A Pedra Filosofal Por Hermione Granger escrita por Julia Granger


Capítulo 4
A Seleção


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo demorou e ficou gigante, por isso peço desculpas! Mas eu gostei muito de escrever, e acho que ficou bem legal. Boa leitura!



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O trem diminuiu a velocidade e parou. A partir daí, foi um empurra-empurra.

As pessoas foram saindo, muitas se dirigindo para um local apinhado de carruagens ('sem cavalos', pensei, 'isso é que é magia'), mas nós, do primeiro ano, tínhamos que nos dirigir para perto de um homem imenso com uma lâmpada, que gritava:

– Alunos do primeiro ano! Primeiro ano aqui!

Olhei para cima com dificuldade, e logo vi o rosto barbudo (muito peludo mesmo) daquele homem gigantesco. A sua aparência era intimidadora, mas ele tinha a voz de quem não queria fazer mal a ninguém.

Seguimos o grande homem. Estava muito escuro, a luz da lâmpada atingia poucas coisas ao redor da gente, e o homem falou:

– Vocês vão ter a primeira visão de Hogwarts em um segundo, logo depois dessa curva.

Fiquei boquiaberta com a imagem que veio a seguir. Era um grande, enorme castelo encarrapitado no alto de um penhasco, cheio de pequenas janelinhas brilhantes e torres de vários tamanhos. Me senti logo muito feliz e orgulhosa - eu era bruxa e tinha como estudar numa escola fascinante daquelas.

Nenhuma foto de 'Hogwarts - Uma História' (um dos livros que li) era tão magnífica quanto o castelo real. Eu mal podia esperar para ver o interior - segundo o livro, no lá havia passagens secretas, encantamentos em alguns locais, fantasmas e todo o tipo de coisas.

Meus pensamentos foram interrompidos por outra fala do homem grandalhão:

– Só quatro em cada barco! - ele apontava para uma flotilha de barcos parados na água junto à margem. Eu e Neville entramos num barco junto com aqueles dois garotos que encontramos no trem - Harry Potter e Ron Weasley.

Depois que todos se sentaram, o homem deu uma ordem aos barquinhos, que logo começaram a se mexer. Todos nós olhávamos ansiosos para o castelo, que ficava maior e maior...

–Abaixem as cabeças! - berrou o homem, e os barquinhos atravessaram uma cortina de hera que ocultava uma larga abertura na face do penhasco.

Entramos num túnel escuro, e eu senti arrepios. Não só de medo, mas principalmente de nervosismo. Esse túnel levava-nos para debaixo do castelo, uma espécie de cais subterrâneo. Desembarcamos, um por um, e eu quase escorreguei andando nas pedras cobertas de limo.

– Ei, você aí! É o seu sapo? - perguntou o grandalhão para Neville, enquanto verificava os barcos.

– Trevor! - gritou Neville feliz, estendendo as mãos para o sapo. Sorri ao saber que ele estava aliviado, e continuamos andando, acompanhando a lanterna do homem, até que chegamos a um gramado fofo e úmido na porta do castelo, aonde nos aglomeramos.

Olhei para os lados, sem saber o que fazer. Uma garota ao meu lado (muito feia, por sinal) tagarelava com outra sobre o quanto ela gostaria de estar na Sonserina, uma casa de Hogwarts. A outra concordava, e elas davam risinhos.
Já Hannah e Susan estavam do outro lado. Hannah estava muito corada, e Susan estava ao lado dela, roendo as unhas. Neville segurava o sapo com força, impedindo-o de escapar.

– Estão todos aqui? Você aí, ainda está com o seu sapo?

O homem ergueu um punho gigantesco e bateu três vezes na porta do castelo, produzindo um barulho alto. Este, por sua vez, aumentava minha ansiedade.

A porta se abriu, e a professora McGonagall apareceu. Sorri ao reconhecê-la. Ela apresentava as mesmas feições severas, uma aparência de pessoa respeitável e a quem não se devia aborrecer.

– Alunos do primeiro ano, Profa. Minerva McGonagall - informou o grandalhão.

– Obrigada, Hagrid - falou a professora - Eu cuido deles daqui em diante.

Ela escancarou a porta, e fiquei boquiaberta. O saguão era gigantesco; as paredes feitas de pedra estavam iluminadas com archotes flamejantes e o teto era alto demais para que eu pudesse ver. Uma escada de mármore em frente levava aos andares superiores.

Eu já havia lido e relido trechos sobre a escola, mas nada era como estar lá, em pessoa. Mas talvez fosse pelo fato de que lendo aqueles livros da Floreios e Borrões a gente tivesse a impressão de que era tudo conto de fadas. Ou pelo menos eu, uma nascida-trouxa, tinha essa impressão.

Nós acompanhamos a Profa. Minerva. Ouvi muitas vozes ecoando de uma porta à direita, e me virei para tentar espiar o que acontecia lá dentro. Os outros alunos, mais velhos, já deviam estar reunidos lá. Mas só pude imaginar naquele momento, pois fomos levados a uma sala vazia ao lado do saguão. Ficamos apertados naquela salinha; alguns alunos cochichavam. Outros apenas olhavam para os lados, nervosos. Neville estava tão ansioso que apertava o sapo com mais força do que deveria.

– Bem-vindos a Hogwarts - falou McGonagall - O banquete de abertura do ano letivo vai começar daqui a pouco, mas antes de se sentarem às mesas, vocês serão selecionados por casas. A Seleção é uma cerimônia muito importante porque, enquanto estiverem aqui, sua casa será uma espécie de família em Hogwarts. Vocês assistirão a aulas com o restante dos alunos de sua casa, dormirão no dormitório da casa e passarão o tempo livre na sala comunal.
– As quatro casas chamam-se Grifinória, Lufa-Lufa, Corvinal e Sonserina - a professora McGonagall falou e eu, lembrando de 'Hogwarts, Uma História', acabei falando o trecho com ela - Cada casa tem uma história honrosa e cada uma produziu bruxos e bruxas extraordinários. Enquanto estiverem em Hogwarts os seus acertos renderão pontos para sua casa, enquanto os erros a farão perder. No fim do ano, a casa com o maior número de pontos receberá a Taça das Casas, uma grande honra. Espero que cada um de vocês seja motivo de orgulho para a casa à qual vier a pertencer.
“A Cerimônia de Seleção vai se realizar dentro de alguns minutos na presença de toda a escola. Sugiro que vocês se arrumem o melhor que puderem enquanto esperam.”

Dito isso, passei a mão pelos meus cabelos, que estavam cheios como o normal, e tentei diminuir o frizz. Dei o nó na gravata novamente, deixando-a reta, e sem achar mais defeitos, comecei a respirar rapidamente, como se o ar estivesse rarefeito. As pessoas à minha volta também tentaram ficar do melhor jeito possível (bom, nem todas. Algumas ignoraram a fala da professora, para o meu desgosto).

– Voltarei quando estivermos prontos para receber vocês - falou a professora - Por favor, aguardem em silêncio.

As pessoas ignoraram a última frase, e murmúrios enchiam a sala. Eu torcia para ficar na Grifinória, ou pelo menos na Corvinal. Passei novamente a mão sobre os cabelos, nervosa. Não havia mais nada a fazer, a não ser esperar o grande momento.

Se eu precisasse testar todos os feitiços que sei na frente da escola, eu testaria, mas segundo 'Hogwarts, uma História', era um chapéu, o Chapéu Seletor, que selecionava os alunos para as casas. Se bem que não seria ruim se eu precisasse apresentar apenas um feitiço. Aposto que eu iria me sair bem, mas...

Foi nesse pensamento que eu quase desmaiei de susto. Uma boa quantidade de fantasmas - sim, fantasmas - passaram pela parede dos fundos, e, em seguida, por nós. Quando você é uma nascida-trouxa, não muito acostumada a esse tipo de coisa, você pode quase desmaiar.

Os fantasmas não são seres que usam lençóis para mostrar que estão ali. Eles tem formato e tamanho humano, mas são branco-pérola e ligeiramente transparentes.

Um deles passou por mim - literalmente - e a sensação é a de que um balde cheio d'água fria caiu em você subitamente. Me arrepiei toda. Mas, de certo modo, eram seres tranquilos e não aparentavam nenhum mal. Não têm nada a ver com aqueles fantasmas malvados dos filmes trouxas.

Mas o mais esquisito é que, por um momento, eles ignoraram a nossa presença na sala. Entraram discutindo; um fantasma que lembrava um fradinho gordo ia dizendo: “Perdoar e esquecer, eu diria, vamos dar a ele uma segunda chance...”

– Meu caro frei - falou outro, que usava uma gola de rufos engomados e meiões -, já não demos a Pirraça todas as chances que ele merecia? Ele mancha a nossa reputação e, você sabe, ele nem ao menos é um fantasma – então, ele pareceu se tocar - Nossa, o que é que essa garotada está fazendo aqui?

Silêncio absoluto.

– Alunos novos! - disse o fantasma do frei, sorrindo bondosamente - Estão esperando para ser selecionados, imagino?

Alguns de nós assentiram, mas sem falar nada. O choque nos deixava mudos.

– Espero vê-los na Lufa-Lufa! - falou o frei - A minha casa antiga, sabe?

Então, a profa. Minerva apareceu, e eu pulei de ansiedade.

– Vamos andando agora. A Cerimônia de Seleção vai começar.

Os fantasmas foram saindo um a um. A professora ordenou uma fila, e todos nós a seguimos. Harry Potter e Ron Weasley (era esse o nome dele?) estavam na minha frente, e Susan ficou logo atrás de mim. Todos nós saímos em direção àquela outra porta - a porta do Grande Salão.

O Grande Salão era muito grande. Era iluminado por milhares de velas flutuantes, que pairavam sobre quatro mesas compridas, "uma para cada casa", lembrei de ter lido em 'Hogwarts, uma História'. As mesas estavam ocupadas por vários alunos mais velhos, e postas com pratos e taças douradas. No outro extremo do Salão havia mais uma mesa comprida na qual se sentavam os professores. A professora nos levou até ali, nos deixando enfileirados diante dos outros.

Vários alunos nos contemplavam. Alguns acenavam, como se conhecessem alguém entre nós. Outros bocejavam e pareciam com fome. Os fantasmas também observavam-nos. Olhei para o teto e vi o encantamento citado nos livros. Não pude deixar de cochichar para Susan:

– É enfeitiçado para parecer o céu lá fora, li em 'Hogwarts, uma História'.

Ela contemplou o teto, encantada.

A Profa. Minerva colocou um banquinho de quatro pernas na nossa frente, e em cima dele, um chapéu de bruxo, muito surrado e velho. Então... aquele era o famoso e importante Chapéu Seletor?

Todos olhavam para ele esperando algum tipo de espetáculo. Então, ele se moveu; um rasgo junto à aba se abriu como uma boca, e o chapéu começou a cantar:

Ah, vocês podem me achar pouco atraente,
Mas não me julguem só pela aparência
Engulo a mim mesmo se puderem encontrar
Um chapéu mais inteligente do que o papai aqui.
Podem guardar seus chapéus-coco bem pretos,
Suas cartolas altas de cetim brilhoso
Porque sou o Chapéu Seletor de Hogwarts
E dou de dez a zero em qualquer outro chapéu.
Não há nada escondido em sua cabeça
Que o Chapéu Seletor não consiga ver,
Por isso é só me porem na cabeça que vou dizer
Em que casa de Hogwarts deverão ficar.
Quem sabe sua morada é a Grifinória,
Casa onde habitam corações indômitos.
Ousadia, sangue-frio e nobreza
Destacam os Grifinórios dos demais;
Quem sabe é na Lufa-Lufa que você vai morar,
Onde seus moradores são justos e leais
Pacientes, sinceros, sem medo da dor;
Ou será a velha e sábia Corvinal,
A casa dos que têm a mente sempre alerta,
Onde os homens de grande espírito e saber
Sempre encontrarão companheiros seus iguais;
Ou quem sabe a Sonserina será a sua casa
E ali fará seus verdadeiros amigos,
Homens de astúcia que usam quaisquer meios
Para atingir os fins que antes colimaram.
Vamos, me experimentem! Não devem temer!
Nem se atrapalhar! Estarão em boas mãos!
(Mesmo que chapéus não tenham pés nem mãos)
Porque sou único, sou um Chapéu Pensador!


O salão inteiro aplaudiu quando o chapéu parou de cantar. A música tinha tirado um pouco minha cabeça da Seleção, mas agora eu estava mais nervosa do que nunca.

– Então só precisamos experimentar o chapéu! - cochichou Weasley - Vou matar o Fred, ele não parou de falar numa luta contra um trasgo.

Segurei para não rir e pensei, 'quanta bobagem!'

A Profa. Minerva segurava um grande rolo de pergaminho.

– Quando eu chamar seus nomes, vocês porão o Chapéu e se sentarão no banquinho para a seleção. Hannah Abbott!

Hannah, muito corada, saiu aos tropeços do outro lado da fila, pôs o chapéu, que lhe cobriu os olhos, e se sentou. Depois de uma pequena pausa...

– LUFA-LUFA! - anunciou o chapéu.

Uma mesa à direita deu vivas e bateu palmas. Sorri fracamente para ela, de longe.

– Susan Bones!

– LUFA-LUFA! - o chapéu falou outra vez, e Susan sentou-se ao lado de Hannah.

– Terry Boot!

– CORVINAL!

A segunda mesa à esquerda aplaudiu com mais força desta vez. Eu pude sentir meu coração batendo com mais força...

– Mandy Brocklehurst!

– CORVINAL!

– Lavender Brown!

– GRIFINÓRIA!

A mesa na extrema esquerda fez uma festa, e algumas pessoas foram cumprimentar a menina loura que se sentou.
Depois dela, Millicent Bulstrode se tornou uma sonserina, Justin Finch-Fletchley se tornou um lufano, Seamus Finnigan se tornou um grifinório e, em seguida...

– Hermione Granger!

Pulei de susto e praticamente sai correndo até o banquinho. 'Calma, é apenas uma seleção', murmurei para mim mesma, coloquei o Chapéu, que tapou meus olhos, e me sentei, segurando o banquinho com força.

“Ora, ora, ora. O que temos aqui? Uma nascida-trouxa, pelo que vejo, mas sabe muito mais do que qualquer nascido-trouxa em seu primeiro ano. Parece que leu algumas dezenas de livros antes de chegar aqui, não?”
“Isso seria prevenção ou apenas curiosidade?... Os dois, é o que parece. Você tem uma sede por conhecimento, uma sede por provar tudo o que sabe... Sua mente poderia levá-la para a Corvinal, srta. Granger, mas seu coração já está decidido. Você tem a mesma mente aguda que uma outra menina, era Lily Evans o nome dela... Vou mandá-la, então, para a....
GRIFINÓRIA!"

Suspirei. Finalmente acabara. Corri para a mesa da Grifinória, aonde um menino alto, sardento e de cabelos ruivos, usando óculos, me cumprimentou.

– Parabéns! Sou Percy Weasley, monitor da Grifinória! - falou ele, enquanto apertava minha mão energeticamente. Assenti, e me sentei orgulhosa.

Mais nomes foram chamados... Neville, que tropeçou, coitado, e veio para a Grifinória... Uma menina chamada Morag MacDougal, que foi para a Corvinal...

Então, um menino loiro e pálido foi chamado. Seu nome era Draco Malfoy. Era aquele garoto de aparência arrogante que saiu da cabine de Harry Potter. Ele foi para a Sonserina. Não sei porquê, mas apenas olhar para aquele garoto me dava desgosto.

Mais uns sete nomes foram chamados, até que Harry Potter foi chamado, e murmúrios ecoaram pelo Salão. Me espichei no banco, curiosa.

A Seleção dele demorou uns dois minutos, até que ele veio para a Grifinória. Bati palmas, entusiasmada. Ele parecia atordoado, mas satisfeito. Dois garotos ruivos idênticos criaram um coro de 'Ganhamos Potter!', e em seguida mais nomes foram chamados.

Enquanto isso, fiquei prestando atenção em Alvo Dumbledore, um senhor bem velho, mas de aparência resistente, magro, alto e de barbas e cabelos longos e prateados. Aquele era o célebre diretor de Hogwarts... Ele era um homem admirável, pelo menos segundo o que eu tinha lido sobre ele.

Mais um nome conhecido foi chamado.

– Ronald Weasley!

– GRIFINÓRIA!

Acho que eu nunca tinha visto ninguém mais aliviado do que aquele garoto depois de ser selecionado.

Um último nome foi chamado, e então a Seleção acabou.

Alvo Dumbledore se levantou, imponentemente. Ele sorria. Abriu os braços. Parecia muito feliz.

– Sejam bem-vindos! Sejam bem-vindos para um novo ano em Hogwarts! Antes de começarmos nosso banquete, eu gostaria de dizer algumas palavrinhas: Pateta! Chorão! Destabocado! Beliscão! Obrigado.

Todos bateram palmas. Dei de ombros e bati palmas também. Professor Dumbledore era, sem dúvida, um homem imprevisível.

Harry Potter perguntou para o monitor Percy:

– Ele é... um pouquinho maluco?

– Maluco? Ele é um gênio! O melhor bruxo do mundo! Mas é um pouquinho maluco, sim. Batatas, Harry?

Do nada, os pratos se encheram de comida. Eu tinha lido em algum lugar que a comida não podia ser conjurada do nada; tinha que haver uma fonte dela. Mas naquele momento eu não me importava mais com 'de onde essa comida veio' ou qualquer coisa assim. O cheiro era tão bom e tinha uma variedade tão grande de receitas que eu simplesmente enchi meu prato e comecei a comer o banquete que, a propósito, estava maravilhoso.

– Isto está com uma cara ótima - disse um fantasma que usava uma gola de rufos, que observava Harry Potter cortar o rosbife com uma cara triste.

– O senhor não pode...?

– Não como há quatrocentos anos. Não é preciso, é claro, mas a pessoa sente falta. Acho que ainda não me apresentei? Cavalheiro Nicholas de Mimsy-Porpington às suas ordens. Fantasma residente da torre da Grifinória.

– Eu sei quem você é! - gritou o menino ruivo, Ronald Weasley - Meus irmãos me falaram do senhor. O senhor é o Nick Quase Sem Cabeça.

Ergui as sobrancelhas diante daquele apelido - como alguém pode ser 'quase' sem cabeça?

E foi exatamente o que um garoto louro perguntou.

– 'Quase' Sem Cabeça? Como é alguém pode ser 'quase' sem cabeça?

Sir Nicholas tinha uma expressão de aborrecimento.

– Assim - ele disse, muito irritado, agarrando a orelha esquerda e puxando-a. Para o meu completo horror, a cabeça toda girou para fora do pescoço e caiu por cima do ombro como se estivesse presa por uma dobradiça. Era como se alguém tivesse tentado decapitá-lo, mas não tivesse feito seu trabalho direito. Satisfeito com a nossa cara de espanto, Sir Nicholas empurrou a cabeça de volta ao pescoço, tossiu e disse:

– Então, novos moradores da Grifinória! Espero que nos ajudem a ganhar o campeonato das casas este ano! Grifinória nunca passou tanto tempo sem ganhar a taça. Sonserina tem ganhado nos últimos seis anos! O Barão Sangrento está ficando quase insuportável. Ele é o fantasma da Sonserina.

– Como foi que ficou coberto de sangue? - perguntou novamente o garoto louro, que se chamava Seamus Finnigan, muito interessado.

– Nunca perguntei - respondeu Sir Nicholas.

Depois que eu já estava farta de tanta comida, as sobras que estavam nos pratos desapareceram, deixando-os limpinhos como antes. Então, surgiram as sobremesas, e eu fiz um esforcinho para provar algumas delas - eram também de uma variedade gigantesca, e haviam doces sobre os quais eu nunca tinha escutado falar; talvez só existissem no mundo dos bruxos.

– Eu sou meio a meio - falou Seamus - Papai é trouxa. Mamãe não contou a ele que era bruxa até depois de casarem. Teve um choque horrível.

– E você, Neville? - perguntou Ronald Weasley.

Neville respondeu:

– Bom, minha avó me criou e ela é bruxa, mas a família achou durante anos que eu era completamente trouxa. Meu tio-avô Algie vivia tentando me pegar desprevenido e me forçar a recorrer à magia. Ele me empurrou pela borda de um cais uma vez, eu quase me afoguei. Mas nada aconteceu até eu completar oito anos. Meu tio Algie veio tomar chá conosco e tinha me pendurado pelos calcanhares para fora de uma janela do primeiro andar, quando a minha tia-avó Enid lhe ofereceu um merengue e ele sem querer me deixou cair. Mas eu desci flutuando até o jardim e a estrada. Todos ficaram realmente satisfeitos. Minha avó chorou de tanta felicidade. E vocês deviam ter visto a cara deles quando entrei para Hogwarts. Achavam que eu não era bastante mágico para entrar, entendem. Meu tio Algie ficou tão contente que me comprou um sapo.

Nesse meio tempo, eu já tinha começado a conversar com Percy Weasley sobre as aulas:

– Espero que elas comecem logo, tem tanta coisa para a gente aprender, estou muito interessada em Transfiguração, sabe, transformar uma coisa em outra, claro, dizem que é muito difícil; a pessoa começa aos poucos, fósforos em agulhas e coisas pequenas assim - falei, animada.

– Ui! - falou Harry Potter, levando a mão até a testa, em direção a sua cicatriz em forma de raio.

Percy, que estava me respondendo, virou-se e perguntou:

– Que foi?

– N-nada - Harry gaguejou - Quem é aquele professor que está conversando com o Professor Quirrell?

– Ah, você já conhece Quirrell, é? Não admira que ele pareça tão nervoso, aquele é o Professor Snape. Ele ensina Poções, mas não é o que ele quer. Todo mundo sabe que está cobiçando o cargo de Quirrell. Conhece um bocado as Artes das Trevas, o Snape.

Me virei para ver de quem eles estavam falando; era um professor de nariz curvado, cabelos negros e sebosos e uma cara de poucos amigos.

Então as sobremesas sumiram (“elas acabaram de aparecer e já sumiram!”, reclamou Ronald Weasley), e o Professor Dumbledore ficou de pé mais uma vez. O salão inteiro ficou em silêncio.

– Hum... só tenho mais umas palavrinhas agora que já comemos e bebemos. Tenho alguns avisos de início de ano letivo para vocês.
“Os alunos do primeiro ano devem observar que é proibido andar na floresta da propriedade. E alguns dos nossos estudantes mais antigos fariam bem em lembrar dessa proibição."

O olhar de Dumbledore se virou para os gêmeos ruivos que pareciam ser irmãos de Ronald.

– O Sr. Filch, o zelador, me pediu para lembrar a todos que não devem fazer mágicas no corredor durante os intervalos das aulas.
"Os testes de Quadribol serão realizados na segunda semana de aulas. Quem estiver interessado em entrar para o time de sua casa deverá procurar Madame Hooch. E, por último, é preciso avisar que, este ano, o corredor do terceiro andar do lado direito está proibido a todos que não quiserem ter uma morte muito dolorosa."

Todos ficaram muito quietos; pouquíssimos alunos riram, e pararam rapidamente logo depois, vendo que não era apenas uma brincadeira. Fiquei assustada.

– E agora, antes de irmos para a cama, vamos cantar o hino da escola! - exclamou Dumbledore. Os outros professores ficaram com um sorriso meio amarelado.

Dumbledore fez um pequeno aceno com a varinha como se estivesse tentando espantar uma mosca na ponta e surgiu no ar uma longa fita dourada, que esvoaçou para o alto das mesas e se enroscou como uma serpente formando palavras.

– Cada um escolha sua música preferida - convidou Dumbledore - e lá vamos nós!

E a escola inteira cantou:

Hogwarts, Hogwarts, Hoggy Warty Hogwarts,
Nos ensine algo por favor,
Quer sejamos velhos e calvos
Quer moços de pernas raladas,
Temos as cabeças precisadas
De ideias interessantes
Pois estão ocas e cheias de ar,
Moscas mortas e fios de cotão.
Nos ensine algo o que vale a pena
Faça lembrar o que já esquecemos
Faça o melhor, faremos o resto,
Estudaremos até o cérebro se desmanchar.


Terminei o hino rapidamente, em ritmo de música clássica, mas cada um terminou em um tempo diferente. Por fim, só restaram os gêmeos ruivos cantando sozinhos, ao som de uma lenta marcha fúnebre. Dumbledore regeu os últimos versos com a sua varinha e, quando eles terminaram, foi um dos que aplaudiram mais alto. Não pude deixar de rir.

– Ah, a música - disse, secando os olhos - Uma mágica que transcende todas as que fazemos aqui! E agora, hora de dormir. Andando!

Nós seguimos o monitor Percy por entre os grupos que conversavam, saímos do salão principal e subimos uma imponente escadaria de mármore. Eu estava bastante cansada, então subir as escadas foi mais difícil que o normal. Passamos por corredores, portais escondidos atrás de painéis corrediços e tapeçarias penduradas, e subimos mais escadas (me deixando ainda mais cansada) até que paramos repentinamente.

Bengalas flutuavam no ar à nossa frente, e quando Percy avançou, elas começaram a assaltá-lo.

– Pirraça -ele cochichou para nós - um Poltergeist. - e depois, falou em voz alta:

– Pirraça, apareça.

Um som alto e grosseiro respondeu, e Percy, perdendo a paciência, falou:

– Quer que eu vá procurar o Barão Sangrento?

Ouvimos um estalo e um homenzinho com olhos escuros e maus e a boca escancarada apareceu, flutuando de pernas cruzadas no ar, segurando as bengalas.

– Oh! - falou, rindo maliciosamente - Calourinhos! Que divertido!

E mergulhou repentinamente contra nós. Me abaixei quase tardiamente.

– Vá embora, Pirraça, ou eu vou contar ao Barão, e estou falando sério! - ameaçou Percy.

Pirraça pôs a língua para fora e desapareceu, largando as bengalas na cabeça do Neville (que choramingou). Fui ajudá-lo a se levantar, e ouvimos Pirraça partir, fazendo barulhos irritantes com os escudos de metal dos corredores.

– Vocês tenham cuidado com o Pirraça - Percy disse quando retomamos a caminhada - O Barão Sangrento é o único que consegue controlá-lo, ele não dá confiança aos monitores. Chegamos.

No finzinho do corredor havia um retrato de uma mulher muito gorda vestida de rosa.

– Senha? - pediu ela.

– Cabeça de Dragão - falou Percy, e o retrato se inclinou para frente, revelando um buraco redondo na parede. Passamos por ele, e então estávamos no Salão Comunal da Grifinória, um aposento redondo cheio de poltronas fofas e que passava uma sensação de conforto.

Percy mostrou-nos a porta do dormitório feminino, e eu segui as outras meninas. Uma delas bocejou.

– Pena que temos aula amanhã. Eu queria poder dar uma olhada na escola antes...

– Verdade, Lavender. Já sinto saudades das férias - e então se jogou na cama, ainda usando o uniforme.

– Eu acho que é um tanto justo, as férias foram longas e tem muita coisa para se aprender ainda - falei - Sou Hermione Granger, a propósito. Quem são vocês?

As meninas se viraram para mim, como se nem tivessem notado que eu estava ali antes. Uma menina de cabelos cor de mel (mais puxados para a cor loura) que batiam nos seus ombros falou primeiro:

– Hã, oi. Sou Lavender Brown, e essa é a Parvati Patil - ela falou, apontando para a outra menina, que tinha a pele morena e os cabelos negros e lisos.

– Oi - a outra também falou, mas sem olhar para mim, já tirando pijamas da sua mala.

– Oi - falei, por fim. Elas puxaram as cortinas que ficavam em volta das camas, trocaram de roupa e por fim dormiram. Fiz o mesmo, mas demorei muito mais para conseguir dormir; a ansiedade ficava martelando no meu cérebro. Por fim, dormi, mas pareceram cinco minutos de sono quando acordei novamente, já de manhã. Lavender e Parvati tagarelavam ali do lado, se arrumando.

Meu primeiro ano letivo em Hogwarts estava apenas começando.


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Notas finais do capítulo

Como podem notar, os próximos capítulos serão bem mais inéditos, com coisas não ditas nos livros originais. Ansiosos?