O Livro De Merlin escrita por Yuri Nascimento


Capítulo 17
Contrabandistas em Hotunda




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Madeline estava completamente perdida. Sabia que já devia estar fora de Tarantela, mas fora isso não tinha certeza de nada. Estava tão mal com sua consciência que só não conseguia ficar pior porque a fome não deixava. Prometeu que nunca mais largaria o livro, entraria em bosques ou falaria com estranhos até Walter estar diante dos seus olhos. Prometeu que nunca mais sairia do plano, só que agora não tinha mais plano. Ao menos ainda tenho o livro. Que pensamento animador, hem, Madeline. Pensou em abri-lo e tentar ler alguma coisa, quem sabe conjurar algum feitiço de teletransporte. É isso! Por que eu simplesmente não me teletransporto? Tentou usar portai, mas não obteve êxito. Acho que meus feitiços expiraram, e eu não tenho ingrediente nenhum aqui. Ótimo.

            – Desgraça só presta quando é de muita. – ouviu-se balbuciar em voz alta, e uma velhinha que mais parecia uma bruxa agarrada com os dois braços a uma sacola cheia de pães e legumes olhou para ela com a carranca mais condenatória que a senilidade lhe permitiu. Madeline imediatamente virou o rosto e acelerou o passo, mas ainda ouviu o resmungo “meu cachorro lambendo os testículos tem a boca mais limpa que essas crianças de hoje. No meu tempo, ...”

            A verdade é que, ao invés rumar para o norte, para Bromópolis, arrastou-se moribunda para o sul. Esquecera-se completamente de guiar-se pelo movimento do sol. Sentia a cabeça latejar como se estivesse recebendo constantes marteladas de um guerreiro. Seu estômago se revirava dentro da barriga, quase colada às costas de tanta fome. O cabelo ruivo estava quebradiço, resseco, embaraçado e fedorento. Seu próprio cheiro impregnava nas suas narinas e ela sentia como se alguém lhe enfiasse um saca-rolhas nelas, girando, o que só piorava a dor de cabeça.

            Umas quatro carruagens no céu já haviam se passado desde que Madeline chegou a esta cidadela cheia de ladeiras e vielas estreitas. A cidadezinha parecia ter sido construída em cima de uma cadeia infinita de senoidais. Ninguém usava charretes ou carruagens ali, apenas os tão aclamados planadores, que se assemelhavam a uma cadeira na qual os guias sentavam-se de frente para o encosto, deixando para trás aquele vapor cujo cheiro ela detestava tanto. Muitos barris recostavam-se nos cantos das ruas já tão apertadas e inclinadas. Muitos degraus, muitos becos transversais, muitos sons vindo de dentro das casas e especialmente muita tinta: as pessoas ali tinham a mania de pintar os tijolos amarelados das casas das mais variadas cores. O resultado era até encantador, mas todo aquele reflexo nos olhos só acentuava sua dor de cabeça.

            As pessoas mais humildes não reparavam muito nela, mas alguns estudantes de uniforme – incluindo os meninos que davam sorrisinhos mal intencionados ao olhar para ela de longe – logo se afastavam e torciam os narizes quando sentiam seu cheiro. Ela começava a lamentar seu infortúnio, até que em um beco muito movimentado ouviu algo interessante.

            – Está cansado de ficar tomando poções todas as semanas para habilitar os feitiços, ou de ficar memorizando o fluxo energético para produzi-los? – perguntou um homem buliçoso por trás de uma mesinha fajuta de madeira – Isso é muito chato, eu sei, mas não se preocupe. Com essa oficina você vai conseguir condensar todos os seus feitiços num grimório personalizado que vai lhe acompanhar aonde você for, e é só sacar o livrinho e dizer as palavras, nada de manutenção via remédios ruins. É a última moda em Eduberest. – acrescentou o ele.

            A garota parou como uma locomotiva que vai reduzindo de velocidade teimosamente na estação até o completo repouso, olhando para os lados até encontrar a mesinha com uma toalha branca bordada enviesada sobre ela, exibindo uma pilha de folhetins. As pessoas aproximavam-se, pegavam um deles, olhavam com pouco interesse e continuavam o curso de suas vidas normalmente, servindo o folhetim apenas de mais um assunto de intervalo na mesa da taverna ou na fofoca à janela.

            Madeline olhava desconfiada para o homem com uma barbinha rala no rosto enrugado e oleoso e um chapéu que caia em duas abas por cima das orelhas. Ele tinha cara de açougueiro, magrelo e com um casaquinho marrom por cima da camisa de botão amassada. O sujeito pareceu reparar seu semblante curioso, acenando para que se achegasse. Ela já havia passado do limite dos sete dias a essa altura, não tinha dinheiro, e a fome afetava seus sentidos ao ponto de esquecer completamente que tinha de arrumar um jeito de chegar a Bromópolis, mas não fazia idéia de como.

            Puxou o vestido para baixo como se isso melhorasse um pouco a sua situação e subiu o lance de escadas contra os poucos transeuntes que desciam da viela superior. O homem chamou com uma das mãos outra vez, empolgado e sugerindo que ela andava devagar demais.

            – Como é que é isso? – perguntou sem prestar muita atenção à quão sonolenta e desleixada sua voz saia. Estava aérea. Se alguém a analisasse com cuidado, diria que ela tinha comido cogumelos alucinógenos. Ela de fato comeu alguns cogumelos, mas já fazia um dia e meio.

            – É simples, jovem senhorita – falou o homem numa cortesia malfeita, tentando imitar alguém nobre que certamente não era. Chegou mais perto de Madeline com um livro feio aberto nas mãos e a lábia de um vendedor, ignorando o odor – você insere seus feitiços aqui – tocou com a ponta dos cinco dedos na superfície das folhas enquanto dizia “aqui” –, seguindo algumas fórmulas elaboradas pelos feiticeiros de Eduberest, e enfeitiça o livro. Dai em diante, o grimório só precisa ser aberto, as palavras ditas, e seus feitiços vão sair saltitando por aí – falou, fazendo um gesto de explosão com a mão livre, que Madeline acompanhou com o rosto demente. – Nada mais de beber sucos ruins ou mascar ervas toda manhã. – e fez uma careta de nojo.

            A ideia era interessante. Madeline não via problemas em renovar seus feitiços todas as semanas, mas seria ótimo ter todos eles num livrinho pra usar durante um, dois ou seis meses. Uma vez que alcançasse a primeira ordem, a garota teria mais autonomia quanto ao tempo que certos feitiços duravam “ativos”, entretanto agora eles duravam muito pouco tempo. Quando não conseguia mais executá-los apenas dizendo as palavras (fazendo os devidos gestos e com a devida liberação de energia que o feitiço exigia), só precisava refazer o feitiço com os ingredientes para que ele ficasse disponível outra semana. Era sempre assim, com ela e qualquer outro feiticeiro. Ela ficava impressionada com o fato de Walter conhecer alguns feitiços poderosos que só precisar renovar a duração a cada dez anos. Ninguém mais conseguia tal feito, porque certos poderes só são liberados quando as ordens são despertadas.

            – Quem são esses feiticeiros de Eduberest? – perguntou ela, genuinamente interessada, mas subconscientemente tentando contradizer e quem sabe pisar aquele homem estranho que falava de feitiçaria mas se comportava como um completo leigo tentando posar de mestre.

            – Eduberest! – exclamou ele com as sobrancelhas levantadas, simulando surpresa pela pergunta – não conhece Eduberest? Aquele reino grande no sul do mundo que tem os melhores feiticeiros e as terras mais animalescas e fascinantes do mundo? Com certeza a mocinha já ouviu falar dos feitceiros de Eduberest – jogou ele, falando muito e dizendo nada, implicitamente despejando no pouco conhecimento da garota a culpa por ela não conhecer o que, só por que ele assim disse, todos conheciam. – É a última moda em feitiçaria.

            Madeline fechou a cara, cada vez menos gostando do homenzinho, mas sem querer parecer ignorante. Com certeza esse boçal não conhece o professor Walter!

            – E é muito baratinho, estamos fornecendo essa oficina por três moedas de ouro para manter o laboratório aberto e pagar nossos feiticeiros, claro. – Madeline olhou para ele impassível, mas por trás daqueles olhos grogues ela se sentia irritada por alguém que lhe causava tanto desprazer oferecer algo que ela gostaria tanto de obter. Pegou um dos folhetos fingindo que não estava interessada, mas que talvez passasse lá depois para conferir.

            – Tá bem, eu vou indo.

            – Espere! – exclamou o outro. – Tudo bem, eu vejo que você quer muito participar da oficina. Duas moedas, nosso prédio fica logo ali atrás – gesticulou apontando para o fim da rua, onde jaziam alguns casebres mais elevados sobre o morro.

            Que mentiroso. Nem o padeiro demonstraria um desinteresse mais genuíno que o meu.

            – É que eu preciso... Qual o nome desse lugar mesmo? – perguntou com uma careta depois de outra pontada mais forte atrás dos olhos.

            – Oficina dos Três Porteiros! – e arreganhou um sorriso amarelo.

            – Não, me refiro a essas... Ladeiras, casas... – depois de muito escavar os escombros da sua mente, achou a palavra correta – cidade.

            – Ah, essa é a linda Hotunda, jovem. Um apunhado de morros subindo e descendo – explicava enquanto acompanhava os movimentos ondulatórios com o braço raquítico, nauseando Madeline com a sua sagacidade – e as casinhas e tavernas mais aconchegantes desse reino. Aqui é tudo pedra, mas lá na parte alta, depois das ondinhas, tem muitas praças bonitas e arborizadas, prédios luxuosos e até um lago! – claro, o ápice da diversão, a paciência da menina estava perto do fim. Ela forçou um risinho afetado e se safou da conversa do homem, que continuou declamando seu discurso sobre como era cansativo ficar bebendo poções e mastigando ervas toda semana.

...

            – Então é tudo verdade! – era tudo que Ezequiel pensava desde que conseguiu sair de uma confusão de arbustos, defronte a uma vastidão de grama que ondulava em planícies como um oceano. Repetia de novo toda vez que sua racionalidade tentava dar-lhe um choque. O cheiro no ar era diferente. Diferente daquele cheiro artificial de escapamento automotivo que a cidade tinha, um cheiro cinza e poluído. Ali as árvores tinham perfume, cada planta tinha seu perfume, o azul do céu tinha um perfume e até a grama – que ele apalpou e depois deitou-se contente consigo mesmo – tinha um perfume. Deitado de costas com os braços e pernas bem abertos, sentia o vento querendo arrancar suas roupas e a voz da grama soprando bem perto do ouvido. Deitado ali olhando pro céu, tudo que via era a vastidão de azul e a ponta do mato alto que balançava acima da sua cabeça.

            – Me sinto uma formiga! – era o tipo de delírio que nunca deixava escapar senão quando estava inteiramente sozinho. – Obrigado, Luan! Vou até te perdoar por ter me levado àquele ninho de aranhas. – Ergueu o tronco com esforço e deixou o peso do corpo apoiar-se nos braços. – preciso vir aqui todo fim de semana.

            Olhou ao redor com satisfação, orgulhoso como se ele mesmo tivesse criado aquele pedacinho de paraíso. Ezequiel era, de uma forma contida, amante da natureza. Seus pais sempre costumavam viajar com os filhos para praias paradisíacas no verão, ou para a fazenda do avô no interior do estado, onde ele guardava as melhores memórias da sua infância. Andar a cavalo era uma atividade que ele executava com lívida excitação, e executava bem. Apurou os olhos para enxergar mais longe. Perto do horizonte em duas direções, conseguia ver borrões acinzentados que poderiam bem ser cidades. Olhou para o céu e viu sete rastros brancos lado a lado semelhantes ao deixado por ônibus espaciais após o lançamento. Que estranho, parece uma apresentação da esquadrilha da fumaça.

            O garoto era de tal modo tranquilo que não estava preocupado que Luan não estivesse ali, sequer sabia que Marina também estava perdida, e nem ao menos se deu ao trabalho de pensar na hora de voltar. Não agora. Ficou ali, sentado na grama, até que um grupo de homens a cavalo se aproximou.

            Pareciam viajantes. Um homem que mais parecia um Viking, de longos cabelos ondulados ruivos e uma barba igualmente abundante e suja montava um garrano triste, que parecia diminuto debaixo de todo aquele aparato e do homem troncudo. Tinha duas bolsas na garupa cujo tecido surrado já tinha buracos aqui e ali. Um manto marrom pendia nos ombros largos do sujeito, e ao ver o moleque que sentado estava e sentado ficou, pousou uma mão no copo da espada e deu uma golada sonora no seu caneco de cerveja escura e espumenta tentando impor intimidação, mas se funcionou ele não soube dizer.

            Atrás dele seguia um velho guiando dois outros garranos que puxavam uma carroça cheia de feno, baús de madeira trabalhada e bolsões igualmente surrados, amarrados precariamente por uma corda de cânhamo. Dois jovens magricelas rodeavam a carroça sempre que a bagagem pendia demais para um dos lados, ameaçando cair.

            – Ora se não é o Gimli em tamanho grande! – sorriu Ezequiel antes que os outros se aproximassem o suficiente para ouvi-lo. O homem no garrano triste não gostou daquele sorriso, que coincidiu com o momento em que ele tentou intimidar. Alisou o punho da espada e limpou com a manga da camisa a cerveja que escorreu pelos cantos da boca e na barba, derramando mais cerveja com o movimento brusco.

            – Quem vem lá? – gritou o que parecia o chefe dos viajantes.

            Ezequiel da casa Tully! Pensou. Nossa, esse lugar é demais mesmo. “Quem vem lá?” O garoto não conseguia manter a boca impassível, embora tentasse conter os músculos da bochecha que insistiam em puxar-lhe os lábios.

            – Ezequiel! – gritou um pouco mais baixo, porque os estranhos já estavam chegando mais perto. Seus olhos brilhavam de excitação, tudo ali era divertido, e ele se sentia em um filme, um sonho, alheio ao perigo que aquela situação representaria no mundo real. Não sabia nada daquele lugar, mas sentia-se como um estrangeiro para quem tudo era brincadeira, e a seu tempo poderia pedir comida e abrigo em qualquer lugar que isto não lhe seria negado. Estava entorpecido.

            – Ezequiel de onde? – perguntou em resposta, só servindo de combustível para a diversão do outro. Devia ter mesmo acrescentado o “da casa Tully”.

            O garoto olhou ao redor curioso, e viu um casebre indistinto numa das colinas ao longe.

            – Ezequiel dali, ó – respondeu, apontando. Depois olhou o homem com mais cuidado, esperando a próxima pergunta épica.

            O homem desceu do cavalo num pulo só e andou com a mão no cinto da espada, e só então os sentidos de Ezequiel acordaram para o quanto ele era grande, forte e a espada que até então não tinha visto. O garoto levantou de um impulso, dando três passos para trás pronto a correr.

            – Calma – pediu o homem com as duas mãos como se o menino fosse um suicida prestes a pular de uma ponte – somos só viajantes.

            O medo que nasceu no rosto do pequeno agradou o grandalhão. Ele estendeu a mão e se aproximou aos poucos, o que Ezequiel respondeu no mesmo tom.

            – Sou Giordan. Giordan de Venissa. Veja, estamos com um probleminha para transportar nossa carga. Vamos para Hotunda – falou ele coçando a barba e apontando para um dos borrões escuros ao longe que Ezequiel identificou como uma cidade. – Será que podemos contar com a sua ajuda? Se não tiver nenhuma atividade para a tarde...

            O ruivo olhou com certa desconfiança, mas não tinha mesmo nada melhor o que fazer e já estava disposto a ajudar gratuitamente, mas antes que pudesse se oferecer o grande ruivo acrescentou:

            – Vamos pagar, é claro. Duas moedas de bronze estão de bom tamanho para você?

            Ele olhou para o homem, depois para o velhinho de ombros caídos e os moleques de pé com o peso do corpo apoiado na carroça.

            – Moedas daqui? – perguntou meio que instintivamente. Claro, não fazia diferença.

            – Sim, moedas daqui, mas é claro. – e riu para os outros três.

            – Tudo bem!

            Ezequiel subiu na carroça e ficou ajudando os outros dois mais novos a manter a bagagem bamba no lugar, enquanto Giordan cantava, fazia piadas obscenas (das quais o velho e os meninos não economizavam na gargalhada) e perguntava coisas para as quais Ezequiel inventava respostas descaradamente. Disseram-lhe que andavam pelas planícies para evitar os saqueadores na estrada, mas vez ou outra precisavam parar por conta de uma pedra ou um buraco que não conseguiram ver antes por conta da grama alta. Aos poucos os traços nos telhados de Hotunda ficavam mais nítidos, e ele viu que a cidade mais parecia ter sido erguida sobre uma lona engelhada, e era bastante peculiar.

            Não eram morros, mas verdadeiras ondas, que iam de uma extremidade da cidade até a outra na mesma altura e numa trajetória elíptica. Antes da primeira onda, na borda da cidadela, uma estrada tangendo a cidade passava lado a lado com um córrego, vinda detrás das colinas à direita e sumindo atrás de mais colinas à esquerda, onde lá longe se erigiam montanhas cujos picos tocavam as nuvens (que só existiam em abundância ali, mas sobre a cidade o céu era limpo).


            Pontes curtas feitas de grandes paralelepípedos irregularmente fincados lado a lado cruzavam o rio dando acesso a Hotunda, do outro lado. Cada uma das cinco pontes era guarnecida por dois soldados em cada extremidade, e também dispunha de uma torre de observação. A fachada da cidade era de casebres bastante agradáveis aos olhos, geralmente com dois ou três andares, mas nenhum tinha quintal, e as ladeiras eram apertadas e cheias de gente. Algumas das casas tinham, ao invés de telhado, árvores de caule longo e muitos ramos curtos em sua extensão, e as raízes desciam pelas paredes, abundantes como se fossem uma peruca abraçando uma cabeça de tijolos e rejunte.

            As ondas que se seguiam à primeira eram mais altas e irregulares, elevadas nas pontas e afundadas no centro (ou o contrário), mas sempre mais alta que a onda anterior, formando uma cascata. A última delas tinha em seu ponto mais alto, centralizado, um palacete branco com quatro torres ao redor e um salão de janelas gigantescas no centro, bem alto e encimado por uma cúpula que incomodava os olhos de tão resplandecente que era.

            – Que casarão é aquele? – apontou Ezequiel, boquiaberto com tamanha beleza.

            – Ah, é a casa do governante da nossa cidade, Franco Mirtghal. Você não conhece? Pensei que tinha dito que morava aqui.

            – Ah, eu respondi aquilo porque estava com receio. Na verdade não sou daqui. – falou como se aquilo fosse a coisa mais natural, ainda desbravando com os olhos o que conseguia ver de Hotunda.

            Giordan olhou para os outros como se eles assimilassem aquela mentira ao mesmo tempo e não tivessem gostado.

            – Hotunda é uma cidade pequena, veja você, mas depois daquele palácio tem mais ondas descendo, e ao longo do rio tem mais cidades maiores. É como se fôssemos todos uma cidade só, mas só Hotunda tem as ondas.

            Giordan se adiantou até um dos guardas antes de cruzar a ponte de acesso e os dois conversaram por alguns minutos. O homem acenou com a cabeça para o outro verificar a carroça, o que ele fez com toquinhos desinteressados com o cabo da lança, dizendo que estava tudo certo, e todos passaram.

            Dentro da cidade, ela parecia um caldeirão a borbulhar de pessoas e sons. Gente na janela da varanda conversando, feiras com muitos jarros, hortaliças e animais estranhos pendendo descarnados. Em um canto, uma mulher velha e cheia de verrugas mexia vigorosamente um caldeirão enquanto duas outras jovens – muito belas, Ezequiel não deixou de observar – pareciam formigas num saco de doces, correndo de um lado para outro pegando pós e folhas estranhas para servir ao gosto da velha.

            Soldados passavam com seus elmos, espadas e mantos verdes a passos fortes certificando-se da ordem, e Ezequiel achou aquilo indescritivelmente fantástico. Subiram a primeira ladeira por uma rua apertada, e lá no alto deram de cara com outra carroça vindo do interior da cidade. Foi preciso uma manobra deveras apertada num beco transversal para permitir que eles prosseguissem.  As pessoas olhavam-nos com caras sisudas, condenando-os com as sobrancelhas apertadas umas contra as outras por andar ali com uma carroça.

            – As pessoas aqui não gostam de carroças, nem de quem anda com elas – falou Giordan – elas são grandes, lentas e as ruas aqui são apertadas demais, a maioria delas. Todo mundo anda com um daqueles ali, mas eu não gosto muito deles.

            Ele apontou para frente quando eles alcançaram o cume da primeira ondulação de Hotunda, e o que Ezequiel viu deixou-o boquiaberto. As casas desciam toda a encosta do morro do mesmo jeito que as que subiam, e lá embaixo um pequeno riacho dividia a primeira e a segunda onda, cruzado pelas mesmas pontes que davam acesso à cidade. Ele contemplou aquele paredão de casas e árvores que pareciam grudados com cola a uma parede lisa e totalmente vertical. Foi então que viu, como um comboio de formiguinhas trabalhando ordenadamente, as pessoas iam e vinham pelas ruas sobre veículos voadores que se assemelhavam um pouco a uma scooter, mas sem rodas, faróis ou retrovisores. Soltou um “ou!” de exclamação que fez os outros rirem.

            – O que é aquilo? – perguntou animado, com dezenas de manobras que pretendia executar já ganhando forma em sua mente antes mesmo de saber se poderia ou não usar um.

            – Planadores! Nunca viu um planador, criança?

            – Não até agora. Como faço pra conseguir um? É pago?

            Os outros não conseguiram prender a gargalhada.

            – Quem pagaria só pra andar num planador? Se você precisa de um, vai até um feiticeiro engenheiro e compra um. Eles não são tão caros de fazer, mas precisa da magia pra funcionar.

            Ezequiel correu o olho para Giordan à menção de “feiticeiro” e “magia”. Impossível!

            – Quer dizer que eles voam por magia? Não é... Ciência?

            – Deve ser ciência, mas tem magia. Eu não sei nada dessas coisas, filho – falou o outro entre goles de cerveja – Sou só um muambeiro, digo, comerciante. Tenho um primo de segundo grau, entretanto, que vai pra uma dessas escolas que ensina feitiçaria. Você não vai, eu presumo.

            – Não... – o rosto dele era só curiosidade e espanto. Olhou mais um pouco aquele burburinho de vozes, sons e imagens tão peculiares e distantes de sua realidade. Esse vai ser o melhor passeio no parque que eu já tive!

...

            Madeline andava por uma das milhões de vielas da cidade em ondas a ponto de desfalecer. A fome e falta de um bom sono chegavam ao limite do que o seu corpo poderia suportar. Sua visão girou em câmera lenta e escureceu, só dando tempo de apoiar a queda numa parede suja de lodo. Bateu com a parte parietal da cabeça e escorregou de costas para a parede imunda, num espacinho entre um grupo de barris que se amontoava no canto da mesma. Por pouco não caiu por cima deles, que eram muito mais pesados que ela.

            Ficou ali sentada por um bom tempo ouvindo as vozes distantes, cada vez mais abafadas, entrando pelos ouvidos e ecoando no vazio da sua cabeça. Os olhos mal se mantinham abertos, e uma lágrima começou a se formar no canto deles sem razão aparente. Madeline pensou no quão ruim era a sua vida agora, e nunca havia imaginado que um dia estaria faminta, suja e desmaiando encostada a uma parede podre tão longe de casa. Por que eu entrei nisso? Pela primeira vez pensar em Lumin não trazia conforto nenhum. Conforto era uma palavra quase desconhecida recentemente.

            Não soube dizer se estava sonhando ou alguém realmente a erguera pelo braço, tirando o livro de suas costas e carregando-a para longe dali.

...

            Depois de muito andar e abismar-se com o que vira naquela cidade (incluindo pessoas falando com gatos e soltando “poderes” pelas mãos), Ezequiel e os outros chegaram numa rua como poucas até então, mais larga e com uma série de locais para estacionar as carroças e os famosos planadores na frente das galerias. Quando estavam parados, eles continuavam suspensos sobre um feixe de luz que servia-lhes de âncora, para evitar furtos.

            Pararam de frente para uma galeria de três andares cujas bases eram todas de caibros grossos e escuros, e as paredes pintadas de azul cerúleo. Um longo corredor por onde trafegava um sem número de pessoas cortava a galeria como o buraco de uma fechadura. Tinha janelas cujas metades se abriam para fora, revelando figuras nada similares. Na da esquerda, dois homens conversavam fervorosamente enquanto tragavam seus cachimbos até o limite do que os pulmões permitiam. Acima deles, uma mulher numa roupa bastante vulgar observava as pessoas passando com um sorriso malicioso, e ele tirou os olhos imediatamente quando ela o encarou. Uma criança veio correndo bater um tapete na janela da direita, deixando cair poeira e sujeira em um homem gordo que passava por baixo. Ele olhou pra cima pronto a xingar, mas a pequena já desaparecera dentro da loja outra vez porque alguém gritou seu nome.

            Giordan parou ao lado do outro, presumindo que ele olhava para a placa na entrada.

            – Não sabe ler, né? Eu também não. – e disse isso com certo orgulho, que Ezequiel achou estranho. Só então reparou na placa. Pendia suspensa por três correntes à fachada de entrada, com um texto em baixo relevo num idioma que ele não compreendia. – Ajude os outros a trazer as coisas pra dentro – pediu ele com uma cotovelada no braço do garoto, desaparecendo na escuridão de onde brotavam pessoas no corredor.

            A felicidade de Ezequiel foi diminuindo gradativamente à medida que ajudava os outros dois rapazes a carregar as caixas, bolsas e baús para dentro, precisando desviar do tráfego intenso de compradores e carregadores (ele supôs que aquilo fosse um mercado). Apesar de não estar gostando do trabalho extra, continuava curioso, e isso compensava o desprazer de carregar coisas. As lojas ali dentro eram aconchegantes, de certa forma. Uma vendia partes de animais que ele jamais vira na vida. Outras exibiam caixas com uma luz brilhando no fundo e animais que Ezequiel tomou por uma variação de camarões brincando dentro. Outras vendiam quinquilharias tão estranhas quanto inúteis, mas pessoas muito bem vestidas paravam ali para comprá-las. Elas brilhavam amarelas como ouro, outra verdes e outras vermelhas.

            Quando acabaram de carregar tudo, o velhinho chamou Ezequiel para finalmente entrar na loja para a qual prestavam serviços. Até agora, haviam deixado tudo num cubículo sem cobertura entre uma loja e outra na galeria. Era escuro e úmido, contrastando com a iluminação abundante e acolhedora que vazava das lojas pintando o corredor de diversas tonalidades. Grudado à parede lateral externa da loja pendia uma escadaria precária de ferro descascado, e uma porta enferrujada estava entreaberta lá em cima. Giordan subia e descia levando tudo que Ezequiel e os outros dois garotos deixavam no cubículo.

            Antes de entrar na loja, Ezequiel observara pela vidraça que ela exibia muitas das quinquilharias estranhas que ele avistou nas outras, mas também muitos livros nas vitrines. Uns estavam abertos sob uma luz forte colocada sob a prateleira de cima, e outros pareciam emitir luz própria. Lá dentro, a loja se mostrava bem maior do que a pequena fachada vista de fora. Fileiras de prateleiras decoradas com objetos estranhos de engrenagens, linhas e esculturas folheados a ouro. Livros com rostos adormecidos na capa, tão grandes que pesavam como um saco de cimento, encimavam bancadas com outros livros menores por trás da vidraça embaixo. Ezequiel jurou ter visto um dos livros abrir o olho para espiá-lo, mas o medo não deixou continuar olhando para ter certeza. Deslocava-se com grande cuidado para não tocar em nada. Uma velhinha de longos cabelos brancos e olhos cinzentos que parecia ser a dona da loja veio oferecendo-lhe uma xícara de alguma bebida quente, que ele só tomou depois de ver os outros quatro também bebendo.

            Giordan e a velhinha – que tinha mais rugas no rosto do que qualquer um conseguiria contar – conversavam em voz baixa, e um homem sério e alto de manto cor de vinho vinha regularmente da parte e trás da loja por uma passagem coberta por uma cortina de pedrinhas vermelhas. Enquanto tentava espiar melhor, Ezequiel viu que atrás da cortina tinha uma escada e outra porta depois dela por onde entrava a luz do dia. O velhinho e os dois rapazes conversavam empolgados, e enquanto saciava sua curiosidade, Ezequiel alimentava suas conversas para evitar que o assunto se extinguisse e fatalmente chegasse a perguntas do tipo “de onde você vem?”, “quem são seus pais?” e “o que você está fazendo aqui?”.

            Ele escapou para o corredor da galeria e andou desconfiado até o cubículo com a escada. Passou um rabo de olho pela vidraça para ver que os outros continuavam tratando de seus assuntos sem reparar na sua ausência, e subiu a escada de ferro encolhendo os ombros a cada rangido que ela dava sob seus passos cuidadosos. Seus olhos demoraram a acostumar com o escuro quando olhava com dificuldade pela fresta da porta entreaberta, mas parecia silencioso lá dentro, então ele entrou.

            A bagagem que Giordan trouxe para cima estava amontoada à direita. Alguns baús estavam sem cadeados e os sacos meio abertos, como se alguém os tivesse aberto a todos para conferir. Ele correu lá para dar uma olhada, sempre atento caso alguém aparecesse à porta. Dentro dos sacos haviam peles secas, pós de diversas cores e alguns até brilhantes como glitter. Olhou mais um pouco pela sala, que era toda de madeira. Duas janelinhas de vidro podre de poeira deixavam passar uma luz tênue que vinha de fora. Uma segunda porta estava na parede oposta àquela pela qual ele entrara, ele supôs que essa levava à loja embaixo. Havia outras caixas mais à esquerda cobertas com lona, mesas e, sobre uma delas, um livro grande como os do piso de baixo da loja. Ele correu até ela e passou a mão pelas mesmas letras estranhas que não conseguia ler na entrada do prédio. Vou começar a estudar outro idioma, pensou ao sentir como era ruim ser analfabeto.

            Correu os dedos pelas letras em alto relevo e as quinas protegidas por algum metal que parecia diferente de todo metal que ele já tinha visto até então. Ergueu o livro para olhar o verso e desafivelar as alças que o mantinham fechado. Quando abriu, espantou-se e um calafrio percorreu o seu corpo inteiro, pois o livro inundou a sala com um vapor luminoso e um tilintar baixinho. Ezequiel fechou-o imediatamente, cessando aquela luz toda. Abriu de novo alguns centímetros perto do olho e esperou até que o vapor parasse e a luz diminuísse de intensidade, que não demorou a acontecer.

            Ainda estava com os olhos arregalados e a incredulidade esculpida no rosto quando correu os olhos por aquelas letras. As páginas do livro tinham anotações em todos os cantos, e uma letra desenhada que lembrava os manuscritos de clérigos da idade média: com figuras, anagramas, círculos e até cálculos em alguns pontos. As páginas eram velhas e frágeis, e até carcomidas por traças em alguns locais nas bordas. Folheou o livro com interesse ávido, admirado com a beleza das árvores ilustradas, montanhas, dragões, folhas, insetos, e até alguns veículos que remontavam à Matrix Revolution. Ezequiel imaginou-se pilotando um daqueles. Uma das máquinas era uma bolsa com oito patas, e um bonequinho mal desenhado fazia a mais variada sorte te atividades com ela (incluindo varrer o chão, salvar um gato de asas preso numa árvore, beber café, costurar e escrever duas cartas ao mesmo tempo).

            Voltou todas as páginas ao início, e o que percebeu deixou-o ainda mais animado: estava em português! Maravilha! Avançou para ver até onde estava em seu idioma, e ficou feliz de ver que era uma boa parte dele. Voltou para o começo de novo.

            “Aqui vos escreve Sart Merlin Le Fay,

            Protetor e tutor do príncipe Godric Vandertales,

            A ser um dia senhor supremo rei do

            Vasto e próspero Reino de Dragast,

            Um dos cinco do cinturão de...”

            – Tá brincando! – Exclamou no máximo de sua surpresa e surpreso por algo conseguir deixa-lo mais surpreso ainda naquele lugar tão surpreendente. Correu as folhas com a mão sôfrega e descuidada para ler mais adiante.

            “De posse dos dois potes de veneno de aracna,

            Estes devem ser despejados sobre o pó dos sonhos,

            Conseguido através daquele que conhece os Javas

            No topo da montanha Houart.

            Ajude o homem, e a gratidão do velho será

            O último ingrediente necessário para a poção.

            Lembrando! Que ela deve ser bebida

            Quando a lua estiver gorda e as estrelas

            Do cinturão em seu brilho máximo.”

            Passou os olhos por uma ilustração de uma aranha asquerosa de oito patas e dois braços que não tinha nada demais, exceto o humano desenhado ao lado dela e a linha tracejada que tangenciava sua cabeça e seus pés, sugerindo que a “aranha” tinha o cefalotórax do tamanho de cinco dele.

            Virou mais algumas páginas com nojo e medo até uma que mostrava uma bela mulher dançando numa colina cujos cabelos dançavam com a brisa. Tentou ler essa em voz alta.

            “Dos básicos –

            Feito todo o processo, basta apenas

            Unir as pontas dos dedos das mãos

            (Ezequiel uniu os dedos)

            E leva-los do topo esquerdo do alcance do braço

            (estendeu o braço até o alto...)

            Até o fundo direito esquerdo, onde jaz a espada do canhoto

            Passando pelo peito.”

            (... E desceu o braço passando pelo peito).

            Quase gritou quando, feito o movimento, uma lufada gelada continuou o caminho que suas mãos tinham traçado, solidificando e jogando por todo o lado pedrinhas de gelo que caíram no chão como bolas de gude. Olhando espantado o estrago que fizera, percebeu que a lufada de ar gelado atingira no rosto uma garota maltrapilha que se arrastava silenciosamente em sua direção. Ela tinha uma mordaça na boca e cordas nos pulsos e tornozelos. Se arrastava como uma minhoca enquanto ele não a havia percebido, mas agora apenas olhava com os olhos sem brilho e a cabeça pousada no chão. Parecia resignada. Ele olhou para os lados e ouviu passos subindo a escada apressados. Correu para baixo da mesa e se escondeu sob um pedaço grande de lona. Entraram Giordan, a velha e o homem sério de capa cor de vinho.

            – Ora, mas veja quem andou rastejando! – falou a velha, agarrando Madeline e pondo-a outra vez sentada perto das cargas. O homem de manto cor de vinho andou até a mesa e olhou o livro aberto. O coração de Ezequiel disparou ao ver que ele estava a cinquenta centímetros de si.

            – O livro estava aberto? – perguntou, mas os outros dois apenas deram de ombro. – Vamos levar ela nesse carregamento, Giordan. E esse livro é tão velho que deve valer muito só por isso. Vamos leva-lo também.

            Giordan apenas concordou, e Ezequiel foi tomado de pavor ao perceber que eles eram na verdade bandidos. Olhou para Madeline, que encarava o chão com uma expressão fúnebre no rosto magro e sujo. Ainda bem que ela não está olhando para mim, pensou. Sentiu pena dela.

            – Vou lá embaixo pedir praquele moleque estúpido ficar e nos ajudar no carregamento amanhã. Ele pode ser de alguma serventia. – falou o ruivo grandalhão, saindo da sala.

            – Soube que o rei está a caminho de Assunção. – falou o homem – A fiscalização por essas bandas vai estar mais pesada. Proponho que aumentemos o preço do transporte. Meus homens estão chegando amanhã antes da alvorada, devemos partir a primeiro raio do sol.

            – Eu só não quero isso na minha loja por muito tempo – respondeu a velha, esfregando as mãos – se quiser aumentar o preço, faça o que achar melhor. Só não perca negócio.

            O homem de manto vermelho fechou o livro e ficou olhando a capa por alguns instantes. Ele tinha o rosto severo, uma ruga entre as sobrancelhas, olhos esbugalhados e brincos em forma de losango pendendo das orelhas pontudas. Giordan entrou na sala outra vez.

            – Ele sumiu! – exclamou. – não está lá embaixo.

            – Como assim? – perguntou a velhinha. Giordan chamou os outros e eles saíram pela porta de acesso à loja. Ezequiel imediatamente saiu detrás da lona e olhou uma última vez para Madeline, que respondeu com um olhar mórbido e triste em sua direção. Ela não tinha forças para nada, mas ele pode jurar que, se pudesse falar alguma coisa, estaria suplicando por ajuda. Ele saiu pela mesma porta que entrou, descendo as escadas a passos rápidos, e quando estava saindo do espaço entre as lojas esbarrou com Giordan na esquina.

            – Onde esteve? – perguntou ele num tom acusatório, agarrando-lhe pelos ombros com as mãos de ferro.

            – Mijando! – respondeu tentando não parecer amedrontado. A velha e o homem de manto cor de vinho já estavam fora da loja também, com os outros três procurando por ele. Aproximaram-se quando Giordan o achou.

            – Ah, sim! – falou Giordan. – Temos outro negócio pra você, Ezequiel. Vamos levar esse mesmo carregamento amanhã, será que você pode pernoitar aqui e nos acompanhar na nossa jornada?

            Agora ele estava amedrontado, e tudo que queria era voltar pra casa.

            – Não posso... – atalhou – meus pais me esperam em casa, eu preciso voltar.

            – Ora, vamos! – insistiu a velha – É um trajeto curto, uma moedinha de prata a mais no seu pagamento, o que me diz? – parecia amigável, mas Ezequiel sabia que não era assim.

            – Giordan, eu... Não sou daqui. Preciso voltar. – se pegou dizendo, mesmo sem saber se era mesmo uma boa ideia.

            O homem de manto se aproximou dele.

            – Não se preocupe – falou, colocando uma mão em seu ombro – Teremos uma feiticeira conosco. Você pode ser mandado pra casa assim que nos ajudar, o que me diz? Ou pode sair agora, mas os arredores de Hotunda não são muito seguros quando a noite cai. – falou com uma sobrancelha erguida.

            A velhinha o agarrou pelo braço e arrastou pra dentro da loja outra vez, meneando com a cabeça e sorrindo seu riso de poucos dentes.

            Estou perdido!


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