Lilian

O informante de Lilian sentou-se a sua frente novamente. Dessa vez, sua expressão estava suavizada e muito calma, ao contrário da de Lilian, a qual parecera querer explodir a qualquer momento. Porém, quem conhecia muito bem os pensamentos de Lilian sabia que, a única coisa que ela queria explodir, era a cabeça de seu informante, quem não conseguia nem ao menos conter um sorriso irritante.

- Por que está tão calmo? – indagou ela quebrando o silêncio.

O informante só conseguiu aumentar seu sorriso assentindo negativamente.

- Se está tentando me irritar, conseguiu. – voltou ela a dizer. – Por que está sorrindo?!

O informante não diria nada por um bom tempo, ele queria que Lilian ficasse no ponto máximo de ódio para que pudesse dar a grande notícia a ela. Ao seu lado, um homem de porte grande, com cabelos grisalhos bem penteados para trás e olhos escuros apenas ouvia a conversa. Ele ajudara o informante de Lilian a preparar o que já acontecera.

- Temos informações sobre os garotos que fugiram da prisão. – disse o homem grande ao lado do informante. – Sabemos onde estão.

Lilian tentou se acalmar, porém o fato de o ajudante de seu informante ser lerdo apenas a deixou ainda mais furiosa.

- Axel, seu inútil! – disse ela num tom alto. – Não precisa repetir, eu sei que eles fugiram de minha prisão e estão no hospital no norte de Londres! Isso não é uma novidade para mim, o que eu quero é saber onde aquela garota Overton!

A voz de Lilian soara tão alta que os dois não conseguiram conter o susto. Ambos tinham a completa noção de que  Lilian tinha o costumo de explodir daquela forma, porém ainda não haviam presenciado seus momentos de fúria.

Os olhos perigosos de Lilian desviaram para seu informante.

- Onde ela está? – perguntou. Seu corpo tremia e o rosto estava vermelho. – Eu quero aquela garota nas minhas mãos o mais rápido possível!

O informante se levantou de sua cadeira de uma forma que pudesse ficar no mesmo nível de Lilian, cara a cara. Ele nunca reparara que seus olhos eram tão parecidos – tinham o mesmo tom escuro e amendoado, porém os dela possuíam um brilho confuso, vingativo e maldoso. Lilian tinha um olhar que poderia assustar a pessoa mais corajosa, aquele que já enfrentara a morte de frente. Talvez, uma pessoa que já se sentira em meio a um abismo se sentiria da mesma forma encarando os olhos de Lilian Mean.

E era dessa mesma forma que o informante se sentia.

- Você tem que se controlar, Lilian. Isso ainda vai mata-la.

- Está gozando com a minha cara? – esbravejou.

- Não, estou tentando avisá-la.  – ele suspirou. – Essa sua sede de vingança não é saudável.

Uma gargalhada sarcástica escapou dos lábios de Lilian, quem não pode conte-la ao ouvir as palavras de seu informante. Quem ele pensa que é? Achava mesmo que avisa-la daquela forma mudaria algo em seu desejo mais profundo?

- Não tenho medo de nada. – disse interrompendo seu riso. – Entendeu? Você não passa de um informante, pode até ser de minha família, mas para mim, não é nada.

O informante não se abalou com aquela declaração, já havia se acostumado com a forma petulante que Lilian se referia à sua própria família. Ele já havia testemunhado aquele tipo de ação de Lilian diversas vezes, principalmente com uma pessoa que ele sempre achara que com ela, Lilian poderia finalmente mudar.

Entretanto, como sempre, ela não mudou absolutamente nada.

- Você disse o mesmo para sua filha, não? – o informante  praticamente cuspiu as palavras, vendo que Lilian mudou sua expressão para assustada. – Expulsou a garota de casa como se ela não fosse nada. Você é um monstro.

Sem pensar duas vezes, Lilian explodiu. Como primeiro ato, esbofeteou seu informante com toda a força que ainda possuía no braço, fazendo com que ele tombasse para o lado e por pouco não caísse no chão da sala.

- Nunca mais fale assim comigo! – berrou ela apontando na direção dele. – Entendeu, seu merda?! Se eu fiz o que fiz, teve um motivo e minha filha sabe muito bem o que aconteceu! Posso até ser um monstro, mas é porque quero o que é meu por direito! Não ouse se meter nisso!

O informante já possuía o rosto vermelho por conta do soco que levara bem no centro do rosto,  porém ainda não desistira de tentar colocar um pouco de compaixão na mente dela. Ele sabia que Lilian não mudaria jamais, mas ele tinha esperança.

Mesmo que fosse tão culpado quanto ela.

- Isso não muda em nada. – disse. -  Não importa se você é minha irmã ou não, você continua sendo um monstro, Lilian.

Mais uma vez, a gargalhada sarcástica dela encheu o ar daquela sala. Axel, quem continuava sentado, parecia desconfortável por causa da discussão entre os dois, sentia-se fora de contexto ali. E Axel tinha razão, afinal, seu trabalho apenas fora de ajudar o informante a terminar o plano.

- Mas você é mesmo um hipócrita! – exclamou sarcasticamente. – Lembre-se que tem parte da culpa de tudo! Você é tão culpado quanto eu!

- Sra. Mean? – um de seus seguranças estava parado à porta conseguindo interromper a briga.

- O que?! – esbravejou ela em resposta.

- Conseguimos pegar a garota.

Isso mudou completamente a expressão de Lilian, quem conseguiu esboçar um sorriso de orelha à orelha, ignorando completamente o fato de seu informante a estar encarando friamente.

- Bom trabalho. – disse sorridente. – Prepare o carro, quero ver a garota.

Obedecendo às ordens de Lilian, o segurança assentiu e saiu da sala fechando a porta logo atrás de si. Lilian mudara completamente da água para o vinho, agora estava sorridente como se tivesse se esquecido que, há minutos atrás, estava quase matando seu próprio irmão.

Quando estava saindo de sua sala, Lilian se voltou para o informante, quem continuava de costas para ela sentindo que não conseguira mudar em nada a mente de sua irmã. Na verdade, agora nem sabia o porque que havia tentado.

- Ah, e “informante”. – disse sorridente. – Lembre-se de fazer jus ao seu nome, irmãozinho. Afinal, Joseph Mean também fora nome de nosso avô.