A Mortal, Filha De Dois Deuses. escrita por Amortecência


Capítulo 6
Recebo A Benção.




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Acordei no chalé de Poseidon. Fiquei olhando a parte de cima do beliche e ouvindo o som fraco das ondas ao longe. E, de alguma forma, aquilo não me reconfortou. Eu não queria estar ali. Parecia que ali a ausência das pessoas que eu mais amava estava ainda maior – se é que isso é possível. Ecos dos momentos que já havia passado nesse chalé com minha família ricocheteavam em minha mente.

Neste momento me senti completamente deslocada; quando eu era pequena e não tinha herdado nenhum poder podia ficar em qualquer chalé. Eu era só a filha de dois semideuses. Mas agora não. Agora eu sou a filha de dois semideuses que herdou “algo” de seus dois avós divinos. Não havia um lugar correto para mim. Eu não me encaixava em lugar algum. E agora isso nem importava de verdade. Porque, hoje de manhã, serei nomeada a capitã de uma missão suicida.

Fiquei mais um tempo lá, até reunir coragem e fui me trocar. Só aí fui olhar o relógio. Droga! Ainda eram seis horas da manhã! A trombeta só soava as nove. Ia ter que esperar mais um pouco.

Sentei no beliche, mas a TDAH não deixou eu ficar quieta por muito tempo, então saí andando pelo quarto. Fui até a outra extremidade do quarto. Em uma parede estava um espelho lindo: a moldura era de bronze com desenhos em relevo de batalhas. Olhando mais de perto percebi de que batalha se tratava, e não era só uma. Eram várias. As várias batalhas de meu pai e minha mãe. Senti um aperto no coração.

Olhei-me no espelho. Meus cabelos eram muito escuros. Mais que o de meu pai. Mais que o de qualquer pessoa que eu já conhecera. Meus lábios eram carnudos e rosados. E meus olhos estavam verdes, por causa da luz do Sol indireta que entrava pela janela. Foi por isso que eu recebera aquele apelido: Helena Caleidoscópio. Meus olhos mudavam de cor conforme a luz. No escuro ou em luzes artificiais eles eram cinzentos. Quando eu recebia luz do Sol diretamente no rosto eles eram azuis, e com a luz indireta ficavam como os de meu pai: verdes. Odiava meus olhos pelo fato de ser motivo de piadas. Mas meu pai e minha mãe diziam que era a parte mais bonita em mim.

TOC, TOC, TOC!

Batidas a porta. Abri. Nunca estive tão feliz ao fazer isso. Do outro lado esperava meu conforto: Tio Grover e Tia Juníper. Corri para abraça–los. Sem perceber, as lágrimas já brotavam de meu rosto. Ele também estava chorando.

– De todas as vezes que eles ficaram em perigo, sumidos, perdidos, etc., essa foi a pior de todas. Porque nós sabemos que eles foram capturados. Que não é por causa de uma missão. Que não é porque ele está em uma ilha se recuperando ou em um acampamento romano. – E ai nós desatamos a chorar.

– Eles vão ficar bem, não vão? Eles sempre dão um jeito. Por favor, me diga que sim. – eu disse, com a voz tremula.

Não houve resposta. Ambos sabíamos que dessa vez era realmente a pior. Eles haviam sido capturados por uma deusa. E uma das deusas mais malignas.

– Bem, mocinha – disse ele ao fim de um longo tempo. Juníper estava apenas chorando, sem dizer nada. Eu amo ela por isso: ela sabe sempre o que fazer. – Eu só vim aqui te trazer uma noticia, e já demorei muito em minha tarefa: você tem visita. Elas estão no Arsenal te esperando.

Elas quem?

– É melhor você mesma ver – foi

Segui para o Arsenal de Armas. Estava apreensiva. O modo com Grover falara... Parecia ser alguém para me levar direto ao mundo inferior. Mas, minha surpresa foi bem melhor.

A porta do arsenal esperava meu outro conforto: Thalia Grace, minha tia parecidíssima comigo. Eu a abracei, mas não dissemos nada. Como já disse, ela parece muito comigo. Eu sabia exatamente o que ela estava sentindo e o que ela queria dizer. Ela me acompanhou até a parte de dentro.

Quando vi eu não pude acreditar. Até cogitei se eu ainda não estava sonhando. Mas era verdade. Lá, no arsenal, cercadas de armas, estavam todas as Caçadoras e lady Ártemis em pessoa. E elas vieram por minha causa. Ártemis estava na forma de uma garota ruiva de doze anos, assim como quando meu pai havia visto ela pela primeira vez. Outro aperto no coração.

– Então mocinha, está na hora de escolher suas armas, não é? Eu lhe trouxe um presente, pois eu sei que você sabe manusear muito bem essa arma. – Ártemis disse para mim. E dizendo isso um arco simplesmente apareceu em sua mão.

Mas não era qualquer arco: era O Arco. E eu tinha a sensação de que esse não era apenas uma réplica. Reparei em como brilhava muito mais e em como as flores entalhadas a sua volta pareciam se mexer. Em como o pelo de unicórnio no fim da flecha e o fio do arco eram mais brilhantes. Reparei, acima de tudo, que agora ele era meu.

– Pegue – disse ela. – Essa é a forma verdadeira do arco que você viu no museu. Ele pertenceu a Zoë Doce-Amarga, estava guardado comigo antes de ela morrer – seu rosto assumiu uma expressão triste e isso doeu até em mim. – Eu estou te dando porque você a lembra, é parecida. Uma ótima arqueira as duas.

– E-eu... Eu não posso aceitar. Zoë era... Era muito melhor que eu.

– Mas é claro que era, ela era uma Caçadora. Mas, com o tempo, você ficará tão boa quanto – disse ela, co um sorriso bondoso no rosto de criança. De algum modo, se percebia que ela era bem mais experimente do que uma garotinha da minha idade. – Agora, algumas instruções. Esse é o arco de uma Caçadora, então não era para ele te obedecer, mas ele vai daqui a pouco. Ele vai aparecer quando você precisar usá-lo e vai desaparecer logo em seguida. Este arco é diferente de qualquer outro. Foi um presente meu para Zoë, por isso é mágico. Ele raramente vai errar. E, essas flores – continuou ela, apontando as flores –, elas são verdadeiras. E farão de tudo para servir a sua dona, que é você.

– Como?

– Ah! Isso dependerá da ocasião.

Eu disse algo muito inteligente como:

– Hã...

– E o último presente...

– Mais um? Você disse um presente – perguntei de olhos arregalados. Ela riu. Eu nunca gostei muito de aniversários e presentes. Nunca fiz questão de receber um.

– Enfim... O último presente é a minha benção.

Soltei um arquejo. A benção de Ártemis.

– O-o quê? – disse.

– Minha benção, oras. Você não sabe o que é isso?

– Vai ser como se você fosse uma Caçadora, porém não. Faz sentido? É tipo, você vai ser ótima em caçar e tal, mas não vai ser imortal e vai poder se envolver com meninos. – Interveio Thalia. – Ah!, e vai ser para sempre, não temporário.

– Uau! Obrigado! Obrigado, obrigado! – gritei. Nunca estive tão feliz ao receber um presente.

– Por nada mocinha, você merece – dizendo isso, lady Ártemis tocou sobre meu peito, bem no coração, a partir dali uma luz começou a surgir.

Ela foi aumentando, aumentando, até que iluminou todo o salão. E aumentou ainda mais até que eu tive que fechar os olhos. À medida que a luz crescia eu me sentia cada vez mais forte, como se eu fosse capaz de tudo. De repente a luz se extinguiu.

Percebi que todos os campistas estavam amontoados dentro do Arsenal vendo a cena. Olhei para minha própria mão e ela tinha um leve brilho prateado. Todos falavam “Oh!”. Eu me senti terrivelmente exposta.

– Bem, agora você está pronta para sua missão – disse Ártemis. – Vamos, hora de voltar à caçada!

– Tenho certeza que ainda vou ver você e seus pais de novo, Helena! – Thalia me abraçou. – Agora tenho que ir.

E ela se foi junto com todas as outras e seus lobos.



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