Voltamos para a sala, Samuel não conseguia esconder sua exitação tremendo de felicidade. Ele continuava olhava para o seu caderno sem rabisca-lo com as mãos cerradas no colo, imaginei que estivesse com raiva ou algo assim. Eu mesmo não estava na mesma atmosfera do resto da sala. Lukas e seus comparsas não voltaram do intervalo, senti que estavam tramando alguma coisa ou que simplesmente cabularam as aulas de Geopolítica e Física.

As aulas passaram rápido Samuel não conversou comigo durante todo o período de aulas. Quando o sinal tocou indicando o término das aulas do dia todos da sala olharam espantados para mim, Samuel arrumou seu material mais rápido do que de costume.

- Vamos quebrar alguns ossos agora? - Sua voz era sombria muito diferente do garoto de dias atrás que conversava alegremente com seu vizinho de classe.

- Samuel, não vou brigar e está dito. - Dizia ao sair da sala com ele.

Ele não ligou para o que eu disse, parecia estar focado na futura briga. A partir daquele momento comecei a enxergar Samuel como um guerreiro mesmo, aquela visão que eu tinha dele, de uma pessoa frágil e submissa não existia mais, ele havia se transformado e eu admirava essa pessoa ao meu lado, mesmo estando com medo dos próximos acontecimentos.

Saímos do prédio da escola Samuel me indicou onde iríamos encontrar Lukas e resolveríamos isso, ele me levou até um beco atrás das fabricas duas quadras alem da escola, descendo as ruas, um local desconhecido para mim. Tudo aqui era cinza até o céu estava cinza, a maioria das fabricas era abandonada e velha, deveriam ter uns 20 a 30 anos.

- O Lukas não tem habilidade nenhuma em luta, mas é forte e rápido além de ter mais três para ajudarem. - Começou Samuel.

- Então estamos em desvantagem! Vamos morrer aqui.

- Você não é campeão acional de Aikido?

- Sou, mas...

- Muito prazer, sou campeão mundial de Karatê, Nacional de Capoeira e por enquanto Municipal de Muay Thai, não tenho idade para entrar em torneios de maior importância. - Ele fez uma cara de garoto travesso ao disser isso.

Sim, eu sou campeão nacional de Aikido, mas era um esporte, não um prazer como Samuel demonstrava, minha admiração virou medo, imaginei Samuel lutando todos esses estilos e vencendo homens girantes e musculosos, as imagens não cruzavam, ele tinha uma cara tão inocente e infantil era impossível ele ter ganho todos esses títulos, comecei a pensar que ele estava me enrolado.

Entramos em um galpão de portões vermelhos e enferrujados, dentro dele estavam Lukas e mais dois garotos.

- As bichinhas chegaram. - Falou rindo Lukas. - Não sabia que estavam namorando, ou é um apanha e o outro só assiste?

- Cala a boca seu rato escaldado, vai ver só quem vai sair chorando daqui hoje. - Samuel estava borbulhando de raiva. Seus olhos fixos em seu alvo, as mãos cerradas e avermelhadas pela pressão. Eles foram se aproximando com caras maliciosas, Samuel jogou sua mochila próxima a parede, meu coração batia muito forte e rápido, sentia como se meu peito fosse rasgar.

Samuel estava estático olhando para Lukas, os braços retos junto ao corpo. Senti que não havia escapatória, tentei relaxar, em vão, tirei minha mochila e joguei-a junto à de Samuel.

Os três pararam a alguns passos de nos.

- Peguem o porquinho cor-de-rosa, deixa a bichinha gringa comigo. - Ordenou Lukas, todos estavam de boné virado com caras de deboche, engoli a seco, Samuel relaxou as pernas e andou até para o meu lado esquerdo, os outros dois foram com ele.

Estava mais preocupado com ele do que comigo. Ouvi o vento do lado de fora, Lukas me atacou com um soco, desviei, trocamos de lugar.

- Isso realmente é necessário? - Minha pergunta era idiota, Lukas riu um pouco.

- Não existe lugar para a Paz em um mundo de guerra. - Ele atacou de novo, foi fácil segurar seu braço e derrubá-lo, ele era muito lerdo e não tinha foco. Aproveitei para ver como Samuel estava, um garoto estava no chão e Samuel voava com o pé no rosto do outro que caiu feio em seguida.

Me afastei de Lukas que se levantou sentindo dores, ele viu o que Samuel fazia. Senti que a vitória estava próxima, deixei um sorriso aparecer em meu rosto, Lukas não gostou do que viu.

Ele assoviou alto, mais cinco garotos apareceram atacando Samuel e a mim, senti vários golpes atingindo meu corpo até cair no chão gelado do galpão. Tudo apagou.