Premonição 5: Água Negra escrita por Lerd


Capítulo 8
Quebrado


Notas iniciais do capítulo

Capítulo 8 postado, gente! É o antepenúltimo, então espero que gostem :D



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Sei que eles te machucaram feio

Por que esconder suas cicatrizes?

Amor, deixe-me realinhar seus ossos quebrados

Para mim, todos os seus defeitos o deixam mais bonito


Não consigo evitar, eu amo os quebrados

Aqueles que precisam de mais carinho

Aqueles que nunca foram amados

Nunca foram amados o bastante


Talvez eu veja um pouco de mim neles

A peça que falta e está sempre tentando se encaixar

O coração despedaçado com sede de lar

Não, você não está sozinho

Eu amo os quebrados

(The Broken Ones – Dia Frampton)

Johnny chegou ao hospital ainda de dia. Não sabia dizer com exatidão qual o horário, mas o sol ainda era claramente visível, então supôs que era menos de quatro horas da tarde. Estacionou o carro e entrou.

Na recepção perguntou por Heather, e a enfermeira indagou-o sobre quem ele era. O rapaz mentiu que era um colega de trabalho e que precisar ver a repórter. Espero que ela tenha colegas de trabalho.

— Quarto oito, segundo andar. É o terceiro à esquerda. — A recepcionista lhe informou.

Isso foi mais fácil do que eu imaginei. Johnny havia buscado informações acerca dos dias e horários de visita, então estava preparado. Ele seguiu até o elevador e apertou o botão. Eram apenas dois andares e poderia subir facilmente, mas havia algumas pessoas atrapalhando a passagem, sentadas na escada e conversando.

Quando a porta se abriu, o rapaz seguiu cautelosamente pelo corredor. Quarto um, dois, três, quatro... Quando chegou no sete, parou. O que eu vou dizer pra essa mulher? Ela pode estar traumatizada depois de tudo o que aconteceu... Mas eu preciso.

E então, antes que se desse conta, estava parado na porta do quarto de Heather Diamond.

— Posso entrar?

A mulher estava sentada na cama, de costas para ele, com a roupa de hospital, tomando uma sopa. A parte de trás de sua camisola estava aberta, e Johnny pôde ver cicatrizes horrendas nas costas de Heather. O cabelo preto da mulher estava preso em um coque desajeitado, e ela usava óculos de armações grossas e negras. Mesmo assim, era belíssima. Quando ela se virou para olhá-lo, o rapaz pôde ver seu rosto com clareza.

— Quem é você? Me disseram que era um colega de trabalho. — Ela disse, ríspida. — Eu não tenho muitos colegas de trabalho, então eu reconheceria se você fosse um deles.

— Desculpe, eu... Realmente não sou um colega de trabalho. Eu sou um fã, apesar disso.

Heather sorriu ironicamente da melhor maneira que conseguiu. O rosto dela estava todo machucado, como se tivesse sido arranhado. Mas eram ferimentos leves, provavelmente não deixariam cicatrizes. O pior está nas costas dela. O que será que aconteceu com essa mulher?

— Um fã, huh? Um fã do quê? Da minha carreira como jornalista ou como romancista? Não posso dizer que fui e sou realmente boa no que compete a segunda, mas a primeira eu executei e executo com maestria.

É agora.

— O que você... — E então sentiu que estava sendo mal educado. — O que a senhorita escreveu... Se me permite dizer... Não é um romance. Aquilo não é ficção.

Johnny viu os olhos de Heather arregalarem-se, e ela olhar fixamente para seu rosto. A mulher então soltou uma gargalhada.

— O que você sabe sobre... Isso? Sobre o meu livro?

— Eu sei o suficiente.

— E como?

O rapaz então respirou fundo.

— Eu sei por que está acontecendo comigo. Com a minha irmã e com os meus amigos. Com todos nós.

E Heather Diamond sentiu que chegara a hora de voltar a abrir suas feridas recém-cicatrizadas. A sua história com a lista precisava de um fechamento adequado...


x-x-x-x-x

Daquela vez ela já sabia que era um sonho. Desde o princípio.

Um pesadelo.

Emily estava sentada no chão, com as pernas cruzadas, assustada. Ao seu redor havia o barulho de gritos, e tiros, e pessoas gemendo de dor e de pavor. Parecia uma guerra. A maior parte do seu mundo era negro como o breu, mas os pontos de luz iam e vinham, e deixavam à mostra cenas horríveis. Pessoas sendo dilaceradas por máquinas, corpos mutilados, gente matando gente. Havia pernas, braços, cabeças, olhos... E sangue. Acima de tudo sangue.

Não era surpresa nenhuma que ele também estivesse ali. Leon saiu de uma poça de sangue do chão, de maneira sobrenatural. Estava coberto pelo líquido bordô, da cabeça aos pés. Seus cabelos pingavam de vermelho, e Emily gritou.

Nenhum som saiu de sua garganta.

Um rapaz seguia na direção dela. Mancando. Francis. Ele estava nu e acorrentado, como Pete estivera outrora. Como o próprio Leon estivera quando matara Abi. Mas havia algo ainda mais assustador com ele. O rapaz tinha flechas atravessadas em seus dois ombros, em suas duas coxas e em seus dois olhos. Muito sangue escorria dos ferimentos, e Francis gemia mais do que todos os outros.

Emily conseguiu se mover pela primeira vez em seus sonhos. Pulou em cima de Leon antes que ele pudesse agir, e quando tentou dar um soco nele, o rapaz se dissolveu numa gosma vermelha. A garota ficou encharcada, e gritou.

Quando se virou para trás, viu Leon segurando o corpo de Francis. O rapaz então retirou uma das flechas do ombro do primo dela e enfiou em sua garganta, silenciando-o para sempre.

Ela gritou mais uma vez e então acordou.

O lugar era um quarto de hospital. Emily piscou algumas vezes até perceber onde estava. Ali estava escuro, mas a garota julgou ainda ser dia. As persianas estão fechadas.

Emily estava sentada no sofá ao lado da cama de Mikey. O namorado dormia tranquilamente, como um anjo, e ela ficou tranquila por isso. Levantou-se e se sentiu um pouco zonza. Lembrou-se então de que não havia comido nada. Francis. Eu preciso saber como ele está.

A garota tentou então organizar seu pensamento. Ela havia levado Krista até o hospital, e a garota estava sendo cuidada pelos médicos. Emily não poderia acompanhá-la, então decidiu esgueirar-se até o quarto do namorado. Conseguiu trocar duas palavras com ele, e então o rapaz dormiu. A garota sentiu-se cansada e dormiu logo em seguida. Eu fui negligente, eu preciso saber como Francis está.

O sonho.

E então teve uma epifania. Eu mandei o Leon, mais uma vez. O sonho. O Francis vai morrer agora, e o Leon está com ele. Eu preciso ir atrás...

Saiu do quarto num rompante, embora com o menor ruído possível. Não havia ninguém nos corredores daquela ala. A garota passou por todos os quartos, e desceu as escadas com rapidez, de dois em dois degraus.

Fique bem, Francis, eu estou chegando.

x-x-x-x-x

— Boa menina! — Francis disse para a cachorra. O animal era uma lhasa apso branca que ficava pulando ao redor dele e latindo. Quando o rapaz falou aquelas palavras, a cadela deu um pulo.

— E então? Você acha que consegue lidar com ela? — O homem disse. Era Chuck, o alto e gordo dono da loja de armas onde estavam. Ele fazia Francis lembrar-se de um ogro; largo, comprido e de cara feia.

Francis meneou a cabeça positivamente:

— Mas é claro. Ela não parece ser muito agressiva.

— É, ela não é. Mas eu fico preocupado agora que eu e Melanie temos o bebê.

— Sim, é uma preocupação válida. Cachorros podem ser bastante territorialistas. Se ela sentir que o bebê está invadindo o espaço dela, as coisas podem ficar feias. — E o homem concordou. — Quando posso começar com as aulas?

Chuck sorriu.

— Quando for melhor para você. O quanto antes, melhor.

— Amanhã então. Pode ser?

— Claro!

O sino da porta tocou, e Francis virou-se no mesmo segundo para ver quem entrara. Estranhou ao ver Leon.

— Ei, rapaz! — Disse. Mas o egípcio cumprimentou-o de maneira sombria e bastante preocupada. Oh, não. Chegou a hora, Francis pensou.

Chuck já estava atrás do balcão, conversando com um cliente que estivera na loja olhando as prateleiras minutos antes. A cadela latia e corria ao redor do dono.

— Nós precisamos sair daqui. A... Abi está morta. — Francis arqueou as sobrancelhas no mesmo instante. — A Emily não sabe quem é o próximo e... Você se lembra da sua foto?

Francis se lembrava.

— Vamos sair daqui.

A cachorra pulou mais uma vez ao lado de Chuck, e o homem repeliu-a com um chute. O animal bateu numa prateleira e derrubou uma caixa de munição. As balas rolaram pelo chão, esparramando-se. Chuck acabou escorregando nelas e caiu de costas, causando grande impacto.

Leon percebeu o que estava prestes a acontecer.

— Francis, sai agora! — Gritou.

Mas o outro rapaz parecia estático, hipnotizado, observando a reação em cadeia que acabaria por resultar em seu acidente fatal. A mecânica da morte é perfeita, não existe erros. Tudo acontece de maneira tão organizada...

O impacto causado pela queda de Chuck começou a derrubar as escopetas enfileiradas de pé na parede, num efeito dominó. Elas caíam uma seguida da outra, e então a última derrubou uma aljava de flechas.

Mas ela fez mais do que isso.

Ao lado da aljava havia uma besta carregada, pendurada na parede. Quando todas as flechas haviam caído, a aljava vazia caiu em cima do gatilho da arma.

E então ela disparou.


x-x-x-x-x

— Então foi a sua irmã que teve a visão. — Heather disse, e aquilo não era uma pergunta. A mulher estava sentada em sua maca, de pernas cruzadas e olhar vago. Parecia focada, apesar disso. Johnny estava sentado no sofá ao lado da cama dela, mais tenso do que nunca.

— Exatamente. E nós precisamos saber como parar isto. Como deter a lista.

Heather voltou a rir, dessa vez mais fracamente. Ela tem um senso de humor sórdido, Johnny pensou. Eu estou prestes a morrer, e essa mulher fica rindo. Qual é o problema dela?

— E você acha que eu sei como deter a lista? De verdade?

— E por que não? Você está ligada a essa lista. Sua história é a dela é uma só.

— Você fala isso pelo livro que escrevi?

Johnny respirou fundo.

— Não. Eu falo pelo que você viveu. Eu sei do seu acidente.

— Está na internet, é verdade. Mas você não deveria acreditar em tudo o que lê por aí.

— Eu não acredito em tudo. Só no que possui credibilidade.

Heather encarou-o de maneira indignada, como se estivesse pronta para lhe estapear.

— E essa história de que eu estou... — E pensou um pouco. — Ou estava na lista... Ela possui crédito por que...?

Cuidado com o que vai dizer, Johnny. Muito, muito cuidado. Você pode perder uma importante aliada.

— Porque o seu namorado está morto. Eu sei disso.

E então a reação óbvia aconteceu: Heather deu um tapa no rosto de Johnny com toda a força que conseguiu empregar. O rapaz recebeu o golpe em silêncio, e quando virou o rosto e encarou-a com desprezo, a mulher desferiu outro tapa nele.

— Não ouse falar de David. Não ouse. — O rapaz manteve-se em silêncio. — Ele era melhor do que eu, melhor do que você. Melhor do que todos nós juntos... Mas isso não o impediu de ser tirado de mim... De... — E então lágrimas começaram a escorrer pelo rosto de Heather, aos poucos. — Eu não devia ter me aprofundado nesse assunto. Escrever o livro, buscar saber tudo sobre Kelsey, e as visões... — Ela retirou os óculos. — Eu quase morri antes disso, sabia? Um rapaz que estava na lista. O namorado da minha prima...

— O mesmo personagem do seu livro? O namorado da garota cadeirante? — Johnny perguntou cauteloso.

— Sim. — A mulher limpou o rosto molhado. — Ele tentou me matar, por achar que eu tivesse causado a morte dela. Mas o David me salvou. Daquela vez, e depois da visão do garotinho do navio... — E as lágrimas caíram aos montes.

Johnny não sabia como reagir. Deveria abraçá-la, tentar reconfortá-la...? Esticou o braço e tocou a mão de Heather, mas a mulher reprimiu a ação dele com um tapa de leve nas costas da sua mão. Ela é orgulhosa.

— Mas você está viva. Você venceu a lista. Como?

Heather encarou Johnny mais uma vez, prestando atenção nas bochechas coradas do rapaz. Ela havia atingido-o com dois tapas, e ganhara um toque gentil e palavras polidas.

— David. Novamente ele.

— O que ele fez? Como nós podemos deter a lista? Por favor, me diga!

A mulher então se levantou da cama. Sua camisola continuava aberta nas costas, e Johnny via parcialmente as cicatrizes. Terríveis cicatrizes, embora as piores estivessem em sua alma.

— Alguém precisa morrer fora da ordem da lista. — Heather disse friamente. — Aconteceu algumas vezes. Com o garoto, Bimbo. Ele morreu quando não deveria morrer. E o David... Foi assim que ele me salvou. Ele suicidou-se quando a morte esperava levar a mim.

Não. Tudo menos isso.

— Mas... Por quê?

Heather aproximou-se do rapaz o suficiente para que ele conseguisse sentir seu hálito. Era um hálito doce, um cheiro atraente e sensual.

— A lista da morte é algo que precisa ser levado a sério. As mortes precisam acontecer na ordem exata em que deveriam. Quando alguém é salvo... Essa pessoa vai para o final da lista. — Oh, Deus, Emily ainda corre perigo. — E a morte só voltará para buscá-lo quando todos já estiverem mortos. Mas ela vem... Ela sempre vem. A não ser que alguém desafie essa ordem. Alguém se recuse a morrer na ordem em que deveria.

— A não ser que alguém se suicide. — Johnny completou.

A repórter riu uma última vez, e abriu a boca para dizer solenemente:

— Ou seja assassinado.


x-x-x-x-x

A primeira flecha acertou o ombro esquerdo de Francis. Leon não teve tempo de reagir, pois a segunda e a terceira vieram em sequência, não deixando oportunidade para que ele pudesse salvar o outro rapaz.

A segunda flecha acertou o ombro direito. Francis gemeu. A terceira flecha acertou seu peito, e foi então que ele deixou cair as muletas. Suas pernas de madeira bateram no chão e fizeram eco. Leon correu até ele, mas acabou por escorregar nas flechas caídas. Ainda no chão, ergueu a cabeça e viu quando a quarta e quinta flechas acertaram Francis. A primeira delas acertou o pescoço do rapaz, trespassando-o.

E a quinta acertou seu olho direito.

Chuck gritou. Francis caiu ajoelhado, ao lado de Leon. O sangue do corpo começou a escorrer pelo chão, e outro rapaz não conteve as lágrimas. Ainda estava deitado no chão, e sentiu os respingos do líquido vermelho em seu rosto. Eu falhei mais uma vez.

Francis estava morto.


x-x-x-x-x

Emily estava quase chegando à loja de armas quando o seu celular tocou. Era Johnny. Ela estava pedalando sua bicicleta e atendeu o aparelho, segurando o guidão com uma só mão. Não podia parar.

— Jo, onde você está?

Emily, me escuta: eu preciso que você ouça tudo que eu tenho a dizer antes de fazer qualquer pergunta. Você acha que consegue?

— Claro, mas você está me deixando assustada.

Eu acredito na lista. Você não me contou, mas eu sei. Eu ouvi suas conversas, eu pesquisei. E eu vim atrás daquela repórter, da Heather Diamond. Ela me contou como podemos deter a lista. Como podemos nos salvar.

A garota teve de estacionar sua bicicleta. Aquilo era mais do que ela podia esperar.

— Me conta? Como?! Nós precisamos agir agora. A amiga de Leon, Abi, está morta. — Emily preferiu manter segredo sobre Krista. Enquanto Francis estiver vivo, Johnny não tem com o que se preocupar.

Houve alguns segundos de silêncio.

A Heather me disse que alguém precisa morrer fora da ordem em que deveria. Morrer quando a lista esperava levar outra pessoa.

Emily sabia o que aquilo significava. Ninguém jamais morreria fora da ordem através de um acidente. A pessoa precisava suicidar-se ou... Ser morta.

— Nós não podemos fazer isso, e...

A garota interrompeu sua frase ao ouvir o barulho de uma ambulância. O automóvel passou ao lado dela com rapidez, e seguiu na direção que a garota seguia anteriormente. Quando ele virou na mesma esquina em que ela viraria, Emily teve certeza. Desligou o celular sem despedir-se de Johnny e voltou a pedalar o mais rápido que conseguiu.

Quando chegou em frente à loja de armas, Leon estava lá, sentado na calçada. O rapaz tinha o rosto abatido, com respingos de sangue. Ao vê-la ele ficou vermelho, e depois amarelo. Parecia prestes a desmaiar.

— Emily, me desculpe, eu não consegui... — Leon disse.

A garota não soube o que dizer ou como reagir. Ao seu redor pessoas aglomeravam-se, e logo os dois tiveram de sair dali. Emily apenas caminhava, atônita, sem saber o que fazer. Seu primo estava morto. Sua melhor amiga e o seu namorado estavam no hospital. E seu irmão era o próximo da lista...

— Você... — A garota disse, subitamente enérgica. — Você é a causa disso tudo.

Leon não entendeu a reação de Emily.

— Como...?!

A garota então parou de andar.

— Desde o começo. Quando a Jade morreu, algum tempo antes, eu sonhei com você. Com você e com serpentes.

— Você nunca me disse que eu estava nesse sonho.

Emily ignorou-o.

— E então eu sonhei com a morte do garotinho. No sonho você esmagava a cabeça dele com as suas mãos. — Leon arregalou os olhos, horrorizado. — E depois com Abi e Francis. Você matava todos eles nos meus sonhos.

O rapaz gaguejou, nervoso e assustado:

— Emily, o que está acontecendo com você? Isso foram sonhos! Você viu como o Pete morreu. Eu não matei ninguém. Foi a lista.

— Cala a boca! — Emily gritou. — Eu não sei o motivo. Eu não sei... — E sentiu que começaria a chorar. — Mas... Você é perigoso. Ficar perto de você é perigoso. Eu não posso... Eu... — E lágrimas começaram a escorrer do seu rosto. — Tudo estava bem antes de você chegar. Francis estava vivo, Mikey e Krista não estavam feridos... Você é amaldiçoado, Leon!

— Emily, escuta o que você está dizendo! Isso é loucura!

Quando Leon tentou encostar na garota, foi reprimido severamente com um tapa. Emily lançou-lhe um olhar de desprezo e tristeza e sumiu no meio da multidão que estava em frente à loja de armas do Chuck.


x-x-x-x-x

Johnny entrou no elevador com cautela. Lá dentro pôs-se a ajeitar sua gravata roxa. Essa mulher sofreu muito, ele pensou, a respeito de Heather. Eu não posso julgá-la. Olhou em seu relógio e viu que já era quase de noite. Suas preocupações eram muitas, e o rapaz temia não conseguir lidar com tudo aquilo. O que Emily e ele fariam? Não podiam tirar a vida de outra pessoa, de maneira alguma, não importava quem fosse. Krista e Mikey eram muito próximos deles, e Francis era seu primo. Já Leon...

Jamais, Johnny. Ele é um rapaz inocente. Ele nem deveria estar nesse país.

Foi quando seus pensamentos foram interrompidos por um baque.

Fraco, mas então elevador parou. E as luzes dele se apagaram.

O celular de Johnny tocou.

— Alô?

A voz do outro lado saiu entrecortada e abafada, mas Johnny reconheceu-a imediatamente:

—... A Krista foi pulada e o Francis está morto. Você é o próximo. Cuidado com... — E então a ligação caiu, sem que Emily pudesse terminar a sua frase. Francis está morto?! E tomar cuidado com o quê?!

E então houve mais um baque, e Johnny caiu no chão. As luzes do painel se acenderam, e começaram a piscar como loucas. E então ele sentiu um frio na barriga ao perceber que o elevador estava subindo sem controle. Oh, não!

Mas de repente ele parou. O rapaz estava com o coração saindo pela boca. Ele segurava nas paredes como se delas dependessem a sua vida. Agachou-se, e, no escuro, começou a tatear uma maneira de sair dali. Percebeu que o chão possuía uma abertura. Cuidadosamente Johnny começou a tateá-la, e então descobriu como abri-la. Ele puxou as duas extremidades com as mãos, e então abriu um buraco.

Lá embaixo estava completamente escuro. Eu devo estar no quarto ou quinto andar. Eu posso pular e abrir uma das portas. Mas e se o elevador voltar a funcionar e me esmagar? Era uma situação provável, mas Johnny não morreria sem tentar. Se ele continuasse ali poderia acabar morrendo quando a coisa descesse descontroladamente.

Desceu com cautela. Primeiro colocou as pernas para fora, e depois o restante do corpo. Ainda se segurava pelas mãos, enquanto observava uma maneira de cair com jeito. Percebeu que havia cabos ao seu lado, e então prontamente agarrou-se a um deles. Começou a descer lentamente, até que encontrou uma porta.

O rapaz tentou abri-la sem sucesso, e então decidiu gritar por ajuda.

— Ei! Tem alguém aí?! Eu estou preso!

Do outro lado havia o completo silêncio, enquanto a voz de Johnny era a única coisa audível. Mas então, de repente, uma voz feminina disse:

— Eu vou tentar abrir, não fique na frente.

Ele obedeceu. Começou a descer um pouco, ficando exatamente embaixo da porta. Johnny ouvia o barulho da garota tentando abrir a porta de metal, e então ele viu uma fresta de luz invadir o breu que estava ao seu redor. E então viu a mão dela.

Uma mão com cicatrizes.

Heather.

— Me ajude a abrir o resto. — Ela pediu.

Johnny voltou a subir e então se pôs a puxar a porta, sem muito sucesso.

— Chame ajuda. — Ele falou.

— Você pode estar morto quando eu voltar. Nós precisamos abrir isso aqui agora!

— Então grite! — E Johnny ouviu o eco que sua fala provocou. — Grite por ajuda!

— Não dá, nos estamos na ala da UTI. Não tem ninguém por aqui. Não vão nos ouvir de maneira nenhuma.

— Merda!

Johnny então ouviu o pior som de sua vida. Um barulho que começou lento, e então tomou proporções ensurdecedoras.

O elevador estava caindo.

— Rápido, rápido, abre esse negócio!

— Eu estou tentando!

Oh meu Deus, ele está chegando.

— Com mais força, vai!

— Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaah!

A porta metálica se abriu.

— Pula!

E então Johnny foi puxado para fora por Heather segundos antes de o elevador passar por eles. Os dois ouviram o estrondo de quando ele atingiu o térreo, mas o rapaz achava que aquele barulho nem de perto era tão ensurdecedor quanto às batidas do seu coração. Eu fui pulado. Heather me salvou.

A repórter estava sentada no chão, assustada. Ela entreabriu a boca e sussurrou, aterrorizada:

— Você era o próximo?!



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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Comentem! :D



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