Era o dia do aniversário de Warrick. As três investigadoras estavam na sala de estar. Laura estava sentada no sofá, de pijamas e tendo um trabalho difícil em pentear os cabelos molhados. Sara estava encostada na parede, de braços cruzados enquanto observava Catherine maquiar-se.

    - Por que você está passando isso?

    - Porque sim – respondeu ela secamente.

    Sara bufou.

    - Grande resposta.

    - O que você quer, Sara? – Perguntou Catherine, impaciente.

    - Saber aonde você vai.

    - Vou na festa do Warrick... com um amigo. – Laura olhou para Sara, avaliando sua expressão. A morena continuava impassível, embora estivesse fervendo por dentro.

    - Que amigo?

    - Um amigo, Sara. Como todas as pessoas normais têm.

    - Certo... nossa. Eu só queria saber quem é seu novo par – disse ela ironicamente.

    - Amigas deveriam respeitar a privacidade umas das outras...

    Com essa, Sara descruzou os braços.

    - Amigas? – Perguntou ela, com um leve tom de sarcasmo. Era o que faltava agora, Catherine inventar aquilo de uma hora para outra. Será que era tudo por causa do que havia acontecido antes?

    - É, amigas. Certo, Laura?

    Laura engoliu em seco. Não estava sentindo-se bem presenciando aquela discussão e sentia-se ainda pior tendo que tomar partido. Ela pensou na pergunta de Catherine. Se ela levasse em consideração que ela e Sara estavam namorando-quase-terminando e seus súbitos sentimentos por Sara... então não. Amigas mesmo, só ela e Cath. Mas sabiamente decidiu ficar em silêncio.

    - Somos bem mais do que amigas, Cath. Você sabe disso perfeitamente.

    Catherine olhou para Sara através do espelho.

    Sabia do que Sara estava falando, é claro. Era óbvio. Mas achou melhor não comentar nada. Estava atrasada e discutir com Sara não era o primeiro item da sua lista de coisas para fazer da noite. Ela suspirou.

    - Sinto muito, Sara – disse Catherine e saiu, sem ao menos despedir-se.

    Sara sentiu todo seu sangue esquentar e correr violentamente pelas suas veias. Deu um soco forte na parede para diluir um pouco de sua raiva e permaneceu onde estava, encarando a porta por onde Catherine havia acabado de sair. Não moveu-se quando Laura aproximou-se e tocou seu braço delicadamente, oferecendo o conforto que podia.

    - Você está bem? – Sussurrou Laura.

    - Não...

    - Eu sinto muito... – Laura engoliu em seco e tomou coragem, abraçando Sara por trás. A morena não se moveu.

    - Você viu aquele olhar? Vi esse mesmo olhar nos olhos dos suspeitos do LVPD... Quando eles mentem.

    Laura ficou em silêncio, sem saber o que dizer e aproveitando os poucos segundos em que podia aproximar-se de Sara. Queria ter a chance de bater em Catherine, sacudi-la pelos ombros até que entendesse o erro que estava cometendo. E ali, tão próxima daquela mulher por quem havia se encantado, pode sentir as paredes de Sara começarem a desabar.

    - Vem – sussurrou ela. – Ela vai voltar.

    Sara continuou sem dizer nada, apenas deixou-se ser levada por Laura até o quarto de hóspedes. As duas mulheres sentaram-se na cama e começaram a conversar. Bom, Laura começou a conversar, já que Sara não tinha vontade de pronunciar nenhuma palavra. Laura segurou a mão de Sara e a apertou levemente.

    - Ela vai voltar.

    - Não... – disse Sara em voz baixa. – Ela não vai.

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   Sara Sidle bebericou seu café. Já passava da meia noite provavelmente e estava esperando por Catherine; não conseguia dormir devido à impaciência. Laura continuava a dormir tranquilamente em sua cama, sem desconfiar de nada.

    Sara olhou para o relógio novamente. Catherine devia estar aproveitando muito a festa e não iria voltar tão cedo e ela não aguentaria ficar a noite inteira esperando. Ansiosa, pegou sua mochila em seu quarto e decidiu ir ver seu amigo. Era um bom modo de distrair-se, de sair de toda aquela confusão.

    Não demorou muito para chegar no parque e descer o lar improvisado de seu falcão. Abriu o saco de dormir e alimentou seu pequeno amigo com os petiscos que sempre trazia. Queria desesperadamente falar com alguém. Catherine estava fora de cogitação e Laura, bem... Sabia que a colega queria ajudá-la, mas não se sentia à vontade para dividir algo tão profundo quantos seus sentimentos. O falcão era sua única opção e de certa forma, sabia que ele a escutaria.

    - Você vai crescer, ficar forte e poderá voar para longe daqui... – disse ela quando o falcão pousou na terra perto de seus pés. – Não imagina a inveja que eu sinto de você... Talvez possamos voar juntos para longe de tudo isso, encontrar um lugar calmo onde nada nos machuque...

    Enquanto isso, Laura começava a acordar. Olhou para o lado e ficou desperta imediatamente quando viu que Sara não estava mais ao seu lado. Levantou-se e procurou pela casa e não a encontrou em nenhum lugar. Ficou preocupada. No estado em que a morena estava não devia ter saído para qualquer lugar. Laura vasculhou todos os locais onde poderia encontrar Sara e lembrou-se do falcão. É claro! Ela estava lá. Pôs um casaco e saiu atrás de Sara.

    Las Vegas era linda de noite. Ao longe, conseguia ver os inúmeros prédios iluminados, como se fossem estrelas presas à terra. Andou pelas ruas que levavam até o parque e como não escutou ninguém por ali, decidiu chamar por Sara. Mas mudou de ideia completamente quando viu outras duas pessoas por ali.

    Ela não sabia como. Mas estava acontecendo. Era Catherine Willows e Vartann beijando-se intensamente, como se não houvesse mais ninguém ao seu redor. Bom, naquela hora não havia ninguém por ali, exceto Laura. Recuou para trás de uma árvore e observou enquanto Vartann a pegava no colo e a encostava contra o carro, sem interromper o beijo. Se tudo estava confuso, piorou. Laura não conseguia entender como Catherine poderia estar aos beijos - na verdade, o ato envolvia muito mais do que beijos e abraços - com outra pessoa, senão Sara.

    De repente ouvira um guincho do falcão que fez com que ela olhasse para o céu. Em meio à escuridão, conseguia distinguir a forma do falcão sobrevoando a área onde ela estava e assustou-se quando viu alguém correr na direção da casa de Catherine, ou simplesmente para longe daquela cena. Laura engoliu em seco quando tudo se encaixou. Não era a única naquela noite sombria a flagrar os dois investigadores se agarrando no carro.

    Sara Sidle havia presenciado tudo também.