Abro a porta muito devagarinho, sabia que a aula já tinha começado, mas não fazia ideia do que estava acontecendo. Coloco primeiro minha cabeça para dentro e logo vejo Clove com aquela cara de cachorrinho sem dono que ela adora fazer. Geralmente ela faz aquela cara quando alguma coisa a incomoda, por exemplo, quando alguém fala alguma coisa que ela não concorde, mas ela não pode dar a opinião dela na hora então ela passa o resto do dia pensando no assunto, ou quando ela não está entendo o que o professor fala, mesmo que para mim seja óbvio. As vezes eu acho que ela entende, mas se faz de desentendida para o professor poder explicar melhor, as vezes ajuda por que quando é um bom professor explica de um outro jeito, usa um exemplo, mas as vezes cansa por que quando é um professor ruim ela fica falando a mesma coisa e as vezes até complicando mais ainda a vida de todos. Mas quando é isso a culpa é do professor. Olho melhor e vejo que ela está olhando atentamente para um grupinho de pessoas do outro lado da sala, como estão todos conversando, a maioria em pé e tem um monte de gente se abraçando o grupinho nem repara que ela está os encarando. Eu chego de fininho pro trás e sussurro:
- Assim vai dar na cara! – Ela leva o maior susto e se vira pra mim com o olhar assustado. Assim que ela repara quem está atrás dela ela pula em meu pescoço.  Com certeza esse abraço é de alívio, acho que cheguei na hora certa. Ainda bem, por que odeio quando ela fica triste por algum motivo, para ela o dia acaba e para mim é chato, já que eu fico triste em ver ela triste. Antes mesmo de me soltar ela fala no meu ouvido, um pouco mais alto do que eu gostaria, já que sinto os meus tímpanos doerem.
- Elas estão conversando sobre mim, eu tenho certeza. Assim que elas entraram na sala nenhuma delas me comprimento e todas sentaram naquele canto para conversar. Kat é o primeiro dia de aula e já está assim. Socorro!
Elas, exatamente são a Glimmer e suas “marias vão com a Glimmer”, costumo zoar da cara delas de como são metidas e falsas, mas a Clove era amiga delas antes deu entrar na escola. No meu primeiro ano elas brigaram e a pessoa que mais saiu magoada foi a Clove. Ela realmente considerava a amizade de cada uma delas, já eu, nunca as considerei minhas amigas. Glimmer sempre deixou claro que nunca foi com a minha cara, então não faço esforço nenhum para poder gostar, mas respeito e trato bem quando precisamos ter algum contato, que infelizmente são muitos, já que nós fazemos uma espécie de “dupla” nos treinos para líder de torcida.
Bem, eu sei que as chances delas estarem falando de Clove são extremamente grandes, mas eu sou uma boa amiga e não vou deixar que o seu primeiro dia de aula estrague graças a um grupinho de três pessoas egoístas, mal criadas e ciumentas.   
- Ah Clove, nada a ver. Com certeza devem estar falando de alguma coisa que fizeram nas férias. Afinal de contas nós viajamos e elas passaram um bom tempo aqui na escola. Soube que Glimmer só voltou para casa para passar o Natal e Ano Novo, mas neste período de tempo ficou o tempo todo aqui na escola.
- É você deve está certa. – Clove olha mais uma vez para o grupinho das meninas. Tenho certeza que ela não está nem um pouco convencida e ainda vamos discutir muito sobre o que elas provavelmente estão conversando, mas depois de muito tempo olhando a briga delas pelos bastidores já acho que passou da hora de superar e seguir em frente. Nossa escola não é a maior de todas, mas existe outras turmas e outras pessoas no mundo, só acho que Clove deveria parar de ligar para aquelas pessoas que não gostam dela como ela é e começar a passar mais tempo com pessoas que a valorizam de verdade e simplesmente sumir da vida delas.
Nesta hora o professor se levanta, olha para sala e dá um grande sorriso. Tenho a impressão que a maioria dos professores gosta de estar na nossa turma. Não por que somos os alunos mais educados do Colégio Pamens Day, mas por que somos os mais instigados. Geralmente discutimos sobre tudo, por isso sempre estamos um pouco atrasados em relação as outras turmas.
- Bom dia a todos. Meu nome é Snook, a maioria aqui já me conhece, mas para os novatos de plantão, vou ser o professor de literatura de vocês. – Neste momento ele sorri para turma e eu escuto uns vários leves suspiros vindos de vários cantos da turma, olho para Clove para ver se ela também percebeu, mas ela está novamente com a cara de cachorrinho sem dono. Resolvo esquecer, por hoje perdi Clove.  – Bem, para aqueles que me conhecem sabe que a maneira como dou aula é diferente e para mim, todos os dias é dia de conteúdo, menos hoje por que sou obrigado pela coordenação a fazer uma dinâmica para que vocês se conhecerem melhor. – todos na sala riam, até os novatos ainda tímidos. – Então vou distribuir uma folha para vocês e nela vocês vão escrever o seu nome. Depois vocês vão me devolver e vamos redistribuir as folhas e você tem que achar a pessoa que está no seu papel e escrever três características dela. Depois que todos fizerem isso, eu explico o resto da brincadeira.
Assim que o Snook terminou de falar outra pessoa abre a porta. Fico imaginando quem conseguiria ser mais atrasada do que eu e antes mesmo que eu possa pensar em alguém minha irmã abre a porta, com todo seu material e um folha na mão que com certeza é a circular de mudança de turma. Ela é bem tímida e não nos falamos muito, ela sempre foi de outra sala e todas as vezes que a vejo, ela está com o Rayan, seu namorado. Depois do dia, na sétima série que ganhei do Peeta na corrida pela primeira vez e que pessoal pulou na piscina, eles não se desgrudaram mais. Parece até historinha de conto de fadas, amor a primeira vista. Nunca conversei com ela como realmente aconteceu tudo, por que por mais que sejamos irmãs são pouquíssimas as vezes que estamos juntas. E nas férias, quase não nos falamos, sinto as vezes que ela me evita, mas não entendo exatamente o por quê.
Prim olha de alto pela sala, acho que mais para encontrar o namorado dela que estuda comigo do que para verificar se está na sala certa, dá um abraço no professor e entrega o papel e com a cabeça meio abaixada sem querer chamar muito a atenção senta do lado de Rayan. Eu realmente não entendo por que ela ainda tenta não chamar a atenção. Por onde ela passa é como se tivesse um holofote em cima dela. Ela é bem magrinha, mas tem uma beleza sobrenatural, ou eu a admiro demais. Ano passado ela cortou o cabelo bem curtinho , mas agora já está abaixo dos ombros, é impressionante como cresce rápido e do jeito como ela se veste parece que saiu de uma revista de moda. Não sei como que ela consegue ser tão bonita desse jeito e ainda não querer chamar a atenção.
- Kat, algum problema?  - Meu professor está parado do lado da minha mesa olhando com uma cara assustada para mim.  Acho que volto muito rápido para a realidade, sinto como se tivesse dado uma volta inteira no mundo e menos de um minuto e ao mesmo tempo não visitei nem metade dos lugares aonde gostaria de ir. Pela primeira vez eu percebo a quantidade de coisas que já aconteceu e a quantidade de coisas que eu deixei de participar por muitas vezes não querer me meter no meio das coisas.
Durante os anos que as meninas maltrataram a Clove, eu nunca fiz nada diretamente a respeito. Muitas vezes por que sabia que Colve se irritaria comigo e durante todos os anos que estudamos aqui ando a cada dia me distanciando ainda mais de minha irmã. Quando éramos pequenas costumávamos fazer tudo juntas. Eu sempre fazia posses engraçadas para ela me desenhar e eu sempre aparecia com alguma coreografia maluca para dançarmos e filmarmos. Sem falar das historinhas que criávamos e remontávamos. Acho que o nosso recorde foi uma semana vivendo como outra pessoa. Era muito divertido e eu percebi o quanto sentia falta daquilo. Minha vontade era de dizer tudo isso para o professor, me levantar e abraçar a minha irmã e depois ir lá dar uns tapas na cara de Glimmer, FoxFace e Brit, mas em vez disso respondo:
- Está tudo bem sim, só pensando no passado.
- Pensar no passado é bom, mas não esqueça que sempre é hora para mudar o futuro. – Com esta frase de efeito, na qual Snook é craque em fazer, ele sai deixando a folha em cima da minha mesa. A pego rapidamente e escrevo o meu nome e já a coloca sobre a mesa do professor.
Demora um pouco até que todos possam fazer o mesmo e todos. Neste meio tempo Clove aparece com uma carteira e senta do meu lado, ela me olha e sorri. Ela não está mais com a cara de cachorro sem dono, então suponho que as coisas devem ter melhorado para o lado dela.
- Elas não estavam falando de mim. – Ela indaga antes mesmo que eu possa perguntar o que aconteceu.  Neste momento dou um suspiro de alegria, por mais que eu me incomode que Clove se preocupe com o que aquelas meninas estão fazendo, me doi profundamente vê-la triste, então saber que elas não estavam falando mal de Clove faz com que ela fique feliz, então faz com que eu fique feliz.
- Bem, se não era de você, do que elas estavam conversando?
- Parece que FoxFace brigou novamente com o Ben, por que umas semanas antes das férias acabar ele foi visitar alguma amiga dele em algum lugar e ele perdeu a hora e acabou voltando para casa tarde e não atendeu o telefone enquanto estava conversando com ela. Ele disse que não viu tocar, mas ela não acredita então estão brigando faz quase uma semana.
Começo a rir alto depois desta informação. Ben e Clove eram melhores amigos antes de Ben e FoxFace começarem a namorar. Ele ainda estudava aqui, e eles eram quase inseparáveis, mas então quando FoxFace começou a sair e eles começaram a namorar, Ben foi chamado para fazer parte de uma escola de estudos avançados. Esta escola só tem Ensino Médio, então é bem diferente e para você conseguir entrar, somente com recomendações. Sonho de consumo da maioria dos estudantes da nossa cidade, entrar nesta escola é assinar o certificado de sucesso, não tinha como Ben não aceitar o convite. O problema foi que alunos do ensino médio são mais centradas do que FoxFace e mesmo se distanciando do colégio ele continuou mantendo contato com a Clove. O ciúmes falou mais alto e foi ai que toda a briga começou.
- Mas tem um problema – Clove continua.
- Qual problema?
- Glimmer está com muita raiva de você.
- De mim? O que foi que eu fiz?
Não sei por que perguntei, já sabia a resposta e sabia que ia isso iria me custar uma boa dor de cabeça até o final do ano.
Nas férias eu, minha irmã e nossa família, viajamos para um resort, assim que chegamos lá encontramos com Marvel, namorado de Glimmer. Ele ao contrário dela é muito divertido e legal. Durante a viajem parecia que ele estava me seguindo, por que aonde ia ele se encontrava. O engraçado era que realmente não era de propósito, sempre tínhamos alguma coisa para fazer em algumas das milhares áreas de lazer. Acho que no final passamos mais tempo juntos do que eu passei com a minha família e se tornamos grande amigos de férias. Ele é da sala de Peeta então ainda não o encontrei, mas não sei como será, por que até as férias nunca nos falamos diretamente, mas aposto que ele já tinha contado a Glimmer que nos encontramos nas férias e passamos muito tempo juntos. Eu poderia imaginar que amiga de uma pessoa ciumenta que nem FoxFace, só poderia ser ciumenta.
- O que você acha? – Clove rebate meus pensamentos.
- Mas não fizemos nada demais. É crime aproveitar as férias? Nós somos amigos, nos tornamos grande amigos, ela não pode querer controlar as pessoas com quem eu falo.
- É verdade, mas você sabia que uma hora ela ia ficar sabendo e não veria com bons olhos.
Respiro fundo, não quero nem pensar aonde esta história maluca vai dar. No mínimo Glimmer vai querer me derrubar do alto da pirâmide no próximo treino de líder de torcida. Acho melhor já está com o número da ambulância da discagem rápida número 1.
- E tem outra  - Clove  continua, tentando medir minha reação, acho que ela está com medo que eu desmaia antes deu falar para ela qual é o meu convenio. – Glimmer agora é a nossa nova colega de quarto.
Abro os olhos mais do que acho que consigo. Agora tudo fez sentido. Não era Clove que estava saindo do nosso quarto, era Glimmer que estava entrando e sabendo o quanto eu e Glimmer não nos damos bem Clove tentou protestar, mas no momento que eu disse que estava tudo bem para a diretora ela com certeza já deu baixa. Meu coração começa a pular o mais rápido que o normal e tenho vontade de sai correndo da sala, mas em vez disso pego rápido o meu celular.
- O que você está fazendo?
- Discagem rápida número 1, ambulância e discagem rápida número 2, cemitério.
- Cemitério? Para que?
- Até o final do ano eu morro, com certeza.
- Bem, já passei pelo ódio delas e a única coisa que eu possa dizer é, que a sorte esteja ao seu favor. Vai precisar.
E ainda nem bateu o sinal para o segundo horário.