Era meu último dia de trabalho antes de entrar de férias...o dia em que sairia o resultado do vestibular. 

Assim que acordei naquela manhã, meu coração bateu mais forte. Tentei não pensar muito no que eu descobriria dentro de algumas horas, mas era inevitável. 

Arrumei-me o mais calmamente que consegui, tomei meu café da manhã e fui trabalhar. Estava trabalhando em turno completo durante as férias. A loja estava praticamente sem movimento. A maioria das pessoas estava viajando, a cidade se tornara praticamente deserta, se comprada aos outros dias do ano. Principalmente nos finais de semana. Nesse dia apenas eu e uma novata iríamos trabalhar, os outros estavam de férias. No dia seguinte, quando eu saísse de férias, Niel retornaria e me substituiria. 

Durante toda a manhã recebemos apenas três clientes, eu atendera apenas um, os outros dois foram atendidos pela novata, sob minha supervisão. Agora, finalmente, chegara a hora do almoço. Dona Denise chegara à poucos minutos e dissera que, na hora do almoço, era para eu ir a sala dela almoçar junto com ela. 

- Com licença? - Perguntei, abrindo a porta. Denise estava sentada atrás de sua mesa, com duas viandas fechadas em cima da mesma.

- Entre Sophia. - Falou-me ela, sorrindo.

Entrei e fechei a porta atrás de mim.

- Comprei uma vianda contendo macarrão ao molho alho e óleo, arroz, salada de alface e um frango grelhado para você. Está bom assim?

- Está ótimo, obrigada. - Respondi, sentando-me de frente para ela e começando a comer. Ela acompanhou-me.

- Ligaram-nos da clínica ontem de noite e nos disseram que poderemos visitar Felipe daqui à quinze dias, no sábado. Acho que coincide com o dia que você volta de viagem da praia, não? - Disse-me ela. Não poderia ter ouvido notícia melhor. A saudade que eu sentia de Felipe estava me agoniando já.

- Será sim. Na verdade eu voltarei na sexta-feira, então será melhor ainda.

- Será sim. - Concordou ela. - Você vai querer ir comigo e com Luciano visitá-lo?

- Com certeza. -Respondi, sorrindo. Não conseguia conter minha felicidade.

- Ótimo. - Falou ela. Ficamos um tempo em silêncio.

- A senhora realmente nunca quis ter mais filhos? - Perguntei. Na verdade, a pergunta escapou de meus lábios. Há tempo que eu queria saber isso, mas sempre me controlava.

Denise olhou-me, parecendo ponderar sobre o assunto. Então suspirou e respondeu-me:

- É. Eu não quis. Sabe, eu era realmente jovem quando engravidei de Felipe. Era imatura e fútil Talvez eu seja um pouco fútil até hoje. Não tenho certeza. Mas, enfim...não quis mais ter filhos. Vi como meu corpo mudou naquela gravidez e não quis sofrer aquelas mudanças novamente. Felipe sempre me culpou, dizendo que foi uma escolha mesquinha. Ele sempre quis ter um irmão, ou uma irmã. Mas, a verdade é que, eu nunca me arrependi. Veja bem, nunca tive um lado muito maternal, você deve ter percebido isso pelas atitudes de Felipe, e não queria ser culpada por mais uma criança que não tivesse a devida educação. Amo Felipe, ele é meu filho e sempre o amarei, mas não me arrependo de ter tido apenas ele. Acho que foi a melhor decisão que já tive em toda minha vida. 

Minha sogra terminou de falar e o silêncio predominou no ambiente por alguns segundos. Eu estava absorvendo tudo que ela falara. Era algo delicado, complexo e pessoal, mas ela me contara. E eu, lá no fundo, entendia as justificativas dela.

- Eu lhe entendo. - Falei apenas.

- Obrigada. - Respondeu ela, segurando minha mão esquerda e acariciando-a levemente.

Terminamos nossa refeição em silêncio.

- Muito obrigada pelo almoço, Denise. - Agradeci, enquanto levantava-me e saia da sala.

- Não tem porque agradecer Sophia. - Disse-me ela e eu fechei a porta atrás de mim.

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Cheguei em casa com muito sono naquele dia. Com sono, fome e com os nervos mais a flor da pele que nunca.  O resultado do vestibular sairia em menos de meia hora.

Na última semana meu pai colocara uma ótima internet em nossa casa, facilitando muito a minha vida.

- Boa noite mãe. - Falei, passando reto por minha mãe, que estava na sala e indo para meu quarto.

- Querida. - Gritou-me ela.

- Sim?

- Não esqueça de arrumar sua mala hoje. Seu pai quer sair amanhã bem cedo. 

- Tudo bem. - Gritei-lhe em resposta. Peguei minhas coisas e fui tomar um banho.

Meu banho foi mais rápido e menos relaxante que o normal. Minha ansiosidade não me permitia demoras. Desliguei o chuveiro e vesti-me com um confortável short de moletom e uma regata simples. Penteei meu cabelo, prendi-o num coque frouxo e sai do banheiro, indo rapidinho até a cozinha.

- Será que o resultado já saiu? - Perguntou-me minha mãe.

- Sai em doze minutos. - Respondi, pegando um pedaço de bolo de cenoura com cobertura de chocolate e um copo de suco de manga e indo para meu quarto. 

Chegando lá dei de cara com minha irmã sentada, tranquilamente em sua cama, brincando de boneca.

- Já saiu o resultado das suas provas? - perguntou-me ela, assim que entrei no quarto. De tanto eu falar nisso nos últimos dias, até ela já estava sabendo e ansiosa.

- Vai sair agora, dentro de alguns minutos. - Respondi e peguei meu notebook e o modem na internet.

Sentei-me na cama e liguei o notebook, conectei a internet e entrei na página oficial da universidade. Meu coração parecia que iria sair pela boca.

Decidi testar a mim mesma. Conferi primeiro se Roberta tinha passado. E lá estava o nome dela. Aprovada para arquitetura. Olhei então se Niel havia passado. E na lista também se encontrava o nome dele. Aprovado para letras. Então decidi acabar de vez com a tortura. Nessa altura do campeonato minha mãe já estava no quarto, sentada na cama ao lado de minha irmã. Meu pai, que a recém chegara do trabalho, estava parado na porta do meu quarto.

Mas, de qualquer forma, se eu não tivesse conseguido passar, pelo menos ficaria feliz por meus amigos terem conquistado isso. Lógico que ficaria chateada comigo mesma por não ter me esforçado o suficiente, mas não ficaria com ciúmes deles nem nada do tipo.

E lá estava meu nome. Aprovada para cursar licenciatura em história.

Não preciso nem dizer que comecei a gritar e a chorar. Meus pais correram e me abraçaram. Assim como minha irmã. A felicidade fez-se presente em nosso lar. Agora só faltava eu poder visitar Felipe e contar a notícia para ele.