Um toque francês escrita por lufelton


Capítulo 30
Capítulo 30- Do Bom para o Imprescindível Final


Notas iniciais do capítulo

Aqui está, meninas. O tão esperado final. Ou talvez nem tão esperado assim, né? Enfim, espero que vocês gostem realmente desse. Afinal, é o último. Esse vai em homenagem a todas que acompanharam, comentaram e tiveram o prazer de vivenciar uma verdadeira estória de amor francesa.
Um grande beijo para minhas lindas leitoras
E boa leitura :)



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Eu já estava dentro do ônibus, indo em direção ao estádio de Bercy. Local onde ocorreriam todas as apresentações da Final de dança. Todas as meninas conversavam. Botavam absolutamente todo o assunto em dia. E tudo isso para esconder o seu nervosismo perceptível. O pensamento assombrava, pois, na verdade, não sabíamos se estávamos preparadas. Não sabíamos se tínhamos chances para ganhar. E nem ao menos queríamos pensar na equipe inglesa, a qual havia sido a responsável pela nossa despencada de pontos e a razão pelo o nosso interminável medo.

Um trânsito infernal ocorria em Paris e eu quase gritava de alívio quando a treinadora Jean nos informou que havíamos chegado. O estádio era imenso e a decoração estava linda. Os juízes terminavam de organizar e preencher alguns papéis no centro do estádio. Enquanto as arquibancadas eram ocupadas pelas pessoas que chegavam. Tudo isso era apreciado pelos meus olhos atrás da cortina, até mãos tocarem o meu rosto e taparem a minha visão.

– Onde está a inglesa mais linda de Paris? – perguntava a misteriosa pessoa.

A misteriosa pessoa que se chamava Peter.

– Você veio! – eu disse retirando suas mãos e o abraçando com força.

– E você acha que eu perderia a apresentação? Justamente nesse lugar maravilhoso. – ele indicava os braços para o que estava ao nosso redor. – Ah, quase me esqueci. Seus pais já estão aqui.

– Eu sei, eu já os avistei. – eu concordei enquanto sorria levemente. – Ai Pet, estava com tanta saudade sua. – eu disse o abraçando mais uma vez.

– Mesmo? E não está com saudade de mais ninguém, não? – ele perguntou olhando em meus olhos maliciosamente.

– Do que você está falando? – eu perguntei rindo, mas ao mesmo tempo confusa. E não deu outra, Peter deu um passo para o lado e eu pude ver Vagance parada na porta. Ela já estava preparada. Maquiada, vestida e pronta para dançar. – A gente se fala depois Peter. – disse encarando-a e saindo dali. Até que minha mão foi puxada, impedindo-me de avançar.

– Espera, Drew! Eu sinto muito... – ela dizia parecendo chateada.

– Sente muito? Deveria ter sentido muito antes de fazer o que você fez. – eu falava alto, arrancando minha mão da sua.

– Drew, eu sei que eu errei... Mas... Eu e Michael não estamos mais juntos. – ela falava entristecida.

– Michael? – eu ria forçadamente. – Que se dane o Michael. Não me importo mais com ele. E muito menos com você. – eu indicava a cabeça para ela, fazendo uma cara de nojo.

– Por favor... Não diga isso... Não estrague a nossa amizade. – ela pedia quase entrando em lágrimas.

– Desculpe, Amber. – disse seriamente, fazendo-a me olhar seriamente por tê-la chamado pelo próprio nome. – Mas você já estragou há muito tempo. – eu disse calmamente olhando em seus olhos. E quando vi que ela não iria reagir, fui embora.

Depois de alguns minutos de tanta espera, os locutores, finalmente, já começavam a chamar as equipes e, como previsto, a equipe da Inglaterra seria a primeira a se apresentar. E nós, da equipe francesa, demo-nos as mãos e olhamos cuidadosamente a apresentação das inglesas.

Elas começaram com a música Toxic, a qual eu já sabia que seria apresentada antes de ter vindo para a França. No começo, tudo estava bom. Vagance estava na frente de todas as integrantes, pois, sinceramente, ela era a melhor delas. E era inegável, todos aplaudiam e gritavam para a sua apresentação. Até os próprios juízes as admiravam com olhos diferentes.

E isso tudo ocorria até Vagance ter caído, fazendo todas integrantes de sua equipe pararem de sincronizar. Ninguém acreditava no que estava acontecendo. Tudo estava uma bagunça. E eu só conseguia pensar em uma coisa: Tudo que vai, inesperadamente, irrevogavelmente e desesperadamente também volta. Vagance estava pagando pelo preço que ela havia nos feito passar na semifinal. Por isso, nem uma de nós lamentava pelo o seu erro. Apenas continuávamos assistindo a apresentação silenciosamente.

– Parece que para a Inglaterra tudo deu errado. – dizia o locutor, após a dança acabar e as meninas se retirarem do palco. – Porém, não vamos mais sofrer. Ainda restam algumas equipes para se apresentarem e uma delas se chama França. – disse arrancando vários gritos da platéia. – Onde estão vocês, francesas? – gritou. E a treinadora Jean fez sinal para que nós entrássemos.

Minha garganta estava seca. Minhas pernas cambaleando. Eu tinha que respirar fortemente para me manter atenta. Nós ficamos em nossos lugares no palco, enquanto todos gritavam. Mas o que mais me deixava nervosa era que eu estava na frente de todas. Eu lideraria todas. E não poderia cometer um simples erro.

A música Till The World Ends começava a tocar. No começo, o seu ritmo era calmo e chamativo, o que nos dava facilidade para começar os passos. E quando o refrão da música começou a ser repercutido, o estádio veio abaixo. A nossa coreografia estava tremendamente sincronizada. Eu fazia os movimentos com toda a fragilidade possível. Estava até me sentindo a verdadeira Britney Spears, com os passos provocativos e suas expressões faciais. Tudo estava maravilhoso.

Até o momento em que eu o vi. Ele sorria graciosamente para mim. E eu não podia acreditar.

Nicolas estava aqui.

E, quando menos pude perceber, a música já havia acabado. Todos aplaudiam sem parar. Todos gritavam como nunca. E eu sorria sem ao menos me dar conta. Todas nós saímos do palco e esperamos as outras equipes se apresentarem para sabermos os resultados. Depois de nós dançavam as equipes alemãs, brasileiras, japonesas e holandesas. E, quando todas essas foram encerradas, os locutores chamaram absolutamente todas as equipes para se encontrarem no palco.

– Meninas, independente de tudo... Vocês estavam maravilhosas. – gritava a treinadora Jean, a qual estava com os olhos cheios de lágrimas. E nós apenas a abraçamos antes de ir até o palco. No momento em que estávamos todas reunidas, ninguém mais falava. Era um momento de silêncio insuportável, o qual deu tempo para eu dar uma olhada no lugar em que Nicolas estava.

Porém, ele não se encontrava mais ali.

– Senhoras e senhores! É com alegria que estamos aqui reunidos essa noite para apreciar essas grandiosas dançarinas. Todas vocês são campeãs, meninas. Pelo seu esforço e talento. Apesar de somente uma das equipes ter o privilégio de levar o troféu de ouro. – ele alegava. – Mas, vamos direto ao assunto. Em terceiro lugar, tenho o prazer de apresentar as lindas meninas do Japão. Foi um grandioso desempenho, meninas. Meus parabéns! – dizia o locutor arrancando várias palmas. – Em segundo lugar, os juízes alegaram ter sido o mais difícil de decidir. Quase houve um empate, porém desde quando juízes gostam de empates? – disse fazendo diversas pessoas rirem. – Então, por incrível que pareça, o segundo lugar vai para as... Inglesas! – com um tremendo esforço mantive a boca calada, pois a minha vontade era gritar até não poder mais. Isso não estava acontecendo. Isso só podia ser um sonho. – E, em primeiro lugar, com muito merecimento e dedicação vão para as... Francesas! – e nós simplesmente soltamos as nossas mãos e fomos até o centro do palco pulando e gritando. Eu não sabia se eu chorava ou sorria. Tudo estava confuso em minha mente. Eu nunca imaginei que por um momento eu sentiria tanto orgulho da França. Sentiria tanto orgulho de uma equipe que não parecia ser minha.

– Conseguimos! Nós ganhamos! Nós ganhamos! – gritava Margot enquanto ela me pegava no colo com facilidade. Eu não sabia o que responder. Eu somente sorria, deixando que as lágrimas representassem a minha felicidade.

Depois de minutos dançando, pulando e gritando, decidimos voltar para o local onde a equipe francesa estava reunida. Tudo era uma festa. E no final, as meninas recolhiam os seus pertences, para irem embora.

– Olhem para a câmera! – dizia Margot indicando a sua filmadora para nós. Ríamos e abanávamos como resposta. – Drew, você pode dar uma checada nela para mim? Tenho que ir até a arquibancada ver a minha mãe.

– Claro, deixe aí. – disse indicando a mesa. E, quando menos percebi, estava somente eu na sala.

Eu e mais alguém.

O alguém que me abraçava fortemente.

– Michael? – perguntei, sendo praticamente esmagada pelo seu abraço.

– Que bom que você ainda reconhece o meu abraço. – disse sorridente enquanto me largava no chão delicadamente.

– Na verdade, eu vi você entrando. – disse secamente indicando a porta.

– Ah... Uma pena, pois eu queria fazer uma surpresa para a minha linda namorada. – ele disse se aproximando para mais um abraço. Porém, dessa vez, eu me afastei.

– Sua namorada? – eu perguntei rindo forçadamente. Era incrível o quanto eu não ligava mais para o que Michael pensava. – Qual foi a parte dos telefonemas recusados que você foi capaz de concluir isso?

– Ah, Drew... Por favor, vamos esquecer aquela cena. – ele disse apertando-me contra a parede. – Vamos voltar a ser o que nós éramos antes.

– Me larga, Michael. – eu disse afastando-o de meu corpo. – Você enlouqueceu? Nós nunca vamos voltar a ser o que nós éramos antes, pois nós nunca fomos absolutamente nada. – eu dizia em tom alto.

– Mas... Achei que você gostasse de mim. – ele disse, parecendo estupidamente entristecido.

– Exatamente. Eu gostava. Porém, as coisas mudam. – eu ressaltei, pegando a minha bolsa e indo embora daquela sala, deixando-o sozinho. E então, decidi ir em busca de meus pais, que estavam em algum lugar na arquibancada. Tive que descer e subir vários degraus para chegar até eles. O estádio era realmente imenso.

– Filha! – gritava minha mãe indo ao meu encontro. – Você estava tão linda. – dizia praticamente em lágrimas.

– O bebê cresceu. – dizia meu pai, dando-me um beijo em minha testa.

– Senti tanta falta de vocês! – eu dizia, abraçando-os com força.

– Nós também. Aliás, temos tanta coisa para te contar... – meu pai dizia animado.

– Vamos logo para o hotel então. O metrô irá lotar em alguns minutos. - apressava-nos minha mãe.

– Vamos. – disse enquanto puxava os meus pais. Porém, eu larguei suas mãos imediatamente no momento em que me lembrei da filmadora de Margot em cima da mesa. – Não posso ir.

– O quê? Por que não? – perguntava meu pai confuso.

– Eu esqueci... A filmadora de Margot em cima da mesa. – eu dizia nervosa, temendo que alguém roubasse.

– Muda de país, mas as atitudes não mudam. Não é, Drew? – dizia meu pai com um olhar de desaprovação. – Eu e sua mãe vamos para o hotel, que por sinal é bem longe de Stranger’s Place. Mas você sabe pegar metrô sozinha, não é? – perguntava meu pai parecendo preocupado.

– Sei. – garanti-o. Ele fez sinal com a cabeça para que eu fosse. Tive de subir e descer todas as escadas para alcançar a sala onde estava a filmadora. E quando cheguei, percebi que Michael ainda estava lá. Arrumando a sua camiseta.

– Ainda está aqui? – estranhei.

– Minha nossa... Que susto... É, estou. Achei que você fosse voltar, pois me esqueci de te entregar as flores que eu encomendei para você. – disse erguendo um buquê de rosas vermelhas, o qual me parecia familiar.

– Você... Você trouxe? – eu perguntei e ele concordou orgulhosamente com a cabeça. – Bem... Obrigada, são lindas! Porém... Saiba que isso não muda em nada.

– Ah, Drew! Para com isso! Pare de se fazer de difícil. – dizia Michael fazendo-me rir de canto, porém o meu sorriso havia sumido completamente quando eu tinha visto aquele bilhete.

O bilhete que Nicolas havia feito para mim no hospital.

– Cadê ele? – perguntei, virando-me nervosamente para Michael.

– Ele q-quem? – gaguejou.

– Nicolas! Onde ele está, seu mentiroso? – eu perguntava furiosa. – Essas flores não são suas. São dele! –eu indicava as flores para ele.

– E que diferença isso faz? Ele foi embora mesmo. – ele disse fazendo uma cara entristecida.

– Seu mentiroso! Ele veio atrás de mim e você o mandou embora! – eu gritava.

– Como você pode saber? Você não estava aqui. – disse me provocando. Mas sua pergunta havia me dado uma grande ideia.

A filmadora de Margot ainda estava ligada.

– É o que veremos agora. – eu disse pegando a filmadora e avançando para a cena em que ele havia chegado.

E eu estava certa. Ele realmente veio atrás de mim com as suas lindas flores.

E eu, simplesmente, vivi aquela cena.

– Drew! – ele gritava. Porém, a única pessoa que ele havia encontrado era Michael. – Ah, você... – ele reconheceu Michael imediatamente.

– E você... Quem seria? – Michael perguntava se mostrando confuso.

– Nicolas... Nicolas Morin. – ele se apresentava.

– Ah... Você é o novo namorado da Drew. – ele ria. – E você trouxe isso para ela? Que romântico... Eu mandarei o recado para ela quando voltarmos para a Inglaterra.

– Ela vai voltar para a Inglaterra? – ele perguntava surpreso.

– Você acha que ela largaria o país dela pela França? – ele ria novamente. – Ou por você? – disse duramente, fazendo Nicolas olhar para ele sem esperança em seus olhos.

– Eu achei que ela...

– Que ela gostava de você? Sinto muito... Ela sempre gostou de mim. – disse, fazendo-me suspirar de raiva. Nicolas paralisou. Botou as mãos nas cinturas enquanto estava com as flores em uma das mãos. Pensou. Pensou. E pensou. Até finalmente cortar o silêncio.

– Então... Ao menos, diga a ela que essas flores são para ela... E que ela... – ele suspirou. – foi a pessoa mais especial que eu já conheci em minha vida.

– Pode deixar. Eu digo. – disse Michael risonho, enquanto Nicolas saía da sala lentamente. – Mas tente não ligar para ela. Gostamos de privacidade. – ele disse provocativo e Nicolas, simplesmente, voltou correndo e o agarrou pela gola da camiseta deixando-o na parede.

– Me larga, seu maluco. – disse Michael lutando em vão. Nicolas era muito mais forte que ele.

– Escuta aqui seu riquinho de merda! – Nicolas falava bem perto de seu nariz. – Você não vai me dizer o que fazer. Continuarei ligando para ela todos os dias para perguntar se ela está bem. E o dia em que ela me disser que você a magoou, eu irei atrás dela. Não importa onde ela esteja. Somente para servir de ombro consolador, ou para levá-la para longe de você. – ele cuspia as palavras em seu rosto. – E não pense que você poderá somente beijá-la e ir embora. Não. Você vai ter que fazer muito mais do que isso. Você irá, todas as manhãs, mandar mensagens para ela perguntando como ela está. Você irá até ela para lhe servir um pouco de chá, pois ela jamais poderá começar o seu dia sem uma xícara de chá em sua manhã. Sempre quando puder, diga a ela o quanto ela é linda. O quanto ela é inteligente. E o quanto você é feliz em tê-la como namorada. Peça desculpa a ela todos os dias por tê-la deixado partir, até o momento em que ela te perdoar de verdade. Nunca se esqueça de mandar rosas avermelhadas para ela. São suas preferidas. Esteja presente em todos os seus treinos e mesmo quando não for o seu melhor dia, diga a ela o quanto ela é talentosa e dedicada. Quando você tiver o privilégio de deitar ao seu lado, faça-lhe um cafuné até que ela adormeça. Quando ela chorar, seque as suas lágrimas até não poderem mais cair. Quando ela estiver brigando com você, beije-a até ela ser completamente sua novamente. E quando ela se sentir triste, por favor, diga que você a ama. – e ele, finalmente, largou Michael de suas mãos. – Faça o que eu não fiz. Faça o que eu nunca terei a oportunidade de fazer. Cuide bem dela. Seja especial para ela, pois se você não sabe... Ela é a menina mais incrível que apareceu em minha vida. – ele disse olhando para o chão, entristecido. – Então... É isso. Seja bom para ela.

– Hã... Tudo bem... É... Obrigada pelas... Pelas dicas. – Michael disse seriamente arrumando a sua gola. Nicolas apenas concordou com a cabeça e saiu. E, depois de alguns segundos, eu havia chegado.

Sem perceber, lágrimas caíam de meus olhos. Eu fechava a filmadora lentamente pensando em absolutamente todos os detalhes que ele havia dito. Eu não acreditava no que eu havia visto. Eu não acreditava em quão estúpida eu havia sido em mandá-lo embora. Eu tinha que ir atrás dele, antes que fosse tarde demais.

E eu sabia o lugar em que ele estaria.

– Drew... Eu... – Michael puxava meu braço me impedindo de ir até a saída, mas eu não disse mais nada. Apenas cuspi em seu rosto, fazendo-o largar meu braço para limpar a sua cara. Eu corri com toda a minha força para a saída, enquanto colocava a máquina dentro de minha bolsa. Nada mais importava. Nada mais era motivo para que eu parasse. Nada mais seria a força que me impediria.

Nicolas era a única força que me movia.

Quando finalmente desci os últimos degraus do imenso estádio de Bercy, corri até o metrô. E para a minha sorte ele não estava tão distante. Mas de qualquer modo, eu continuava correndo. Eu passava o último ticket que havia em minha bolsa na máquina para que eu entrasse. E eu continuava correndo. O metrô que ia em direção à La Motte-Picquet Grenelle estava quase saindo. Suas portas estavam fechando lentamente. E no pouco espaço que havia, eu passei, fazendo-me ir até o outro lado do metrô. Todos me olhavam assustadoramente. Mas eu não me importava.

Afinal, quais deles não fariam isso pelo o amor da sua vida?

Eu batia o pé nervosamente no chão, esperando que a estação chegasse. Mas ainda restavam muitas para eu suspirar de alívio. Eu temia que Nicolas fosse embora e eu nunca mais pudesse vê-lo. Eu tentava não pensar nisso. Porque eu sabia que se isso acontecesse, eu nunca mais seria feliz.

Queiram-me todos os homens, mas somente ele tinha o meu coração.
E enquanto eu me torturava mentalmente por ter sido uma tonta, as portas do metrô se abriram. E a voz automática dizia: La Motte-Picquet Grenelle. Eu, simplesmente, pulei para fora da locomotiva, enquanto eu gritava:

Merci! Merci! Merci! Que Deus abençoe a França! – e todas as pessoas olhavam para mim. Muitos turistas que entendiam o que eu falava riam. Eu ria junto, aliás, eu estava ocupada demais para rir de alguma coisa.

Eu tinha que ir atrás de Nicolas.

E isso era o meu único dever.

Quando finalmente cheguei até a Torre Eiffel, não me dei nem ao trabalho de beijá-la. Segui meu caminho até onde Nicolas estava.

Até o Trocadéro.

Porém, no momento em que subi todas as escadas, atravessei todas as avenidas e caminhei tudo o que eu podia para alcançá-lo, notei que ele não estava ali.

E o pior de tudo era que eu não sabia onde ele estava.

O meu tempo estava se esgotando e eu, simplesmente, decidi desistir.

Fui exatamente até o local onde nos beijamos pela primeira vez. Eu acariciava o chão em que havíamos pisado. Eu subia o muro em que havíamos apreciado a gigantesca Torre Eiffel. E eu esperava que o vento me guiasse.

– Nicolas! Seu idiota! – eu gritava. – Por que você não está aqui?

E, quando menos percebi, sua adorável voz invadia os meus tímpanos. Fazendo com que toda força, toda energia, toda tranquilidade voltassem a habitar o meu corpo.

– Mas eu estou bem aqui. – ele disse calmamente, logo atrás de mim.

– Nicolas... – eu disse, enquanto descia do muro lentamente.

– Você... Você vai perder o seu trem de volta para a Inglaterra se ficar aqui. – ele disse abaixando a cabeça, entristecido.

– Eu não vou a lugar nenhum. – eu esclareci, fazendo-o me olhar surpreso.

– Não vai? – perguntou-me confuso.

– Ele mentiu, Morin. Nada do que ele disse é verdade. – eu explicava, esperando que ele acreditasse.

– Imaginei. – ele disse sorrindo com o canto de sua boca, fazendo-me suspirar de alívio. – Afinal, como sabia que eu viria até aqui?

– Eu... Não sei. – respondi sincera. – Acho que foi uma intuição, Morin. – disse, fazendo-o estremecer.

– Não me chame assim. Me chame de Nicolas. – ele pediu.

– Mas... Todos te chamam de Morin. Achei que seria estranho se somente eu te chamasse de Nicolas. – eu me explicava.

– Não é estranho... Eu sempre preferi que você me chamasse de Nicolas. – ele admitiu e eu sorri com os olhos.

– E... Claire? Como ela está? – tomei coragem para perguntar, engolindo em seco.

– Eu não sei. Eu não me importo. – admitiu, fazendo-me tremer.

– Como... Como assim? – eu perguntei confusa.

– Era isso que eu queria tanto te dizer, Drew... Eu e Claire não estamos mais juntos. – ele revelou sem mostrar chateação.

– Mas eu achei que...

– Achou que eu tinha ido atrás dela para me desculpar? Não. Eu fui atrás dela para dizer a ela que eu não estava mais interessado. – revelou.

– Então... Por que esperou tanto para fazer isso? Por que tinha que ser naquele momento? – eu perguntei, insistindo naquela cena.

– Porque foi o único momento em que eu tive a certeza de que tinha você. – e nossos olhos se encontraram novamente, ele se aproximava de mim. Minhas mãos tremiam enquanto a minha pele mudava de temperatura para a mais baixa possível. – Eu fiquei com medo. Com medo de ficar sozinho... Eu sei, eu fui um estúpido em pensar isso. Mas eu não tinha certeza se você gostava de mim... O meu relacionamento com Claire estava pior a cada dia. E o dia em que você apareceu... Isso só se confirmou. – ele relatava.

– Eu fui um grande problema na sua vida, não é? – eu disse rindo envergonhada.

– Como você pode pensar isso? – ele perguntou indignado.

– Bem... Eu nunca...

– Drew, você foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. - ele me interrompia. - Lembra aquele dia que eu te apresentei a Place de La Concorde pela primeira vez? Você me perguntou como eu sabia que aquela fonte de desejos funcionava e eu respondi que um dos meus pedidos havia se realizado... Quero que você saiba que o meu pedido foi que eu queria que alguma coisa acontecesse na minha vida para que eu voltasse a ser feliz. Para que alguma coisa ocorresse para dar mais sentindo a minha vida tão sem graça... E no dia seguinte, coincidentemente, nós nos esbarramos. E eu tive o prazer de te conhecer. – eu não conseguia responder uma só palavra, eu apenas o admirava com os meus dois grandes olhos azuis. – Você realmente achou que eu não gostasse de você? Você realmente achou que todos os nossos momentos não foram especiais para mim? Então você está realmente enganada, pois eu me lembro de cada um... Como o dia em que você me encorajou a pintar e eu tive o privilégio de mandar meus desenhos para um grande artista francês, o qual não para de me mandar mensagens querendo que eu me encontre com ele pessoalmente. Ou no dia em que nós nos pintamos... E quase nos beijamos. Ou na nossa primeira aula de química, em que eu pedi um lápis emprestado para você, mas, na verdade, a minha única intenção era ficar do seu lado, para ser a sua dupla. Ou quando eu te contei toda a minha infância e você me acolheu como ninguém mais pode. E como esquecer do momento em que eu voltei para Stranger’s Place bêbado e você nem ao menos se importou com o fato de eu ter vomitado nas suas pernas. Ou quando você me tirou da depressão, encorajando-me a sair daquele quarto para cairmos nas noites de Paris e irmos até o clube, para no final sairmos correndo dos policiais. Os dias em que dormimos juntos, os quais eu me sentia muito mais confortável com o seu cheiro bem perto de mim. O dia em que quase perdemos o trem para Amsterdã. Ou o momento em que você me ligou para me contar o quanto Vagance e Michael haviam sido sacanas com você. O seu aniversário, o qual dançamos juntos... E eu sabia que o momento mais especial estava próximo. O momento o qual eu te beijei pela primeira vez. Bem aqui. – ele puxou a minha mão, colocando-nos exatamente no mesmo lugar. – E você ainda acha que nada disso foi especial? Que nada disso teve valor para mim? Se você pensa isso, eu realmente sinto muito, eu realmente sinto muito por não ter demonstrado de uma maneira melhor... Pois saiba que eu me apaixonei pela minha melhor amiga. Por você Drew! Você é linda, engraçada, inteligente, carinhosa e eu te amo muito. Muito, Drew. – ele admitia e eu não podia fazer mais nada, além de chorar. As lágrimas escapavam de meus olhos e eu não conseguia conter a minha emoção. A minha alegria. A minha valorização.

– Ah... Que droga! Eu estraguei tudo, não é? – ele disse parecendo entristecido, enquanto se referia às minhas lágrimas. – Eu... Eu juro que vou embora... Se quiser eu vou primeiro para você não olhar mais na minha cara e... – mas eu o puxei. Puxei-o para bem perto de mim. E tive o prazer de entrelaçar minhas mãos nas suas.

– Não... Fica. Eu quero que você fique. Quero que você sempre fique comigo. – eu sussurrava sentindo seu hálito fresco, enquanto ele formava um lindo sorriso em seus lábios.

– Se você quiser, eu sempre vou ficar com você. Você é tudo para mim. – e, de repente, nós estávamos nos beijando. Só que, dessa vez, mais lento. Mais calmo. Mais apreciador. Porque, dessa vez, nós sabíamos que teríamos muito tempo para degustar, para experimentar, para voltar a se apaixonar pelos nossos próprios lábios.

– Drew. - ele sussurava com os seus olhos ainda fechados. – Você nunca disse que me ama. Ao contrário de mim que estou quase morrendo aqui... -ele disse, fazendo-nos rir.

– Eu te amo. – e eu o beijava. – Eu te amo. – beijava-o novamente. – Eu te amo. – e de novo. E nós continuamos juntos. Abraçados. Beijando-nos. Tocando-nos. Até o momento que cansássemos de verdade, pois agora só tínhamos tempo para um e para o outro.

E, dessa vez, ninguém mais atrapalharia isso.

Muitos meses se passaram. Eu e Nicolas estávamos mais próximos do que nunca. Apaixonados como nunca. Amigos como nunca. Éramos um casal propaganda. Todos admiravam e ninguém entendia como poderia existir um amor tão grandioso, tão forte, tão verdadeiro. Nicolas me levou para a Escócia para conhecer a sua mãe. Ela era uma grande pessoa e, por sorte, ela estava se recuperando. Logo mais, os médicos poderiam confirmar que ela estava 100% curada. E, como presente de um ano de namoro, ela nos pagou um apartamento em Paris. Um lugar onde tínhamos como vista principal a Torre Eiffel. Um lugar o qual decidimos morar juntos. Eu não voltaria mais para a Inglaterra e nem ele para a Escócia. Começaríamos em um lugar novo a nossa vida nova. Eu continuei dançando até ser contratada por um famoso empresário francês. Eu me apresentava com grupos diferentes em regiões diferentes, em torno de toda a Europa. Nicolas decidiu se formar em direito, mas nunca abandonou suas pinturas e desenhos, as quais muitas delas ele conseguia vender várias cópias. Desirée e Edmound, após se formarem, decidiram morar na Itália e já deixaram lugar reservado para nós quando decidíssemos visitá-los. Margot foi aceita em uma das melhores universidades de dança na Inglaterra. Eu nunca mais tive o prazer de ver Sophie, mas creio que não foi preciso me vingar. Estar com Nicolas era muito melhor do que qualquer vitória. Vagance continuava me mandando e-mails dizendo que estava com saudade e que gostaria de me ver e, finalmente, encorajei-me para respondê-la. Eu sabia que nunca mais voltaríamos a sermos as mesmas, mas eu não queria mais a nossa inimizade. Eu queria me mostrar indiferente a todos os problemas que ela me causou. Queria mostrar que o perdão vale muito mais a pena do que qualquer remorso. E Nicolas me apoiou muito nessa decisão. Meus pais gostaram muito de Nicolas. Serviram até chá para ele, em comemoração à nossa chegada a Inglaterra. Um momento realmente milagroso. Michael estava morando nos Estados Unidos e vivia feliz com uma nova namorada. E Peter estava vivendo em Amsterdã, dando aulas de danças em diversas escolas.

Eu e Nicolas, no momento, entrávamos na cafeteria de Les Deux Maggots, local aonde nós íamos toda a semana. Havíamos até feito amizade com os garçons, os quais falavam inglês conosco.

– Senhorita Kimberley! Senhor Morin! – alegrava-se o garçom Tom. – Estava até pensando que não viriam mais... O que irão comer? – ele perguntava, guiando-nos até uma mesa.

– O de sempre, Tom. – sorri para ele e, como resposta, deu uma piscada para nós, pois o de sempre significava um fabuloso Croquet Monsieur.

– Escócia, Inglaterra, França, Holanda... Para onde mais iremos? – Nicolas perguntava contando os lugares nos dedos.

– Você esqueceu a Alemanha... De novo. – revirei os olhos e ri levemente. Ele me beijou. – E de novo. – ele me beijou mais uma vez. – De novo... – e mais um beijo, até começarmos a rir de nós mesmos. – Eu estou falando da Alemanha, bobinho.

– Ah, desculpa... Achei que fosse para eu te beijar de novo, de novo e de novo. – ele disse me beijando mais três vezes. – E quem se importa se eu esqueci um lugar? Foram tantos... – ele suspirava.

– E já está cansado? Ainda quero conhecer a Europa inteira e, quem sabe, o mundo todo. – eu imaginei enquanto sorria alegremente.

– Cansado? Não... Eu estou com outro sintoma: estou apaixonado. – ele disse sorrindo enquanto beijava minha testa carinhosamente.

– Talvez eu consiga curar esse sintoma. – eu disse beijando-o.

– Tenho certeza de que você consegue. – ele afirmou e eu concordei com a cabeça, e logo o beijei mais forte. Aproximando-o cada vez mais de mim.

E assim era a nossa vida. Nós não éramos felizes para sempre. Não. Nós apenas criávamos o vínculo para, quem sabe, completarmos o para sempre. A felicidade vinha com o tempo. Vinha com o esforço. Vinha com o amor. E tudo era requintado com um leve toque de carinho. Um toque de compreensão. Ou até com um grandioso e imprescindível

Toque francês.


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Notas finais do capítulo

Obrigada, obrigada, obrigada! Obrigada por vocês terem chegado até aqui! Foi tudo muito bom, apesar de não ser a minha última história a ser escrita. Mas essa foi a primeira e eu sempre me lembrarei do quão especial foi. Quero agradecer especialmente a Melina e a Nicole que foram as primeiras a lerem e a comentarem. A nicole lovatic por ter estado até agora comentando e se apaixonando cada vez mais com a história. Um outro agradecimento especial para BiCamps, que também esteve até o final. Quero agradecer pelas recomendações, pelas favoritadas e por, principalmente, terem lido.
E um agradecimento para você, que está lendo isso agora!
Obrigada por terem me apoiado a continuar e sempre me reconfortarem com os seus elogios.
Vocês foram incríveis, gurias! Todas vocês que comentaram. Desculpa para aquelas que não coloquei o nome, mas mesmo o nome de vocês não estando presentes aqui, podem ter certeza de que cada agradecimento foi dedicado para cada uma.
Muito obrigada novamente.
Beijão suas lindas
Luiza