava para não se sabe onde. Para além dessa cerca, o caminho virava uma trilha de terra bosque adentro, como se o próprio bosque tivesse sido jogado em cima do parque e do que quer que houvesse no fim daquele caminho.

Luan parou de frente para o caminho da direita. Olhou ao redor, e percebei que aquele círculo era estranhamente mais elevado que o resto do parque (talvez menos que o bosque, ele não sabia). Dali conseguia ver os prédios ao longe, colina abaixo, e muito mais longe, quase todo o lado leste da cidade. Olhou mais uma vez para o caminho bosque adentro, e sucumbiu à curiosidade não sabe do que. Ezequiel pode esperar um pouco.

Passou uma perna por cima da cerca, depois a outra, e pisou do outro lado com as sandálias pretas. Vestia uma bermuda jeans e uma camisa preta sem estampa. De bolsa nas costas, começou a caminhar pela trilha e achou tudo muito fácil, pois ela não se dividia em sequer um caminho, e assim ele poderia facilmente voltar para onde estava. Andou descompromissadamente por quinze minutos, olhando para os lados e apreciando os “sons da floresta”. Ele adorava aquele interior, estar entre as árvores e isolado do mundo externo – embora amasse jogos de console, computadores, ruas largas, carros e bicicletas. E Cássia, claro.

Foi quando finalmente chegou numa bifurcação. Se até então ele não tinha encontrado nenhum divisor de caminhos, esse valeu a espera. A trilha se dividia em nada mais nada menos que dez caminhos diferentes, e entre o quinto e o sexto havia uma placa de madeira muito, muito, mas muito velha mesmo (!), escrita em uma língua que ele não conseguia ler, mas que estranhamente não era desconhecida. “Eu já vi isso antes...” pensou, tendo um Deja Vu. Sem saber dizer o porquê, entrou pelo sexto caminho sem pensar duas vezes. Voltar não seria difícil, pois o caminho de onde ele viera era como uma reta saindo do vértice superior de um triângulo equilátero, e os outros dez caminhos eram como retas saindo aleatoriamente da aresta oposta a esse vértice. Mas Luan teria uma surpresa desagradável muito em breve...

O sexto caminho logo se mostrou um erro. Alguns minutos de caminhada e ele já conseguia ver esqueletos de pequenos mamíferos mortos entre as folhas caídas no chão. As árvores e pedras tinham um negrume em volta de si, e Luan ouviu um som asqueroso no alto. Quase morreu de enfarte com o que viu. Uma aranha do tamanho de um gato adulto jantava um gato adulto. Seu abdômen subia e descia compulsivamente, e ela girava sobre o pequeno e indefeso gato, arrancando partes de sua pele com as imensas quelíceras peludas, as patas batendo com um som abafado nas teias extremamente resistentes. A pior parte foi quando ela girou outra vez, percebendo a presença de Luan. Seus três pares de olhos verdes fizeram subir um arrepio pelo corpo do menino, e ela começou a caminhar metodicamente pela teia em direção a ele, preparando o bote. Ele não imaginava que ela era cega, mas isso não importava de qualquer maneira. Seu movimento brusco só denunciou sua posição mais facilmente, mas quem ficaria quieto com uma aranha do tamanho de um gato (sem contar as patas!) a cinco metros de sua cabeça?

Não haveria pavor no mundo que paralisasse Luan diante de um aracnídeo tão asqueroso. Não, aquilo não é possível, não existe! Luan temia estar outra vez dentro de um sonho, temia estar enlouquecendo. O que é tudo isso? Que merda é essa?! A sensação de não conseguir mais distinguir o que era realidade ou sonho fez seu espírito inquietar-se dentro do corpo, e ele sentia uma agonia e um terror que excediam o que seu corpo poderia suportar.

O medo foi completo quando, chegando no ponto onde a trilha havia se bifurcado, o caminho de volta não estava lá!

A configuração da trilha era a mesma, ele acabara de sair do que seria uma reta no vértice do triângulo, e dez caminhos se mostravam na outra face do triângulo.

– Caralho! – Luan não costumava falar palavrões, mas não tinha ninguém ouvindo, nem sua mãe, nem seu pai, e provavelmente aquele seria o último palavrão da sua vida, uma maneira de suportar o medo – Segunda morte em menos de 24 horas... Eu devo ter jogado uma pedra gigante na cruz, só pode! – Ele começou a chorar, sussurrou um “pai” e olhou para trás.

A placa de madeira estava do lado direito de sua trilha quando ele saiu, mas ele escolheu o sexto caminho outra vez. A aranha já vinha em seu encontro quando ele olhou para trás, seu andar como oito bombos ritmados no chão. Luan correu justo quando ela pulou sobre ele. Gritou a plenos pulmões, alguém tinha de vir salvá-lo! Surpreendentemente, quando ele caiu no chão entre um caminho e outro, a aranha se estabacou contra uma barreira invisível na saída da trilha. Luan caiu no chão com as mãos tapando a cabeça e as pernas encolhidas, ainda gritando, e por isso não viu quando o ataque da aranha falhou. Continuou a gritar, e a aranha caiu no chão de mau jeito. Levantou e tentou ataca-lo outra vez, mas a barreira ainda estava lá. Luan continuava deitado no chão com as mãos na cabeça, gritando, pois ainda esperava o contato daquele corpo nojento e peludo, e depois a picada e a morte.

Seria engraçado se não fosse pavoroso. Depois da queda, Luan ainda gritou durante catorze segundos nos quais a aranha tentou quatro investidas contra ele, sem sucesso. Quando percebeu que a morte não veio, Luan sentou com as pernas estendidas e os braços retos atrás do corpo, os olhos marejados, olhando a aranha na saída do caminho, e ela olhando para ele de volta – agora que ele parara de gritar, ela não sabia onde ele estava, por isso ficou olhando pra ele com cara de puta. Cega.

Ele levantou soluçando. Procurou uma pedra entre as folhas no chão, mas não achou antes que a aranha voltasse para onde estava, comendo um inocente gatinho. Olhou de novo para os dez caminhos, e entrou pelo sexto.

Não conseguia pensar direito, mas esperava acordar como das outras vezes.

– Idiota, idiota! Por que você não foi pra casa do Ezequiel jogar Skyrim!? Por que entrou nesse bosque idiota de novo?

Andou por alguns minutos, e o céu foi ficando misteriosamente escuro, escuro e mais escuro, até que os minutos viraram horas e então já era noite feita. Luan já chorava de novo de terror. A essas horas, a mãe e o pai já estariam em casa, loucos por notícias dele. Só então se lembrou do celular no bolso, mas ele estava completamente sem serviço, e dessa forma se tornava inútil.

Alcançou uma clareira circular no fim da trilha, onde haviam apenas alguns tocos de árvore esculpidos em forma de candelabros de madeira altamente detalhados. As velas no topo deles estavam apagadas, mas acenderam assim que ele alcançou o centro da clareira. Ele surpreendeu-se com a intensidade da luz que aquele fogo emanava, e girou para olhar todas as velas, maravilhado com aquilo. Subitamente, três homens altos e extremamente musculosos apareceram do meio das árvores, andando a passos curtos e circulares, portando uma lança com ponta de diamante e um escudo circular cravado de esmeraldas em volta de um mosaico parecido com aquele do chão do parque. Seus olhos eram cinza, suas roupas eram marrons e amarradas com fios feitos de raízes verdes reluzentes, e seus rostos tinham uma tatuagem ao redor dos olhos, conferindo-lhes um aspecto tribal e assustadoramente feroz.

Luan levantou as mãos como se eles fossem assaltantes, e eles ergueram as lanças prontas a voar no peito dele ao menor sinal de uma reação, pois desconheciam aquele gesto.

– Quem é você, estranho? O que faz em nosso domínio? – disse um deles entre dentes, apontando a lança para Luan.

– Eu... eu me perdi, não tinha intenção de invadir seus domínios. Eu não sou daqui, eu preciso voltar, eu...

– Cale-se. – Falou um deles. Ele trocou um olhar com os outros dois, e Luan não sabia que eles estavam comunicando-se. Então, sem a menor cerimônia, as três lanças voaram em direção ao tronco de Luan.

...

Madeline acordou num quarto mal iluminado por um candeeiro. Remexeu-se, procurando pelo livro e suas coisas na cama onde estava, mas não achou. Sentou-se imediatamente, recordando os últimos eventos, e um pavor tomou conta de si. Atirou-se para fora da cama. Suas meias e seus sapatos haviam sido tirados dela, mas logo os encontrou numa cesta em cima de uma cadeira ao lado da cama, bem como o livro e as duas pequenas bolsas que ainda restavam consigo. Nada do dinheiro.

Fora a cama, o quarto tinha apenas a cadeira já citada, um tapete cor de vinho no chão, uma mesinha e uma lareira com duas cadeiras próximas a ela e um balde com poucas toras de madeira. Acima da mesa estava uma espécie de prato ou copo, com um líquido vermelho dentro. Madeline temeu ter sido envenenada, drogada ou até enfeitiçada. A porta branca estava fechada, e ela, após se vestir completamente, temia o que poderia vir detrás dela. Procurou uma arma, mas não havia nenhuma. Pegou o espeto de atiçar a lareira e agarrou com as mãos firmes, era o mais próximo de uma arma que ela tinha.

– Onde estou? Será que eles não sabem sobre o livro? Por que me mantém aqui, será que sou uma refém? – Só conseguia pensar em como sair dali. Quando finalmente estava para abrir a porta, um homem muito alto entrou por ela.

Ele tinha uma longa barba branca, sobrancelhas grossas e desarrumadas, dentes amarelos e olhos cor de violeta. Vestia uma calça muito folgada, amarrada com ligas pretas e marrons na canela, uma bota preta e uma camisa de botão branca de manga longa que ia até o pulso. Sua voz grave e nítida quando falou “estou entrando”. Sua pele era enrugada, e seu cabelo amarrado em rabo de cavalo até o ombro. Tinha uma tatuagem ao redor do olho direito, e anéis em todos os dedos.

Ao ver Madeline de pé, pronta para sair e com o ferro da lareira em mãos, soltou uma risadinha de surpresa. Estendeu o braço num movimento em direção ao chão, como alguém que espanta um besouro. Madeline abriu a boca com uma surpresa nítida quando o seu instrumento voou de sua mão e foi parar a três metros dela, batendo na parede e caindo no tapete. Ela olhou para ele e depois outra vez para o ferro, fazendo um gesto com a mão que trouxe o objeto de volta para si.

– Não me venha com feitiçaria barata – cuspiu para ele. Apesar do blefe, ela na verdade estava se sentindo uma tola, e assustada. Sabia que lançar feitiços sem dizer uma só palavra requeria muito treino, uma aptidão quase natural, e ela só conseguia fazer isso para coisas mais simples, mesmo sendo uma das melhores alunas de sua escola.

Ele arregalou um pouco os olhos e fez um “oh!” teatral diante da bravura da menina, logo depois fez outro gesto com um braço, dessa vez empurrando, e Madeline sentiu uma força brutal arrancar o ferro de sua mão... não, na verdade ela é que foi arrancada do ferro, e foi atirada contra a parede, onde ficou presa, suspensa, gemendo de dor. O ferro continuava flutuando onde antes ela o estivera segurando. Ele agora já havia abaixado o braço, e mesmo assim conseguia mantê-la presa contra a parede e o ferro da lareira flutuando. Ele caminhou até lá, calmamente pôs o ferro de volta dentro do balde com algumas toras, sentou numa das cadeiras e trouxe Madeline flutuando até a outra.

– Vamos começar outra vez. Olá. – Seus olhos eram penetrantes, e ela sentiu que ele estava tentando lê-la.

– O que você quer? – disse ela, com raiva.

– Olá. – repetiu o velho, ignorando a rispidez de Madeline.

– Olá. O que você quer?

– Primeiro, um pouco mais de cordialidade. Você tem seu livro, você tem suas coisas, suas roupas, cuidamos de suas feridas, lhe demos banho e algo nutritivo para beber. É muito perigoso andar pelo Bosque Rupes sozinha na noite escura, ainda mais sendo uma jovenzinha tão indefesa.

A parte do “lhe demos banho” deixou Madeline extremamente preocupada, e ela franziu mais ainda o cenho diante daquilo.

– Ah, não se preocupe quanto ao banho. Nossas mulheres trataram disso. – se adiantou, parecendo ler a mente dela, e sorriu – Você me chama Roim. Como Roim chama você?

– Você me chama Madeline – ela imitou-o desagradavelmente, e ele não gostou disso.

– E onde Madeline descansa?

– Onde Madeline estiver cansada! – falou ela, completamente ignorando o perigo que era estar ao lado de alguém aparentemente tão poderoso. Afinal, era só uma garota de quinze anos, e agia perfeitamente assim, às vezes.

– Bom, Madeline pode descansar aqui o resto da vida, ou da morte, Madeline escolhe. Mas saiba que ninguém jamais saiu daqui, de onde nós estamos, sem a ajuda de um dos nossos. Esteja certa de que eu não tenho o menor interesse em prendê-la aqui, Madeline, mas também não tenho o menor interesse em leva-la em segurança até onde você descansa. Quer repensar a resposta, Madeline?

Madeline recebeu como um choque as palavras do velho homem, e o jeito cínico como ele repetia seu nome de novo e de novo fê-la lembrar alguns professores irritantes da Academia Estadual de Argória. Achou que seria mais vantajoso para si cooperar, só esperava que ele não estivesse mesmo lendo a sua mente, pois estava prestes a mentir bastante.

– Sou de Tarantela, meu pai é dono de uma pousada. Estava passeando e tive meus pertences roubados por uma ladrazinha chamada Alice, e então ela entrou nesse bosque e eu acabei me perdendo procurando por ela.

– Tarantela! Mas Tarantela está tão ao norte... Como você conseguiu entrar tanto a esse ponto?

– Eu me perdi, não consegui achar o caminho de volta.

– Bom, você parece ter todos os seus pertences. E aquele livro... – Ele olhou para o livro ainda na bolsa que ia nas costas de Madeline – parece bastante velho, e num idioma há muito tempo morto.

O coração de Madeline disparou, não poderia revelar sobre o livro, caso ele não soubesse mesmo de nada.

– É, esse livro... Meu pai pediu que levasse até Bromópolis, pra um amigo dele. Eu também não consigo ler, mas duvido que seja algo importante.

O velho tinha um ar inquisidor, alisou a barba branca analisando as palavras dela.

– Bromópolis. Conheço um velho que coleciona livros em Bromópolis... Qual o nome do amigo do seu pai?

Madeline começou a ficar realmente nervosa.

– Marcusualador. – acabara de inventar esse nome.

O velho deu uma gargalhada alta, e ela não sabia se deveria sorrir também ou se isso era um sinal muito ruim, então apenas esperou. Ele colocou a mão na barriga, rindo muito como se fosse a piada mais engraçada do mundo.

– Marcusualador! Que nome engraçado, não? – seu olhar era indecifrável, tanto poderia estar acreditando em cada palavra dela como preparando sua morte. – Madeline, meus patrulheiros me informaram de um... não, dois clarões muito fortes mais cedo, na direção de Tarantela. Você sabe algo sobre isso?

O coração dela estava aos pulos. As perguntas estavam ficando gradualmente perigosas, e ela precisava se esforçar pra não se esquecer das mentiras que contara, sabendo que, eventualmente, poderia tropeçar na própria língua. Decidiu então contar a verdade, pois ela parecia extremamente inacreditável.

– Sim! Um garoto estranho apareceu do nada, vestindo uma roupa estranha... – ela achou melhor ocultar a parte do Silencioso – ele ficava perguntando como fazia pra acordar, dizendo que não era daqui... Eu achei que ele fosse louco, por isso fugi e acabei me perdendo. Mais ainda. Ele apareceu e desapareceu numa explosão azul.

Dessa vez, o velho não pareceu sorrir. Apenas inclinou-se sobre o corpo para frente, cruzando os dedos na frente da boca e olhando o fogo baixo consumir as toras de madeira na lareira.

– Entendo... – foi tudo que ele disse.

Tão logo ele silenciou, Madeline se arrependeu do que disse. Achava que estava indo bem, mas agora tinha certeza que de ele não gostara da resposta. Droga.

Roim levantou da cadeira em silêncio e começou a andar em direção à porta. Madeline levantou de um salto atrás dele.

– Aonde você vai? Eu quero ir embora. – disse ela.

– Madeline fica aqui, Roim vai voltar mais tarde com mais perguntas. Descanse. – e trancou a porta antes que Madeline conseguisse alcança-la, gritando e esmurrando.

Roim caminhou por um corredor branco com quadros nas paredes, todos eles descreviam cenários surreais com criaturas monstruosas montadas por homens brutais de espadas e toda sorte de armas brancas nas mãos. A porta de Madeline era apenas uma entre tantas dos dois lados do corredor.

No fim dele, um homem veio ao encontro de Roim.

– Senhor.

– Ela está mentindo em cada palavra, vamos mantê-la presa por uns tempos. Acredito que ela não sabia que sabemos que livro é esse.

O guarda anuiu com a cabeça e deu passagem para o velho. Tinha ao redor dos olhos a mesma tatuagem que Roim. Este desceu um lance de escadas, saindo no corredor de madeira, que do lado esquerdo dava para a um lance de salas fechadas por uma porta de correr, e do direito dava para um lindo jardim, iluminado pela luz da lua, com lagos cerceados por grandes seixos. Borboletas pairavam emanando uma luz fraca em cores quentes, refletindo nos lagos. Sapos coaxavam incessantemente, bem como grilos e toda sorte de vida que traz magia a um jardim na noite. O jardim ficava dentro de um retângulo muito grande, com dois lagos por quatro, todos muito grandes com pontes arqueadas de madeira para se cruzar. Cercando cada um dos lagos, pinheiros alinhavam-se perfeitamente.

Entre os quatro primeiros e os quatro últimos lagos, um palco de pedra levantava-se, e, nele, oito mulheres dançavam graciosamente uma dança sensual e ao mesmo tempo mortal sob a luz da lua, trajando uma roupa de fina seda quase transparente, os cabelos pretos, extremamente lisos. Roim olhou para elas, e continuou andando pelo corredor que cercava o jardim onde as mulheres treinavam entre as luzes flutuantes. Entrou na porta ao fim do corredor, e lá haviam três homens de pé, todos com as mesmas tatuagens ao redor dos olhos.

– Senhor – eles curvaram-se em reverência – vamos sair para a patrulha. O pequeno Alef insiste que o garoto que o perseguiu mais cedo está de volta. Temos certas pistas que indicam a localização dele.

– Vão, e tragam-no até aqui. Parece que o bosque Rupes anda muito frequentado recentemente. – E os três saíram da sala. Roim foi até um canto, pegou uma taça e se serviu de vinho até estar satisfeito, depois saiu outra vez. Lá fora, desceu os degraus até o jardim e lá ficou, sobre uma ponte de madeira observando a dança das Entes – como eles as chamavam.

Não soube dizer quanto tempo passou até que ouviu os gritos no meio da noite, perto da entrada da sua fortaleza. Gritos de “às armas”, passos apressados e muita balbúrdia. As Entes não pareceram reparar em nada, pois nada poderia interromper seu ritual, mas Roim deixou o jardim rapidamente, preocupado. De repente, um estrondo se fez ouvir, e lá longe Roim viu, estupefato, correntes de ar tão devastadoramente poderosas subindo aos céus que pareciam arrancar o telhado das casas mais próximas a onde ele estava. Seus passos rápidos logo viraram uma corrida, e ele ficou pasmo com o que viu: um garoto vestindo umas roupas estranhas correndo em sua direção, seguido por seis de seus homens.

O menino estava muito assustado, e por onde ele passava, rajadas de vento arrancavam as paredes para trás dele, ou então empurravam-nas para dentro como um machado faria, numa desordem de empurra-e-puxa , certamente magia. Ao perceber Roim na frente de si, Luan tentou se jogar do caminho, mas o feiticeiro estendeu as mãos e prendeu-o no ar quando ele pulou. Roim tinha ira nos olhos, mas algo o deixou surpreso: precisava fazer cada vez mais força para manter o feitiço, até que não aguentou e cedeu, sendo empurrado de volta numa explosão de azul, bem como seus guardas atrás dele e todas as paredes e salas ao redor.

A destruição era generalizada, e aos poucos os belos corredores pareciam ter enfrentado um terremoto. Luan pulou por cima do velho caído no chão, sem saber exatamente para onde ir ou o que fazer. Tudo aquilo era muito insano para ele, e ele sentia medo, mas continuou correndo. Olhou o jardim à sua direita, as borboletas e as Entes, e ficou maravilhado por pouco tempo, até perceber que mais guardas vinham em sua direção. Olhou todas aquelas salas fechadas, e decidiu subir para sair pelo telhado. Voltou a correr, subiu um lance de escadas e esbarrou em um guarda despreparado quando virou à esquerda correndo. Esbarraram os dois, e o guarda quase tombou pra trás, mas logo se recompôs e atirou a lança com ponta de diamante na direção dele enquanto subia. Inútil, a lança espatifou-se como um cristal jogado contra a parede antes de atingi-lo, e o guarda boquiabriu-se enquanto Luan dobrou corredor acima.

...

Madeline ouvira os estrondos lá fora, como se uma guerra estivesse acontecendo. Atirou-se contra a porta e voltou a bater e gritar, mas ninguém abria. Ouviu os sons ficando mais perto, como dezenas de bombas explodindo em sequência, e ficou com medo que fosse morrer ali. Afastou-se da porta apreensiva, e as paredes começaram a explodir, atingindo também a porta, e então a parede que dividia seu quarto e o corredor sumira completamente, e ela viu um corpo estranho correndo na direção das explosões.

– É ele!! – pensou, saindo do quarto num pulo para segui-lo.

Se tivesse saído alguns segundos depois, teria sido recapturada pelos seis guardas. Roim já estava logo atrás deles, e ela correu para onde quer que Luan estivesse correndo. Ficou abismada ao ver que ele destruía tudo por onde passava, e ela precisava ter muito cuidado para não ser atingida pelos destroços que ele involuntariamente arremessava no vácuo que deixava, sem contar o chão de madeira rachando sob seus pés e o teto desabando aos poucos.

– Espere! – gritou, e Luan olhou rapidamente para trás, depois olhou de novo, sem acreditar no que via.

– Outra vez!? – gritou de volta, sem parar de correr. – Espero que não tenha nenhuma pedra pra me arremessar. Como eu faço parar isso? Quem são esses caras?

– Você só pode ser louco! – gritou ela sem entender direito o que ele dizia, porque seu rastro de destruição fazia muito barulho. Ela mantinha certa distância – uma distância segura – mas os guardas não se continham em correr, e estavam quase a alcançando.

– Me ajude! – gritou – preciso sair daqui!

– Eu também!! – ele gritou de volta.

Subitamente, mais seis guardas apareceram no fim do corredor, e Luan parou de repente, bem como a sua aura azul destrutiva. Madeline se aproximou dele até que ficaram de costas um para o outro, ele encarando seis guardas e ela mais seis e Roim. Ele passou com os ombros empurrando os homens, os olhos em chamas. Seu cabelo rabo-de-cavalo estava agora grudado na face suada, solto e sujo, e fragmentos de madeira e grama estavam emaranhados na sua barba. A camisa fora desabotoada, e rasgada também.

– Quem é você, monstro? – disse entre dentes.

Luan teve tanto medo que não conseguiu responder.

– Deixa comigo. Cala a boca e tira a gente daqui que eu te mando pra casa. – Madeline sussurrou para ele.

Como você espera que eu tire a gente daqui!? – gritou em pensamento, mas não quis deixar que ela soubesse que, na verdade, ele não sabia de nada.

– Ele é o garoto estranho de quem eu falei... Muito poderoso, você pode ver. Saia, nós vamos embora.

– Ah, mas não vão mesmo! – Roim se precipitou sobre ele, e antes que ele estendesse os braços e abrisse a boca, madeline gritou:

– FAZ ALGUMA COISA!

E tudo que Luan conseguiu pensar foi estender os braços como Roim em direção à parede. Roim começou a balbuciar alguma coisa, e Luan gritou:

– Kamehameha!

Os guardas arregalaram os olhos, bem como Roim – que se calou para ouvir o que ele dissera, dando-lhes tempo – Madeline esboçou um “hein?” antes que a parede explodisse em milhões de pedacinhos, dando passagem a mais uma rajada de vento e brilho azul tão destrutora que levou abaixo quatro salões e sete fileiras de árvore. Era a saída de que precisavam. Luan agarrou a mão de Madeline e se pôs em movimento pela rota de fuga improvisada, imediatamente ativando a “aura azul destrutora” atrás de si, enquanto os guardas e Roim se desfaziam em incredulidade.

Correram como se a vida deles dependesse disso – e, de fato, dependia –. Luan estava, de certa forma, gostando da aventura, e acreditando que aquilo não podia ser mesmo nada mais que um sonho. Não tem como eu morrer aqui. Sempre olhando pra trás, eles continuaram a correr até que a manhã voltasse, quando finalmente pararam para descansar à beira de um lago: o Lago que separava Tarantela do Bosque Rupes.

– Quem é você? Como voltou aqui? – perguntou Madeline – Aquilo foi incrível! Achei que você era um palerma ou algo assim.

– Essa é uma forma muito boa de agradecer por ter te salvado...

– Oh! Desculpe – Madeline riu. – Eu me chamo Madeline, prazer em conhece-lo...

– Luan.

– De onde você é? Por que se veste assim?

Luan não conseguia pensar direito. Não conseguia pensar nas milhões de perguntas que tinha pra fazer, primeiro porque ainda não processara tudo aquilo e depois porque Madeline perguntava demais.

– Eu... venho de casa. Preciso voltar... Ah! – ele lembrou do trato – Falando nisso, como você pretende me levar de volta?

– Eu quero saber mais de você, Luan!

Luan gostou da forma como ela se interessara por ele. Seja lá qual fosse o motivo, ele achava que era porque ele soava heroico e bravo. Lembrou do moreno do primeiro ano com quem Cássia andava de conversa, e sentiu-se vitorioso. Estupido também. É só um sonho, seu boboca!

– Eu estava na minha casa, e... sonhei que entrava num bosque e esbarrava em você, carregando um livro. Acho que é isso que você tem na bolsa, não é?

O alarme de Madeline disparou, mas de alguma forma ela não sentia perigo vindo de Luan. Escapamos juntos, afinal.

– Não importa. Não lembro de ter te visto antes do bosque ontem.

– Acho que era só um sonho. Antes, ontem, e agora. Só que eu não consigo acordar, e é aí que você entra. Me leva pra casa?

– Desculpe, não tenho casa. – Ela respondeu inocentemente. Só então Luan percebeu, corando, a dubiedade do que dissera. Mas ela não levou a mal, e ele não se referia à casa dela, e sim à sua, então estava tudo bem.

– Não? ... Onde você mora? – disfarçou.

– Estou viajando, por assim dizer.

Ela olhou mais pra ele. Era impressionante como algo nele lembrava Lumin há muito tempo atrás. Só então percebeu o imenso arranhão do lado esquerdo do seu rosto.

– Você está machucado! – exclamou, levando a mão ao ferimento para curá-lo. Luan recuou um pouco o rosto ante a velocidade do movimento que ela fez, mas deixou que ela o tocasse.

Sentiu algo bom, e a sua ferida magicamente desapareceu quando ela falou alguma coisa que ele não entendia. Depois de curada a ferida, deixou os dedos tocarem a bochecha dele. Luan riu.

– É muito engraçado, isso tudo parece um RPG ou coisa do tipo. Você sai por aí curando pessoas com mágica?

– O que é um RPG? – perguntou ela sem saber se aquilo significava algo bom ou ruim

– Deixa pra lá. – falou levantando-se – Bom, eu estou pronto pra ir pra casa, Madeline. Quando você quiser.

Ela olhou pelo canto dos olhos, sem saber como dizer que não fazia idéia de como manda-lo de volta. Ele esperou um pouco, e seu sorriso se desfez.

– E então...?

– Bom, é que... – ela pensou um pouco em tudo que acontecera, e finalmente lembrou de como fizera ele e o Silencioso desaparecer.

– Já sei!! O que aconteceu quando eu teletransportei você e o Silencioso? Achei que você fosse morrer, mas... você está aqui.

Luan não entendia nada do que ela estava dizendo.

– Silencioso o que? Não lembro de ter sido teletransportado.

– Ontem, quando aquele brutamontes de preto quase comeu sua cabeça, fui eu quem mandei os dois embora. Achei que algo tivesse dado errado, mas, pelo visto, você está inteiro. Pra onde ele foi?

– Ah... aquilo. Não sei. Na verdade, aquela coisa apareceu no meu quarto na noite anterior, tentou estrangular meu pescoço perguntando por um livro, eu disse que tinha um monte de livros, mas ele não parece gostar de ciências. Bom, depois eu quase virei janta de cachorro, acordei na minha cama normalmente. Agora acho que vou acordar no sofá, já que foi a última vez que eu lembro de ter cochilado.

Madeline estremeceu à menção do livro. Eles sabem, então.

– Tá, eu vou tentar alguma coisa. Foi um prazer conhecê-lo, Luan. Obrigada –Ela sorriu, e ele sorriu de volta. – volte quando quiser, esquisito.

– Falou a normal – Ele falou dando língua.

– Portai. – Madeline falou baixinho, e aquela mesma explosão azul fez Luan desaparecer diante dos seus olhos. Ela continuou olhando para onde ele estivera por alguns instantes antes de voltar a caminhar. Olhou para os dois lados, mas aquele parecia ser um ponto muito distante de onde ela entrou no bosque, pois não conseguia ver as casas precipitando-se sobre o rio. Achou tudo aquilo muito estranho, mas finalmente estava de volta a Tarantela, e estava muito grata por isso. Ainda tinha o livro, e tão logo descobrisse onde estava iria dar um jeito de chegar até Bromópolis. Já era o sexto dia desde que chegara até a pousada à Rua dos Travesseiros, e ainda tinha um dia até o dia estipulado para seguir para norte.

...

Doce engano achar que acordaria no sofá. Luan foi cuspido fora pela trilha na qual entrara no bosque. Quicou no chão duas vezes, embolando como um boneco de borracha, até parar no mosaico de tijolos cinza, verdes e vermelhos. Já era noite, os postes já estavam todos acesos, e um casal se assustou quando percebeu ele estirado no chão, levantando-se completamente atordoado. Seu celular tocou, e ele tirou do bolso para checar:

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Mãe – (47 chamadas perdidas)

Pai – (15 chamadas perdidas)

Ezequiel – (6 chamadas perdidas)

Marina – (3 chamadas perdidas)

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– Acho que alguém vai ter muito que explicar hoje...


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Notas finais do capítulo

Êêê. Inspiração pra escrever bateu forte quando eu precisava estudar pra Engenharia de Software. Tem prova amanhã; tem prova terça... I'm screwed. Mas espero que gostem do capítulo :D



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