A tarde estava animada na casa de Mônica. O dia estava nublado e ameaçava chuva, o que estranhamente deixava Atena feliz. As duas amigas estavam se divertindo na Internet, depois de ver um filme que tinham alugado. Então, começaram a ouvir uma voz distinta, cantando uma canção melodiosa e triste.

“Set me free, your heaven’s a lie…” De repente, apenas um nome surgiu na mente das meninas: “Cristina!”

“Ooi... tem alguém em casa?”, perguntou a menina para a sala vazia, sem ouvir as outras duas no quarto. Suas roupas, predominantemente em tons escuros, contrastavam com o amarelo vivo da sala de estar.

“Oi, Criis!”, gritou Mônica, do quarto. Tinha uma simpatia imensa pela irmã caçula de Atena, e as duas tinham várias coisas em comum, inclusive o gosto musical. “Vem, aqui em cima.”

Cristina subiu as escadas e abriu a porta do quarto. Quando Mônica a viu, abriu um grande sorriso e quase pulou em cima da menina, abraçando-a. “Quanto tempoo!” Ela ficou tão feliz quanto a outra, e só depois notou que a irmã estava lá sentada na frente do computador.

“Puxa, Atena, é assim que você recebe a sua irmã?”, ela disse, fingindo estar magoada. “Ah, desculpe, oi, Cris...” Atena estava distraída lendo um texto sobre a catedral de Notre Dame na Wikipédia. “Como foi lá na casa da Rafaela? Foi muito à praia?”

“Ah, foi legal. Só não deu pra ir muito na praia porque choveu uns dois dias, aí a gente ficou em casa escutando Lacuna Coil no último volume...”, disse, num tom nada desanimado. “Ah, então a viagem foi boa!” Mônica deu uma piscadela. “Cris, você não vai acreditar no que aconteceu com a sua irmã! Ela pode...”

“Não!!!” gritou Atena, saindo do estado de transe em que estava enquanto lia. As duas se entreolharam, e depois olharam para ela. Mônica, esperando uma explicação. Cristina, como se a irmã fosse louca.

“Ah, não foi nada de mais, eu só tive um desmaio na biblioteca e caí em cima de um garoto...” explicou, aliviada por conseguir omitir o fato principal da irmã. Mônica, percebendo que tinha falado demais, mudou de assunto. “Ah, Cris, já que a gente ta na Internet, você sabe o nome de alguma música boa pra gente baixar aqui? Eu to com vontade de ouvir alguma coisa nova”. Mas a menina tinha ficado curiosa sobre o estranho acontecimento.

“Peraí, você caiu em cima de um cara?”, perguntou, atônita, a irmã. Atena soltou um suspiro de alívio, mas não deixou que Cristina percebesse. “Foi sem querer, eu devo ter tido pressão baixa, ou algo do tipo”. A irmã tinha um brilho maldoso, mas divertido, no olhar. “Nossa, Atena, logo você, a última pessoa que eu pensei que faria uma coisa dessas! E na biblioteca, ainda por cima!” disse ela, implicando. Atena apenas fez uma cara feia, mas achou que não valia a pena continuar aquela conversa inútil. Seu segredo estava a salvo, pelo menos.