O grupo caminhou durante algumas horas e decidiu descansar numa clareira rodeada por árvores. Clove estava sentada no chão bebericando de um cantil com água fresca, Cato era o mais afastado e encontrava-se a espetar a sua espada num tronco, desfazendo-o aos poucos e poucos. Katniss estava sentada num tronco que estava pousado horizontalmente no chão e Gale encontrava-se também sentado, mas num local entre Katniss e Clove. Katniss estava decidida a retirar informações sobre os seres atacados pelo vírus, mas quando ela estava prestes a falar, Cato interpelou-a primeiro.

-Onde é que aprendeste a utilizar o arco?

-Isso interessa agora? – perguntou ela ostentando um ar cansado.

-Suponho que não … O vosso distrito foi um dos afetados?

-Não. Felizmente ainda não tinha alcançado o nosso distrito quando fugimos.

-Então vocês nunca viram um zombie?

-Zombie? O que é um zombie? – questionou Katniss.

-Um zombie é o nome que damos às pessoas que são infetadas pelo vírus.

-Ah… Eu e Gale já lutamos contra uma dessas criaturas.

-Na floresta? – Cato fez esta pergunta com uma enorme surpresa na cara dele.

-Sim. O que é que vocês sabem sobre os “zombies”?

-Bem, eles só morrem se forem atingidos no cérebro. Se fores mordida ou arranhada transformas-te num deles.

-Eles são estúpidos. – acrescentou Clove aproximando-se de Cato e de Katniss.

-Como é que os zombies apareceram no vosso distrito? – continuou Katniss.

-Ninguém tem a certeza. Uma mulher ficou de repente muito doente e cheia de febre. Ela falava sobre monstros vindos dos mortos, mas toda a gente pensava que ela apenas falava sobre isso como consequência da febre que era altíssima. Passados alguns dias ela morreu. Ao mudarem-lhe a roupa para a enterrarem viram que tinha uma enorme dentada na barriga. Os médicos pensavam que era apenas uma mordidela de um animal selvagem qualquer. Mas em vez de ela repousar em paz, ela voltou… Como ninguém estava à espera que aquilo acontecesse, várias pessoas foram mordidas. E foi assim que começou.

-E vocês fugiram logo nessa altura? – questionou chocada Katniss.

-Não. Nós só escapamos quando as coisas ficaram mesmo más. Fizemo-lo à cerca de 5 dias.

-O capitólio fez algum anúncio desde que nós fugimos? – perguntou Clove.

-Sim, fez. – disse Gale que agora também se tivera juntado ao diálogo.

-No primeiro anúncio avisou que havia a propagação do vírus, mas que estava a ser aniquilado pelas autoridades. O segundo foi ontem, apareceu o Presidente Snow a dizer que já estava tudo bem, que o vírus já tinha desaparecido completamente.

-E depois o Caeser foi mordido por um daqueles seres ao vivo para todo Panem. – concluiu Gale.

-A sério?! – perguntou espantada Clove.

-Sim. – falou calmamente Katniss, tentando não pensar na sua família. – Toda a gente entrou em pânico, como devem imaginar…

-Bem, agora que já sabem o que o Capitólio anda a tramar, o melhor é continuar. Não é seguro andar na floresta quando está escuro. – falou Gale.

Os quatro arrumaram as respetivas mochilas e retomaram a jornada. Katniss estava exausta. Não por causa do esforço físico, mas sim porque sentia que parte dela tinha desaparecido. Ao ser afastada da sua irmã e da sua mãe, Katniss sentiu-se como se um dos zombies lhe tivesse arrancado parte da alma e não a tivesse devolvido. E embora Katniss tivesse encorajado Gale a aceitar a aliança proposta por Cato e por Clove, ela não se sentia bem face à presença de desconhecidos. Como eles agora andavam sempre com Katniss e com Gale, ela tinha de estar alerta a todo o momento, o que também era cansativo.

Ao fim de terem percorrido vários quilómetros, Clove reparou numa ponte que se encontrava entre duas colinas. Embora fosse uma ponte, parecia não ser utilizada à muitos anos e por baixo dela não se encontrava nem uma gota de água. Katniss olhou para o céu e viu que se estavam a formar nuvens sobre eles. Provavelmente ia chover dentro de pouco tempo, e Katniss decidiu comunicar isso com os seus parceiros. Todos concordaram que era melhor passar a noite por baixo daquela ponte pois iria impedir que eles apanhassem chuva.

Já quando se encontravam por baixo da ponte, Katniss começou a retirar alguns cobertores que tinha colocado dentro da sua mala. Os outros também o fizeram. Katniss afastou-se um pouco da ponte para procurar folhas secas. Pegou num montinho delas e colocou-o de modo a parecer uma pequena almofada.

-Daqui a aproximadamente uma hora deve escurecer. Acho que vou caçar alguma coisa para comermos. – sugeriu Katniss.

-Boa ideia. Tu e o Gale poderão ir caçar enquanto eu e a Clove iremos preparar a fogueira. – falou Cato.

-Boa tentativa Cato. Vocês podem roubar-nos os mantimentos e fugir. – disse Gale.

-Ainda não confias em nós? – perguntou Cato com um sorriso trocista na face.

-Não. Clove, vai com a Katniss caçar e eu vou com o Cato preparar a fogueira.

Ninguém protestou e tudo correu bem. Katniss e Clove conseguiram arranjar cinco esquilos e cozinharam-nos na fogueira. Cato disse para não deixarem as chamas da fogueira crescerem demais pois se houvessem zombies nas redondezas eles poderiam ser atraídos pela luz.

Já era noite avançada e já chovia torrencialmente quando decidiram ir dormir. Katniss sabia que ia demorar bastante tempo a adormecer.

Tinham passado umas boas horas mas Katniss ainda se encontrava acordada. Ela estava a pensar que ainda à três dias atrás estava com a sua pequena irmã. Era estranho, parecia ter passado muito mais tempo. Ela também estava a pensar no destino de Madge e do presidente Undersee. Katniss também gostaria de saber se aquele tinha sido o fim dos jovens que se encontravam no seu grupo de evacuação… Repentinamente ouviu um som. Todos os seus sentidos ficaram imediatamente alerta e ela ficou mais acordada do que nunca. Algo se estava a mexer. Katniss virou-se lentamente e viu que era apenas Clove. Esta estava a falar durante o sonho. Parecia estar prestes a chorar. Pelo que Katniss percebia, Clove estava a pedir a alguém para ficar, para não a abandonar. Clove soava completamente desesperada e perdida. De um momento para o outro, ela já se encontrava assustada e estava a pedir a alguém para parar. Clove parecia estar prestes a gritar de horror quando alguém se aproximou dela. Era Cato. Ele olhou pra Gale e depois olhou para Katniss, mas ela fechou os olhos fingindo que estava a dormir. Ele voltou os seus olhos para Clove e um olhar de ternura estava espalhado neles; então ele pôs as suas mãos na face dela. Clove imediatamente ficou mais calma. Cato deitou-se ao lado dela e abraçou-a. Ele sussurrou-lhe dizendo-lhe que tudo estava bem e que ele se encontrava ali para a proteger. Ele sussurrou também que não ia deixar que nada de mal lhe acontecesse. Clove agora mal se mexia. Cato pousou os seus lábios nos dela e depois voltou para a sua “cama”. Clove não voltou a falar durante o sonho naquela noite.