Passei a noite ao seu lado e a defendi de dois anjos caídos. Logo quando estava indo para a escola a acompanhei por trás.

–Lion?- Disse ela baixinho tentando me chamar.

–Esta tentando me chamar?- Apareci de repente e ela se assustou.

–Não aparece de repente desse jeito, que coisa!

Havia algumas pessoas no ponto de ônibus onde estávamos passando, elas ficaram olhando estranho para Jessica.

–Só uma coisa, nesse momento só você esta me vendo.- Disse em seu ouvido.

–Quer dizer que as pessoas estavam achando que eu era uma doida falando sozinha?

Um menino passou olhando estranho para ela.

–Ainda acham.- Vi que ela ficou com vergonha pois estava vermelha.- Dormiu bem?- Ela olhou rapidamente para mim mas não me respondeu.- O que foi?- Novamente não obtive reposta. Ela tirou seu celular do bolso e me escreveu uma mensagem que dizia “Não quero parecer uma doida falando sozinha”. Me concentrei nas pessoas que olhavam para nós naquele momento. Por um instante, em menos de um segundo elas desviaram suas atenções para outros lugares e me transformei em humano.- Pode falar comigo agora, eu estou em forma humana.

–Como conseguiu com tantas pessoas?

–Por um instante elas tem que se distrair.

Nesse momento um garoto esbarrou em mim.

–Olha por onde anda seu idiota!- Disse ele me mostrando seu dedo do meio.

–Pois saiba que Deus não esta se agradando de seus atos, mas sei que se você pedir misericórdia para ele, de coração, seus pecados serão perdoados.

Jessica me puxou levemente pelo braço e me olhou como quem diz “para com isso”.O garoto me olhou como se eu fosse um estranho.

–Você é o que, hein? Pastor?

Ele se virou e saiu.De repente, um sentimento estranho me veio, eu fiquei com vontade chorar e aquelas palavras que o menino havia me dito, ficaram latejando na minha cabeça.Me senti humilhado, triste e como se ele tivesse enfiado um estaca em meu peito.Parei por um momento.

–O que foi?- Me perguntou Jessica.

–Depois que o menino me disse aquilo e fez aquele gesto, comecei a me sentir estranho, como se ele tivesse pisado em mim.

Ela se aproximou e abriu um sorrisinho.

–Você esta se sentindo ofendido, é assim mesmo logo passa, mas não vai chorar, hein?

–Quem esta chorando aqui?- Falei, mas confesso que sentia meus olhos molhados.Ela se virou e continuou a andar, eu a segui, remoendo aquilo tudo.

–Isso que eu passei foi um sentimento?- Perguntei.

–Claro que sim, como você não sabe?

–Quando estou em forma espiritual não sinto nada, sou neutro.

–Todos são assim?

–Sim, só vocês humanos tem sentimentos e emoções.

Ela ergueu as sobrancelhas. Quando estávamos perto da escola, resolvi sair do estado humano para que ninguém perguntasse nada a ela sobre quem era eu.

–Oi Amanda.- Disse Jessica a sua amiga.

–Oi Jess.

–Lembra daquele garoto ruivo que eu via?- Perguntou ela a sua amiga que acenou com a cabeça.

–Isso é um segredo e eu estou contando com você.- Sussurrei em seu ouvido.

–Ele esta aqui, esse é o Lion, ele... mora na minha rua.

–Quem?

–Esse aqui.- Jessica colocou a mão em meu ombro mas ela me ultrapassou.

–Ela não pode me ver, já voltei a ser anjo.

Jessica me olhou como se fosse me matar.

–Oi amigo imaginário leão da Jessica, é um prazer te conhecer!- Disse Amanda apertando a mão do nada. Jessica não disse mais nada, apenas entrou e deixou sua amiga lá fora. Olhei em volta, onde os outros anjos me observavam, inclusive Adnanrefh e Ataner. Todos sabiam quais eram os riscos da minha exposição e me olhavam como se já tivessem me perdido. Apenas me virei e ignorei seus olhares.

Havia passado duas aulas. Não queria ficar, mas Jessica insistiu persistentemente. Conversávamos por meio de escrita, Jessica escrevia uma coisa eu lia e depois guiava a mão dela para escrever outra. Dei a oportunidade para que ela me fizesse perguntas, e como eu ja esperava Jéssica aproveitou com muito gosto.

–Como você fica assim, sentado no ar?

–Apenas fico assim.

–Queria ver suas asas, saber como é.

–Você só conseguiria ver minhas asas se alguém as separassem de mim e nossas penas não são fáceis de cair.

–O que vocês podem fazer? Quero saber do que são capazes.

–Não vou falar tudo, podemos falar qualquer língua, entrar em sonhos, ler qualquer coisa...- Então do outro lado da janela vi Ataner me chamar.- Tenho que ir.- Disse e então fui para um esconderijo, um celeiro quase abandonado.

–Por que esta fazendo isso?- Me perguntou Ataner.

–Porque eu queria saber como é.

–Você sabe que os riscos de cair são enormes, sem dizer que é arriscado contar tudo para a garota.

–Ela é confiável e eu sei até onde pode ser contado.Tentarei tomar cuidado.

–Também ouvi essas palavras saírem das bocas de Siat, Anaul, anaibafh e outros.

–Mas eu aprendi com eles e não vou cometer seus mesmos erros.

Ela parou e pensou.

–Muito trabalho?

–Demais.

–Uma pessoa falou o que disse.

–E?

–Não sei se te conto.

–Não irei contar a ela.

–A ultima nefilin disse que os estão recrutando quase que obrigatoriamente.

–O que!?

–Eles estão negando seus anjos da guarda e se juntando com os caídos.

–Mas já sabem quais os planos deles?

–Ainda não, ninguém quer contar eles preferem morrer.

–O que Adnanrefh disse sobre isso.

–Disse que vamos ter outra guerra.