Quinto Império escrita por Labi


Capítulo 2
Boas memórias: A pequena colónia brasileira


Notas iniciais do capítulo

'Mas Labi, esta one-shot já não estava postada?'
Estava sim senhora. Mas eu achei que não havia necessidade de estar em separado e tenciono acrescentar mais uma coisinha ou outra sobre a História de Portugal então vou juntar todo os one-shots na mesma fic e deletar as individuais (:
Normalmente eu shippo Portugal e Brasil como casal (OTP da vida, ok? Não me julguem). Porém no outro dia, enquanto falava com a Doubleside, percebi que existe um numero maior de pessoas que os vê como familia. E então pensei para mim mesma, "Por que não?" Portanto, peguei num drabble antigo que tinha postado no tumblr e editei. Pessoalmente, como relação familiar, prefiro esses dois como 'irmãos' mas está livre à interpretação de cada um :) Por isso, é só um coiso idiota e sem sentido com o Chibi!Luci. Desculpem se assassinei o português do Brasil D:



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“Menino Luci… Eu não acho que seja uma boa ideia…”

O pequeno fez uma expressão de cachorro abandonado , “Por favor ~ ?”

“Mas…” a empregada tentou retorquir, sem sucesso. Não havia forma de resistir àquela expressão e Luciano sabia perfeitamente dar uso dela.

“Tudo bem… Mas já sabe que o senhor Afonso não gosta que o acor-“

Foi prontamente ignorada e Luciano desatou a correr pelo enorme e frio corredor. Teve o cuidado de evitar bater contra as outras empregadas que por ali andavam e foi direitinho até à porta do quarto do colonizador.

Abriu-a com cuidado e viu que as janelas ainda estavam fechadas. O leve ressonar do mais velho indicava que ele ainda estava adormecido num sono profundo.

Luciano sorriu e foi a correr até à enorme cama, “Afonsooooooooo~!” , subiu para lá e começou aos saltos, enquanto abanava o lusitano, “Acorde~!” . Puxou os lençóis para trás, deixando um, agora muito indignado, português a tentar tapar a cabeça com a almofada.

“ ‘Tá quieto e deixa-me dormir.” Resmungou.

“Nem pense! Eu quero ir passear!” , continuou a saltar na cama, e depois em cima do português, para o obrigar a levantar, “Por favor!”

Após mais uns minutos a resmungar e ver as suas tentativas de fazer a pequena colónia ficar quieta frustradas, Afonso respirou fundo e sentou-se a esfregar os olhos, “Tu és tão chatinho às vezes.” , bocejou.

Luciano riu e fez um sorriso vitorioso, “E você parece um leão.” , esfregou-lhe o cabelo, despenteando ainda mais a juba matinal do português.

“E eu sou o único?” , riu e tentou ajeitar o estrago, “Olha bem para ti. Tens o cabelo no ar também.”

“Eu? Claro que não- Isto é para o charme.” , ao ver a expressão curiosa que Afonso tinha , acrescentou, “Foi o Francis que disse que as senhoritas gostavam de meninos com charme.”

Afonso pestanejou e depois bateu com uma palma da mão na testa. Sabia que não tinha sido boa ideia deixar Francis falar com Luciano. Que tipo de coisas lhe tinha dito? Não faltava muito e andava o brasileiro a fazer aquele riso maléfico irritante.

“Afonso, levante-se! Daqui a pouco é hora do almoço e você nem se despachou.”

“Pronto, calma. Estou a ir.” Sorriu e levantou-se, “Afinal, és tu quem manda.”

“Eu sei!” saltou para o chão, “Quando estiver pronto vá ter comigo à cozinha. Vou ver se ainda sobraram natas!” , e saiu a correr novamente.

O português abanou a cabeça e sorriu, indo abrir a janela. Estava um lindo dia, um passeio certamente que não seria má ideia.

Se bem que ia ficar com uma dor nas costas horríveis porque o pequeno o abanou de uma forma um tanto brusca. Mas pelo menos tinha-o deixado feliz desta vez.

Quando chegou à cozinha, já depois de vestido e penteado, Luciano estava empanturrado de pasteis de Belém e com a boca toda a suja.

“O que é que eu já disse sobre comer decentemente?”

“Ah não seja chato. É mais rápido assim.” Antes que o lusitano começasse a fazer um discurso sobre regras de etiqueta, Luciano acrescentou, “Isso não importa agora. Coma rápido e vamos passear por Lisboa. Por favorzinho~!”

De novo, Afonso respirou fundo. Tinha decidido trazer Luciano à capital durante uns tempos para ele aprender mais sobre a tão fadada cultura europeia. Como seria de esperar, a pequena colónia sempre fazia milhões de perguntas e algumas asneiras inocentes –como praticar tiro ao alvo nos vasos indianos que Afonso tinha espalhados pela casa- mas realmente gostava de passear por Lisboa e conhecer novos lugares e gentes. Até porque ele achava que as pessoas daí falavam de uma forma engraçada e davam significados estranhos aos objectos.

Esperou uns quinze minutos até finalmente o português lhe dar a mão e sair de casa para lhe mostrar o que seria anos mais tarde a Baixa Pombalina. Luciano ficava encantado com os edificios altos e coloridas e com o castelo de S.Jorge que adornava o alto da cidade das Sete Colinas.

Afonso ia conversando com ele, explicando o que significava uma ou outra palavra que tinha nas tabuletas da rua e por vezes cumprimentava alguns senhores que passavam.

“Bom dia Afonso!”

“Bom dia Sr.Manuel.”

Luciano piscou e quando achou que estava já longe daquele desconhecido comentou, “Afonso… Toda a gente se chama ‘Manuel’ aqui? ”

A pergunta originou gargalhadas no mais velho, “Claro que não! É só um nome frequente. É como os bigodes. Há muitos mas nem todos os usam.”

Para o pequeno, algo ‘frequente’ era algo que equivaleria a um ‘acontecimento certo’ e por isso, séculos depois, ele manteria esse estereótipo que em terras Lusas, Manueis e bigodes abundavam.

“Afonso! Conte-me uma história.” Pediu, fazendo olhos de cachorro abandonado, alguns minutos após um breve silêncio.

“Mas eu não sei nenhuma.” O de olhos verdes piscou.

“Claro que sabe! Vá lá~ “

Afonso ficou pensativo por uns momentos e ao chegar perto da margem do Tejo, sentou-se na relva, “Hum… Só sei lendas.”

Após também se sentar, o moreno disse, “São histórias na mesma. Qualquer coisa serve~”

“Então…Hum… Era uma vez um rainha, esposa de um rei chamado D.Dinis. O nome dela era Isabel e ela era uma senhora muito carinhosa-“

“Não me vai contar outra história romântica, pois não?” o pequeno fez beiço, habituado a ouvir as lendas de romances impossíveis, lendas essas bem comuns no folclore português.

“Nada disso.” Ele riu, “A rainha gostava de dar comida aos pobres mas D.Dinis não gostava que ela fizesse isso, então proibiu-a. Diz a lenda que num dia frio de Janeiro, ela fugiu ao rei e levou pães frescos no regaço do seu vestido. Mas o rei, que a tinha seguido, apanhou-a desprevenida e perguntou ‘Que trazeis no seu vestido, sua alteza?’ e ela respondeu , ‘São rosas, senhor.’ ‘Rosas? Em Janeiro?’ disse desconfiado, ‘Podeis mostra-las?’- “

Luciano piscou e interrompeu, “O que ele fez ao ver o pão?”

“Calma.” Disse e fez cafuné no mais pequeno, “Ela rezou a Nossa Senhora e a medo mostrou o que tinha no regaço do vestido. Para espanto de toda a gente, estavam lá rosas vermelhas e não pães. O rei ficou tão envergonhado por ter duvidado dela que a considerou uma santa. E a isto, chamamos o Milagre das Rosas e da Rainha Santa Isabel.”

“Ohhh…Mas- Isso aconteceu mesmo?” Luciano perguntou maravilhado.

“Isso eu não sei~”

“Sabe sim! Conte mais!”

Afonso voltou a rir, “Já te contei a da Padeira de Aljubarrota?”

“Hum… Acho que não…” o menino ponderou, “Mas conte~”

Afonso narrou então a lenda de Brites, uma padeira que morava no interior de Portugal e que um dia, ao regressar a casa após a Batalha de Aljubarrota entre Portugal e o reino de Castela, deu com sete castelhanos nos seus fornos e os matou à pancada, sendo assim considerada uma heroína.

“Afonso… Agora tenho medo dos seus padeiros.”

O português voltou a rir, “Mas ela era uma senhora.”

“M-Mesmo assim! Espere lá- Quem eram os castelhanos?”

Afonso sorriu de lado, “Poderíamos chamar-lhes de… espanhóis.”

“… Você andou a bater com uma pá no António?”

“Por acaso não mas… vontade não falta e- Eu já disse que era uma padeira e não um padeiro.”

“Com esse cabelo, você passa bem por senhora.” Riu quando viu o seu tutor vermelho e achou que era melhor mudar de assunto, “Tenho fome~”

“Para variar.”

Luciano pôs a língua de fora, “Eu tenho de comer muito para ser grande e forte como você!”

Levantou-se e puxou Afonso junto.

“Como eu?” sorriu um pouco, “Quero é que sejas mais forte que eu.”

“E vou ser! Eu prometo que vou!” fez músculo - inexistente - com o seu braço e depois sorriu, “Mas para isso tenho de almoçar antes. Venha~”

E agora era Luciano quem guiava o caminho de volta a casa, enquanto cantarolava alguma melodia em tupi, deixando o lusitano a ponderar quanto tempo é que faltaria para que a sua pequena colónia, tal como todas as nações, se revoltasse e lutasse pela sua independência. Sacudiu a sua cabeça para se livrar de pensamentos negativos. Mesmo que isso fosse , muito possivelmente, acontecer, por agora, só podia caminhar à beira-rio e desejar que a sua vida se mantivesse assim tão calma e serena.

Isto claro, até Luciano chama-lo de velho e desatar a correr pela calçada portuguesa enquanto berrava um ‘ ME TENTE APANHAR~’

# # #

“Houve um dia em que subi esta rua a pensar alegremente no futuro,
Pois Deus dá licença que o que não existe seja fortemente iluminado,
Hoje, descendo esta rua, nem no passado penso alegremente.
Quando muito, nem penso...
Tenho a impressão que as duas figuras se cruzaram na rua, nem então nem agora,
Mas aqui mesmo, sem tempo a perturbar o cruzamento.”

Álvaro de Campos


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