Ela começou a balançar os ombros do pai. Ele estava em sua forma humana, o que certamente o deixa mais fraco. Ela tinha lágrimas escuras escorrendo pelo rosto, por causa da maquiagem da festa, que ela ainda nem havia tirado totalmente. Estava completamente desesperada.

Ajudei Aline a se levantar, e ela estava com uma perna machucada. Coloquei seu braço sobre o meu ombro e Silvio fez o mesmo. Fomos na direção de Bianca.

- Pai... - Ela sussurrava em meio as lágrimas.

Ficamos parados, e eu me soltei de Aline. Segurei o ombro de Bianca com a mão, e ela se virou bem devagar para mim.

- Você consegue se transportar? - Perguntei, meio preocupado. Ela só balançou a cabeça, negativamente. Me virei, e fui achar a sala de comando.

- Fiquem aqui, os dois, a ajudando. Qualquer coisa me chamem - eu disse, e comecei a vasculhar a ''espaçonave''.

Eu passei por várias coisas estranhas, mas divinas. Havia um corredor com quartos enormes e lindos, bem arrumados. Uma sala de treinamento para divindades gigante. Uma biblioteca enorme. Acho que Bianca gostaria disso. Eu achei a sala de comando alguns minutos depois. Todo o seu piso era de vidro. Os controles não tão complicados, pois eram em grego antigo. Ainda bem que eu já havia dominado a língua. Ajustei os controles para perto do acampamento. Aquilo estava fácil demais. A nave deu a volta e começou a voar.

E eu escutei um completo grito de desespero.

Corri feito um louco, derrubando tudo o que via pela frente. Eles precisavam da minha ajuda. E pelo grito, pude perceber que era rápido. Eu ia chegando mais perto, e o clima ia esfriando. Uma névoa fraca começava a se formar. Estava começando a ficar extremamente preocupado. Quando pareceu que se passaram horas, eu consegui chegar.

A névoa estava tão forte, que ia até os joelhos. Eu não conseguia ver meus pés. Eu tremia inteiro, meus dentes se batiam numa falsa esperança de se aquecer. Estava realmente frio. Havia duas figuras jogadas na minha frente, no chão. Uma delas tinha cabelos negros compridos e aveludados, enquanto a outra tinha os cabelos também negros, mas curtos. Estavam de costas, como se inconscientes. Eram a Aline e o Silvio.

Mais a frente, tinha uma garota de cabelos loiros. Eles flutuavam, como se estivessem dentro d'água. Ela também estava flutuando, um pouco acima da névoa. Vestia uma capa preta, e tinha um porta-flechas preso nas costas. Suas mãos estavam com uma mistura de fogo negro e fogo grego. Uma aura mortal vinha dela.

Era Bianca.

Na sua frente, tinha um homem ferido. Em vez de sangue, escorria um líquido dourado. Eu o conhecia. Já tinha visto algumas imagens dele em livros. Seu nome era Oceano.

Sem contar, que, além de tudo aquilo, ainda haviam soldados esqueletos. Eles atacavam o titã. Mais deles surgiam da névoa, como se fossem feitos daquilo. E, com essa mesma facilidade, eles se iam.

Bianca fez as chamas aumentarem e atingir o titã. Ele deu um grito horrível. Então, se desfez em areia, que saiu voando. O clima começou a esquentar. A névoa a se desfazer. Os esqueletos foram com ela. O fogo nas mãos de Bianca de extinguiu, e ela caiu feito uma boneca de pano no chão. Eu consegui me mover novamente. Corri até ela.

Vi uma faca preta por perto, cravada no chão. Quando cheguei mais perto da garota, Bianca estava com as mãos para cima, e, elas e seus braços, completamente vermelhos.

Como se estivessem queimados, pensei.

Me ajoelhei e a virei, para consegui ver seu rosto. Senti energia saindo de mim. Lentamente, mas senti.

Ao contrário de seus braços, ela estava cor de leite. Completamente branca. E gelada. Se não estivesse tão preocupado, teria sentido frio. Passei a mão sobre seus cabelos. E continuava com os olhos fechados. Eu tinha a impressão que ela iria se desfazer como uma bonequinha de porcelana. Se não fosse pelos braços e pelo jeito que se vestia, ela seria uma. Passei novamente a mão em seus cabelos.

Desejei de tudo, exceto que ela se fosse.