A Mortal, Filha De Dois Deuses. escrita por Amortecência


Capítulo 10
Meu Prazo.


Notas iniciais do capítulo

Fiz no iPod por isso alguns erros. Thanks😚



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Assim que mergulhei na água senti aquele jato de força, como se tivesse recebido uma injeção de ânimo. Já havia tido a mesma sensação várias vezes quando ia à praia com minha família. Mas, de algum modo, isso estava mais forte agora. Talvez fosse por que eu tenho consciência do quê isso significa – que eu herdara os poderes de Poseidon. Ou talvez fosse só porque eu estava esgotada, e recarreguei minhas forças.

Mexi meus braços, nadando perfeitamente, apesar de nunca ter tido aulas. Estava seca e respirava normalmente.

Senti uma movimentação atrás de mim. Virei-me. O que eu vi, acelerou meu coração. Em todo o meu plano – que eu achara perfeito – havia um pequeno furo. Quer dizer, nem tão pequeno. Ela não sabe nadar, pensei. Tudo bem, não se desespere, Helena. Precisamos de um plano. O pânico não ajuda. Bem, dizer isso a mim mesma não mudou muita coisa. Na verdade eu só entrei em pânico ainda mais.

Forcei meu cérebro a ficar mais claro e comecei a pensar.

Emergir com ela? Nem pensar. Os basiliscos não podem voar, ou seja, alguém os levou até nosso quarto. É claro que isso quer dizer que esse alguém não é nosso amigo, e, se ele descobriu onde estamos, temos que nos movimentar. Eu não poderia me arriscar subindo sendo que alguém poderia nos resgatar e nos levar de volta ao navio.

Obviamente, ela não poderia ficar por mais alguns segundos ali, ou iria morrer.

Então me lembrei. Mamãe me contou que nas aventuras dela e de papai no Mar de Monstros eles passaram pelas sereias. E para ouvir o que elas diziam, papai a amarrou, mas não deu certo e ela pulou na água. Ao resgatá-la depois de muito esforço ele criou uma bolha de ar gigante com várias outras pequenininhas para ajudá-la a respirar e se acalmar. Ele também fez isso em um beijo, mas ela não entrou em detalhes.

Fechei os olhos e imaginei todas as bolhas do oceano – desde as que saem das bocas de mergulhadores até as que são provocadas pelas hélices dos motores dos barcos – se amontoando ao redor de Mayana. Abri os olhos e esperei.

Nada aconteceu.

Meu coração bateu forte. Mayana ia morrer. Eu não aguentaria perder mais alguém que amo. Imaginei com mais força, quase sentindo as bolhas. De novo, nada aconteceu.

Eu mesma estava quase me afogando, sendo que consigo respirar. Mayana estava afundando, se debatendo cada vez mais devagar. Tentei puxá-la para cima, mas o peso dela mais o das roupas não me ajudaram.

E eu estava afundando junto com ela. Tudo estava escurecendo. Minha ultima visão foi a de vultos prateados se movimentando na água.

***

Quando recobrei a consciência estava deitada em uma cama. Ufa, pensei, foi tudo um sonho. Mayana está bem.

Então, percebi que o quarto era bem diferente. Azul, incrustado com pérolas e pedras preciosas. Havia um lustre enorme, também de pérolas, pendendo na abobadada do teto. E, o mais diferente de tudo, o quarto estava inundado de água. Demorei a perceber isso, já que a água não me afeta tanto, mas no fim consegui entender o que eu achava de tão estranho para um navio.

Meu primeiro pensamento foi que o navio estava afundando. Levantei-me correndo para tentar ajudá-la. Mas uma mão me impediu, era pesada.

Ao deitar, me lembrei de uma frase que tinha visto na série House: “O cérebro das pessoas para de funcionar quando elas pensam que vão perder alguém que amam”. Bem, talvez isso me definisse agora. Quando Mayana precisava de ajuda, eu me desesperei, e não consegui nem ao menos usar os poderes que herdei.

Segui a mão para ver de quem era. Senti um sorriso se espalhar pelo meu rosto.

– Você precisa de descanso menininha – disse-me a voz grossa do tio Tyson.

Ignorei o conselho e me joguei em seus braços. Ele me abraçou de volta, quase quebrando minhas costelas. Isso foi muito reconfortante. Soltei-me de repente.

– Mayana? – disse, em um tom urgente.

– A garotinha que veio com você? – assenti com a cabeça. – Oh, ela está muito bem. Lá embaixo, comendo.

– Mas, e a água?

– Ah, papai deu um jeitinho. Vamos vê-los.

Eu me levantei e saí por uma porta de uma cor marfim aperolada. A maçaneta era incrustada por pedras azuis que eu identifiquei com água-marinha.

Passamos por um corredor e descemos por uma escada em caracol. Agora estávamos em um imenso salão.

Havia uma plataforma em um canto com um imenso mosaico. Com um susto percebi que os ladrilhos que o formava estavam se movendo. Olhando mais atentamente, vi do que se tratava. Meu pai já havia falado daquilo para mim. Era como um mapa do oceano. Olhando para um canto rochoso, vi um grupo de tubarões. Olhando para outro, cheio de corais, vi algo como uma nuvem e percebi que era um cardume. Em todo o painel havia seres se movendo.

Um lustre pendia do teto e vários candelabros enfeitados com preciosidades estavam em todo canto do salão. Alguns peixes entravam por janelas sem vidro, zanzavam um pouco antes de sair novamente. As paredes pareciam fruta-cor, olhando de um ângulo reluziam em um amarelo, de outro um azulado, e de outro ainda, ficavam creme-pérola.

No meio do salão, uma imensa mesa retangular que quase cortava o local. Era gigante, e eu duvidava que tanta gente assim morasse no Olimpo. E logo no centro, estava Mayana junto com um homem.

Corri para me aproximar. Ela deve ter percebido minha chegada, pois deu um daqueles seus sorrisos imensos que parecem um sol anunciando uma bela manhã. Às vezes eu duvidava que ela fosse realmente filha de Hécate. Todas as que eu conheço são meio sombrias. Ela, na verdade, transpira serenidade. Talvez eu ache isso só por que ela é minha melhor amiga, meu porto seguro. Mas tudo nela parece ser calmo e em paz, e ela é super delicada. A não ser os rocks que ela ouve, claro.

Então, ao me aproximar, eu vi o quê meu tio quis dizer com papai deu um jeitinho. Mayana estava sentada comendo um sanduiche. Mas, ao redor dela, havia uma bolha de ar gigante. Exatamente a que eu tentei fazer e não consegui.

– Venha, Helena. Venha comer algo.

– Hã... Tá.

Só nesse momento eu notei quem era o homem que estava sentado ao lado dela. Gelei. Como fui tão burra de não ter percebido? Afinal, herdei os dons de Atena. Estava tão preocupada com Mayana que nem notei.

Ao lado dela estava meu avô, Poseidon. Quando Tyson falou, imaginei que ele tivesse a ajudado de alguma forma e depois ido embora, tratar de outros assuntos. Mas, não. Lá estava ele.

– Oh – arquejei – Olá, vov... Quer dizer, olá Poseidon.

– Olá, Helena. – disse ele de um jeito elegante e formal.

Engoli em seco. Nos olhamos nos olhos, e depois, por algum motivo que desconheço, nós dois desatamos a rir. Como se nos fossemos íntimos há muito tempo e essa fosse um piada interna.

Vi Tyson e Mayana se entreolhando. Como que pensando Mas que Hades eles estão fazendo?

Depois de um tempão rindo, nós nos olhávamos de novo e começávamos a rir novamente. E por um bom tempo foi assim. Até que nossas barrigas estavam doendo e nossos olhos lacrimejando. Mayana e Tyson esperaram pacientemente terminarmos nossa crise de riso, enquanto conversavam sobre bobagens ou comentavam nossa estranha ligação e como aquilo surgiu de repente. Vez por outra riam também, como se ecoassem nossas gargalhadas.

Finalmente, conseguimos parar.

– Tudo bem, o quê foi isso? – disse, a final, Mayana.

Poseidon soltou uma risada gutural antes de se pronunciar:

– Ah, minha querida! Quem dera soubéssemos.

– Pois é – ri novamente.

Todos ficaram quietos por um instante, antes de eu quebrar o silêncio.

– Mas, meus deuses! Como chegamos aqui? Quer dizer, Mayana você quase se afogou mesmo? E, se sim, como está viva?

Houve um momento tenso.

–Bem, vou dar comida aos peixes-pôneis. – disse Tyson, retirando-se.

– Ok, foi assim... – começou Mayana. Ela me contou que, depois que eu desmaiei, Arco-Íris – o hipocampo de Tyson – nos resgatou e chamou Poseidon, que criou a bolha de ar para Mayana, me levou para o quarto e me deu ambrósia e néctar.

– Sabe, se não fosse por eu ter falhado, nada disso teria acontecido. A Mayana não teria corrido tanto risco e...

– Ah não! Não, não! Foi por isso que todo mundo ficou tenso. Sabíamos que você iria ficar se culpando por tudo. Pode parar! – esbravejou Mayana.

– Tudo bem, pelo menos por enquanto eu não digo nada. Por enquanto. – disse, gargalhando e levantando os braços num gesto de rendição.

Comemos um pouco e resolvemos descansar algumas horas.

Mayana deitou em uma cama cercada por uma bolha de ar também. Era quase engraçado. Parecia uma anomalia marinha perto de nós que respirávamos na água.

Deitei-me. A cama era confortável e os travesseiros macios. Me dei conta de que estava cansada. O desmaio me esgotara muito. Mesmo abaixo da água. Fechei os olhos e tudo o quê me lembro é dos sonhos.

Eu estava do lado de fora de um palácio. Era lindo. Tinha três torres: duas menores de cada lado e uma maior no meio. Elas eram brancas com vários adornos entrelaçados em dourado. Refletia muito a luz do Sol. Isso deixava o lugar parecendo quase divino.

Havia uma entrada arredondada com o mesmo padrão das torres. Ao lado, flores das mais diversas. Percebi que, ao redor do palácio, estava um dos jardins mais lindos que já vi. Melhor que o das Hespérides. Havia flores de cores que eu nem sabia que existia como dourado, prata e bronze. Mas se percebia que as pétalas eram macias como qualquer outra.

Segui uma dama de vestido estilo das realezas: bem volumoso e enfeitado. Ela segurava um buquê de algum tipo de flor que eu não vi direito.

Caminhamos em direção ao palácio pela imensa entrada. Passamos por um corredor madre-pérola e entramos em um hall arredondado repleto de sofás floridos.

Entramos pela porta da extremidade oposta da sala. Passamos por mais um corredor e entramos em outro hall. Lá só havia uma escada.

Depois de subirmos três lances de escada. Entramos em outro corredor. Caramba, não vai acabar nunca?, pensei.

O corredor era enorme. Já estava ficando impaciente se é que isso é possível em um sonho.

Finalmente, entramos em uma sala. Estava escuro e eu não enxerguei nada. Até que a bela dama acendeu a luz.

O quê vi fez meu coração acelerar.

E o motivo não foi a bela decoração no estilo vitoriano. Nem quem era a bela dama – é claro que isso me assustou, mas não foi o maior motivo.

O que me assustou de verdade foi a visão que eu tinha bem no meio da sala. Pendurados acima de um caldeirão estavam Percy Jackson e Annabeth Chase – meus pais.

– Bem, acho que isso vai apressar a menininha. Quero o poder do mundo em minhas mãos até o dia 21 de dezembro. Essas flores direto mundo inferior matam lentamente e com muita dor aqueles que sentem seu cheiro – dizia Éris, a bela dama enquanto depositava rosas pretas com pétalas manchadas de sangue no caldeirão.

Acordei ensopada de suor e gritei para Mayana:

– Que dia é hoje?

– Vai dormir Helena. Hoje ainda é dia 18.



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