Piper não acreditava que estava chorando. De novo.

Já fazia semanas, ou seriam meses – ela não sabia, o torpor era grande demais e agora deslizava sobre seu rosto suavemente – que ele havia ido embora? Sem ao menos um Adeus ou um simples abraço, isso a matava por dentro. Estava mais do que claro, transparente na verdade, seus sentimentos por Jason, e a garota podia Jurar pelo Estige que o garoto retribuía seus sentimentos. Até aquele dia.

Depois da Guerra contra Gaia, havia ficado decidido que os três – Leo, Piper e Jason – ficariam no Acampamento Meio-Sangue, onde realmente tinham feito amigos e criado laços. Jason estava estranho aquele dia, relutante.

Por um tempo, as coisas estavam ótimas e sua relação com o loiro ia de vento em poupa, mas não demorou muito para algo – ou alguém – estragar tudo.

Com a aliança dos Acampamentos, agora eram feitas visitas diretas de campistas alheios, romanos e gregos agora eram estranhamente... Aliados. E foi em uma dessas visitas que tudo desandou.

Eis que um dia, aquela pretora nojenta resolveu vir aqui, reconhecer o território ‘adquirido’. E para o azar de Piper, eles se reencontraram, foi uma cena linda – na visão de todos, menos da garota de olhos multicoloridos –. Quando se viram, Jason e Reyna se esmagaram em um abraço, iniciando depois um beijo praticamente pornográfico, tendo como plateia todos que estavam no lugar.

Não demorou muito e Reyna teve que partir, e estava mais do que claro que não iria sozinha. Jason não parecia relutante, e muito menos triste. Na verdade, uma chama brilhava em seus olhos como Piper nunca havia visto antes, era amor, e isso a quebrava por dentro.

A garota balançou a cabeça violentamente afastando mais lembranças e se ajeitou mais na rocha em que repousava.

Piper havia saído do chalé ao nascer do sol, a cabeça fervia ainda com as lembranças recentes – ou nem tanto assim – e precisava clarear a mente, coisa que só o contato com a natureza estranhamente fazia, então se embrenhara na floresta de manhãzinha, e ali havia achado uma rocha alta, perfeita. Sentou-se ali e apreciou o sol que banhava seu corpo esguio pelas frestas dos galhos altos que adornavam sua cabeça.

Já tinham se passado horas que a garota estava ali, aos prantos, tentando trazer a tona lembranças felizes para animar-se, em vão.

A concha soou ao longe – hora do almoço – mas a garota de cabelos cor de chocolate resolveu ignora-la, seu estômago estava embrulhado pelo choro e tinha a sensação que se colocasse alguma coisa nele, logo voltaria, isso não era nada legal.

— Pips? – Chamaram-na no inicio da clareira em que estava, mas a garota não ouviu, o som havia sido abafado pelos barulhos que o Dragão - que cuidava das fronteiras – estava fazendo enquanto brincava com um cervo que havia acidentalmente aparecido ali. Pobrezinho.

— Pips? – Dessa vez foi mais perto e mais audível.

A garota girou a cabeça com brusquidão em direção ao som da voz, não acreditava que até ali iriam encher sua paciência. Ela nunca teria paz? Não poderia ser feliz? Ou até chorar em paz?

Porém os sentimentos de raiva logo passaram quando a jovem avistou quem tinha invadido seu ‘espaço’.

Leo.

— O que faz aqui? – O garoto perguntou com seu sorriso costumeiro chegando perto da rocha em que Piper sentava-se. Ele se perguntava o porquê da garota ter sumido durante horas, mas logo afastou as perguntas, não era da conta dele. Embora no fundo, queria que fosse.

— Eu... Hm... – A garota gaguejou buscando furiosamente um desculpa convincente em sua mente enquanto Leo acomodava-se ao seu lado, na sua rocha. – Eu...

— Eu o quê, Pips? – Ele exclamou ainda com a voz brincalhona e pela primeira vez no dia, realmente focalizou o rosto da garota.

Seu sorriso costumeiro rapidamente sumiu, fazendo uma sombra passar por seus olhos chocolates. O vento chicoteou seu cabelo, lançando seus cachos para o lado enquanto ele observava minuciosamente o rosto de Piper, encharcado de lágrimas.

— Estava chorando? – Ele perguntou com a voz sombria e a garota apressou-se em negar veementemente com a cabeça. Em vão. – Por causa dele não é? – E antes que ele terminasse a pergunta, a menina tinha voltado a chorar. Leo suspirou derrotado, deixando que uma ruga cravasse em sua testa. – Rainha da beleza... Não chore... Não vale à pen-

— Não diga que não vale a pena. – Piper o cortou grosseiramente. Leo ergueu as sobrancelhas surpreso pela reação da amiga, ela nunca era agressiva assim.

Okay, ela era, mas não quando se tratava de Jason.

— Hn...? – O garoto balbuciou confuso e a garota virou o rosto, encarando-o com raiva.

— NÃO DIGA QUE NÃO VALE À PENA, VALDEZ! – Ela gritou fazendo o Garoto dos reparos arregalar mais ainda os olhos – Você não sabe o que é perder um amor! Não sabe o que é ter seu coração rasgado! Não sabe o que é se sentir traído! Nunca gostou de alguém com eu o amei! Sempre estava preocupado com suas paixonites durante nossas missões! Você não...

— Cale a boca Piper. – Leo a cortou com a voz grossa, encarando o chão e Pips não pôde ver seus olhos, pois seus cachos – recentes – cobriam seus olhos.

— O que? – Ela gritou ainda exaltada e pulou da pedra, parando de frente ao garoto, que rapidamente deslizou da pedra também e lentamente levantou a cabeça, deixando Piper avistar seus olhos, que agora estavam completamente negros, emoldurados pela face levemente avermelhada.

— Cale, a, boca. – Ele disse pausadamente e a encarou de cima, demonstrando pouco caso. – Você me conhece tão bem e ainda diz essas coisas para mim Piper? – Ele sussurrou a encarando de cenho franzido. Piper o encarava também, seu corpo tremia levemente, devido à adrenalina que corria por suas veias. Então um estalo foi quase audível na cabeça da morena. Ela lembrou-se da história de Leo e subitamente sentiu vontade de se matar.

Estava realmente errada e deveria mesmo calar-se.