Ela Tinha Um Nome escrita por Nami Otohime, Lady Salieri


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

13/12/2000



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And Aubrey was her name,

A not so very ordinary girl or name.

But who's to blame?

For a love that wouldn't bloom

For the hearts that never played in tune.

Like a lovely melody that everyone can sing,

Take away the words that rhyme it doesn't mean a thing.



Confesso que já não lembro mais como ela era. Não me recordo se era baixa, se era alta, gorda ou magra. Suas feições são obscuras agora para mim, contudo, jamais me esquecerei da meiguice do seu sorriso e da ternura dos seus olhos.

A primeira vez em que a vi, foi no dia em que me mudei para a vizinhança de sua casa. Estava tirando as coisas do caminhão, quando a vi passar. Tinha um brilho solitário nos olhos que logo foi substituído por ternura quando viu um senhor na calçada da casa que ficava ao lado da minha:

– Bom dia, Seu Geraldo! – disse sorridente.

– Bom dia, minha filha, como está?

– Bem, obrigada, e o senhor?

– Bem, na graça de Deus.

E seguiu seu caminho.

Já vi uma pessoa cumprimentar outra, claro, mas não com a sinceridade dela. Havia alguma coisa a mais naquela garota, talvez uma proximidade (ou convite à amizade) que nunca consegui entender.


E assim se sucedeu a semana inteira.


O engraçado é que fui pegando um amor imensamente puro por aquela menina. Ela passava e cumprimentava a todos. E seguia.

Vez ou outra, a garotinha do 972 a parava para contar que ganhara um brinquedo novo, ou a senhora do 978 para contar do seu estado de saúde. Ela ouvia ambas com as mesma atenção.

A primeira coisa que fiz foi me certificar dos seus horários. Descobri que ela chegava ao meio-dia, saída de novo às duas. Voltava às quatro, isso nas segundas, quartas e sextas. E na terça e na quinta, ela chegava ao meio-dia, saía de novo às três e voltava às seis. E eu estava sempre lá, com um pretexto criado só para ouvi-la dizer “como vai?” e sorrir para mim.

O dia em que faltava a um dos seus compromissos, ou quando saía mais cedo e não a via, sentira um vazio enorme. Era como se ficasse faltando alguma coisa.

Não cheguei a conhecê-la, nunca tive coragem de puxar um assunto, qualquer que fosse. Também não fiquei sabendo seu nome. As únicas coisas que fiquei sabendo foi que seu filme preferido era “encontro marcado” e sua música preferida era “little prayer”, porque a escutei comentando com uma amiga.

O defeito pior da solidão é o fato de que você se apega demais a uma pessoa por uma coisinha de nada, seja por um sorriso, ou mesmo por uma loucura... E apesar de nunca ter tido a oportunidade de conhecê-la, sentia que era seu amigo desde que nasci. Apeguei-me de tal forma que passava muito tempo pensando em inúmeras maneiras de conversar com ela.

Não fiquei naquele lugar muito tempo, devido a meu emprego, e, sinceramente, foi triste o dia em que tive de me mudar. Pensar que não a veria mais me fez ir à sua casa e deixar-lhe um bilhete na caixinha do correio.

E, no outro dia, tamanha foi a minha surpresa quando a menininha do 972 veio até mim para me entregar um bilhete, dizendo ser “da garota da casa da esquina de baixo”.

No bilhete estava escrito com letra enfeitada:


“Da janela do meu quarto vejo acontecimentos,

são lembranças de uma época que não volta,

mas, por mais simples e imperceptíveis que pareceram ser,

acabaram por mudar meu universo

e tornar mais clara a vista

dos lugares escuros para mim.”




But how I miss the girl

And I'd go a million times around the world just to say

She had been mine for a day.



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Notas finais do capítulo

A história foi inspirada em duas coisas. Na música Aubrey do Bread, da qual peguei emprestado o "tom" (e as "epígrafes") e em um vizinho que eu tenho que sofre de uma doença degenerativa e passa grande parte do dia na porta de casa... Não coloquei o meu personagem com essa doença porque, bem, a vida consegue ser bem mais cruel que a arte, né...
Espero que tenham gostado^^.