Death Note: Ressurreição escrita por Goldfield


Capítulo 24
Capítulo XXIV: Atos




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Todas as nossas horas chegaram

Aqui mas agora elas se foram

As estações não temem o ceifador

Nem o vento, o sol ou a chuva… nós podemos ser como eles são

Vamos lá baby… não tema o ceifador

Baby segure minha mão… não tema o ceifador

Nós poderemos voar… não tema o ceifador

Baby eu sou seu homem...

 

La, la, la, la, la
La, la, la, la, la

 

O Dia dos Namorados terminou

Aqui mas agora eles se foram

Romeu e Julieta

Estão juntos na eternidade… Romeu e Julieta

40,000 homens e mulheres todos os dias… Como Romeu e Julieta

40,000 homens e mulheres todos os dias… Redefina felicidade

Outros 40,000 vindo todos os dias… Nós podemos ser como eles são

Vamos lá baby… não tema o ceifador

Baby segure minha mão… não tema o ceifador

Nós poderemos voar… não tema o ceifador

Baby eu sou seu homem...

 

La, la, la, la, la
La, la, la, la, la

 

- - - - - - - -

 

Capítulo XXIV

 

“Atos”

 

O vasto oceano. Céu azul, poucas nuvens. No horizonte, nenhum sinal de terra, apenas água, para todos os lados. O aspecto anil desta combinava e ao mesmo tempo contrastava com o firmamento.

Em meio a tal paisagem vazia, imensa, um ponto surgiu acima do mar, sobrevoando-o. Preto, veloz. Aos poucos se aproximou, revelando se tratar de uma aeronave, mais precisamente um helicóptero. Silencioso, seu maquinário quase não gerava sons. A discrição do transporte fazia jus a seu dono...

Cortando os céus, deslocou-se por mais alguns quilômetros na direção de uma pequena formação de terra que em dado instante desenhou-se adiante. Uma ilha, apresentando tons verde escuros proporcionados pela vegetação tropical que a cobria. O helicóptero reduziu sua velocidade e sua altitude, preparando-se para pousar. O piloto, hábil, manobrou por cima das copas das palmeiras até visualizar um singelo heliporto encravado em meio à selva. Nele, próximo ao “H” gravado em seu centro, um homem moreno e magro, usando camiseta, calças e sapatos brancos que remetiam à indumentária de um médico ou um enfermeiro, já aguardava a chegada dos visitantes. Tinha uma prancheta numa de suas mãos.

A aeronave tornou a manobrar, pousando sem contratempos. O rapaz no solo cobriu instintivamente o rosto com os braços para proteger-se do vento gerado pelas hélices ainda girando, porém este logo se extinguiu. Simultaneamente, uma das portas do transporte foi aberta, permitindo que seus incógnitos ocupantes o deixassem...

O primeiro pé a ser colocado para fora calçava uma bota negra. Depois veio outro, e com os dois, o corpo pálido de uma mulher de longos cabelos pretos, roupas na mesma cor, braços cruzados e cabeça erguida numa expressão gélida. Atrás dela surgiu um homem de curtos cabelos castanhos, óculos escuros, sobretudo marrom e calças pretas... trazendo uma garota loira de aspecto sujo e malcuidado, mãos atadas, roupas de frio rasgadas, portando manchas de sangue e lodo. Os cabelos se encontravam totalmente desgrenhados e seu organismo exalava cansaço. Mantinha a cabeça baixa, olhos ocultos por uma espécie de tampão, e era possível distinguir um ferimento num de seus ombros, já estancado e coberto pelas tiras de um improvisado curativo.

–         Boa tarde – a primeira mulher a deixar o helicóptero saudou o jovem usando traje branco, sotaque japonês em sua voz.

–         Boa tarde, senhorita Mizuno – respondeu ele. – Fomos informados sobre sua vinda. Traz uma nova interna, pelo que vejo.

–         Exato. Esta é Therese Baptiste. Num surto psicótico, ela assassinou todos os membros de sua família, incluindo seu pai policial, na casa em que moravam em Rouen.

–         Certo... – tendo apanhado uma caneta, o funcionário do local anotava os dados fornecidos na prancheta. – Alguma outra observação?

–         Não retirem o tampão dos olhos dela sob hipótese alguma. Therese é extremamente perigosa com os olhos nus, e pode inclusive comprometer a segurança das pessoas no sanatório. Pode garantir isso?

–         Por certo, senhorita.

–         Ótimo. Ela agora ficará sob os cuidados de vocês.

Nisso, uma parte do chão de concreto do heliporto, mais afastada, deslizou sozinha na horizontal, revelando uma abertura. Através dela subiu um elevador de plataforma contendo outros dois homens trajados da mesma forma que aquele com a prancheta. Com cassetetes pendurados nas cinturas, eles aproximaram-se do grupo junto ao helicóptero e passaram a empurrar a loira cabisbaixa rumo ao transporte que haviam acabado de utilizar. O rapaz que recebera os recém-chegados, por sua vez, terminava suas anotações:

 

Fachada: Therese Baptiste, acusada de assassinato de seus familiares em Rouen, França. Clinicamente instável. Olhos devem ser mantidos vedados para auxiliar eventual recuperação.

 

Nível Confidencial: Justine Clare, suspeita de agir como Kira. Capturada em Paris, França. Pode ter acesso ao nome de pessoas apenas visualizando suas faces, por isso devendo ser mantida sempre com os olhos vedados. Alta periculosidade.

 

A mulher de cabelos negros e seu companheiro de óculos escuros retornaram ao interior da aeronave e, sem mais diálogos, esta levantou vôo, as hélices novamente agitando o ar ao redor. Correndo, o jovem com a prancheta uniu-se à sua dupla de colegas sobre o elevador e, pressionando um botão, eles partiram rumo ao subsolo, conduzindo a mais nova habitante daquelas instalações...

Instalações que abrigavam pessoas que deveriam, no exato sentido da expressão, serem esquecidas.

O helicóptero desapareceu no céu e a abertura em meio ao concreto tornou a se fechar, o heliporto permanecendo vazio como se ninguém jamais houvesse pisado nele.

 

Justine sentia-se entorpecida.

A dor de seu ferimento passara, mas mal sentia seu corpo. Desde a partida de Notre-Dame a bordo do helicóptero, nada mais falara, nada mais fizera. Num dado momento, aquele homem de óculos escuros tampara seus olhos com uma espécie de venda. Não se importara. Ao menos assim não a veriam chorando, e essa era a única coisa que ainda se sentia plenamente capaz de realizar...

Pensava no avô, que descobrira ter morrido. Morrera sem saber o que a neta fizera, como ela almejara limpar o mundo de criminosos por intermédio do Death Note. Apesar de ter o peito apertado e sofrer com o pesar de possuir grande culpa na morte de François, Clare sabia desde o início que a perda de pessoas próximas a si seria inevitável. Ela sabia que entrara numa guerra ao se tornar Kira.

Agora, derrotada e traída, estava ali, sendo levada por pessoas desconhecidas a um lugar desconhecido. Resignada, procurava ignorar as informações que seus demais sentidos lhe forneciam, já que se encontrava privada da visão. Deu certa importância apenas ao cheiro de esterilização que atingiu suas narinas assim que o som do maquinário – por certo pertencente a um elevador – se extinguiu. O local deveria se tratar de um hospital ou ao menos ser similar a um...

Um sanatório. Ela entendeu tudo.

Deixou-se conduzir pelos braços que a empurravam através do que imaginou ser um corredor. Não podia mover as mãos, seus pulsos estavam presos. Andou, andou, andou... até ser sentada sobre um provável banco. Retiraram suas algemas: alívio momentâneo! Em seguida percebeu que arrancavam suas roupas, suas botas... Seminua, sentiu frio. A incômoda sensação durou pouco, porém, pois a vestiram com outro tipo de traje. Mas um traje que a apertava imensamente, limitava ainda mais seus movimentos...

Uma camisa de força.

Em seguida, descalça – e sentindo por isso grande frio nos pés – Justine foi novamente erguida e empurrada para outro lugar. Andou mais do que antes, e os homens junto a ela pareciam mais impacientes. Pelo caminho, ouviu duas pessoas misteriosas comentarem a respeito de si:

–         Tão novinha... É uma pena, não? – falou uma voz masculina um tanto jovem.

–         Uma pena mesmo... – replicou a outra, timbre feminino e idoso. – Ela ainda estava no começo da vida, descobrindo as coisas... Uma maçã verde que nem teve a chance de amadurecer!

Justine desejava morrer, porém não teria mais a chance. O sistema que tanto criticara, contra o qual tanto batalhara, lhe impunha a opção de pagar viva por seus crimes. O sofrimento da órfã, a autoflagelação de sua alma, estavam apenas começando...

Ao fim da caminhada, a garota foi atirada dentro do que imaginou se tratar de uma cela, o som atrás de si denunciando que uma pesada e grossa porta era trancada. Tateou o espaço com as solas dos pés: era uma sala, quase um cubículo, coberta por revestimento acolchoado. Se pudesse enxergar, veria que era todo composto da cor branca, um tom único que, aliado à forte lâmpada no teto, quase cegava. Arrastando-se como uma cobra, Clare sentou-se com as costas apoiadas numa das paredes, endireitando-se. Manteve a cabeça baixa como antes. Tinha início agora sua longa espera pela morte, o alívio para sua penúria...

A questão era que, mesmo quando ela viesse, seu descanso não viria. Jamais encontraria seus pais, jamais voltaria a ver o avô.

O destino de Justine Clare, ao morrer, já estava fixado...

 

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Hôtel Splendid Etoile. Tarde de domingo.

Na suíte que antes servira de central de operações aos investigadores do Caso Kira, o ambiente fora convertido em completa desordem. Móveis fora do lugar e cobertos por casacos e gravatas, sapatos jogados pelo carpete, notebooks ligados sem que alguém os usasse... Aqui e ali, os integrantes da equipe de detetives, com as roupas desabotoadas e amarrotadas, sentados em poses desleixadas, cultuavam o ócio. Após uma noite toda em claro e uma avalanche de revelações, a exaustão que os dominava só não era maior que o gosto amargo gerado pela verdade a respeito de “R”: uma assassina capaz de usar métodos tão baixos quanto Kira... E pensar que haviam obedecido às suas ordens sem questionamentos por um tempo considerável!

Rivera fumava, Yahudain havia se entregado ao uísque. O clima no local era de profundos inconformismo e desilusão. Nem ao menos saberiam do paradeiro final de Justine Clare, que ficara sob o poder de Naomi Adams! Esta honraria mesmo suas palavras, mantendo a suspeita viva? Após tudo que transcorrera, todos ali possuíam sinceras dúvidas. E Naomi, que faria agora? Para onde iria? Como passaria os dias que antecederiam sua morte?

Com os pensamentos longínquos e dispersos, todos realizavam mentalmente tais indagações... até que a porta da suíte se abriu, e boa parte dos investigadores, movidos pelo instinto, apontaram suas respectivas armas para o eventual intruso.

Tratava-se de Ernest Adams. Mãos abaixadas, desarmado. Parecia ter vindo em missão de paz.

–         Por que tanto desânimo? – ele indagou, notando o estado de espírito dos demais. – O caso foi solucionado!

–         Acontece que não foi solucionado bem da maneira que nós prevíamos, não é verdade? – após uma tragada no cigarro, Izabela não abriu mão do sarcasmo.

–         Não sente nenhum peso na consciência por ter acobertado os crimes de sua irmã? – Souza inquiriu, sério.

Adams riu de leve e respondeu:

–         Não sinto, e nem vejo razão. Afinal, nós confrontamos Kira numa igualdade de poderio. Fogo contra fogo. Combatemos o bom combate. E vencemos, ainda que a custo de algumas baixas.

–         Vocês são tão frios... – murmurou Dennegan, contrariado.

–         E quanto aos Death Notes? – quis saber Matsuda, levantando-se da poltrona na qual estava sentado.

–         Todos serão destruídos. Encontram-se neste exato momento já a caminho da gradativa incineração. Não precisam se preocupar quanto a isso. De resto, tenho uma recomendação a dar a vocês...

Pensaram se tratar de uma advertência sobre não falarem a ninguém a respeito do que haviam presenciado, manterem somente entre si o segredo relativo à verdadeira identidade de “R”, à solução do caso... Imaginaram até que Adams poderia vir a ameaçá-los. Mas não... O aviso do homem de óculos escuros e sobretudo, acompanhado de um sorriso, tinha teor bem diferente:

–         Voltem para seus países. Sigam suas vidas e sejam felizes. Não se arrependam de nada que tenha a ver com este caso. Pensem sempre que contribuíram, e muito, para que a justiça fosse feita. Kira está detido, Naomi cumpriu sua vingança pessoal. Agora, trilhem seus próprios caminhos. É justamente para isso que nós tanto batalhamos: por um mundo livre. Honrem-no.

Depois de dizer isso, Adams retirou-se calmamente. Todos os outros, em silêncio, entreolharam-se. Não tinham o que falar...

Apenas seguir a recomendação do agente.

 

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Vinte dias depois.

O quarto singelo e pequeno cujo ar antes era tão pesado e angustiante, transmitia agora uma sensação de alívio e dever cumprido a quem nele entrasse. Na mesma cama coberta pelo lençol branco, Naomi Adams, sentada com a cabeça baixa, aguardava. Junto a ela, de pé, Raye Penber mantinha os olhos sobre a amada, asas vermelhas abertas, como se estivesse prestes a erguer vôo. Não havia quaisquer relógios no recinto: tais instrumentos fomentadores de ansiedade eram desnecessários. O fim deveria vir da maneira mais tranqüila possível, sorrateiro, súbito e indolor. Ao menos assim o atribulado casal o esperava...

–         Raye... – a mulher chamou-o em dado momento, levemente trêmula.

–         Sim? – ele replicou com sua voz cavernosa e preocupada.

–         Segure minha mão.

O Shinigami obedeceu, um tanto desajeitado. Com uma de suas mãos raquíticas e enegrecidas, dedos que mais lembravam gravetos tortos, Raye tomou a delicada mão direita pálida da noiva junto à sua. Permaneceram dessa forma durante vários segundos, olhos nos olhos, e, nas faces de ambos, uma lágrima fria rolou, vindo a pingar no chão... as duas praticamente ao mesmo tempo.

Continuavam unidos. Continuariam unidos por todo o sempre.

–         Deve estar chegando a hora... – suspirou Naomi.

Mal concluiu a sentença, uma violenta fisgada assolou o peito da japonesa. Seu tronco fez menção de tombar para trás, porém se manteve firme. Fechou os olhos. A dor era enorme, insuportável. Mas não gritou, nem sequer gemeu. A mão de Raye, a presença dele, davam-lhe forças para suportar sem titubear qualquer obstáculo, qualquer sofrimento. Logo tudo estaria acabado.

A dor logo cedeu lugar a uma gradativa perda de sentidos, à completa falência do corpo da detetive. Tendo o coração deixado de bater, tudo se tornou opaco e confuso. Sem mais controlar seus movimentos, suas costas tocaram o colchão, deitando-se de maneira desajeitada. Soltou a mão do amado. Ainda sofreu alguns espasmos, rolou pela cama, os braços se contorceram... Porém não manifestou em nenhum momento desespero. Ela havia planejado aquilo, era algo necessário para o término de sua missão, a cruzada que decidira abraçar. Passaria rápido.

Quando não sentia mais nenhum membro de seu organismo, nenhuma mísera célula, veio o clarão...

E o flagelo acabou.

 

Love of two is one
(O amor de dois é um)
Here but now they're gone
(Aqui mas agora eles se foram)
Came the last night of sadness
(Veio a última noite de tristeza)
And it was clear she couldn't go on
(E estava claro que ela não poderia continuar)
Then the door was open and the wind appeared
(Então a porta estava aberta e o vento surgiu)
The candles blew then disappeared
(Os candelabros se apagaram e desapareceram)
The curtains flew then he appeared... saying don't be afraid
(As cortinas voaram e então ele reapareceu… dizendo não tenha medo)
Come on baby... and she had no fear
(Vamos lá baby… e ela não tinha nenhum medo)
And she ran to him... then they started to fly
(E ela correu para ele… e aí eles começaram a voar)
They looked backward and said goodbye... she had become like they are
(Eles olharam para trás e disseram adeus… ela havia se tornado como eles são)
She had taken his hand... she had become like they are
(Ela havia pegado sua mão... ela havia se tornado como eles são)
Come on baby... don't fear the reaper
(Vamos lá baby… não tema o ceifador)

 

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Death Note – Como usar:

 

- "O humano que usar o Death Note, após sua morte, irá para o mesmo destino que as pessoas mortas por ele: nesse caso, o vazio" – tal regra, bastante difundida entre os deuses da morte, não passa de uma mentira propagada pelo Rei Shinigami para que os humanos que utilizem o caderno, em último caso, não desconfiem que engrossarão as fileiras de Shinigamis após morrerem. Assim tem sido desde o início dos tempos.

 

Até agora...

 

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O Mundo Shinigami.

O deus da morte Gokiburi voava pela desértica paisagem como um bizarro inseto perdido num árido quintal. Seus olhos disformes buscavam algo em terra, junto às pilhas de ossos e carcaças imersas em pó. Logo encontraram: seu amigo Namake repousava preguiçosamente junto a uma macieira retorcida da qual pendiam as secas e amargas maçãs características daquela dimensão. Goki diminuiu sua altitude e, contornando a área em círculos, logo pousou. Só então o outro o notou:

–         Por onde andou, seu desmiolado?

–         Estive dando umas voltas... – o Shinigami de aparência insetóide explicou. – Verificando como anda a situação nas colinas...

–         Você é louco? Se o Yagami souber da gente... prefiro nem pensar!

–         Ele já deve saber... – afirmou o recém-chegado, em meio a um demorado bocejo. – Só não agiu ainda.

Retraindo as asas, Gokiburi alojou-se ao lado do colega. Este, entediado, brincava com algumas pedras no chão. O outro permaneceu olhando para frente, calado, arriscando em alguns momentos dar uma sutil olhadela para Namake, até que criou coragem e perguntou, como alguém que não quer nada:

–         Você nunca superou, não é mesmo?

Visivelmente surpreso, o outro Shinigami abandonou as pedras e rebateu, voltando-se para Goki:

–         Do que está falando?

–         Nunca pôde conviver com o fato de ter sido superado por aquele seu irmão de criação... Como é mesmo o nome dele? Near? O detetive que desmascarou Yagami?

–         Você está dizendo tolices...

–         Não, estou dizendo a verdade! É por isso que você nunca se levantou contra a tirania de Yagami aqui no Mundo Shinigami! Após ter sido superado por Near entre os humanos, acha que não é capaz, que não é digno! Prefere permanecer neste repugnante anonimato...

–         Não tem o direito de falar como eu devo ou não agir... – Namake resmungou, azedo. – Ainda mais por você também não ter passado de um joguete nas mãos de Yagami! Ele lhe deu poder quando achou propício e depois o arrancou de você sem pestanejar, ainda por cima matando-o. Porém acho que foi uma melhoria para sua pessoa... Sua atual posição de Shinigami é menos nojenta do que o homem de negócios que você era antes!

Gokiburi cerrou os dentes, rosnando. Há tempos não era tão insultado! Já se levantava para ensinar boas maneiras ao petulante deus da morte, quando sentiu algo estranho... como um formigamento atrás de si, em suas asas.

–         Que está acontecendo? – ele indagou, confuso e temeroso.

Já Namake podia ver com clareza o que ocorria: as asas do amigo simplesmente se desintegravam, transformando-se em pó. Depois de poucos segundos elas já não existiam mais, e o misterioso processo alastrou-se pelo corpo de inseto do Shinigami. Seus membros caíram, sua cabeça diminuía, com os olhos se liquefazendo das órbitas...

–         Namake! – Goki emitiu um último e engasgado pedido de socorro.

–         Ha ha ha, eu disse que era loucura se expor assim! – riu o outro. – Adeus, meu colega. Espero que parta para um lugar melhor!

Um monte de poeira cinza, logo levada pelo vento, foi o que restou de Gokiburi, e Namake seguiu gargalhando... até olhar para suas próprias mãos. Os dedos finos desapareciam um a um, esfarelando-se. Olhou, desesperado, para seu tronco: suas costelas se desprendiam dele e rolavam para longe de si, também se convertendo em pó após uma curta distância. Sua cabeça azulada, lembrando um tomate, murchou, se abriu... e um grito mudo de medo foi a última manifestação que produziu, antes de também desaparecer por completo.

 

Não muito longe dali, sobre uma pequena elevação, dois seres observavam a cena.

O primeiro possuía corpo disforme dotado de leve característica feminina, com algumas curvas e seios triangulares. A pele era cinza, os cabelos pretos, com tons em vermelho lembrando sangue. Os olhos eram dotados de intenso brilho também rubro. Vestia os resquícios de uma espécie de vestido, e os pés calçavam botas de plataforma tortas. As mãos terminavam em unhas enormes, com quase meio metro cada uma, e duas asas repletas de penas azuladas emergiam de suas costas.

–         Raito! – berrou a criatura, voz feminina estridente e macabra. – Misa também quer usar o caderno! Deixa?

–         Calada! – bradou o outro ser, tom rígido e grosso.

Este, por sua vez, era magro e alto, cabelos vermelhos arrepiados. O corpo era puro osso, com protuberâncias e emendas bastante visíveis, inclusive em suas asas pontudas. Os olhos também geravam uma sinistra luz cor de sangue, e seu rosto fino e sorridente remetia aos monstros dos piores pesadelos. Alguns fiapos de tecido cobriam-lhe alguns membros, com botões, nós... Os pés descalços estavam imundos de poeira. Nas mãos, segurava um volume aberto, capa na cor rubra, assim como sua cabeleira. Na capa, uma inscrição conhecida, em caracteres disformes: “Death Note”. Mantinha-o aberto em determinada página, uma espécie de caneta feita de ossos de diversos tamanhos e diâmetros firme entre seus dedos e, no papel amarelado, dois nomes registrados:

 

Gokiburi

Namake

 

–         Raito-kun, por favor, deixe Misa escrever também os nomes dos preguiçosos! – a Shinigami insistiu.

–         Não! – replicou Yagami, autoritário. – Esta é uma tarefa séria que precisa ser cumprida para que este mundo venha a funcionar como deve! Todo Shinigami tem uma obrigação para com a justiça!

–         Sábias palavras... – concordou uma voz desconhecida.

Os dois Shinigamis se voltaram para trás...

Depararam-se com uma outra dupla de deuses da morte. Um deles já era conhecido: Raye Penber, o dissidente de asas vermelhas. Estivera sendo caçado pelos seguidores de Raito por um bom tempo, até que desaparecera, provavelmente tendo fugido para o Mundo Humano. Agora retornara para ser exterminado... que tolo! Já o outro, ou melhor, outra, não era familiar... Cabelos negros compridos, quase até os pés, corpo todo revestido de uma substância pegajosa... ou melhor, era na verdade um tecido! Os olhos eram totalmente brancos, opacos, e a boca de lábios finos e secos parecia ocultar infinitos segredos. Por algum motivo, Yagami se sentiu intimidado diante de tal figura – e isso o irritou imensamente.

–         Como ousam? – exclamou, tentando impor seu domínio.

–         Finalmente nos encontramos novamente, filho de Soichiro Yagami! – a desconhecida falou, sorrindo de forma maligna.

–         Eita, Misa não gostou dessa “zinha” aí! – resmungou Amane.

–         Q-quem é você? – questionou Raito, já preparando seu Death Note vermelho.

–         Pode me chamar de Shoko Maki... – brincou Naomi. – Ah, aliás, esse não é meu verdadeiro nome, não é mesmo?

Arregalando os olhos, Yagami moveu a mão com a caneta, na menção de registrar em seu instrumento mortal o nome da Shinigami... quando esta, numa ágil ação, sacou algo até então oculto junto a seu peito: uma espécie de pistola, toda feita de ossos. Apontou-a para seu inimigo e, sem qualquer hesitação, disparou, um mortífero balaço sendo impelido na direção de Raito...

 

- - - - - - - -

 

O despertador tocou.

Touta Matsuda rolou sob os lençóis, resistiu ao chamado, mas sabia que precisava se levantar. Tinha mais um dia de trabalho na central pela frente. Bufando, sentou-se sobre a cama e desligou o aparelho, que emitia incômodos apitos. Foi só então que notou que Sayu, geralmente a primeira a acordar e fazer o café, não se encontrava na cozinha, e sim sentada sobre o colchão diante do esposo, encarando-o. O policial ficou levemente surpreso com o fato, abrindo um sorriso, ao qual a jovem correspondeu. Ele então disse:

–         Eu não poderia começar meu dia com mais bela imagem...

–         Senti tanto sua falta... – ela suspirou. – Pensei que não voltaria vivo. Desde que se envolveu nesse caso, não tive mais paz... Mas fico imensamente feliz por tudo ter terminado da melhor forma. Espero que nunca mais ouçamos falar sobre Kira. Essa é uma página de nossas vidas que quero manter virada para sempre!

–         Eu também, amor.

Aproximando-se sobre a cama, os dois trocaram breve beijo. Logo depois, num sorriso jovial, Sayu anunciou:

–         Tenho algo a lhe contar...

–         O quê? – a curiosidade de Matsuda foi despertada.

–         Andei fazendo uns exames, e...

–         E? – ele já previa a resposta, sendo assim tomado de euforia.

–         Estou grávida!

Touta abraçou Sayu com força, rindo de felicidade. Aquela criança seria o prenúncio de uma vida tranqüila, de uma vida repleta de alegria na companhia da esposa! Depois de tanto sofrimento, a bonança finalmente chegara e se estabeleceria! Inúmeros planos despontaram nesse momento na mente do futuro pai: comprar uma casa maior, investir nos posteriores estudos do bebê, guardar algum dinheiro... Foi quando a mulher complementou:

–         Caso seja um menino, já tenho um nome...

–         Qual?

–         Raito.

Matsuda estremeceu de leve. Era inevitável que tal nome lhe causasse calafrios. Porém a intenção de Sayu era plenamente compreensível: ela não sabia da verdade a respeito do falecido irmão, e deveria continuar sem saber pelo resto de sua existência. Seria melhor para ela e para todos que a imagem do estudante como um paladino da justiça morto na caçada a Kira fosse preservada. E, de certa forma, nomear o bebê que teriam como Raito manifestava uma redenção para a memória do rapaz... Um recomeço.

–         Linda escolha – Touta respondeu por fim, beijando a testa da amada.

–         Fiquei aqui esperando você acordar para lhe dar a notícia, e acabei me esquecendo do café... – Sayu riu, um tanto encabulada. – Vou até a cozinha preparar tudo!

–         Até já, querida.

A esposa se retirou, e Matsuda, sentado sobre a cama, permaneceu alguns instantes refletindo antes de começar a trocar de roupa. Tanta coisa acontecera em tão pouco tempo, que ele se sentia até confuso... Era como se alguma peça do quebra-cabeças houvesse ficado para trás...

E sim, de fato ficara... Ele só se dera conta disso naquele momento, e reprovou-se por não ter tentado esclarecê-la...

Se Raito Yagami e seus antigos asseclas, na forma de Shinigamis, haviam sido os verdadeiros responsáveis pelo surgimento de um novo Kira, e fora Naomi quem eliminara Near, então... o que Ryukuu estava fazendo no Mundo dos Humanos, tanto que fora flagrado pelo policial?

Uma pergunta que talvez não pudesse mais ser respondida...

Conformado, Matsuda terminou de colocar sua gravata e, ajeitando o terno, foi tomar o café da manhã.

 

- - - - - - - -

 

O repórter japonês deu uma última alisada em seu cabelo repleto de gel, sem se dar conta de que já estava no ar. Sob o foco da câmera ligada, levou o microfone até perto da boca e, tendo como pano de fundo uma das ruas do centro de Tóquio, à noite, começou a falar animadamente:

–         Hoje, o programa “Lendas Urbanas” tratará de uma das histórias de fantasmas mais conhecidas do Japão! Vocês já devem conhecê-la por meio dos especiais de fim de ano que costumam sempre tratar do tema. Sim, estou me referindo à lenda dos quarenta e sete “ronin” de Edo!

Após breve pausa, e caminhando em direção a uma calçada, o apresentador prosseguiu:

–         A história conta a saga de quarenta e sete samurais que perderam seu mestre quando este, violando a lei ao atacar um oficial de nome Kira Yoshinaka, foi forçado a cometer seppuku. Os samurais, agora “ronin”, decidiram honrar seu mestre morto e, após meses de planejamento, invadiram a propriedade de Kira, eliminando ele e seus servos. Porém, por também terem violado a lei com tal ato de vingança, os quarenta e sete ronin tiveram de igualmente cometer suicídio logo depois.

O repórter aproximou-se de um limpador de ruas idoso, usando uniforme característico e tendo expressão facial confusa, enquanto explicava:

–         Como sabem, Edo, onde tudo isso aconteceu, é a atual Tóquio. O rumor é que os fantasmas dos quarenta e sete ronin ainda assombram a cidade, e foram vistos por muitas pessoas ao longo dos anos. Estou aqui com o senhor Takashi, que jura ter se deparado com um desses espíritos!

O microfone foi transferido para o velhinho, que, um tanto assustado, disse aos telespectadores, sem conseguir olhar para a câmera:

–         Eu estava esvaziando algumas latas de lixo, trabalhando com a coleta de papéis. Enfiei as mãos dentro de uma lixeira para apanhar um monte de folhas amassadas e, ao erguer os olhos, deparei-me com uma figura horrível. Tinha grandes olhos arregalados e amarelos, pele branca como giz, cabelos arrepiados e usava roupa e acessórios de gótico, assim como se veste essa juventude transviada de hoje! O pior eram as asas, ele voava! Riu de forma debochada para mim, com certeza caçoando de minha experiência, e sumiu no céu estrelado!

–         Roupa de gótico? Mas então não poderia ser um samurai, poderia?

–         Aquela coisa exalava morte de todas as maneiras, senti arrepios ao vê-la! Só pode ser uma das almas atormentadas dos ronin. Esses malditos nunca deixarão Tóquio!

Rindo enquanto recuava com o microfone, o repórter encerrou a participação do idoso no programa.

 

Pelo céu noturno da capital japonesa, acima dos arranha-céus iluminados e dos letreiros chamativos, Ryukuu voava sorridente.

Era incrível como a espécie humana o fascinava. Observar suas emoções, seus modos de agir, seus anseios, suas falhas e conquistas... como tudo isso era interessante! Quando soubera que Raito Yagami, depois de tomar o poder no Mundo Shinigami, planejava criar um novo Kira entre os homens, Ryukuu viu-se na obrigação de descer de volta à dimensão destes para, em sua neutralidade, testemunhar de camarote o desenrolar dos fatos. Presenciara a ascensão e queda de Justine Clare, em meio aos esforços dos investigadores recrutados por Near e “R” para impedi-la. A nova Kira, apesar de ter se mostrado superior a Raito no início, acabara evidenciando, em seu declínio, que possuía grande tendência em errar e lhe faltara maturidade suficiente para conseguir escapar às garras de alguém astuta como Naomi Adams...

Desde anos antes, quando Ryukuu soubera que Raito não eliminara a detetive e pensava tê-lo feito, ele aguardara o retorno desta. Sabia que, em algum momento, mais cedo ou mais tarde, a noiva de Raye Penber ressurgiria das sombras para frustrar os planos de Kira. Isso não acontecera durante o reinado terrestre de Yagami, porém fora o fator decisivo de derrocada de sua sucessora.

E ele se deliciara assistindo ao espetáculo.

Agora, não pretendia de modo algum voltar ao Mundo Shinigami. As coisas lá andavam tensas, e uma nova guerra civil, visando agora a derrubada de Raito, estava na iminência de eclodir. Ryukuu preferia permanecer na paz e sossego proporcionados pelo Mundo Humano e seus habitantes, e analisar o imprevisível comportamento destes nunca o cansava. Além do mais, ele desconfiava que, dentro em breve, um novo Kira surgiria...

Sempre havia sido assim, e por certo continuaria sendo...

 

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O fedor de cadáveres em decomposição predominava no antigo bunker nazista perdido no subsolo de Paris.

O local permanecera intocado desde o massacre realizado por Justine Clare semanas antes. Ratos e outros animais obscuros consumiam as carcaças dos ocultistas. A escuridão ocultava tal cenário repugnante, mantendo ao menos em sigilo a desgraça daqueles religiosos que morreram por sua divindade.

O véu foi entretanto removido quando as oscilantes luzes do recinto foram acesas.

A pessoa que visitava o lugar pareceu não se importar com a matéria morta ali presente. Suas botas apenas percorreram o chão tingido pelo sangue seco até um dado canto do ambiente. Sobre ele, fechado, havia um caderno preto, capa virada para baixo. Um par de mãos enluvadas o apanhou e voltou-o para cima, as palavras que possuía ficando então visíveis: “Death Note”.

–         Muito bem, meu jovem – a voz de Nise, em algum ponto desconhecido, fez-se ouvir. – Você o encontrou!

As luzes tornaram a se apagar.

 

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Um momento brilha, cintila no tempo que flui

Sou alguém que caminha além do que passou

Continuo andando e o meu nome irei gravar

Nas vãs memórias deste mundo

 

Hoje eu tive um sonho que ninguém podia ter

E joguei fora tudo que não me servia mais

Pensamentos aos quais não cederei duelam sempre dentro de mim

 

E se eu ainda estou na luta entre a verdade e o ideal

E meus pés estão atados às escolhas que já fiz

Meu impulso para agir ainda não morreu porque

Ainda tenho um coração forte que a mim concede o poder

 

Orgulho, ganância, medo, culpa, pretensão

Impedirei que cresçam dentro de mim

Não estou sozinha e digo que poderei assim

Tornar-me luz nas densas sombras

 

Os prédios que tocam as altas nuvens desse céu

Olho para o alto e a incerteza toma a mim

E eu me pergunto assim se no caminho eu me perdi

 

Coisas passam apagadas aos que vivem para si

Mas serei atenta e isso jamais me afetará

Porque lá no fim da estrada que me leva a persistir

Eu quero ver algo que ao menos possa tocar

 

Fecho os olhos e assim

O que quero eu consigo enxergar

O ideal, que segui, ele irá persistir

E se realizar

 

Limitar o que eu quero é para mim o mesmo que

Desistir da luta e ir embora sem tentar

Lutarei para conseguir o que ninguém mais terá

A jóia valiosa que é o que eu quero ser

 

O que é justo e válido a verdade ainda será

Confiarei que isso um dia irei ter

Essa é a minha fé e eu jamais a perderei

A verdade será absoluta

 

Um momento brilha, cintila no tempo que flui

Sou alguém que caminha além do que passou

Continuo andando e o meu nome irei gravar

Nas vãs memórias deste mundo

 

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FIM

 

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Considerações finais:

 

Músicas da fanfic:

 

Capítulo VIII e abertura do terceiro volume: “Don’t Fear the Reaper”, da banda Blue Oyster Cult. Foi regravada por diversos outros intérpretes, entre os quais a versão mais conhecida é a do grupo HIM. Música tema de Naomi e Raye.

 

Capítulo XXI: “O Fortuna”, de Carl Orff, pertencente à cantata “Carmina Burana”. Tema épico da caçada a Justine Clare, o novo Kira.

 

Encerramento do terceiro volume: “Alumina”, da banda Nightmare. Primeiro encerramento do anime Death Note. Traduzida e adaptada para português por Goldfield.

 

Errata:

 

Capítulo XIX:

 

Henri Aiton. Desesperado frente à possibilidade de perder o grande amor de sua vida, enforca-se em seu quarto. Deixa carta de despedida culpando a equipe de investigação do Caso Kira por sua desgraça.

 

Pouca gente pode ter percebido, mas originalmente esse trecho do capítulo, representando o registro do óbito de Henri Aiton no Death Note de Justine, se encontrava assim:

 

Henri Aiton. Desesperado frente à possibilidade de perder o grande amor de sua vida, Justine Clare, enforca-se em seu quarto. Deixa carta de despedida culpando a equipe de investigação do Caso Kira por sua desgraça.

 

O pessoal da comunidade do Orkut “Detetive L [Death Note]”, que leu esta fic, atentou para o fato de que, sendo que qualquer humano cujo nome for escrito no caderno morrerá, Justine também morreria logo após ter descrito a morte de Henri. Assim, repostei o capítulo XIX nos sites em que publico poucos dias depois de tê-lo lançado, com o erro corrigido. E obrigado ao pessoal da comunidade pelo toque!

 

Agradecimentos:

 

Além de reforçar os agradecimentos presentes no início da fanfic, gostaria de agradecer a todos que me apoiaram, opinaram, ajudaram, criticaram e elogiaram esta história durante seu mais de um ano de escrita! Obrigado a todos que a acompanharam do início ao fim, fizeram desenhos, se apegaram aos personagens (principalmente a Justine, que, desacreditada por mim no começo, meio que “criou vida”) e vibraram a cada novo capítulo.

 

MUITO OBRIGADO!

 

Luiz Fabrício de Oliveira Mendes – “Goldfield”.


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