POV Alice

O resto da semana passou tão rapidamente que nem sequer percebi. Ricardo sentava todos os dias ao meu lado, conversávamos nos horários livres, íamos juntos até o centro da cidade, lanchávamos juntos no shopping antes de ir para a faculdade, fazíamos tantas e tantas coisas juntos que outras pessoas da sala cochichavam sobre nó quase sempre.

Eu realmente não sei se o Ricardo percebia esse tipo de coisa, mas, às vezes, quando estávamos na cantina lanchando e, por coincidência, sentávamos próximo a mesa da Carla e das amigas delas, por exemplo, vez ou outra eu as ouvia dizer entre elas coisas como:

- Até que enfim a esquisita arrumou um companheiro!

- Argh! Não sei como ele agüenta ficar perto dela!

- Puxa! Que chato perder aqueles olhos azuis pra alguém tão sem graça...

Quando eu ouvia comentários desse tipo abaixava a cabeça pois isso me desanimava bastante e, também, porque eu não podia fazer nada contra elas, se eu fizesse algo só pioraria as coisas pois elas começariam a me chamar de fofoqueira ou enxerida. Quando o Ricardo perguntava o que houve, ou por que eu fiquei triste eu dizia que não era nada, que era só impressão dele.

No dia em que combinamos de ir à biblioteca fazer o trabalho, passamos antes na cantina para comermos algo, me ofereci para comprar o lanche enquanto o Ricardo guardava uma mesa pra gente. Cheguei na cantina, comprei um suco pra mim e o lanche do Ricardo, quando eu estava voltando vi, sentadas na mesa junto com ele a Carla e suas amigas.

Até hoje não tenho nenhuma palavra que eu possa usar para dimensionar a raiva que senti naquele dia. Fui andando seriamente até a mesa, o Ricardo estava de costas então acho que ele não viu isso, quando cheguei deixei o lanche dele de qualquer jeito, peguei minha bolsa e fui para a biblioteca, tudo o que eu queria era achar um lugar onde eu pudesse sentar e chorar. Acho que eu realmente tinha começado a gostar do Ricardo afinal.

Assim que cheguei na biblioteca procurei a mesa mais afastada possível, guardei o suco na mochila, peguei o maior livro que pude e levantei como se estivesse lendo-o enquanto minhas lágrimas escorriam sem parar.

Naquele momento senti vontade de bater nele, de bater na Carla, de gritar pra todo mundo que eu achava todos idiotas e que eu não precisava de nenhum deles para viver, além disso, o Ricardo poderia se virar muito bem no grupinho daquelas metidas que eu faria o trabalho sozinha e ponto final. Eu estava tão chateada, tão distraída que levei um susto e deixei cair o livro na hora em que ouvi alguém falar:

- Então é aí que você está?

Levantei a cabeça, por um minuto cheguei a pensar que era ele, mas percebi que era uma voz feminina, era a Thaís, uma das melhores amigas da Carla, fechei a mão e estava seriamente pensando em acertá-la no meio do nariz, bem naquele piercing estúpido que ela usava, mas lembrei que estávamos dentro da faculdade e se eu fizesse isso levaria, no mínimo, uma suspensão. Enxuguei meu rosto o mais disfarçadamente que eu pude enquanto ouvi-a dizer:

- Tá chorando por que perdeu o namoradinho pra Carla é?

Não respondi nada, comecei a juntar minhas coisas em silêncio antes que eu perdesse o controle, ela continuou com a provocação:

- Fica assim não, depois você arruma um coelhinho de estimação, honey!

Coloquei minha mochila nas costas e fui embora dali, dando um grande esbarrão no ombro dela quando passei. O que eu mais queria era ir pra casa, acabei matando a última aula pra pegar logo o ônibus e ter certeza de que não seria o mesmo que o Ricardo. Cheguei em casa uma hora mais cedo que o de costume, com uma cara horrível e ainda tive que ouvir dezenas de perguntas da minha mãe e tentar respondê-las sem que ela se intrometesse na minha vida, logo que pude entrei no meu quarto e tranquei a porta, nem mesmo o computador eu tinha vontade de ligar, bloqueei telefonemas do Ricardo e SMS’s dele no meu celular e fui deitar esperando acordar melhor no dia seguinte.