Triste Destino escrita por Yuuho


Capítulo 3
Cap. 2 - O Pacto




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Entrada de Glast Heim. Um lugar onde não faz diferença se o sol nasce ou não, pois lá tudo é escuridão. Um lugar sem vida, onde qualquer ser vivo pensaria mais de duas vezes antes de pisar lá. E muitas vezes desistiam.
Eu podia sentir minhas pernas tremerem de medo, mas não deixaria que aquilo me impedisse. Minha primeira atitude foi usar a Chama Reveladora, por ser um poder que detecta oponentes escondidos - ou seja, fantasmas - e ainda causa um dano sagrado a eles. Eu não queria ser pega de surpresa. Depois apliquei em mim mesma o poder de aumentar a agilidade. Queria logo fazer o que tinha para fazer e ir embora.

Glast Heim é conhecido como um local amaldiçoado. Há um muro percorrendo todo o seu perímetro. Quando você o adentra, se depara com túmulos e mais túmulos. Sepulturas e criptas. Era um cemitério, mas as coisas ali não estavam exatamente mortas. Ao centro de Glast Heim, havia um castelo. Era em seu subsolo, sabe-se lá que andar, que eu iria encontrar o que estava procurando. Só precisava tomar cuidado...

Atravessei aquela floresta de sepulturas a passo rápido e alcancei o castelo, adentrando-o. Tudo bem, até ali não tinha encontrado nada ainda. Bom sinal. Dentro do castelo, caminhava cautelosamente, quando, de longe, avistei um lençol flutuante. Baseado em meus conhecimentos, pude reconhecer aquele monstro como sendo um Sussurro. Se ele estava visível para mim, quer dizer que ele não me notou. Aproveitei a chance para usar o meu poder Luz Divina, acabando com ele. Isso! Porém, cantei vitória cedo demais. Mais três Sussurros apareceram, percebendo que eu estava ali. Fui tomada pelo pânico, mas consegui me controlar. O meu coração batia acelerado. Usando uma de minhas novas habilidades, conhecida como Kirye Eleyson, consegui criar um escudo ao meu redor para me proteger do ataque daqueles fantasmas. Usando novamente o Luz Divina, consegui derrotá-los.


 Era incrível o que eu podia fazer, agora que tinha me tornado Sumo-Sacerdotisa Quando era Noviça me sentia uma inútil. Tive muito trabalho para conseguir me tornar uma Sacerdotisa. Olhando para trás, fico imaginando como eu tive paciência para chegar onde cheguei. Era muita força de vontade mesmo...
Encontrei uma escada, caída aos pedaços. Bom, tudo ali dentro era caído aos pedaços, na verdade. Era como um castelo medieval, só que mal-assombrado. Desci as escadas. Eu sabia que a Zealotus estaria na prisão subterrânea, só teria que saber exatamente onde. Tomei uma poção azul que comprei no caminho para cá, para me precaver. Foi aí que fui surpreendida.


Senti um suspiro forte em minha nuca. Relutantemente me virei. Era um Cavaleiro do Abismo montado em seu cavalo fantasma. Não pensei duas vezes: dei um grito e saí correndo. Porém, o Cavaleiro me alcançou rapidamente. Com sua lança, espetou minha roupa e me levantou. Lá estava eu, parada no ar enquanto ele parecia estar planejando o que fazer comigo. Afinal, não é sempre que aparece uma menina tão jovem, bonita e VIVA por ali.


Resolvi aproveitar que o Cavaleiro estava distraído e peguei minha arma, uma Maça de Guerra, enfeiticei-a e taquei na cabeça do cavalo. O cavalo relinchou e se ergueu, pondo-se sobre as duas patas traseiras. O Cavaleiro caiu e, conseqüentemente, eu também. Aproveitei para sair correndo, conseguindo desta vez despistá-lo.


Me escondi atrás de uma parede, e, quando olhei para trás, avistei outra escada. Resolvi arriscar. Talvez aquela pudesse me levar até a prisão.
Chegando ao final das escadas, pude ver claramente que tinha acertado. Porém, estava perdida. Aquela prisão era um labirinto!


Andei, andei e andei. Eram inúmeras curvas e becos. Não sabia por onde estava indo. O pensamento de que eu provavelmente nunca mais iria conseguir sair dali já estava passando pela minha cabeça, e eu estava quase arrependida de ter ido até ali. Leia-se: quase.


- Eu posso ajudar. - Uma voz fina e tranqüila chamou-me por trás. Eu travei, como quando o Cavaleiro do Abismo me encontrou. Fui virando-me lentamente, e dei-me de cara com uma moça, com aparência de adolescente, com cabelos e olhos azuis. Ela trajava uma roupa de empregada e segurava uma vassoura, com a qual varria o chão freneticamente. Olhei-a desconfiada. Uma adolescente dentro de um castelo mal-assombrado querendo me oferecer ajuda não me parecia boa coisa. Ou talvez ela estivesse na minha situação.

- Calma, eu sou amiga.

- Você também está perdida?

- Ah, não, senhorita. Que idéia! Sou mais um monstro sem vida que habita nestas profundezas...


- Monstro? Você? Mas... Você se parece tanto comigo!


- É aí que se engana. Como você, eu já posso ter sido. Mas agora, sou mais um dos que assombram por aqui...


– E por que pretende me ajudar?


- Posso ser um monstro, mas não sou sem coração! Mesmo que ele não bata mais... Me chamo Alice, aliás. O que procuras?


- Eu sou Yuuho Kiseki, e busco a demônio Zealotus. - Pronunciei estas palavras tentando passar a maior segurança possível, mas o nome da demônio ainda soou um pouco tremido. A expressão de surpresa da Alice foi momentânea, e logo ela recuperou o tom sério, me pergutando:


- A senhorita está certa disto?
- Sim.

-Por causa da lenda?


- Exatamente. Só que eu não sei nem como ela se parece. Tô perdida aqui.


- Perdão. Não posso ir contigo atrás dela, mas posso descrevê-la. Primeiro, ela não é tão demônio quando você deve imaginar. Ela, como eu, parece muito com um humano. A diferença é que tem orelhas pontudas e usa uma máscara que cobre metade do rosto, para esconder seu lado demoníaco.


- Jura? Eu nunca iria adivinhar...


- A senhorita deve realmente estar muito motivada para vir às profundezas de Glast Heim atrás dela. Espero que saiba no que está se metendo, moça. - A Alice deu uma pausa, fechando os olhos. Abriu-os logo em seguida, olhando em direção a um caminho. - Vá por aquela direção. Boa sorte.


- Espera, o que quer di... Alice? Alice? - Ela desapareceu do nada! Fiquei meio em dúvida se deveria seguir as instruções daquela empregada ou não. Afinal, poderia ser apenas uma armadilha. Porém, eu estava perdida, então pelo menos uma direção - mesmo que fosse enganosa - poderia me ajudar a me encontrar melhor. Assim, decidi seguir as instruções dadas.

O caminho era direto, sem bifurações ou curvas. Ao final, cheguei a uma câmara suja, com água escorrendo das paredes e grades de metal enferrujadas. No meio desta câmara, havia uma grande e velha poltrona, de costas para a entrada. Cautelosamente, aproximei-me.


- O que deseja?

Uma voz profunda e melancólica adentrou os meus ouvidos. Era o único som audível naquele espaço, e o silêncio que se deu após essa pergunta foi tão absoluto que um frio percorreu-me a espinha. Meu sistema nervoso alertava-me, e meus instintos de sobrevivência me diziam que eu deveria ir embora agora.

Mas é claro que eu não iria.


- Ah... Senhorita... Não!...Senhora, eu só queria...


- Não enrole. - A dona da voz levantou-se da poltrona velha e pôs-se à minha frente. Zealotus realmente era muito diferente do que eu imaginava. Tinha uma aparência humana muito bonita, com longos cabelos azuis, olhos arroxeados e um corpo de dar inveja. A tal máscara ocupava o lado direito de seu rosto. Porém, notava-se a velhice em seu rosto e corpo, e o olhar que indicava solidão. - O que quer?


Resolvi tomar coragem e respirei fundo.


- Eu vim por causa da lenda! Preciso da sua ajuda!


- Impossível.


- Mas, por quê?...A lenda não é verdadeira?


- Não é isso. Todos que vieram atrás de mim recusaram o que propus, então desisti.


- E o que era?


- Vocês humanos são egoístas demais. Chegam dizendo que querem os meus poderes para ajudar aos outros, mas não aceitam o sacrifício. Acham que podem conseguir tudo o que querem sem ter que arcar com as conseqüências.


- S-Sacrifício?


- Sim. Quem quiser ser dono dos meus poderes tem que ceder de metade de sua alma.


- Mas... Para quê?


- Para que a minha alma habite o espaço vazio deixado pela metade da alma cedida.


- O...O quê? - Eu sabia que teria que pagar por um preço, mas não tinha idéia de que teria alguma coisa a ver com o meu interior.

- Exatamente. Você acha mesmo que eu quero ajudar reles humanos como vocês só porque sou boazinha? Rá, rá! Eu só quero me livrar deste corpo velho e sujo. Mas não se preocupe, você terá total controle do seu corpo até morrer. Quando você morrer, eu assumirei o controle.


- Mas...Você me dará total liberdade para usar de seus poderes?


- É claro! Tornaremo-nos uma só. É como se você passasse a ter dupla personalidade, sendo que eu não vou ser a tal personalidade que tenta assumir o poder do corpo a qualquer custo.


- Mas...se você vai perder controle do corpo, no que este pacto servirá para você?


- Como eu já disse, quando você morrer eu assumirei o controle do teu corpo.

- Mas...E seu eu morrer já velha? Você deixará este corpo que, apesar de velho, está em ótimas condições para se apossar de um corpo que está quase sem função?   


- Lembre-se que você irá se livrar de metade da tua alma. Não viverá tanto assim.


- Ah, certo... - Inimaginável. Ela estava me dando permissão para total uso de seus poderes. Com eles, eu poderia salvar Prontera! E minha família! Talvez, até mesmo, poderia salvar a Rika. Nada poderia ser tarde demais para ela.


- E também, já vivi muito tempo sozinha. Quero me livrar desta solidão. Dentro de você, pelo menos terei com quem conversar.


-Tudo bem... Eu aceito.


- Tem certeza disso?


- Sim. - Mais uma vez, minha voz saiu tremida. Porém, isso não indicava que eu estava pensando em voltar atrás. Eu queria aquilo, eu precisava. E eu ia ter.          
- Incrível! Pode me dizer o que a motiva tanto a se sacrificar?

- Eu quero ajudar o meu povo que está sofrendo muito com uma guerra que já deveria ter acabado faz tempo.


- Compreendo...Muito intrigante.

- Mais uma pergunta.

- Sim?

- Com seu poder, sou capaz de ressuscitar alguém?

- É claro. Mas só se o corpo desta pessoa estiver inteiro.

- Mas e se...Uma lâmina o perfurou?


- Se não tiver danificado nenhum órgão vital, pode sim. Ainda mais com os teus poderes. Uma Sumo-Sacerdotisa já tem os poderes para ressuscitar alguém, acredito que você saiba.


- É, mas eu preciso de Gema Azul. É um artigo muito raro, caro...Difícil de ser encontrado. E eu não tenho tempo no momento de ir atrás dele.


- Então. Eu serei tua Gema Azul, e ainda intensificarei o teu poder.


- Impressionante.


- Então, está pronta?


Respirei fundo mais uma vez. Papai...Espero que esteja torcendo por mim.

- Sim, estou.


- Então dê-me suas mãos. Repita estas palavras depois de mim.


Estendi minhas mãos para a demônio, fechando os meus olhos, apertados. Minha vida como a conhecia acabaria em poucos segundos.


A Zealotus começou a recitar palavras de significados desconhecidos, mas eu não tive dificuldade de proferí-las. Senti um calor emanar do meu peito, ao mesmo tempo que as partes extremas do meu corpo começavam a se esfriar, aumentando cada vez mais. Uma luz muito forte nos arrodeava, tão forte que eu conseguia vê-la mesmo com os olhos fechados.


O calor que eu sentia em meu peito se esvaziou, e sobrou apenas o vazio. Porém, este vazio foi novamente preenchido. E eu conseguia sentir novamente o calor, só que mais intenso, mais forte.


Conseguia sentir um enorme poder percorrer as minhas veias, artérias. Meu cérebro parecia que ia explodir. De alguma forma, meu corpo se alterou, eu pude sentí-lo mudar.


As mãos que seguravam as minhas me puxaram para baixo, me fazendo abrir os olhos. O corpo da Zealotus caiu ao chão, inerte.


Olhei para as minhas mãos. Estas vestiam luvas que iam até o cotovelo. A direita era de um vermelho, com uma pulseira de espinhos no pulso. A esquerda era marrom, com a mesma pulseira. Meu vestido, que me fizera tão feliz ao vesti-lo mais cedo, sumira. Minhas pernas estavam despidas, mas não sentia frio. Fui à uma das poças d'água que tinham na câmara e olhei-me. Meu cabelo clareara e meus olhos escureceram. Minhas orelhas, antes bem redondas, agora estavam pontudas e tinham uma argola pendurada. Uma máscara cobria o lado direito do meu rosto, com a aparência de um demônio, com dois chifres saindo dela e dentes saindo da boca. A mesma máscara que a Zealotus usava. Trajava um tipo de maiô bem sensual, com um decote que ia até debaixo do umbigo. Este maiô era de um lado vermelho, o direito, e outro lado marrom. Usava botas também das mesmas cores, de salto, que iam até abaixo do joelho. Em minhas mãos, um chicote balançava-se.


"Gostou...?"

- Tá meio sinistro, mas...

"Bom, eu não falei que você iria sair fisicamente ilesa..."

- É verdade. Eu esqueci de perguntar este detalhe.

"Agora, vá...você não tem tempo a perder, não é mesmo...?"


- Mas, como vou?

"Use de meus poderes, querida...Concentre-se”



Sem saber exatamente como agir, fechei meus olhos e simplesmente imaginei a minha cidade natal. Quando abri os olhos, estava de volta a Prontera. Aquilo estava um caos.


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