Atena escrita por bia_scabbia


Capítulo 22
22 – See me in Shadow


Notas iniciais do capítulo

Música do capítulo: "See me in shadow", do Delain



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/28095/chapter/22

         A noite se aproximava. Naquele começo de junho, fazia um frio excepcional para os moradores do Rio de Janeiro. O céu tornava-se avermelhado pelas nuvens, que cobriam o brilho das primeiras estrelas que ousavam aparecer. Dentro de uma das casas daquela rua tão normal, três pessoas estavam ansiosas para que aquele dia acabasse.

         Algumas horas mais cedo, Atena chegava do colégio. Só Cristina estava em casa, e já tinha acabado de almoçar. Largou a mochila na mesa, com pressa. “Oi, Cris!”, disse ela, dando um abraço forte na irmã. Depois de se desvencilhar de Atena, totalmente confusa, ela perguntou: “O que deu em você?” A outra sorriu inocentemente. “Nada. Olha, me faz um grande favor?”

“Ah, eu sabia que tinha algo no meio disso tudo!”, respondeu, rindo. “Pode falar”.

“Me promete que vai continuar com as suas aulas de violão, que nunca vai parar de cantar, e que vai continuar sendo uma ótima filha pros nossos pais?”        Aquele pedido veio do fundo do coração, por mais bobo que parecesse. Foi justamente a sinceridade na expressão da irmã que deixou Cristina espantada. Havia algo de errado naquilo tudo, ela tinha certeza. Atena não se dava conta, mas ela era muito intuitiva. Não sabia ao certo o que acontecera para a irmã chegar ao ponto de ser carinhosa com ela – algo muito difícil de acontecer. Mas uma voz interior lhe dizia que ela estava com problemas.

         “Tem alguma coisa acontecendo, Atena? Alguma coisa ruim? Você tá muito estranha desde as férias passadas, acha que eu não percebi?”, perguntava Cristina, preocupada. “Eu prometo, mas você tem que me falar o porquê disso tudo.”

         Atena desviou o olhar para o chão. Não queria que a irmã sofresse por antecedência, já que ela tinha chances de ficar ilesa – ou pelo menos viva – depois de usar novamente o encantamento, por mais poder que ele exigisse para ser realizado. Entre mentir e contar a verdade, escolheu o silêncio; um aceno de cabeça e um mero sorriso dolorido, que Cristina interpretou de acordo com o esperado. Não que ela não quisesse falar. Ela simplesmente não podia.

         Cristina subiu para seu quarto para estudar música, já começando a seguir o pedido da irmã, quase inconscientemente. A comida fumegava na frente de Atena, exalando um aroma tentador. Mas ela não sentia muita vontade de comer depois de pensar em como a irmã ficaria se algo de grave lhe acontecesse. Não só ela, como toda a família. E seria tudo culpa sua.

         Depois de brincar com a comida e engolir alguns grãos de arroz a força, Atena ligou para sua mãe. Também ligaria para o pai logo após, pois tinha que dar um jeito de eles estarem em casa para, pelo menos, verem-na pela última vez.

         Às quatro da tarde, a campainha tocou. Atena correu para abrir a porta, pressentindo quem estava lá. “Puxa, vocês chegaram cedo! Vamos, entrem”, disse para os dois à sua frente, enquanto apontava para o interior da sala. A casa já era familiar a Mônica. Guilherme olhava para todos os lados, como num reconhecimento do território. Achou interessante o fato de terem uma estante enorme cheia de livros. “Ela deve ter herdado o gosto pela leitura dos pais”, pensava. “Por que nós perdemos tanto tempo brigando?”

         Mônica continuava preocupada com o que Atena faria a si mesma naquela noite. “O que será que eu faço pra que ela desista dessa loucura? Queimo o livro? Não, não posso fazer isso, a escolha é dela, de qualquer forma. Mas o que vai ser de mim se ela...”

         Os três subiram para o quarto de Atena, depois de falarem com Cristina. Atena fechou a porta, e a reunião estava iniciada.

“Então, quando você vai fazer o encantamento?”, perguntou Mônica, indo direto ao ponto. “Vou esperar os meus pais chegarem, preciso falar com eles antes. Bem, vocês sabem...”, respondeu, tentando não soar sentimental, mas em vão. Mônica e Guilherme lhe lançaram um olhar compreensivo. “Eles não devem demorar, daqui a meia hora devem estar chegando. Os dois sempre tiram uma pequena folga todas as tardes de sexta-feira”.

“E você já se decidiu? Quero dizer... vai mesmo fazer isso?”, perguntou Guilherme, estranhamente sério para Atena. “É claro que sim. Se não, pra que vocês vieram aqui?”, respondeu ela. Percebendo seu olhar de reprovação, completou: “E nem pensem em me fazer desistir, porque eu sei que vocês já pensaram! Não adianta, eu vou fazer isso, e vai ser hoje!”

         Nisso, a campainha tocou, interrompendo a discussão. Desceram para atendê-la. À porta, estava um homem de meia-idade, com olhos e cabelos pretos, estes quase azulados, e que tinha um ar muito enérgico. Como carregava uma pasta e estava de terno, presumia-se que chegava do trabalho. Largou a pasta no chão e abraçou Atena. Ela não quis soltá-lo por quase um minuto, fazendo-o estranhar um pouco.

“Filha, tá tudo bem? Poxa, não nos vimos ontem!”, disse, um tanto animado, mas passando o cansaço na voz. Só então percebeu os dois jovens atrás da filha. “Mônica, tudo bem? Ah, este rapaz eu ainda não conheço. Eu sou Leonardo, pai da Atena. E você é...”

“Meu nome é Guilherme, prazer”, respondeu, um pouco sem jeito diante daquela figura quase imponente, com aperto de mão firme. Dava para perceber de onde vieram tanto o caráter sério quanto os traços, olhos e cabelos de Atena.

“O prazer é meu. Fiquem à vontade, os amigos da Atena são sempre bem vindos aqui”, disse, gentilmente, enquanto ia em direção à escada.

         “Pai, espera!”, chamou Atena, antes que ele sumisse atrás do hall. Ele olhou por cima do ombro. “O que é?”, perguntou.

“Nada... não esquece que eu te amo, tá?”, respondeu, encabulada, causando um estranhamento ainda maior do pai. Ele emitiu uma interjeição qualquer e riu. Continuou a subir a escada, como se o que a filha tinha lhe dito fosse apenas uma brincadeira.

Atena, desolada, soltou um suspiro alto, em meio ao olhar compadecido de Mônica e Guilherme.

“Se pelo menos ele soubesse o quanto isso era importante pra mim...”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

É, gente, até aqui foi a preparação. Esperem que logo a hora vai chegar...