O Garoto Da Camisa 9 escrita por Gi Carlesso


Capítulo 3
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

lalalala eu amo meus leitores lalala
nem preciso dizer que sou meio louca né? me ignorem ushushsu



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Ainda não havia nenhum sinal de Charlotte, minha prima que já estava no internato por vários anos. Ela deveria ter esquecido de mim, coisa típica naquela família, mas Lottie é um pouco diferente das outras pessoas da família Overton, nós duas meio que crescemos juntas até o dia em que meu pai morrera e ela fora colocada no North England, então, nunca mais nos vimos desde então.

O quarto que Lilian havia me deixado era bem espaçoso – uma janela longa da época em que o internato ainda era uma casa, uma decoração minimalista com apenas duas camas, uma em cada parede bem ao lado da única janela. Havia uma espécie de escrivaninha em um dos cantos, com um computador pequeno, livros de escola e um guarda-lápis. Havia uma mala jogada na cama da esquerda, com algumas roupas jogadas ao lado, provavelmente eram da tal colega de quarto. Na parede de minha futura cama, avistei uma porta que dava em um banheiro pequeno, com nada além do comum.

Coloquei minha mala sobre a cama e me sentei ali, olhando em volta não sabendo exatamente o que fazer, apenas que precisava de um tempo para refrescar a mente. Estava um barulho intenso no labirinto de corredores do dormitório feminino, com garotas andando de um lado para o outro, conversando e rindo como se não estivessem no lugar mais assustador da terra.

Tentei repassar o que havia acabado de acontecer, desde meu primeiro abraço em minha mãe depois de tanto tempo e o olhar sombrio e assustador de Lilian, a diretora do North England. Por um instante, achei que ela fosse me matar, mas ela é uma diretor, não uma assassina.

Certo?

- Jonah, não ligo para o que suas milhões de namoradas dizem, seu otário! – uma garota ruiva entrou no quarto ainda gritando com alguém do lado de fora. Ela era alta e parecia do tipo em que conhecia a todos, incluindo garotos, garotas e até mesmo professores. A tal garota parou no meio do caminho a me ver sentada ali em seu quarto a encarando. – Ahn... oi? Quem é você?

- Melanie Overton. Sua colega de quarto.

Ela continuou me encarando por longos segundos tentando raciocinar a imagem a sua frente, até que finalmente mostrou alguma reação, lembrando-se que teria uma colega de quarto.

- Ah! – ela sorriu abertamente. – Liliam me falou sobre você! Eu sou Jesse, mas pode me chamar de Jes. – Jesse estendeu uma de suas mãos em minha direção, então apertei a mesma antes de ela se jogar em sua cama do outro lado do quarto. – Como eu conheço Liliam faz alguns aninhos, posso imaginar que ela nem explicou as regras daqui. Primeiro, nada de celulares. – ela viu minha expressão assustada e sorriu. – Mas como nós alunos somos como gênios, sempre trazemos alguns de plástico e entregamos para a fiscal os falsos. Para sua sorte, eu tenho um reserva e o empresto sem problema algum.

- Obrigada, não sei se sobreviveria sem meu celular. – falei e Jes começou a rir.

- Eu também não! Regra número dois, nada de saídas sem autorização da área do colégio. Para sair, você tem que ter uma boa razão ou estar quase morrendo, coisa que aqui não é muito difícil. – ela pegou um dos celulares de plástico e me entregou, mandando-me colocar o verdadeiro de baixo do colchão. – E a última regra, nada de transitar de um dormitório para o outro, ou seja, se você se relacionar com algum dos meninos do dormitório masculino, nada de visitas noturnas. Se é que me entende. – ela piscou, me fazendo rir.

- Não parecem regras muito ruins.

- Ah, - ela balançou a cabeça negativamente. – você não viu nada ainda.



A primeira aula da tarde não era nada demais, apenas uma espécie de aula de reforço para aqueles que não entenderam muita coisa de manhã como toda escola normal. Mesmo que o North England não fosse nada normal. Jesse insistia para que eu contasse minha história de vida, não importasse se ela era muito chata ou não. Quando me perguntou sobre sentir saudade dos amigos, hesitei por alguns instantes, lembrando-me que em minha vida, nunca tive realmente grandes amigos que merecessem minha saudade.

- Nenhum?

- Nenhum.

Entramos na sala pela porta da frente, fazendo com que muitos dos olhares fossem diretamente para nós, fazendo-me mal conseguir olhar para frente. Encarei o chão apenas seguindo os passos de Jesse até as cadeiras do fundo, onde havia alguns alunos conversando e rindo de alguma coisa que um deles falara. Deveriam ser os amigos de Jes que ela me falara, pois eram exatamente como ela havia explicado.

- Jesse, foi para o quarto e arranjou um animal de estimação, é? – perguntou um dos garotos, o qual estava sentado de forma preguiçosa, com um dos pés sobre uma cadeira vazia. Ele tinha cabelos escuros e olhos tanto quantos os fios de seus cabelos. Os que estavam ao seu lado riram da piada e Jes mostrou a língua em resposta.

- Quieto, Roman. – ela deu um tapa atrás da cabeça dele, tirando risos abafados das pessoas em volta. – Essa minha colega de quarto. Gente, essa é a Melanie.

- Oi, Melanie! – uma garota loira de olhos azuis veio até mim me dando um abraço. Bom, parece que os alunos naquele internato eram bem mais receptivos do que imaginei, tanto que já estava recebendo um abraço logo de cara. – Eu sou Carly, muito prazer.

- Não repara na loucura dela. – disse Jes. – A mãe a mandou para cá quando ela pegou o vizinho de trinta anos. – Jes começou a rir escandalosamente, porém Carly a olhou com um olhar de assassina em série. – Tudo bem. Essa é Anny – ela me apontou uma ruiva igual a Jes, mas de olhos castanhos. – Como você já deve ter percebido, esse é o Roman – e apontou para o garoto de cabelos pretos que acenou para mim. – E aquele ali da ponta que não é de falar muito é o August. Ele teve uma doença nas cordas vocais e ficou mudo, mas entende bem o que falamos.

August apenas sorriu para mim e voltou a ler o livro que estava em seu colo.

Eu e Jes nos sentamos nas carteiras ao lado deles e ficamos conversando por algum tempo. Perguntaram-me o porquê de eu estar ali e se havia feito alguma coisa de errado para minha mãe me mandar para o internato. Claro, não demoraria muito para que chegassem nesse assunto delicado.

- Na verdade, não tem bem um porquê de eu estar aqui. – resmunguei. – Minha prima estuda aqui, acho que é por isso que minha mãe me mandou para esse lugar.

- Então você é prima de Charlotte Overton?

- Sou. – dei de ombros.

- O grupo dela é um dos mais importantes no internato, ainda mais porque eles têm as melhores notas. – Roman revirou os olhos. – Nem ligue muito para isso, a maioria só quer saber de passar de ano e sair daqui. Ainda mais porque Lilian não é a melhor das diretoras, às vezes acho que ela odeia todo mundo.

- Percebi bem isso quando cheguei. – a imagem dos olhos de Lilian de repente passaram por minha mente, causando calafrios. – Ela tem cara de louca, na verdade.

Todos eles riram do que eu disse, até mesmo August, quem tirou sua atenção do livro para rir em silêncio. Algo me dizia que eu não era a única que sentia medo da diretora, principalmente eles que já estavam no North England há muito tempo.

Jesse estava prestes a dizer alguma coisa quando uma mulher baixinha e com uma barriga um pouco saliente entrou na sala, fazendo com que todos os alunos se calassem ao vê-la. A professora observou cada fileira tentando achar um engraçadinho que ousasse falar na presença dela, até que seu olhar pairou sobre mim.

- Parece-me que temos uma aluna nova. – disse. – Você deve ser a prima de Charlotte, Melanie Overton.

Fiz que sim quando todos – acredite, todos – os alunos se viraram para saber quem eu era. Tudo bem que jamais gostei de receber muita atenção, mas aquela estava sendo estranhamente confortável. Como se os olhares não estivesse me julgando e sim, apenas me reconhecendo.

- Seja bem vinda, Melanie. – ela sorriu para mim e foi até sua mesa pegar alguns livros.

A aula durou um longo tempo, a tal professora ajudou todos os com problemas na aula da manhã e teve que tirar alguns da sala, como Roman, quem jogou um pequeno avião de papel, o qual acertou em cheio a cabeça dela.

Sim, ele é louco, aquela professora com certeza acabaria com problemas mentais se continuasse com aquela turma, principalmente porque alguns dos principais alunos “problema”, estavam ali. Bom, eu não me considero uma delas, ainda mais porque não estou agindo como uma rebelde e sim, como alguém que sofrera na vida e que agora, espera melhorar tudo.

Credo, isso foi clichê.

Quando finalmente acabou, teríamos que assistir a um jogo de futebol dos garotos de outra turma,  pois hoje seria o treino e Jesse não queria perder aquilo por nada. Confusa, segui ela e Carly na direção do campo

Era atrás do prédio do internato, numa grande área usada como campo. Havia duas arquibancadas de cada lado e já haviam alguns alunos por ali assistindo ao jogo que já começa. Jesse e Carly se sentaram em um banco um pouco afastado das arquibancadas, onde tínhamos uma visão um pouco privilegiada, comparado a quem estava lá. O jogo estava bem agitado, só quando chegamos duas pessoas já foram expulsas por uma briga.

Sentei-me entre Roman e Jesse, quem se entreolharam de forma estranha antes que Carly se enfiasse ao lado de Jes falando alguma coisa sobre um dos jogadores.

- Como pode ver, Mel, temos uma bela vista. – ela arqueou as sobrancelhas antes de soltar um risinho maldoso. Tive que sorrir com aquilo, afinal, ela tinha toda razão, nossa visão estava mesmo privilegiada.

- Sem papos de garota, ok? Se falarem de novo sobre Jonah e seus “atributos”! – Roman fez uma expressão de nojo antes de voltar sua atenção, ou melhor, expressão de raiva na direção das duas, quem apenas deram de ombros e começaram a cochichar sem me colocar no meio. Roman balançou a cabeça negativamente e me deu um empurrão, fazendo com que eu acertasse, Jesse. Os dois se entreolharam com raiva e começaram a discutir comigo no meio.

- Não liga para esses dois, Mel. – disse Carly. – Jesse e Roman se amam, mas não admitem.

- Cala a boca, garota. – Jesse mostrou a língua para ela.

Cruzei meus braços esperando que suas brigas acabassem, voltando minha atenção ao jogo, o qual parecia estar quase no fim. Entre muitos jogadores, havia um que me trouxe uma sensação estranha, ele se movia rapidamente entre eles, praticamente sem dificuldade nenhuma em desviar facilmente. Paralisei completamente, minha total atenção se voltou a ele e tudo o que acontecia em volta, parecia ter desaparecido.

Ele se movia como um verdadeiro lobo atrás de sua caça, passando em meio aos outros jogadores como se eles fossem apenas obstáculos pequenos.  Desviou de dois mal parecendo tocá-los, levando com os pés a bola com toda a facilidade do mundo e quando percebi a bola já atingia o centro do gol sem o goleiro mal a ver, causando olhares duvidosos em sua direção. Sem comemorar, ele apenas sorriu levemente para o goleiro, quem bufou pegando a bola que, por pouco, não arrebentara a rede do gol por causa do chute.

O garoto se virou lentamente na direção em que eu estava em pé, ao lado do banco. Tinha uma expressão tranquila e nenhum sinal de cansaço por ter estado em pleno jogo e acabado de fazer um gol. Sua tranquilidade era quase que perturbadora, tanto quanto o meio sorriso estampado em seus lábios como se aquela fosse sua reação por ter feito seu time ganhar. Em sua camisa preta, o número 9 praticamente brilhava em um tom de vermelho vivo, fazendo com que todas as outras camisas não tivessem sentindo algum.

Por um instante, minha atenção se voltou a seus olhos – negros, num tom tão escuro que poderiam deixar a noite no chinelo. Possuíam um brilho próprio, o qual ao mesmo tempo que refletia tranquilidade, também refletia algo confuso, quase que ameaçador como os olhos de Lilian. Ele olhava em minha direção, parecendo entretido com nossa troca de olhares repentina. Eu nem conseguia sentir meus pés, era como se o mundo todo girasse apenas em torno daquele garoto confuso e misterioso.

Senti que alguém chamava meu nome atrás de mim, provavelmente Jes ou Carly, quem poderiam estar até mesmo preocupadas com meu transe repentino. Eu sentia medo por seu olhar, porém, sentia algo me acalmando, como se ele estivesse apenas zelando por minha segurança. Estranho. Não havia como ser isso, seria perturbador demais.

Mas estava.

Eu sentia medo dele.

Porém, também sentia que sua tranquilidade me acalmava.

E assim, surgiu algo em seu rosto, um sorriso terno, cuidadoso e só para piorar, exatamente na minha direção.



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Notas finais do capítulo

HAAAAAAAAAAAA GAROTOS MISTERIOSOS!!! Adooooro kkkkkkkk



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