Só mais uma história de amor escrita por Sali


Capítulo 28
Sei lá, a tua ausência me causou o caos...


Notas iniciais do capítulo

Como eu escrevi o capítulo ao som de Gadú e Ana Carolina, nada mais justo que botar uma música da minha paixão platônica como título do capítulo (pra quem não sabe, esse título é trechinho de Altar Particular, da Gadú. Amo essa mulher muito demais pra caralho).
Err... Sei que eu demorei, mas dessa vez vou nem me desculpar. Ceis já devem estar cansados de me ouvir justificando minhas demoras.
O que eu tenho a dizer dessa vez é que demorei mesmo, e demoraria ainda mais, se não fosse uma fagulha que se acendeu na minha cabeça, virou fogo e me fez escrever numa enxurrada de palavras boa parte desse capítulo.
Poético? Também achei.
Bom... Realmente espero que o capítulo compense a demora. Sei que cês tavam esperando por isso.



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Uma semana depois da minha conversa com Gabriel, a principal coisa que havia acontecido comigo era… Absolutamente nada. O tédio dominava praticamente cada segundo dos meus dias, sendo aplacado apenas pelos meus livros e pelas visitas – mesmo que curtas – dos meus amigos ali, e também pela presença de Kim.

A jovem enfermeira se mostrara uma incrível companhia, se mantendo no meu quarto em seus momentos sem trabalho, apenas para conversar. Nós havíamos encontrado diversos pontos em comum, e outros pontos divergentes, sobre os quais conversávamos ainda mais. Porém, nossos assuntos não abrangiam profundamente qualquer coisa pessoal, e ela sabia tão pouco de mim quanto eu sabia dela.

Na terça-feira, o terceiro dia após o acidente, eu finalmente pude tomar um banho decente, mas precisei da ajuda de Kim. Porém, não houve constrangimento. Por mais que conversássemos muito, ela era profissional o bastante para não permitir que a intimidade criada pelas nossas conversas atrapalhasse aquele procedimento, do qual não podíamos fugir.

Mesmo com esse clima tão leve e sem constangimentos, eu não podia negar o que Pedro e Ana já haviam me dito: Kim era bonita. Muito bonita. Os traços delicados e, ao mesmo tempo, fortes, do seu rosto tinham algo de atraente, assim como o desafio presente nos olhos oblíquos, e a sua constituição física – que eu observara brevemente através das roupas de trabalho – nada deixava a desejar. Mas, mesmo assim, eu não conseguia sentir por ela nada além de simpatia.

E, como que para corroborar com essa afirmação, as palavras que Gabriel me disseram não saíam da minha cabeça. Júlia me fez divagar por várias vezes, e eu passei boa parte do meu tempo livre – que era muito – pensando na a ideia de superar meu orgulho e pedir que Ana falasse com ela. No entanto, havia um problema: eu não fazia ideia do que dizer.

Quanto eu mais pensava nisso, menos conclusões pareciam surgir. Em compensação, havia cada vez mais confusão na minha cabeça. O orgulho dentro de mim era substancial, e, unido ao pensamento de que eu, ignorando Júlia, a entristecera o suficiente para que ela tivesse medo de me visitar, entrava em conflito direto com meu desejo crescente de revê-la.

– Mariana?

Levantei os olhos, vendo Kim entrar no quarto com o meu jantar nas mãos.

– Hey.

Ela deu seu sorriso cordial e colocou a bandeja no meu colo. Vendo a comida um tanto mais substanciosa que a água com corante do primeiro dia, dei um sorriso pequeno, cansado, percebendo que eu não estava com a menor fome.

– Não está com fome?

Sorri de canto.

– Eu costumava ser menos previsível.

Kim deu uma risada, balançando a cabeça.

– Não é difícil ler a expressão de uma pessoa quando ela olha com uma cara tão… Desanimada para a comida.

Sorri outra vez, mexendo no cabelo.

– Certo, me desculpe.

Ela sorriu.

– E, além disso, posso não ser da área de psicologia, mas não é difícil ver que tem algo errado aí.

Mordi o lábio inferior e suspirei, ligeiramente surpresa. Kim nunca demonstrara nenhuma preocupação especial com meus humores. Suas preocupações comigo eram limitadas à minha recuperação.

– Bom, eu não sei o que é e não tenho a mínima intenção de me intrometer nos seus assuntos pessoais, Mariana. Mas tente não se estressar demais. Isso é ruim para a sua recuperação. – Ela sorriu de um modo cordial, como uma amiga preocupada aconselhando-me.

Assenti.

– Tudo bem. Eu vou comer.

Kim sorriu.

– Bom jantar.

. . .

Depois de terminar de comer – mais por obrigação que por fome –, eu estava pronta para ler livros até o sono me vencer, ou então o tédio. Kim havia ido atender outros pacientes e eu estava me distraindo relendo outra vez as últimas páginas do livro que eu acabara havia alguns dias, quando ouvi a porta se abrindo.

– Kim? – Perguntei, sem levantar os olhos, fechando o livro e o colocando na mesinha ao lado da cama.

Ouvi o som de passos e da porta se fechando e, sem receber nenhuma resposta, ergui os olhos, quase não acreditando em quem estava ali, diante de mim, me olhando com um misto levemente confuso de preocupação, insegurança e, talvez, saudades nos olhos castanhos.

– Mariana…

Mordi o lábio com força, lutando contra as lágrimas que decidiram subir aos meus olhos. Lutei contra o impulso de me levantar e andar – ou talvez correr, voar, o que fosse mais rápido – até ali.

– Júlia…

Calei-me, sem saber mais o que dizer, querendo dizer tudo e, ao mesmo tempo, nada.

– Você… Se machucou.

Dei um sorriso quase inexpressivo, culpado, me olhando.

– Pois é… Mas… Não é nada de mais. Eu vou poder sair daqui daqui a pouco. Quero dizer… Não tão rápido, mas… – Suspirei, percebendo que eu me enrolara completamente tentando dizer qualquer coisa decente. – Como você soube que eu estava aqui?

Mordi o lábio. Eu sabia exatamente como ela sabia, mas na falta do que dizer, aquilo era a única coisa que me viera à cabeça.

– A Ana me contou.

Assenti.

– É. Ela me disse. Quero dizer… Disse, mas eu esqueci.

Desde que entrara no quarto, Júlia se mantinha de pé, parada a pelo menos dez passos da cama. Ficamos por alguns segundos em um silêncio pesado, até que ela deu mais um passo para perto de mim.

– Eu queria conversar com você.

Assenti.

– Eu também.

– Você não está com… Não está com raiva de mim?

Ergui as sobrancelhas, negando de forma veemente com a cabeça.

– Não, Júlia. Não.

Ela suspirou e, naqueles olhos que eu sabia ler tão bem, vi uma centelha de alívio.

Entre nós, havia uma tensão pairando, quase palpável. E, dentro de mim, tudo que eu desejava era romper aquilo e tomar Júlia em meus braços. Mesmo sem ter certeza, eu imaginava se ela sentia o mesmo. Amaldiçoei a minha impossibilidade de sair da cama.

– Mari… – Ela começou, se corrigindo logo depois. – Mariana… Você disse, faz algum tempo, que queria me deixar livre. Disse que eu não podia ficar com você gostando de outra pessoa e falou que queria me dar um tempo para pensar…

Assenti, sentindo meu coração bater acelerado, lembrando de cada palavra que eu dissera naquele dia.

– Eu me decidi. Na verdade, me decidi naquele dia, quando te vi andando para longe. O que eu quero… O que eu preciso saber é se… Você ainda está disposta a me querer de volta? Mesmo tendo te magoado e falhado daquele jeito?

Suspirei e olhei para baixo, levando uma das mãos ao rosto, e depois ao cabelo.

Depois de alguns segundos, voltei a erguer o rosto.

– Eu te amo como nunca amei nenhuma outra pessoa na minha vida. – Respondi, a olhando nos olhos, sem fazer o menor esforço para disfarçar, na expressão do rosto, os sentimentos dentro de mim.

– Droga, Mari… – Ela disse, tão baixo que eu mal pude escutar.

Olhei-a nos olhos, sem responder nada, como um convite silente. Por alguns momentos, o mundo inteiro pareceu parar, estático.

E então Júlia andou até mim de modo apressado. Senti o impacto forte do seu corpo contra o meu quando ela me abraçou de um modo urgente, nem um pouco delicado, mas não senti dor. Só consegui prestar atenção no calor do seu corpo, no perfume específico que ela emanava, no tato macio dos seus cabelos quando ergui a mão para tocá-los, enquanto ela afundava o rosto no meu peito.

– Eu senti a sua falta. – Sua voz saiu abafada, trêmula e embargada. Senti suas lágrimas molhando a minha fina roupa de hospital.

– Ah, Júlia…


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Notas finais do capítulo

E aí? Compensei a demora? Espero que sim né. Rs.
Agradeçam à Gadú e Ana Carolina (Gadú principalmente, porque né, amo essa mulher), por terem acendido a fagulha de inspiração que me desceu. Basicamente, foram essas vozes perfeitas que me trouxeram a inspiração perdida.
E er... Não sei se tenho mais o que dizer. Bom, agradeço especialmente às meninas que favoritaram a fic, ao povo que comentou e as lindas que recomendaram. Amo vocês, porra.
E... É só.
Beijos, gente. Ceis são demais



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