Bella sonhava que estava sendo ninada por ondas suaves no Caribe.

Ela e Jacob estavam em lua-de-mel. Tinham a praia somente para si. Porém, o mar tornava-se inquieto. Uma tempestade estava a caminho. Ela podia ouvir o trovão. E começou a se debater.

_ Acorde! – o trovão rugia.

Ela tentou gritar, mas não conseguiu.

_ Acorde! – O trovão repetiu.

Bella abriu os olhos e encontrou um homem inclinado sobre ela na penumbra. Seu grito foi automático.

Em seguida, não soube qual dos dois ficou mais nervoso.

_ Droga, você roubou dez anos da minha vida! – o homem resmungou, ao colocar o chapéu, que tinha voado quando ela se debateu. – Eu estava tentando acordá-la. Você deveria ter servido o café da manhã dez minutos atrás. Tenho ajudantes famintos no andar de baixo, aguardando pela refeição matinal.

Completamente desorientado, Bella o encarou, tentando situar-se. Onde estava?

Então, a realidade a envolveu. Estava em uma fazenda em Forks. Segundo sua tia, era o lugar perfeito para se recuperar da confusão em que sua vida havia se transformado.

Mas ninguém poderia recuperar nada aquela hora da manhã! E o homem que observava sua camisola quase transparente era Edward.

_ O que faz aqui? – exigiu, puxando o lençol até o queixo.

_ Já lhe disse, estava tentando acordá-la.

_ É cedo demais. Volte mais tarde – protestou.

_ Ouça, senhorita – disse ele com voz grave, ao acender a luz. – Não estou administrando um hotel. Pelo que sei, sou o patrão, e você a empregada e cozinheira. O que significa que deveria estar na cozinha, preparando e servindo o café da manhã, e não aqui, debaixo das cobertas.

Ela resmungou e sentou-se na cama.

_ Acho que isto quer dizer que café da manhã servido na cama está fora de cogitação, certo?

Ao ver a expressão dele tornar-se mais obscura, acrescentou:

_ Estou apenas brincando. Já acordei. Estarei no andar térreo em poucos minutos.

Bella esperou Edward partir antes de sair da cama, apenas para chutar uma das malas ainda fechadas. Seus olhos se inundaram de lágrimas ao agarrar o pé e massageá-lo.

Não era assim que ela planejara começar sua nova vida. Parecia um peixe fora d’água, sonolenta, cansada, e não gostava disso. Estava com raiva, sentindo ainda , o gosto amargo da traição.

Jacob a havia enganado, e Edward roubara diversas horas de seu sono. Os dois crimes podiam não ser iguais em seriedade, mas no momento marcavam ambos os homens como culpados em sua mente.

Ambos eram homens acostumados a ter os fatos correndo de sua maneira.

_ Deviam banir todos os homens deste planeta – ela declarou. – E agora, onde coloquei meu jeans?

Por fim, Bella vestiu uma calça de linho bege e blusa de seda coral. Era isso ou arriscar-se a ter Edward de volta em seu quarto. O jeans devia estar em uma das sacolas que permaneceram no carro.

Não teve dificuldades para encontrar a cozinha. Acender o fogo, porém, não se provou uma tarefa fácil. Quando girou o botão, conseguiu apenas fazer com que o gás fosse liberado.

No instante em que Edward entrou na cozinha, ela lhe falou:

_ Seu fogão está quebrado.

_ Não está quebrado; você precisa acender o fogo com um fósforo.

Quando Bella o fitou de modo enigmático, Edward praguejou e acendeu o palito.

_ Faça apenas ovos estrelados esta manhã, com um pouco de toucinho.

Estendeu-lhe uma tijela com ovos e o que parecia ser uma porção de toucinho.

_ Você sabe o que isto faz com seu nível de colesterol? – Bella indagou com um tom de desaprovação;

_ Apenas cozinhe - Foi a resposta

Ela fez isso, mas não muito bem. Os ovos ficaram meio crus na parte superior e queimados embaixo, e o toucinho, torrado demais. Quem poderia imaginar que fazer ovos com toucinho seria tão difícil? Fora uma boa idéia trazer livros de culinária consigo.

Bella não ousou perguntar aos homens como se estavam gostando da refeição que ela preparara. Limitou-se a ficar na cozinha, tentando decidir onde colocar os utensílios culinários que trouxera na bagagem. Ouviu algumas queixas baixas vindo da outra sala, mas não prestou atenção.

Não houve como ignorar Edward, entretanto, quando ele entrou na cozinha. Seu rosto praticamente esculpido e com uma barba rala estava tão turbulento quanto o céu na noite anterior.

_ Me disseram que você sabia cozinhar – falou com uma voz baxa e letal.

_ Eu sei cozinhar – Bella afirmou.

Um prato apenas. “Camarão de Jonghe” com macarrão bem fino, tipo “cabelo de anjo”

No café da manhã, Bella raramente se servia de algo mais elaborado que café do Starbucks e uma torrada com queijo cremoso. E sempre comprava isso em uma padaria sofisticada que ficava na esquina do lugar onde morava. Mas não havia nada na esquina daquela fazenda pacata.

Bem, então sua primeira manhã não transcorrera tão bem quanto previra. Não importava. Ela tinha um destacado diploma de pós-graduação em administração de empresas. Poderia superar a dificuldade. Não devia ser tão difícil assim ser empregada e cozinheira.

Migrando a atenção de Edward para cozinha, supervisionou a bagunça que fizeram. Gordura de toucinho estava esparramada pelo fogão. Havia até um pouco de gordura em sua mão.

De modo ausente, tirou a sujeira da pele enquanto notava que os ovos que quebrara na vasilha haviam deixado uma trilha gosmenta do balcão até a pia.

Havia procurado, mas ainda não havia encontrado um saco plástico para abrigar restos de comida.

Felizmente abrira a janela, livrando-se assim, da maior parte da fumaça causada pelo toucinho queimado. Por um instante temeu ter colocado fogo na casa.

Edward observou-a divagar a atenção e conteve-se para não gritar com ela, tamanha a frustação que sentia.

A cozinha não estava em grande forma quando ela começara a cozinhar, mas agora parecia ter sido atingida por um furacão! E esse furacão tinha nome.

Estava prestes a mandar sua nova empregada de volta a Nova York quando se lembrou que não tinha uma fila de candidatas para esta tarefa. Era ela ou ninguém.

Aconselhou-se a ser paciente, e estava prestes a falar quando uma nova tempestade chegou, fazendo a porta bater contra a parede.

Dez segundos mais tarde, o prejuízo era avassalador. A tigela havia voado do balcão e se espatifado no chão. A lata de farinha que Bella nem mesmo havia notado antes, estava ao lado da tigela destruída, seu conteúdo espalhado por toda a cozinha.

O ar estava cheio de farinha, o que fez Bella tossir enquanto perguntava:

_ O que foi isso?

_ Meus dois filhos chegaram – Edward respondeu, desconsolado enquanto suspirava fundo.

_ Seus filhos? – Bella repetiu os olhos fixos na lata vazia de farinha caída no chão.

_ Você sabia que eu tinha filhos, certo? – Edward falou na defensiva.

Ela assentiu vagarosamente, ainda tentando compreender como tanto prejuízo havia sido causado em um espaço de tempo tão curto e por duas crianças apenas.

_ Tia Esme me falou que você tinha duas crianças adoráveis e muito comportadas. Estou pressentindo que ela tenha exagerado.

E que tenha exagerado muito.