Triste Destino escrita por Yuuho


Capítulo 4
Cap. 3 - Rejeição


Notas iniciais do capítulo

Desculpem um pouco pela demora. Estou de férias agora, poderei me dedicar ainda mais às minhas histórias.



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A cidade estava completamente devastada. Casas destruídas, cadáveres para todos os lados e a escuridão tomava conta de tudo. A Prontera que antes eu conhecia tão bem estava completamente dizimada.
Antes de tudo, eu precisava ver se minha mãe estaria a salvo. Fui em direção de minha casa, desviando do número de corpos jogados ao chão. Poucos tinham chances de ser salvos.


- Zealotus, me explica o que devo fazer para ressuscitar essas pessoas. - Minha voz estava trêmula, tanto pelo medo quanto pelo cheiro de gente morta que infiltrava-se em minhas narinas.


"É só tocar nos corpos e desejar transmitir energia a eles."


- Somente isso?

"É, mas não pode ser em todos de uma vez. Lembre-se que você é apenas uma iniciante, não pode ficar gastando tanta energia de uma vez. Além disso, você mesma não pode ficar indefesa. Lembre-se que você veio aqui para salvar a todos, e também tem gente viva por aí precisando da sua ajuda."

- Você tem razão. Mas eu vou ao menos ajudar estes que aparentemente estão em condição.

"Como você desejar, querida..."

Agachei-me primeiramente diante do corpo de uma criança. Felizmente, eu não a conhecia. Não porque "felizmente não é alguém que eu conheço que morreu". É só porque já era difícil demais olhar para todos aqueles cadáveres, quanto mais se fossem pessoas com quem eu costumava conviver. E se eu falhasse? Seria como se eu a tivesse matado duas vezes. E realmente não era um sentimento que eu gostaria de carregar.
Estendi minha mão trêmula para o corpo da criança, tocando seu braço. Fechei os olhos e me concentrei ao máximo para emitir a tal energia. Uma pequena luz se formou na palma da minha mão, e logo o corpo da menina absorveu-a. Abri os olhos, e vi seu corpo brilhar por alguns segundos, e voltar a normal.
Claramente a cor voltara ao rosto da criança, e seus ferimentos haviam desaparecido. O peito da menina subia e descia, num movimento coordenado de inspiração e expiração. Um alívio percorreu a minha espinha. Eu havia conseguido!

- Tudo parece estar bem...Mas, por que ela não acordou?

"Não se preocupe, querida. Isso é normal. Melhor não esperar. Pode levar horas..."

- Tá certo, então.

Durante o meu caminho até minha casa, repeti o mesmo gesto várias vezes, nos corpos que encontrava pelo caminho. Felizmente tive sucesso todas as vezes, mas já estava me sentindo um pouco tonta. Aparentemente, muita energia já tinha sido gasta.
Algumas das pessoas que ressuscitei eram conhecidos. O padeiro, o quintadeiro. Tinha uns jovens da minha escola, também. Pelo menos eles não acordaram a tempo de me ver naquele estado. Minha nova aparência.

Ao chegar a minha casa, fiquei aliviada ao ver que era uma das poucas que tinha permanecido praticamente intactas depois da invasão. Tirando por umas janelas quebradas.
Adentrei correndo, gritando pela minha mãe. Rezando para que ela estivesse bem.

- Yuuho? - Uma voz saiu da cozinha, seguida pela minha própria mãe, que logo apareceu. Ela olhava para mim confusa. Pensei até ter visto um brilho de medo em seu olhar.

- Mããe! - Sem pensar duas vezes, e ignorando o jeito que ela me olhava, saí correndo para abraçá-la, mas ela se afastou. Olhei-a perplexa.

- Quem é você?! - Ela perguntou, agora o brilho de medo que eu havia visto em seu olhar tomando conta de todo o seu rosto.

- Calma, mãe, sou eu. Yuuho.

- Minha...Filha...? O que fizeram o você?

- Ninguém fez nada comigo, não. Eu mesma fiz. Para salvar a todos. - Um meio sorriso formou-se em meu rosto. Era tudo o que eu podia dar, já que a outra metade de minha face estava coberta pela máscara. - Agora não teremos mais que sofrer por causa da guerra!

- mas o que você tinha na cabeça, menina?! Você se tornou um monstro! Um demônio! - Enquanto dizia isso, minha mãe se afastava, a pequenos passos, de mim. Ela não parecia mais me enxergar. Ela não me via por trás daquela minha nova aparência. Ela parecia...Estar com nojo de mim.

- Calma, mãe, eu só fiz isso pelo bem de todos!

- Minha...Filha... - Pude notar a resistência dela ao falar isso - não vês que ao se tornar um demônio você está se igualando aos nossos inimigos? Afinal, são todos uns bárbaros sem coração! Como você fez isso?!

- Mãe, não se preocupe, eu nunca iria me igular a eles! Eu fiz isso exatamente para DERROTÁ-LOS. A senhora vai ver. Eu fiz um pacto com a demônio, a Zealotus...

- Não! A tal...?

- Sim, mãe, ela mesma! Ela é real, e está dentro de mim agora. É por isso que me tornei o que a senhora está vendo. - Tentei me aproximar mais uma vez dela, ansiosa para mostrar que eu ainda era a sua garotinha. Sua filha de sempre. Mas mais uma vez ela se afastou, encostando-se em uma parede. - Eu ainda sou a mesma pessoa por dentro, só não por fora...

- Isso não é possível... - Ela escorregou pela parede em que estava encostada, até ficar de joelhos no chão. Levou a mão ao rosto, e eu pude ver o brilho de lágrimas saindo por entre seus dedos - Minha própria filha...

- O que há de errado, mamãe? Eu fiz isso pelo bem do nosso povo. O povo que nosso pai morreu protegendo!

- Não me venha falar de Laos! Ele nunca faria o que VOCÊ fez! Ele preferia ter morrido, o que aconteceu, a se rebaixar dessa forma...

- Mãe...Mas eu ainda sou eu! Quer dizer, Yuuho. Sua filha. Sua única filha.

- NÃO ME CHAME MAIS DE MÃE! VOCÊ NÃO É A MINHA FILHA! - Ela levantou-se, e o brilho de medo que eu vira em seu olhar agora tranformara-se em raiva. Em repugnância. - MINHA FILHA MORREU NO MOMENTO EM QUE DECIDIU SE UNIR A UM DEMÔNIO!

- M-mas...Mãe...

- VÁ EMBORA, SEU MONSTRO!

Essas palavras me atingiram de tal forma, que eu não sabia como reagir. Desolada, resolvi obedecer às duras palavras de minha mãe. Antes de sair de casa, pude ouvir ela dizendo, entre as lágrimas que novamente a dominavam "Antes Laos, e agora Yuuho...Agora estou sozinha...". Quase que eu voltava para abraçá-la, dizer que estava tudo bem, que a sua garotinha ainda morava dentro de mim. Mas não adiantaria. Abaixei a cabeça e saí da casa, em direção ao nada.
Não conseguia chorar. Parecia que, ao me transfomar, minhas glândulas lacrimais foram embora com meu antigo corpo. Por mais que quisesse, por mais que tentasse, eu não conseguia derramar uma lágrima sequer. E isso me deprimia ainda mais.

"Demônios não choram, querida..."

- Talvez seja por isso que sejam chamados de Demônios, afinal.

"Eu não disse que seria fácil, também..."

- Não é justo. Primeiro a minha melhor amiga, agora a minha mãe!

"Vai desistir de ajudá-los?"

- Não. Eles são a minha família, independente do que achem de mim.

"Bom, você é quem sabe...Acho que você não quer saber a minha opinião."

- Não, acho que até já sei. Mas eu devo ser forte. Não fiz esse pacto para desistir agora.

Fui em direção ao local onde havia deixado o corpo de Rika, minha ex-melhor amiga. Procurava afungentar ao máximo os pensamentos que dominavam a minha cabeça. Felizmente, Zealotus optou por ficar calada, o que facilitava um pouco.
Encontrei Rika no centro da Praça de Prontera, exatamente onde a deixara. Encarei seu rosto sem vida. O corpo já estava começando a se decompor, mas ainda havia grandes chances de conseguir ressuscitá-la. Fechei os olhos e concentrei-me em passar-lhe energia. Abri os olhos. Nada. A face de Rika permanecia pálida. Mas eu não iria desistir. Fechei os olhos novamente, concentrando-me ainda mais. Minha cabeça doía, e a tontura voltara.

"Não adianta, querida. Vai ver realmente afetou algum órgão vital..."

- Não pode ser. Rika tem de viver. - Dizendo isso, abri a bolsa que carregava comigo desde que fui a Glast Heim, e dela puxei um vidro de poção azul. Abri a tampa e, em uma virada, engoli todo o conteúdo dele. Depois de ter jogado o vidro para o lado, pressionei minhas duas mãos no peito de Rika, como se fosse fazer uma massagem cardíaca. Concentrando-me, usei meu antigo poder de Cura. Reconfigurei todo o corpo de Rika, o ferimento antes feito pela lança agora havia desaparecido.

"Hum...Boa idéia..."

Após ter feito isso, desta vez me concentrei novamente na transmissão de energia. A luz que surgira da palma de minha mão foi absorvida pelo corpo de Rika, como acontecera da primeira vez que tentara fazer aquilo. Em pouco tempo, a cor voltou ao seu rosto e o seu diafragma voltou a movimentar-se. Mal pude acreditar ao ouvir a respiração dela.
Se eu pudesse chorar, era o que estaria fazendo neste momento.
Desta vez, eu resolvi esperar até Rika acordar. Me sentia fraca, zonza, mas não deixaria de verificar se realmente dera certo. Em um curto espaço de tempo, seus olhos abriram lentamente, como se ela estivesse acordando de um sono profundo. Logo eles se abriram por completo, e ela me encarou, confusa.

- M-mas...O que eu estou fazendo aqui? - Disse Rika levantando-se, enquanto esfregava a mão na parte de trás da cabeça. - Q...Quem é v...Yuuho?!

- Rika, que bom que você está bem! - Esquecendo de tudo que acontecera entre nós antes, pulei em cima dela, abraçando-a. Eu realmente estava feliz por ter dado tudo certo. Porém, Rika me afastou. Aparentemente ela não esquecera.

- Mas o que diabos você se tornou?

- Ah, Rika, eu fiz isso por...

- Que aberração!

- Rika, isso não é algo legal de se dizer.

- Mas é isso que você é!

Por um momento eu senti meu peito queimar de raiva. Quem ela pensa que é? Eu havia salvado a vida dela. Se não fosse por mim, ela estaria morta. Mas ela ainda insiste em querer me humilhar. Desta vez, a ficha realmente caiu. A Rika que eu conhecia antes não existe mais.
Eu sabia que minha vida iria mudar ao me unir à demônio. Eu sabia que eu nunca mais iria ser a mesma. Mas eu também achava que eu iria ser reconhecida , que as pessoas que gostavam de mim não iriam se importar com a minha nova aparência e iriam me aceitar. Porque eu fiz tudo isso por elas. Mas nessa parte eu me enganei feio.
Mas não era hora para arrependimentos. Eu ainda tinha muita coisa a fazer, e não podia mais perder tempo em uma discussão sem causa com a Rika.

- Você tá bem, né? Ótimo. Vou indo agora. - Disse isso já me levantando, e preparando-me para ir atrás de nossas tropas.

- Aonde você vai?

- Ao contrário de você, eu vou fazer algo útil por nossa cidade. Ah, de nada.

- Pelo quê?

- Por ter salvado a sua vida.

- Ah, sim. Mas você ainda não me disse como ficou assim.

- Acho que não te devo explicações, Rika.

- Oras, e não é mesmo que você mudou?! Onde está a doce e meiga Yuuho que eu conhecia? Foi embora assim como a sua antiga aparência? Você realmente se tornou um monstro.

Eu juro. Quase que eu dava um murro na cara dela. Naquela cara cínica e ridícula dela. De alguma forma, eu sentia que meus sentimentos estavam mais à flor da pele do que nunca. Eu mal podia controlar as minhas emoções.

"Dê um jeito nessa fedelha. Ela não merecia ter sua vida de volta."

- Ah, então é você que tá me fazendo senti essa raiva toda? - Falei isso em voz alta, me referindo à demônio. Rika me olhou como se eu fosse maluca. Afinal, eu estava meio que falando sozinha. Mas é só porque ela não podia ouvir as vozes na minha cabeça.

"Não, querida. Você que está sentindo isso. Eu apenas estou valorizando algo que você tinha mas que não considerava."

- Bom, eu não preciso disso. Já tenho coisas demais com que me preocupar.

- Você é louca! - Ouvi a voz de Rika gritando para mim. - Você pirou de vez, Yuuho. Acho que você não superou totalmente a morte do seu pai.

- Não fale do meu pai, Rika. E eu não estou louca.

- É claro que sim! Pirou na batatinha. Você é maluca. - O tom de deboche de Rika me machucava. Ela conseguia me atingir mais do que qualquer coisa que já poderia ter me machucado durante a minha vida. Que agora será bem curta.

- Você sabe o que é isso? Você tem alguma idéia do que eu PASSEI para conseguir devolver-lhe a vida? Acho que não. Passar bem. - Dizendo isso, eu saí andando, ignorando os gritos contínuos de deboche de minha ex-melhor-amiga. Por um momento, eu senti um pingo de arrependimento. Coisa pouca. Mas o suficiente para me fazer querer voltar e pegar de volta toda aquela energia que eu me sacrificara para transmitir a ela.
Mas eu ainda era humana, e consegui me controlar. Por pouco.
Já vi que ser meio-humana e meio-demônio vai ser beeem mais complicado do que parece.


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