Floresta Negra escrita por Ana Luiza


Capítulo 1
Capítulo 1 - Recomeço


Notas iniciais do capítulo

Hey, você por aqui!
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Nunca achei que aquilo um dia iria acontecer comigo. Quero dizer, eu sempre fui considerada uma aberração. Uma verdadeira aberração. Lembro-me de ver todos os meus amigos irem embora com um grande sorriso no rosto, sem se importarem em deixar uma aberração como eu para trás. Afinal, eles teriam uma nova família, um lar; algo que eu achava que nunca teria de novo.

Entretanto, aqui estou eu, com todas as minhas malas na mão, prestes á começar de novo e sentindo aquele maldito frio na barriga. Eu nem sequer sabia por que eu estava tão hesitante. Eu iria começar uma vida nova, não era o que eu pedia todas as noites?

Eu respirei fundo, pela milésima vez.

– Eu sei o que você está sentindo agora, querida. Você sabe que sempre estaremos aqui, não sabe? Você pode nos visitar a hora que quiser...

– Eu sei. – Eu respondi rapidamente, odiava despedidas.

A freira Lúcia suspirou e soltou meus braços. Ela sempre dizia que a morte dos meus pais não deveria me alterar tanto, ao ponto de não querer criar qualquer laço muito forte com as pessoas, mas eu não podia fazer nada quanto á isso.

Percebendo a mágoa em seu rosto, eu a abracei.

– Eu vou ficar bem, juro. Só estou um pouco nervosa.

Ela acariciou os meus cabelos.

– Eu sinto muito Mel, você terá que passar por isso...

***

“Eu sinto muito Mel, você terá que passar por isso...”

Aquelas palavras estavam rodopiando em minha cabeça. Não entendi muito bem o que Lúcia quis dizer com aquela frase. Quero dizer, ela se desculpou, como se aquela experiência estivesse sendo uma coisa ruim para mim. É claro que eu estava nervosa e tudo mais, mas eu estava feliz por finalmente sair daquele orfanato. Mais que feliz.

– Você vai adorar o seu quarto – Cláudia sorriu para mim.

John olhou para mim pelo retrovisor e deu uma risadinha.

– Cláudia não deixou que eu te mostrasse o quarto antes, ela queria que fosse uma espécie de surpresa. – Ele riu de novo – Como se você não soubesse que iria ter um quarto.

Eu não pude evitar um sorriso.

– É claro que ela sabia que iria ter um quarto – Cláudia revirou os olhos – A surpresa é a decoração...

Eu suspirei.

– Vocês não precisavam disso. Eu estaria feliz com simplesmente uma cama... E um ventilador. – Eu acrescentei rapidamente, sentindo o sol de quase quarenta graus batendo no rosto.

Cláudia notou a minha reação.

– Tyler, você pode abrir a janela para Mel?

– Ela tem mãos, certo?

Eu abri a janela sozinha, sabendo que Cláudia queria apenas que eu me aproximasse do meu “irmão”. Eu sabia que aquilo seria impossível. Tyler parecia me odiar e evitava sequer olhar para mim. Quando nossos olhares se encontravam por acaso, tudo o que eu via em seus olhos era repulsa. Algo em mim irritava Tyler, e eu tinha que admitir que eu não tinha a mínima vontade de ter qualquer ligação com ele. Nem sequer fingida.

– Você poderia ser um pouco mais simpático, não? – Cláudia perguntou.

Tyler colocou seus fones de ouvido e fez o possível para ficar longe de mim.

– Que seja. – Ele resmungou.

Eu o ignorei e tentei admirar a paisagem. O fato de John dirigir incrivelmente depressa, não ajudou muito. Eu pude ver os enormes condomínios e a praia que se estendia á minha frente. Lembrei-me do enorme apartamento em que eu estava prestes á morar e me senti um pouco enjoada. Aquilo era tudo tão... Fora da realidade. Fora da minha realidade. O orfanato não era exatamente um lugar glamoroso, o lugar onde vivi com os meus pais falecidos durante a minha infância passava longe de ser um enorme apartamento no Leblon.

Mas aquela era a minha nova realidade, e eu tinha que “passar por isso”.

Minha nova família era constituída apenas por John, Cláudia e Tyler. John era bombeiro e Cláudia era advogada, um casal um tanto improvável. Cláudia tinha lindos olhos e John era o tipo de homem que você encontrava em capas de revistas, apesar da idade. Tyler tinha conseguido todos os melhores aspectos físicos da mãe e do pai.

Tyler tinha os cabelos castanhos escuros de Cláudia, e o rosto bem desenhado de John. Tyler tinha o maxilar bem marcado e dentes perfeitos, que deixava qualquer um com inveja. Seu corpo era musculoso como o do pai e ele era alto como a mãe.

Todos aqueles pontos positivos o fazia alguém irritante. Pelo o pouco que eu o conhecia, eu sabia que ele não era um poço de humildade. Longe disso. Por isso seria completamente difícil de manter um laço completo com aquela família.

– Melanie, chegamos. – John murmurou.

Eu notei que John já tinha entrado no condomínio e estacionado o carro. Cláudia me observava, com um sorriso ansioso no rosto. Eu tentei retribuir o sorriso, mas tudo o que consegui fazer foi uma careta.

Quando finalmente consegui sair do carro, Cláudia segurou minha mão. Aquilo me assustou de uma maneira absurda; nós nunca havíamos tido um contato físico tão... Intimo.

– Você está tremendo, querida?

Eu engoli em seco.

– Eu só... Estou um pouco... Vai passar...

– Você está pálida.

– Eu só estou um pouco cansada. – Menti.

Na verdade eu estava completamente apavorada.

– Vamos subir, John e Tyler vão levar a sua bagagem.

***

Cláudia e John não tinham economizado na decoração. As paredes do quarto tinham tons de rosa e creme, o que complementava o resto do quarto. Uma enorme prateleira de livros se estendia ao lado de uma incrível escrivaninha – já mobiliada com um notebook e uma impressora. O quarto tinha tudo o que uma adolescente poderia querer; um enorme closet, uma televisão de tela plana com vídeo games e DVDs, uma cama confortável... Porém, a única coisa que verdadeiramente me encantou no quarto foi o pequeno banco de janela, com vista para a praia.

O quarto era incrível, eu não podia negar, mas eu tinha achado aquilo tudo um pouco demais. Eu entendia que John e Cláudia estavam preocupados com o meu conforto, mas não podia encarar aquelas coisas e pensar que tudo aquilo era realmente meu.

Eu tinha ficado praticamente toda a minha infância e começo da adolescência no orfanato e de repente... Bum! Eu estava morando em um apartamento no Leblon, com uma família um tanto estranha.

Olhei-me no espelho mais uma vez e suspirei. Minha calça jeans surrada e minha blusa do Rolling Stones não combinavam com aquele lugar. Muito menos os meus cabelos loiros bagunçados e minha cara cansada.

– É Melanie, você terá que se acostumar com essa vida. Essa é a sua vida agora... – Eu ouvi alguém dizer.

Virei assustada e encontrei Cláudia parada na porta do quarto, me analisando da cabeça aos pés. Ela vestia somente um vestido básico de seda e ainda parecia elegante. Seus longos cabelos castanhos estavam prendidos em um coque e pela primeira vez, ela não sorria para mim.

– Eu só estava... Escolhendo uma roupa...Quero dizer, não estava... – Eu me enrolei.

Pelo olhar que ela lançava para mim, tive a impressão de que ela lia os meus pensamentos, que de ela sabia que aquele quarto não tinha nada a ver comigo e que aquilo era um pouco demais. Porém, quando ela entrou no quarto e fechou a porta, notei que ela olhava para as minhas roupas.

– Nós vamos á um restaurante Melanie, não precisa se vestir assim. – Ela sorriu levemente.

– Mas eu gosto dessas roupas... – Respondi hesitante.

O sorriso dela desapareceu.

– Eu sei, mas agora você mora em um enorme apartamento no Leblon, não precisa ter medo de esbanjar...

Eu fiquei quieta. Se respondesse o que eu realmente queria responder á ela, seria considerado falta de educação. Ou coisa pior.

– Você já olhou o seu closet? Eu comprei algumas roupas para você...

Eu prendi um suspiro e caminhei até o closet. Quando o abri, quase soltei um gritinho. Vestidos de seda por toda parte! Rosa por toda parte!

Eu não tinha aberto o closet até então, minhas roupas ainda estavam dentro da mala, e eu sabia que o closet era grande demais só para as minhas roupas; e não sabia o que eu faria com todos aqueles vestidos horríveis!

– Você gostou?

Eu fiz uma careta, entretanto respondi:

– Sim, obrigado.

Ela soltou uma risada alta e exagerada demais.

– Mel, você não é uma boa mentirosa não é?

Eu ri também, não querendo estragar o momento.

– Na verdade, não.

Ela suspirou e soltou o closet. Inesperadamente, ela segurou minha mão pela segunda vez naquele dia. Percebendo o meu desconforto, ela soltou minha mão rapidamente.

– Você é exatamente como o meu filho...

Eu franzi o cenho.

– Eu sinto muito Sr.ª Cláudia, mas eu desconfio que não.

– Você é! – Ela deu uma risadinha fingida – Melanie, eu sei que você ainda está um pouco assustada e um pouco receosa de... Dar a sua verdadeira opinião sobre as coisas, ser você mesma, digamos.

Eu não gostei do tom de voz dela, mas tinha que admitir que ela estava parcialmente certa. Eu estava muito hesitante.

– Eu peço desculpas pelo meu filho, ele não está muito acostumado com a ideia de ter uma irmã, mas ele vai superar.

– Às vezes eu tenho a impressão de que ele vai me comer viva. – Eu ri.

Pela expressão de Cláudia, eu tive certeza de que expor os meus pensamentos não era uma ideia muito genial.

– O que eu estou tentando dizer é que, eu sei que será um processo longo, afinal, se acostumar com uma família nova não é uma coisa muito rápida, certo?

Eu assenti.

–... Mas se você precisar de alguém para desabafar ou simplesmente falar besteira, você pode falar comigo. Eu sei que isso parece evasivo, mas eu... Quero que você goste de mim. – Ela desabafou – Eu sei que eu não posso forçar isso, mas eu realmente quero ser sua...

– Eu gosto de você. – Eu disse rapidamente.

O meu tom de voz foi o suficiente para ela parar de falar. Não queria que ela estragasse tudo dizendo a palavra, a palavra que começava com “M” e terminava com “ãe”. Eu não sabia se estava pronta para ouvir algo dessa dimensão, não sabia se seria realmente capaz.

– Eu só preciso de um tempo para me acostumar com isso tudo, mas eu prometo que vou tentar.

Cláudia sorriu e assentiu.

– Eu vou deixar você sozinha por um tempo, me desculpe por ter sido tão franca com você, mas eu não pude evitar...

– Tudo bem, não tem problema.

Ela caminhou lentamente até a porta. Eu pude notar que todo o seu corpo estava tenso, e pela primeira vez, eu notei que ela parecia estar realmente cansada. Ou até mesmo aflita com alguma coisa.

– Cláudia?

Ela olhou para mim, deixando o seu cansaço transparecer.

– Sim, querida?

– Por que você acha que eu sou tão parecia com o seu filho? Porque na verdade ele parece me odiar...

Ela sorriu.

– Ele não odeia você...

Eu ergui uma sobrancelha e cruzei os braços.

– Tyler é assim com todo mundo.

– Eu não sou assim...

Cláudia suspirou.

– Vocês um dia irão notar que tem muita coisa em comum...

***

– Você vai me deixar sozinha aqui?! – Eu gritei completamente irritada.

Tyler e eu não tínhamos nada em comum! Tyler tinha tudo o que eu mais desprezava em alguém e eu parecia ser alguém incrivelmente irritante para ele. Ele conseguia me irritar de um jeito que ninguém nesse mundo havia conseguido. E aquele sorriso! Como eu odiava aquele sorriso! Ele conseguia fazer com que todas as meninas ficassem caidinhas por ele, á ponto de pedirem autógrafos. E ele adorava aquilo, ele não tinha um pingo de humildade!

– Você quis vir aqui, não foi como se eu tivesse te chamado.

Não foi bem assim. Estávamos em um restaurante maravilhoso, conversando amigavelmente, quando Tyler recebeu um telefonema e disse que teria que ir á uma maldita festa. Cláudia e John sorrindo, perguntaram á ele se eu não podia ir junto.

Não foi como se eu tivesse pedido. Tudo o que eu fiz foi ficar ali olhando, fingindo não ouvir Tyler dizer que não era babá de ninguém – ele era um ano mais velho que eu – como se eu não estivesse lá.

Depois de muita discussão, ele aceitou me levar até a festa.

– Por favor, você pode tirar uma foto comigo? – Ela menina negra e linda perguntou á Tyler, enquanto íamos até o metrô.

Quando ela notou minha expressão de irritação, ela perguntou á ele:

– Ela não é a sua namorada, certo?

Tyler bufou.

– Minha namorada? Ela é a minha irmãzinha. – Ele passou o braço pelos meus ombros e me segurou com uma força desnecessária.

Nós não éramos muito parecidos, mas os nossos semelhantes olhos azuis podiam enganar qualquer um.

– Eu estou levando ela á uma festa. Você sabe á essa hora da noite, ela tem medo de ficar sozinha... E eu estou sempre preocupado com a segurança dela...

A garota sorriu para Tyler, completamente encantada.

– Você é um cavalheiro.

Eu fiz força para não vomitar quando nós entramos no trem e cinco segundos depois, Tyler estava aos amassos com aquela garota que ele nem sequer sabia o nome.

Quando finalmente chegamos á festa, Tyler ficou uns quarenta minutos falando com um grupo de pessoas estranhas, e eu fiquei apenas seguindo-o, como uma sombra. No começo ele não reclamou, ele usou o mesmo pretexto de eu ser sua irmãzinha para paquerar mais garotas, apesar de – felizmente – eu não tê-lo visto beijando mais ninguém.

Porém, depois de um tempo, ele simplesmente disse:

– Se espalha por aí, tudo bem? Não precisa ficar me seguindo por aí...

Eu já estava de saco cheio dele e com raiva pelo episódio do metro, que gritei:

– Você vai me deixar sozinha aqui?!

– Você quis vir aqui, não foi como se eu tivesse te chamado. – Ele deu de ombros.

Ele parecia descontraído demais, nem um pouco preocupado em me deixar em um lugar medonho como aquele.

– Que mentira! Eu não pedi para vir aqui!

A música alta fazia com que nossos gritos não chamassem muita atenção. A maioria das pessoas na festa conversava exatamente assim, gritando um com o outro. Porém, eu desejei estar em um lugar completamente silencioso, onde ele pudesse realmente ouvir os meus gritos e sentir a potencia da minha irritação.

– Mas você não se opôs ao pedido!

Eu fiquei indignada.

– Eu pensei que seria divertido... Estava completamente enganada.

– Uma pena. – Pela sua expressão, eu sabia que ele não estava com pena, ele estava se divertindo com a história toda – Eu queria que você se divertisse.

– Mentiroso! – Eu gritei.

Ele riu, pela primeira vez.

– Mel, se espalha por aí, você vai se divertir. Para de ser tão chata!

– Não. Me. Chama. De. Mel!

Ele riu mais alto.

– Por que não, Mel? Não seja tão rabugenta, a vida é bela!

Completamente exaltada, eu me virei e comecei a andar para longe dele. Eu sabia que se ficasse mais um segundo perto dele, eu iria me irritar de uma maneira absurda. Não me virei para ver a sua expressão, eu apenas tentei me esquivar das pessoas que dançavam e pisavam no meu pé, sem nenhum remorso.

No trajeto de distanciamento da pista de dança, algumas pessoas acabaram derramando bebida na minha roupa. Eu sabia que era bebida alcoólica misturada, e sabia que aquilo se transformaria em uma mancha monstruosa.

Eu rosnei. Eu sabia que se quisesse paz, não conseguiria acha-la em um lugar lotado de gente bêbada e mesquinha.

– Preciso achar a saída... – Eu sussurrei, comigo mesma.

A festa era em um enorme salão de festas e eu tive a sorte de encontrar rapidamente um segurança. Ele, com uma cara de poucos amigos, me mostrou a saída.

Quando finalmente me vi livre daquele lugar claustrofóbico que cheirava a bebida e suor e pude sentir o ar gelado da noite, suspirei aliviada. Eu não tinha nenhum dinheiro comigo e muito menos um celular, mas estava louca para ir embora. Não me importava nem um pouco em deixar Tyler sozinho.

Para falar a verdade, seria um pouco divertido pensar na ideia dele me procurando, mesmo achando que aquilo não iria acontecer.

– Conseguiu se livrar do purgatório também? – Uma voz masculina perguntou.

Eu olhei para trás e por um momento, tudo o que vi foram dois seguranças gordinhos com uma carranca no rosto. Eu franzi o rosto. Por que um segurança estaria falando comigo?

– Ei, psiu! – Eu ouvi alguém soltar uma risada no meu ouvido e olhei para o lado assustada.

Um menino magrelo, com óculos pretos e cabelos bagunçados me encarava, um tanto ansioso. Ele usava uma camisa xadrez vermelha e uma camisa preta por baixo, com as palavras impressas “Eu não gosto de você”. Ele segurava um pequeno celular e eu pude notar que ele jogava algum jogo estranho, com uma música irritante.

Um garoto inofensivo.

– Oi. – Eu disse confusa.

As pessoas não costumavam puxar assunto comigo, só alguns pedófilos na rua, que eu ignorava por completo.

– Você parece cansada... E irritada.

– Adivinhou.

– A festa não está muito boa, não é?

Eu me perguntei o que um garoto como aquele, fazia em um lugar como esse. Ele não parecia o tipo de pessoa que vai á festas no final de semana. Á não ser festas de família e coisas do tipo.

Como se tivesse lido os meus pensamentos, ele disse:

– Eu não sou muito de ir á festas, na verdade, eu prefiro ficar o dia todo jogando videogame. Eu só vim para acompanhar uma amiga, mas ela pareceu mais interessada em ficar com um negão lá dentro – Ele revirou os olhos – E caso você não saiba, essa é a festa de iniciação do nosso ano letivo, o que significa que você provavelmente vai estudar na mesma escola que eu esse ano.

Eu respirei fundo, tomando fôlego. Eu fiz esforço para acompanhar o ritmo rápido dele de falar, mas me senti aliviada por ter alguém para conversar.

– Eu acho que sim, não sei. Na verdade, eu também estava com alguém.

Ele sorriu.

– É claro, uma garota como você só poderia estar acompanhada.

Eu corei.

– Na verdade, eu estou com o meu... Irmão. – Eu disse, com nojo. – Mas ele também está mais interessado em algumas garotas lá dentro.

– Então somos dois abandonados.

– É o que parece.

Ele suspirou e guardou o celular no bolso.

– Desculpe, meu nome é Tiago. – Ele estendeu a mão.

Eu sorri e apertei sua mão.

– O meu é Melanie, mas você pode me chamar de Mel.

Ele sorriu para mim e eu notei que ele tinha covinhas nas bochechas.

– Eu gosto de Mel. Mel é legal.

– Eu realmente espero que nós sejamos da mesma escola.

– Eu também. Vai ser legal conhecer alguém que não me chame de “nerd esquisito” para variar...

Eu olhei para o salão de festas, me lembrando de Tyler. Eu queria ir para casa e não teria nenhum receio de deixa-lo sozinho, procurando por mim. Porém, eu não tinha dinheiro muito menos um celular e não queria ser abusada demais pedindo uma coisa dessas á Tiago. Afinal, eu só o conhecia á cinco minutos.

– Você pretende ficar aqui? – Eu perguntei.

– Eu estava pensando em ir para casa... E você?

– Eu posso te levar para casa, se você quiser. Eu peguei o carro emprestado do meu pai.

– Isso não é perigoso?

– O fato de eu ser um completo estranho ou o fato de eu não ter carteira de motorista?

– Bom, os dois.

Ele deu de ombros.

– Não se preocupe, eu não sou nenhum estuprador obsessivo, apesar de amar filmes sobre isso. Você sabe, filmes de terror. Mas quanto á carteira, você vai ter que correr esse risco.

– Tudo bem.

Nós caminhamos até o carro e eu sorri quando encontrei um fusca cor marrom. Depois de Tiago abrir a porta para mim, ele perguntou:

– Você não vai avisar ao seu irmão?

– Ele não vai sentir minha falta.

***

Meus pés ardiam. Eu sabia que toda a corrida com os pés descalços haviam esfolado os meus pés. Eu ignorei a sensação e continuei correndo, sentindo lágrimas se formarem em meus olhos.

Eu não sabia o que fazer, muito menos para onde ir.

O frio tinha um grande efeito sobre o meu corpo. Eu sentia minhas pernas tremerem e os meus ossos pareciam pedir socorro. Meu corpo suplicava por descanso, mas eu sabia que não podia parar de correr, qualquer parada, poderia ser fatal.

O lugar era escuro, eu não via absolutamente nada. O chão estava molhado e eu sabia que havia chovido á pouco tempo. Eu podia sentir a terra molhada sujando meus pés. Constatei, depois de alguns minutos, que estava em uma floresta. Uma floresta macabra.

Eu podia ouvir sons de animais, mas não podia vê-los.

Podia ver a neblina cobrindo os meus pés, o que dificultava cada vez mais a minha corrida. Eu sabia que a escuridão era um dos meus maiores inimigos. Tinha medo de bater em alguma árvore.

Eu não conseguia mais controlar a respiração. Sempre tive o hábito de correr, mas eu sentia que estava correndo por tempo de mais. Meus pulmões pediam por ar, meu peito doía, eu podia sentir as batidas aceleradas do meu coração, eu podia sentir a tontura pela falta de ar.

Eu tinha que parar, eu precisava parar, mas tinha medo.

Eu sabia que algo me seguia. Algo perigoso. Se eu parasse, seria o fim.

Respire Melanie, por favor, respire e não pare de correr” Uma voz em minha mente sussurrava repetidamente.

Era uma voz masculina, uma voz angustiada. A voz era linda, tão linda que eu tive que parar. De onde vinha aquela voz? Eu precisava ouvi-la novamente!

– Melanie, corra! – A voz gritou para mim.

Eu olhei em volta, mas tudo o que eu ouvia era escuridão.

Eu podia sentir a coisa se aproximando de mim, a coisa perigosa. Eu sabia que estava prestes á morrer, mas não me importava mais. Eu queria ouvir aquela voz, eu sentia ver aquela pessoa. Nem que fosse a última coisa que eu fizesse na minha vida.

– Melanie, olhe para mim.

Eu arregalei os olhos, tentando enxergar alguma coisa. Tyler segurava o meu rosto com força e me forçava á olhar para ele. Eu olhei fixamente para os seus olhos azuis safira e pude ver a dor dentro deles. Ele estava angustiado com alguma coisa. Ele estava preocupado.

– Você precisa correr. Você não pode deixar que ele encontre você, Mel.

Eu estava ofegante por causa da corrida e meu corpo estava fraco. Eu podia sentir minhas pernas ficarem levemente dormentes devido ao frio, mas não me importei. Tyler era o dono da voz. Eu sorri e segurei o seu rosto.

– Você parece um anjo... – Eu sussurrei.

E ele realmente parecia. Seus pés estavam descalços e seus cabelos estavam bagunçados. Ele ofegava como eu, devido á corrida, mas ele ainda estava lindo. Ele vestia apenas uma blusa branca e uma calça preta.

– Melanie não, você precisa correr. Eu não posso deixar você morrer aqui.

Pude sentir o quanto ele estava preocupado. Ele estava preocupado comigo.

– Ele está chegando, você não pode sentir?

Eu franzi o rosto.

– Ele quem?

– Ele, Melanie. O assassino.

Eu soltei seu rosto. Toda a sensação de paz se esvaio do meu corpo e eu pude sentir aquela coisa se aproximando de mim novamente. Meu primeiro instinto foi correr, mas estava cansada demais para isso.

Tyler segurou minha mão e me puxou. Eu fiz esforço para não cair enquanto nós corríamos. Aos poucos eu pude ouvir o som de passos, e eu sabia que não éramos nós.

Era ele. O assassino. O meu assassino.

Eu continuei correndo, até que senti o meu pé bater em alguma coisa no chão. Eu soltei um grito quando o meu corpo caiu e a minha mão acabou soltando á de Tyler. Meu corpo todo sentiu dor.

– Não! – Eu pude ouvir Tyler gritar.

E então eu senti alguém se jogando em cima de mim. Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, mãos musculosas seguraram meu pescoço com força e me enforcaram. Eu tentei gritar, mas não tinha mais voz. Eu tentei me mexer, me soltar do meu aperto, mas não tinha mais controle sobre o meu corpo. Tudo o que eu sentia era a dor insuportável.

Eu não ouvia mais a voz de Tyler, ele havia me abandonado.

Lágrimas caiam enquanto eu tentava me livrar do toque daquele homem. Eu engasgava inutilmente enquanto tentava buscar algum ar.

Minhas pálpebras ficaram pesadas e eu sabia que em alguns segundos, eu perderia a consciência, para sempre.

Meu pulmão ainda pedia por ar, meu corpo todo doía. Eu arregalei os olhos, para ver pela última vez quem era o meu assassino. Um grito estrangulado saiu da minha boca quando eu finalmente pude ver quem estava tentando me matar.

John. John Copperland. Meu pai adotivo.




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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam?
Eu realmente espero que tenham gostado porque eu tenho um carinho imenso por essa história!
Por favor, deixem comentários com a sua opinião, afinal é o que mais importa...
Muito obrigado por lerem, vocês são demais!!
Obs: Sim, eu tenho uma obsessão por pontos de exclamação e reticências. Desculpa!



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